Edição 129 - Mar/2004

Maratona de obras

Falta fazer um terço dos serviços e tetos são o maior problema

Menos de cinco meses antes do início das Olimpíadas de 2004, na terra em que ocorreu a primeira Maratona, os gregos precisam correr para vencer o desafio de entregar a tempo as obras dos estádios e outras instalações olímpicas. Pelo menos um terço das obras planejadas ainda estão por fazer, e o principal problema consiste na cobertura dos locais de competição, para abrigar das intempéries os participantes e espectadores. 

Como se já não bastasse essa dor de cabeça toda, os gregos continuam introduzindo mudanças nos projetos, não apenas em detalhes para atender a requisitos de segurança reforçada, como nas próprias superestruturas, como quando decidiram  criar uma cobertura translúcida para o complexo aquático de Oaka, por exigência de redes internacionais de televisão e da entidade internacional controladora dos esportes aquáticos.

As autoridades olímpicas gregas vêm mantendo silêncio olímpico sobre o assunto, mas no próprio site oficial as fotos mostram instalações bastante incompletas, causando dúvidas inclusive sobre se serão feitos todos os testes estruturais necessários para a segurança das obras.

 Um evento-teste, por exemplo, está marcado para o dia 15/5/2004, nas instalações de Oaka, a 18 quilômetros da capital grega, onde a mais atrasada das obras, o teto sobre o estádio olímpico, está prometida apenas para 20/7/2004, poucos dias antes do início dos jogos (a pesada estrutura começa a ser colocada no local em 18/4/2004, num processo que demora - só ele - mais de 15 dias)...

As obras estão a cargo do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o mesmo que assinou os mais importantes projetos arquitetônicos para as Olimpíadas de Barcelona em 1992. Ele chegou a enviar carta aos organizadores dos jogos Atenas-2004 garantindo que tudo estará pronto a tempo, mas o próprio presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, comentou que as coberturas nos locais das competições eram supérfluas, e que os gregos deveriam concentrar suas energias apenas nas obras consideradas essenciais.

A imprensa vem sendo barrada nos canteiros de obras, e os jornalistas que de alguma forma tiveram acesso ao local do velódromo, por exemplo, descobriram que a pista nem existe ainda, faltando cerca de 160 dias para o início das competições. O ministro da Cultura, Pani Palli-Petralia, inspecionou as instalações do complexo Oaka no dia 17 de março e disse aos repórteres: "Estamos em uma fase crítica, qualquer atraso deve ser decisivo. Doses extras de determinação e vontade são requeridas de todos os lados envolvidos". O ministro informou não ter assinado ainda os contratos para as coberturas do complexo natatório e do velódromo, preferindo antes "sentir" o processamento das demais obras...

A urgência quanto ao término das obras não é apenas por causa das estruturas em si, mas porque só então pode ser montada toda a infra-estrutura de paisagismo, telecomunicações/imprensa, segurança e apoio aos atletas e participantes. Mas, o ministro da Cultura disse ainda aos jornalistas que já estão sendo desenvolvidos planos alternativos, para o caso de ocorrerem novos atrasos nas obras.

Arquiteto – Santiago Calatrava  quer deixar sua marca na paisagem ateniense, dentro do propósito de combinar avanços tecnológicos com princípios estéticos para alcançar o espírito olímpico, integrando os históricos jogos com a moderna capital grega. Ele pretende fundir em suas obras a identidade da Atenas contemporânea com a dos milenares jogos olímpicos.

Arquiteto, artista e engenheiro, Santiago Calatrava nasceu em 28 de julho de 1951 em Valência, na Espanha. Estudou em seu país, bem como em Paris e na Suíça. Retornando a Valência, envolveu-se na Escuela Tecnica Superior de Arquitectura. Atraído pelo rigor matemático de diversas grandes obras da arquitetura histórica, e sentindo que seus estudos em Valência não lhe davam uma direção clara quanto ao caminho a trilhar, ele fez pós-graduação em Engenharia Civil em Zurique, onde também se casou.

Completando os estudos em 1979, permaneceu como assistente no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, começando a desenvolver pequenos projetos, participando também de competições entre arquitetos. Em 1983, venceu a disputa pela criação e construção da estação ferroviária Stadelhofen em Zurique. Em 1984, criou e construiu a ponte Bach de Roda, comissionado pelos Jogos Olímpicos de Barcelona, começando a ganhar sólida reputação internacional. Em 1989, estabeleceu em Paris o segundo escritório de sua firma, quando trabalhava na estação do aeroporto de Lyon, terminada em 1994, e em 1991 instalou um terceiro escritório em Valência, onde realizava importante intervenção urbana e amplo complexo cultural, a Cidade de Artes e Ciências. 

Na mesma década, criou um centro comercial em Toronto, a estação da ferrovia Oriente em Lisboa (comissionado para a Expo-98), além de vencer em 1991 a competição de arquitetos para completar a catedral de São João o Divino na cidade de New York (um projeto que ainda não foi realizado).

Entre seus principais projetos estão o aeroporto Sondica em Bilbao (2000), a ponte da Europa em Orléans (França, 2000), a expansão do museu de arte de Milwaukee (2001). Estão em fase de realização a ponte Blackhall Place em Dublin (Irlanda), a casa da Ópera de Tenerife, nas Ilhas Canárias, a ponte Petach Tikvah em Tel Aviv (Israel), Quatro Ponte Sul Canal Grande em Veneza (Itália), ponte Turtle Bay em Reddding (Califórnia), a casa de ópera de Valência e o complexo de esportes olímpicos de Atenas. 

(*) Carlos Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo Milênio