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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/12/03 08:05:14
Edição 125 - OUT/2003 

Engenharia

Efeito dominó, desabamento, abalo de prédios vizinhos e outras lendas...

Carlos Pimentel Mendes (*)

Em todo esse debate, surgiram algumas lendas e situações a esclarecer. A hipótese do efeito dominó - um prédio cair sobre o vizinho, derrubando-o sobre o seguinte e assim por diante - não existe, pois o prédio em tal situação se desmancha sobre si mesmo, sem força para provocar o desmoronamento do prédio ao lado. 


Edifício Excelsior, na esquina com o canal 4: recalque acentuado
Foto: Luiz Carlos Ferraz

Existe agora o temor de abalos estruturais nos prédios vizinhos provocados pelas novas edificações de maior altura ora em construção. Não é verdade, pois como elas se apoiam diretamente no subsolo rochoso, não deslocam as camadas intermediárias com seu peso.

As pessoas também falam muito em velocidade de recalque constante, que "é bom quando ela se estabiliza em 1 a 1,5 mm ao mês, mesmo sendo considerável". Isso não significa que o prédio parou de inclinar, apenas que ele mantém um padrão de inclinação. É a diferença entre um carro estacionar ou rodar sempre na mesma velocidade. O grande problema é o diferencial de recalque: se o prédio afundasse por igual, na vertical, seria menos ruinoso, pois a diferença de recalque faz com que partes da estrutura sofram cada vez mais esforços, para os quais não foi prevista. Aliás, na maioria dos casos perdeu-se a memória dos cálculos estruturais (a Prefeitura tem apenas o projeto arquitetônico); não se sabe a quantidade e a posição do aço usado em cada viga, por exemplo.

Os prédios inclinados também não cairão repentinamente. Algumas semanas antes do colapso, começam os avisos, na forma de trincas e rachaduras cada vez mais rápidas, e aumento na velocidade do recalque, o que dá tempo de evacuar o local. O problema é quando os moradores começam a maquiar o prédio, corrigindo a aparência e não a causa do problema, até por falta de condições financeiras para arcar com as obras necessárias.

"A princípio - cita o engenheiro José Eduardo Carvalho Pinto, que atuou na recuperação do Edifício Núncio Malzoni -, não havia financiamento porque não se sabia se a verticalização poderia ser executada. Provamos que podia ser feita, mas os bancos tinham normas, precisaria ser criado um pacote financeiro para os prédios inclinados, o que envolve forças políticas. Com a grande dificuldade dos proprietários executarem as obras, seria fundamental ter uma linha de financiamento a longo prazo, para que as pessoas - que na época não sabiam o que estavam comprando - passem a morar em edificações seguras e confortáveis".

José Eduardo enfatiza a importância de uma solução logo: "Um prédio inclinado pode precisar de uma obra mais urgente. Se nenhuma providência for tomada, em algum momento uma edificação dessas entrará em colapso. Esperamos que não precise ocorrer a catástrofe para serem tomadas as providências. Está mais do que demonstrado que o problema existe e precisa ser resolvido".

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.

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