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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:43:42
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [3]
Do Capibaribe ao Amazonas

Em alto mar

Carlos Pimentel Mendes (*)

Às 22h40, já fora dos molhes, o prático se despede e os rebocadores retornam ao porto. Os práticos são especializados nos portos em que atuam, conhecendo em detalhes os locais onde a navegação é segura, para que o navio não encalhe em bancos de areia ou colida com rochas submersas, por exemplo.

Porto do Recife em agosto de 1987, com os molhes de proteção do porto e o encontro das águas dos rios Beberibe e Capibaribe com o Oceano Atlântico
Durante a passagem pelos molhes, o oficial de náutica já começa a a aferir os instrumentos de navegação, para que indiquem a posição exata onde o navio se encontra: os molhes, os faróis e as bóias, devidamente assinalados nas cartas náuticas, fornecem os parâmetros de aferição. O computador conhecido como Satellite Navigator (navegador por satélite) começa a ser abastecido de informações sobre velocidade do navio, correnteza, rumo seguido pela embarcação etc.

Às 23h07, distante 3,2 milhas dos molhes do Recife, o timoneiro já pode descansar: é acionado o piloto automático, na direção de 30 graus a boreste (30 graus verdadeiros). Pouco antes, às 22h50, o navio deixou de usar o óleo diesel, que permite manobras mais rápidas, e passou para o óleo pesado (fuel oil), que é mais econômico e dá maior rendimento em viagem. Além disso, a embarcação passa a navegar com apenas uma máquina de leme (nas manobras em porto, para evitar problemas com eventual falha, são usadas as duas, mas em alto-mar seu uso é alternado a cada 24 horas).

A velocidade é de 14 nós, porque nesse trecho da costa não há ventos ou correnteza favoráveis, de popa (no caso, do Sul para o Norte). Existe a bordo o Atlas de Cartas-piloto do Oceano Atlântico, um atlas específico que indica o sentido das correntezas e a direção dos ventos, força do vento dominante e da correnteza. Com ele, pode ser planejada a rota mais rápida e econômica, como na região Nordeste, entre Macau e Fortaleza, onde se ganha até 2 nós (duas milhas náuticas por hora) além da propulsão do navio, na direção Leste-Oeste.

(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 28 de agosto de 1990.