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CONTÊINER...
Café com absorvente

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Quando o processo foi testado, o pessoal na beira do cais brincou, lembrando dos absorventes femininos. Mas era uma experiência séria, visando resolver o problema da condensação da umidade do café, provocada pelas grandes mudanças de temperatura nas longas viagens marítimas, que prejudicava a qualidade do produto.

O início do teste - que apresentou bom resultado, embora posteriormente passassem a ser usados conteineres ventilados para resolver esse problema - foi relatado pelo editor de Novo Milênio, então responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante em Todo o Mundo do jornal O Estado de São Paulo, na edição de 20 de dezembro de 1983:

Teste inédito: café em conteiner com papel absorvente para Japão
 
"Se bem sucedida, esta experiência poderá revolucionar o transporte de café em conteineres comuns"
Paulo Affonso da Rocha/Lloyd Brasileiro

Carlos Pimentel Mendes (exclusivo)

Já segue a bordo do Frotario um conteiner comum destinado ao porto de Kobe, no Japão, com 250 sacas de café em grão embarcadas em Santos, usando-se como proteção contra a condensação da umidade interna, pela primeira vez no País, uma forração do teto com papel absorvente. Nesta semana, outro conteiner preparado em condições semelhantes, e também destinado à empresa Nestlé japonesa, segue a bordo do Cristina Isabel, do Lloyd Brasileiro. Dentro de 30 dias, quando os dois conteineres chegarem ao Japão, será conhecido o resultado do teste.

A primeira experiência começou com a estufagem do conteiner IEAU 205640-3, da Intermodal Equipment Associates (IEA) de São Francisco (Califórnia), alocado à Frota Oceânica Brasileira, armadora nacional representada em Santos pela agência marítima Expresso Mercantil. O preparo do conteiner e sua estufagem com o café ocorreram no terminal da Despachos Aduaneiros Maia Ltda., situado na Rua Ana Santos, no bairro santista da Alemoa.

O trabalho foi assistido por Irenio Jácomo de Araújo e David Lorimer, gerentes da Expresso Mercantil; João Afonso Ribeiro Maia (diretor-presidente); Eduardo Daguer (diretor e responsável pelo setor de Relações Públicas) e Antonio Fernandes de Carvalho (encarregado do terminal) da empresa Maia; Fernando Veiga Mota (gerente) e Joaquim Dias Escrivão (encarregado de exportação) da Companhia Comercial Brasileira de Produtos Alimentares (Cicobra), representante brasileira da marca Nestlé.

Igualmente nesta semana - dia 23 - está sendo realizado trabalho semelhante com um conteiner da frota do Lloyd Brasileiro, no terminal da agência marítima Nautilus, com a presença dos representantes da Nestlé, do gerente do terminal Nicanor da Silva, do diretor da Nautilus, Thales Robin Silva, do gerente comercial Sérgio Rodrigues dos Santos e também de Ricardo Rodrigues Farias, do Departamento Comercial da agência, entre outros. O embarque ocorrerá esta semana no Cristina Isabel, no porto santista.

No início, três homens foram utilizados para colocar o papel absorvente...
Foto publicada com a matéria

O produto - O papel absorvente utilizado nos testes é o Non-Sweat, tipo Standard, que no Exterior já é usado no transporte de produtos conteinerizados de origem agrícola, produtos agrícolas processados como tabaco em folhas, grãos de café, feijão de vara, grãos diversos, juta, bambu, couros e rações, máquinas e instrumentos de precisão.

Segundo a Henkel, produtora do papel, o Non-Sweat apresentou excelentes resultados nas compridas e demoradas rotas dos oceanos Pacífico, Atlântico, Índico, e na estrada de ferro transiberiana, entre outras, prevenindo danos à carga entre variações de temperatura de 15 graus centígrados negativos e 38 positivos, por mais de 40 dias, chegando a carga em boas condições.

O produto - classificado como contendo tinta polímere enxertada de amido (starch graft polymer paint, ou SGP) cobrindo totalmente o material de base, pano não tecido - apresenta-se em duas especificações: standard, usada na experiência, com capacidade de absorção de água de 1.000 gramas por metro quadrado, e super, com capacidade de absorção de 2.000 gramas/metro quadrado.

Segundo as especificações de fábrica, cada peça mede 480 milímetros de largura por 2.400 milímetros de comprimento e 0,2 milímetros de espessura, tendo portanto uma área de absorção de 1,08 metros quadrados. Assim, um conteiner de 20 pés necessita de 12 peças, que globalmente podem absorver até 13 quilogramas de água (13 litros), enquanto que o de 40 pés necessita de 24 peças, que no modelo comum absorvem um total de 26 litros. Apenas o teto é forrado. O tipo standard é recomendado pela Henkel para prevenir danos a cargas com menos de 15% de umidade, e o tipo super para produtos com teores de umidade maiores.

Controlando o percentual de umidade relativa no interior do conteiner, o produto ajuda a prevenir a condição de extrema secura da carga. O produto apresenta vantagens sensíveis na taxa de higroscopia sobre os tradicionais silica gel tipos A e B e synthetic zeolite (A-4), conforme dados estatísticos do fabricante, que indicam ainda a capacidade de rápida absorção da umidade, permitindo o estabelecimento em períodos menores da taxa de umidade relativa ideal no conteiner.

A vantagem principal do produto é que, mesmo se for amassado, a água não se desprende da tela absorvente, evitando danos à carga.

... mas depois foram usados dois, com melhor rendimento
Foto publicada com a matéria

Aplicação - No terminal da Maia, a experiência começou às 8h30 do dia 14, e às 10 horas o conteiner estava pronto para receber o café, o que ocorreu nos vinte minutos seguintes. Todavia, trata-se de uma experiência pioneira no país, daí não se dever considerar este exemplo do fator tempo. Teoricamente, com a prática, será possível preparar o conteiner com cerca de 30 minutos de tempo de colocação do papel absorvente, até menos, embora sempre o tempo seja um pouco superior ao da preparação do conteiner com papel kraft ou maculatura (como vinha sendo feito), já que o Non-sweat é muito mais mole e difícil de ser manuseado que os papéis comuns.

O melhor rendimento de trabalho foi obtido com dois homens, um sobre uma escada pequena junto a uma parede, fazendo a adesão das tiras ao teto do conteiner, e outro de pé junto à parede oposta, segurando a tira em posição com as duas mãos, sobre a cabeça. O Non-sweat é branco e conta com duas tiras adesivas azuis próximas das extremidades laterais, protegidas por tira de papel vegetal, que é gradualmente retirada quando da fixação do produto ao teto do conteiner.

A idéia seria colocar o papel entre as barras do teto (roof bows), num total de 12 tiras colocadas lado a lado, em posição transversal ao comprimento do conteiner. Na prática, verificou-se que as barras do teto não se situam (pelo menos no conteiner utilizado) precisamente à mesma distância umas das outras, de forma que se abandonou a idéia de prender os adesivos sobre as barras. Verificou-se também que o adesivo não cola sobre o próprio papel, apenas sobre metais, ou seja, não é possível sobrepor as tiras. Foram afinal utilizadas 13 tiras, colocadas de dentro para fora, situando-se a última como uma lateral junto ao ponto de contato da borracha da porta no teto.

Após a colocação do papel - só no teto - o conteiner foi colocado sobre a carreta e então estufado com o café exportado pela firma Procafé, transferido diretamente do caminhão para o conteiner (embora se verificasse que o serviço rende melhor com o conteiner no chão).

Seguiu-se a colocação do lacre plástico contendo em alto relevo a inscrição 1486684 EMAM, garantindo o produto contra violação, e o conteiner seguiu para bordo do Frotario, que após completar o carregamento em Santos dirigiu-se a Paranaguá e depois, via África do Sul, aos portos japoneses, dos quais Kobe é o último (onde o navio deve chegar após 35 dias de viagem).

Sobre o teste, o gerente da Nestlé, Fernando Veiga Mota, comentou que a empresa japonesa do grupo solicitou a realização da experiência, pois já tem usado esse papel em outras importações de café e outros produtos, de diferentes origens, como a Indonésia e possivelmente a África e a América Central.

"O desejo da Nestlé/Japão seria receber o café em conteiner ventilado, como a Nestlé inglesa, mas tais conteineres não estão disponíveis para uso no Brasil. Quanto aos custos entre o conteiner comum e o ventilado não tenho dados comparativos, mas a alegação da Nestlé no Exterior é que a diferença de custos é pequena, e o conteiner ventilado dá garantia absoluta. Parece-nos que há uma grande frota de conteineres comuns e as leasings não querem investir nos ventilados", comentou Fernando.

Por sua vez, João Afonso Maia adiantou que no início do próximo ano a Maia estará utilizando um novo pátio de conteineres, com 26 mil metros quadrados (dos quais 3.000 metros quadrados construídos), incluindo área para reparos de conteineres, situado na Rua Boris Kauffmann, 322. Além desse, conta com o usado para a experiência, na Rua Ana Santos, 234, com 8.400 metros quadrados, e um armazém na praça Lions, também em Santos, com 3.000 metros quadrados, além de escritórios e outras instalações em Santos e São Paulo.

Após a preparação do conteiner com o Non-Sweat, foi preparada a carga enviada para o Japão
Foto publicada com a matéria

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