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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE
Por entre bois e belas motociclistas... em 1953

Um domingo na praia, 14 anos antes da autonomia municipal

Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, em  27 de julho de 1952 (página 20 - ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da matéria original

A Praia Grande de ontem e de hoje

O belo recanto do litoral paulista é um convite permanente aos forasteiros - A Ponte Pênsil, uma "garganta" estreita que não pode acompanhar o progresso... - Como se inaugurou a bela obra de engenharia, dia 21 de maio de 1914 - Reprodução do noticiário feito pela A Tribuna - Estuda-se o alargamento da Ponte Pênsil

Texto de Hamleto Rosato

Fotos de Rafael Dias Herrera

Se um historiador ou um simples observador se dispuser a fazer uma análise do desenvolvimento do nosso Estado, nestes últimos vinte anos, forçosamente terá de reconhecer que o litoral, se não ultrapassou o hinterland paulista, pelo menos não desmereceu o grandioso empreendimento do Estado Bandeirante.

Importante como zona propícia à plantação de cereais diversos, banana, hortaliças e legumes, o litoral paulista, nesse lapso de tempo, não desmereceu o sempre crescente progresso de São Paulo. Deve-se aliar a isso tudo os belos recantos do nosso litoral, que são permanente convite ao descanso dos que, na soberba oficina de trabalho que é São Paulo, concorrem para a grandeza do Estado e do Brasil.

Os forasteiros que procuram as praias paulistas para o descanso do fim de semana ou mesmo para as suas férias, além de encontrar junto ao mar uma verdadeira fonte de saúde, têm ainda motivo bastante para realizar interessantes passeios, contemplar a beleza da natureza em todo o seu esplendor e haurir o ar iodado, revigorando as energias.

Com o mar aos seus pés, longe do bulício da cidade, num ambiente todo propício para um perfeito descanso de espírito, o forasteiro encontra em nossas praias a calma, o repouso necessário ao espírito e ao corpo.

A Canção Praiana, de Martins Fontes, na qual o nosso saudoso poeta glorifica as praias santistas, diz bem sobre a Praia Grande, nesta quadra: "Tais quais avenidas, velódromos, pistas,/Se estendem por léguas e léguas além.../E a todos assombram as praias paulistas,/Por serem tão firmes também...".

E numa quadra profética, Martins Fontes deixou estes versos: "Conheço estas plagas: por isso asseguro/Que, em sua opulência, pujança imortal,/As virgens riquezas do nosso futuro/Estão em São Paulo no seu litoral!"

Como se vê, o querido vate santista parecia adivinhar o progresso do nosso litoral. E aí está a concretização desse sonho. O litoral paulista concorre, hoje, e muito, para a prosperidade de São Paulo e do Brasil. Basta assinalarmos, somente, que do nosso litoral sai toda a exportação de banana do Brasil!

A Praia Grande antiga - Cerca de vinte e cinco anos, a Praia Grande era quase desabitada. Uma ou outra casa. Alguns barracões de pescadores. Tão deserta era ela que muito bem nos lembramos das corridas de automóvel que ali se disputavam. Somente nesses dias é que algumas dezenas de pessoas iam à Praia Grande. De resto, percorria-se quilômetros e quilômetros e não se encontrava viva alma. Areia e mar. E os olhos se perdiam na imensidão das praias.

Isto acontecia inclusive aos domingos. De quando em vez é que uma ou outra família ia ali fazer piquenique. Dir-se-ia que somente pescadores transitavam pela Praia Grande. Poucas pessoas que por ali passassem poderiam profetizar o surto de progresso que a Praia Grande vem registrando. Terrenos eram vendidos quase de graça. Ninguém se interessava muito por aquela praia deserta...

Um pulo no futuro - Mas São Paulo cresceu ainda mais. E como reflexo desse desenvolvimento, as praias paulistas foram gradativamente procuradas. Primeiro Santos. Logo em seguida Guarujá, São Vicente depois, para, seguidamente, Praia Grande, Itanhaém e outras cidades do litoral.

A Praia Grande deu, assim, um pulo no futuro. Cresceu vertiginosamente o número de pessoas ávidas de repouso, de descansar no week-end, do trabalho de uma semana, ou nas férias anuais.

Hoje em dia não é exagero dizer-se que a Praia Grande é uma continuação da Ponta da Praia. O número vultoso de forasteiros que desce do planalto é elevadíssimo. Da Ponta da Praia à Praia Grande, pode-se afirmar, nos domingos, poucos são os metros de areia que sobram.

Atualmente, então, o número de forasteiros, devido às férias, é impressionante. Mais de cinqüenta mil pessoas desceram a serra nestes últimos dias. E, como é natural, Santos não poderia oferecer o conforto necessário a esse elevado número de pessoas. Estas, então, se espalham. Vão para São Vicente. Encaminham-se para a Praia Grande, que, aos domingos, por exemplo, oferece espetáculos interessantes.

Geralmente, a maioria de pessoas que se dirige à Praia Grande possui automóvel. Trazem os forasteiros barracas modernas que armam na praia. Vêm geralmente aos sábados. Trazem lanches. Algumas famílias vêm munidas até de pequenos fogões. E na falta de hotéis, fazem das barracas o seu "teto".

Formam-se então fileiras de barracas, das cores mais diferentes. Ali passam todo o domingo. Aproveitam o mar. Passeiam, divertem-se com tamboréu ou futebol. Bicicletas surgem também às dezenas. Algumas são particulares, a maioria é alugada. Os restaurantes ali existentes não dão vazão à freguesia. E alguns proprietários, aproveitando a "oportunidade", enfiam a mão nos preços... Enfim, se há peixe no mar, por que junto ao salso elemento não pode haver tubarões?...

Moça e motocicleta - É comum nos dias de hoje vermos moças pilotando bicicletas. Entretanto, uma representante do belo sexo, calmamente, dirigir uma motocicleta não é espetáculo tão corriqueiro. Pois na Praia Grande, entre dezenas de moças pilotando bicicletas, vimos uma que, com habilidade, percorria, domingo passado, grande extensão da Praia Grande. Na garupa, dando um gáis, como diz o garoto de rua, ia outra senhorinha. Demonstrando perfeito conhecimento da máquina e do terreno, a motociclista conversava e ria com sua colega.

A pesca e os bois - Quando se retira uma rede do mar, pode-se contar com elevada assistência. Não há quem, uma, duas, três e dezenas de vezes, não queira assistir ao ato de retirada da rede. Sempre é a surpresa. Ninguém sabe o que ela trará. Nunca se sabe se dentro vem um peixe fora do comum, de vez que até pingüim já foi pescado. Dessa maneira, enquanto os bois puxam a rede, auxiliados pelos pescadores, em torno se forma grande número de curiosos. Ademais, sempre é possível comprar um peixinho fresco para o almoço.

Mas, o que não deixa de ser um espetáculo também sempre novo é a candura, a disciplina dos bois. Indiferentes à curiosidade, olhar perdido não se sabe onde, os bois vão puxando lentamente as redes. Não se assustam com os gritos nem com os ruídos em torno. Vagarosamente, porém com firmeza, os mansos quadrúpedes não deixam de constituir, igualmente, um espetáculo.


Como se observa no clichê, apenas uma fila de automóveis permite a Ponte Pênsil, devido aos pilares que se encontram em sua base. Na parte interna ela tem largura suficiente para duas filas. Poder-se-á inclusive trasladar a parte dos pedestres para o lado externo. Que resolverá a engenharia nacional?
Foto publicada com a matéria

A  Ponte Pênsil, um problema - Não é de hoje que a Ponte Pênsil que liga São Vicente à Praia Grande se constitui num problema. Com o desenvolvimento da Praia Grande, com o afluxo de pessoas àquele distrito de São Vicente, a Ponte Pênsil já se tornou obsoleta. Sobretudo aos domingos, a bela obra arquitetônica de engenharia enerva milhares e milhares de pessoas. É uma garganta estreita que está a reclamar uma providência das autoridades competentes.

Inegavelmente, para a sua época, se levarmos em conta o pouco movimento para a Praia Grande e litoral Sul, a Ponte Pênsil servia maravilhosamente. Hoje, entretanto, ela não dá vazão ao movimento de automóveis e ônibus que se dirigem à Praia Grande. As filas que se formam, mesmo pela parte da manhã, são enormes. Isto representa, às vezes, ficarem os carros parados ali cerca de trinta, quarenta minutos ou mais.

Inaugurada em 1914 - A Ponte Pênsil foi iniciada em 1912. Dois anos depois, toda embandeirada, com banda de música, presença de altas autoridades estaduais e municipais, foi ela inaugurada.

Numa placa que existe num dos pilares da ponte, lê-se o seguinte: "Saneamento de Santos - Em 1914 - Dr. Francisco Rodrigues Alves - Presidente do Estado - Dr. Carlos A. Guimarães - Vice-presidente do Estado em exercício - Dr. Paulo de Morais Barros - Secretário da Agricultura - Est. de S. Paulo".

Há ainda outra placa que afirma ter sido construída a ponte para uma carga máxima de 60 toneladas. Na ponte a velocidade permitida é de 15 quilômetros.

A Ponte Pênsil tem 180 metros de comprimento, de base a base, e 6,40 metros de largura, além de 1,40 metros para os pedestres. Encarregou-se da sua construção a firma alemã "Casa August Klone", da cidade de Dortmund. Por baixo da ponte passam os tubos emissários de esgoto de Santos.

Como A Tribuna noticiou o fato - A Ponte Pênsil foi inaugurada no dia 21 de maio de 1914. Sobre a sua inauguração a A Tribuna publicava, dia 22, ampla reportagem, mencionando, inclusive, os nomes das autoridades e demais pessoas de destaque que assistiram à cerimônia.

Dessa reportagem reproduzimos os seguintes trechos: "Pelo trem das 12,15 minutos, trazendo atrelado um vagão especial, chegaram a Santos vindos de São Paulo, os ss. dr. Carlos Guimarães, vice-presidente do Estado em exercício; dr. Altino Arantes, secretário do Interior; Eloi Chaves, secretário da Segurança Pública do Estado; dr. Paulo Morais Barros, secretário da Agricultura; dr. Saturnino Rodrigues Brito, dr. Paula Sousa, diretor da Escola Politécnica; major Martins, deputado João Sampaio, dr. Jorge Americano, oficial de gabinete da Secretaria da Fazenda; dr. Domingos Jaguaribe; coronel Nerel, chefe da missão francesa de instrução militar do Estado; dr. José Cesário da Silva Bastos, capitão Dantas Cortez, ajudante de ordens do secretário da Justiça e senador Candido Rodrigues.

"Fazendo o percurso em auto também chegaram a esta cidade os srs. A. Paula Ferreira, Vieira de Carvalho, dr. Washington Luiz, prefeito de São Paulo; dr. Alfredo Maia, dr. Olavo Egídio, Menotti Falchi, Jorge L. Prado, dr. Luiz Fonseca, e o aviador Edu Chaves.

"Gastaram no trajeto 2 horas e 12 minutos, dirigindo-se, após a sua chegada, ao Hotel Bristol, onde foi servido um lauto almoço. Às 12,30 minutos, conforme estava determinado, saíram do Largo do Rosário os bondes especiais postos à disposição dos convidados pela Comissão de Saneamento.

"Os convidados eram aguardados em S. Vicente pelo capitão Antão de Moura, prefeito municipal vicentino; coronel Francisco Antonio de Sousa Júnior, presidente da Câmara de S. Vicente; Teotonio Corvello, vereadores e muito povo. Os convidados seguiram até junto da ponte, onde, num recinto em frente desta, estava montado um delicado serviço de buffet, sendo oferecido à assistência um lunch que constou de frios, doces, licores e champanhe".

Durante a solenidade fizeram-se ouvir os srs. dr. Morais Barros, dr. Carvalhal Filho e dr. Domingos Jaguaribe.

"Por proposta do dr. Morais Barros foi a assistência convidada a ir inaugurar a ponte, tendo nessa ocasião uma banda de música executado vários números".

Num outro trecho, esclarecia a reportagem: "Na Praia Grande, o trânsito de autos era enorme, contando-se entre eles cerca de 18, vindos de São Paulo".

Assistiram ainda ao ato inaugural mais as seguintes pessoas: Carlos Luiz de Affonseca, prefeito municipal de Santos; dr. Manoel Galeão Carvalhal, Carlos Pinheiro, Benedito Pinheiro, Antonio Candido Gomes, dr. José Monteiro, vereadores santistas; Antão de Moura, prefeito de São Vicente; cel. Teixeira da Silva, dr. Bias Bueno, delegado de polícia; cel. Gil A. Araujo, dr. Vieira Campos, delegado da 2ª circunscrição; Afonso Schmidt, Antonio Militão de Azevedo, Antero Moura, delegado de S. Vicente; Vahia de Abreu, Carneiro Lascasas, dr. Mario Freixo, general Luiz Cardoso, dr. Artur Mota e muitas outras pessoas.

Desastre com um motociclista - Segundo reportagem deste jornal, no dia das solenidades de inauguração da Ponte Pênsil, o sr. Silvio Aliberti, que voltava do Porto Tumiaru, pilotando uma motocicleta, foi de encontro a um automóvel dirigido pelo sr. Armando Siciliano, recebendo em conseqüência graves ferimentos.


Aspecto da Ponte Pênsil, vendo-se sua parte interna e os dois pilares. Por ela poderão passar duas filas de automóveis. A entrada, porém, é uma garganta apertada, que prejudica o tráfego livre dos veículos
Foto publicada com a matéria

Pretende-se ampliar a ponte - Segundo conseguimos apurar, o dr. Lanis Moor de Oliveira, engenheiro da Prefeitura Municipal de São Vicente, está incumbido de estudar uma forma de aumentar a largura da Ponte Pênsil.

Ao que parece, não será possível recortar parte dos pilares de entrada, o que seria mais interessante. Tudo indica que a melhor forma seria construir uma plataforma de cada lado das bases, que permitissem a entrada lateral dos veículos.

De qualquer maneira, a Prefeitura Municipal de São Vicente, conforme soubemos, está interessada no assunto. Assim que o dr. Lanis Moor de Oliveira terminar os seus estudos, serão então apresentadas as sugestões à Repartição de Saneamento de Santos, que empresou aquela obra.


No alto, à esquerda, banhistas residentes em São Paulo aproveitam o domingo na Praia Grande. Estendem os corpos após tomar banho de mar. (...)

 

(...) À direita, duas banhistas aproveitam, na motocicleta, a amplidão da Praia Grande, para mostrar que o belo sexo também sabe apreciar esporte. (...)

 

(...) Em baixo, à esquerda, uma rede está saindo do mar, enquanto algumas dezenas de pessoas assistem o trabalho dos pescadores. (...)

 

(...) Por último, uma das barracas armadas por famílias de São Paulo. Os homens que não tomam banho de mar, naturalmente falam de negócios, enquanto as senhoras trocam opinião sobre modas
Fotos e legendas publicadas com a matéria

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