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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/30/05 15:29:44
FEBEANET
O maior dos roubos

Nestes doze meses de 2005, a marginalidade foi o grande tema no Brasil. Ilegal ou apenas imoral, reinou de janeiro a dezembro. É o absurdo de o preço dos componentes de um automóvel, vendidos separadamente, custarem três ou mais vezes que o valor do mesmo carro vendido pela montadora. É o desvio ferroviário, aqui entendido não como uma mudança de curso, mas como o puro e simples roubo dos trilhos. É a forma como foi realizado o maior roubo a banco no Brasil, e segundo maior da história mundial. E tantos outros poderiam ser citados.

Porém, o maior dos roubos, e o maior dos absurdos também, é que dirigentes do Partido dos Trabalhadores - que sempre teve como bandeira de campanha a moralização da política - fossem denunciados como os maiores ladrões de recursos públicos, numa seqüência fabulosa de ações de lavagem de dinheiro.

Durante o ano inteiro, comissões parlamentares de inquérito apuraram (digamos assim) as culpas de dirigentes do PT em situações de malversação de dinheiro de campanha eleitoral, movimentação ilegal de recursos inclusive com o uso de paraísos fiscais, corrupção ativa e passiva, subornos, abuso de poder, tráfico de influências, e tantas outras que não caberiam neste espaço. A televisão transmitiu ao vivo o espetáculo-realidade da suja política nacional, e conseguiu até maior audiência do que com suas produções fictícias.

Deputados e senadores, muitos com a cara-de-pau de usar o tempo das perguntas aos depoentes para promoção eleitoral própria, passaram semanas seguidas aproveitando seus minutos de fama, num jogo sujo em que só se apurava o que se desejava apurar. Ladrões confessos continuaram sendo tratados com a deferência devida a pessoas de ilibada conduta: "Nobre deputado", "Excelentíssimo Doutor" etc. E, sem ao menos corar, ou então com as tais "lágrimas de crocodilo", confessaram crimes enormes de lesa-pátria, ainda assim para esconder crimes ainda maiores que trataram de esconder.

Terminado o ano, uns poucos tiveram seus mandatos cassados, alguns ocupantes de cargos de confiança foram destituídos para a colocação de outros (não pelos crimes cometidos, mas apenas para obedecer ao rearranjo de forças políticas causado pelas denúncias). Evidências importantes ficaram de lado, como no assassinato do prefeito Celso Daniel, abafadas porque apontavam como mandantes do crime figuras dos mais altos níveis hierárquicos da República. Dinheiro continuou correndo, agora para subornar quem pudesse falar e com sua fala transportar o escândalo para o próprio nível da Presidência da República.

Tudo o que poderia ser dito, na verdade, já o foi. Faltou dizer apenas que esse foi o maior dos roubos que uma nação poderia sofrer: roubaram um ano inteiro de trabalho da nação, paralisando as atividades de Executivo e Legislativo (o Judiciário apenas continuou paralisado como sempre). Roubaram a esperança de um povo, que votara no PT justamente para acabar com a bandalheira que todos sabem existir nos altos níveis do Governo Federal.

E aposta-se no próprio esquecimento de tudo causado pelo passar do tempo. Tanto que o PT, sem ao menos ter feito a higienização de suas estruturas, já estuda formas de promover a reeleição do presidente Lula - aquele que de nada sabia do que acontecia sob seu nariz (ingênuo ou incompetente? - a grande pergunta). O PSol, agregando os políticos que se afastaram do PT, mas mantendo essencialmente as mesmas estruturas que permitiram toda essa corrupção, também tenta capturar as esperanças populares perdidas. Os demais partidos, a população já havia rejeitado, pois sempre fizeram parte do sistema corrupto que se queria extingüir quando da eleição de um dirigente sindical esquerdista para o cargo máximo do Executivo nacional.

Nem mesmo a famosa Velhinha de Taubaté - aquela personagem (do escritor gaúcho Luís Fernandes Veríssimo) que residia numa tradicional cidade do interior paulista e sempre acreditava nas declarações dos governantes -, nem ela resistiu. Morreu vendo o noticiário da televisão, encerrando uma era em que pelo menos uma pessoa no Brasil conseguia acreditar numa declaração oficial.


Pronunciamento do presidente Lula em 30 de abril de 2005 (21h03),
em rede nacional de rádio e televisão, alusivo ao Dia do Trabalho

Em todo o ano, foi de tal ordem a sucessão de besteiras ditas e cometidas ou reveladas, que nem mesmo a sucessão de erros do presidente norte-americano George W. Bush na condução da política interna e externa dos EUA consegue ser maior. Esta história fecha portanto a edição 2005 deste Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet), sem mais comentários, desnecessários que são...