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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/07/01 14:23:38
FEBEANET
Tapando os buracos do governo

Dois absurdos simultâneos estão acontecendo há anos neste país: verbas oficiais para construção ou reparação de estradas (chamada de Operação Tapa-Buraco), que somem no meio do caminho, e empresas particulares terem de usar seus próprios recursos humanos e de infra-estrutura para executar um serviço pelo qual já pagam ao governo - via impostos - para que fosse feito.
 

Traçado da BR-401 (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001) Traçado da BR-174 (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)
A esburacada BR-174 (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001) O diretor: pouco a declarar (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)

Contamos esta história com base em matéria apresentada pelo noticiário Jornal Nacional, apresentado em 4/12/2001 (às 20h47) pela Rede Globo de Televisão, do qual são as imagens que ilustram esta página. Embora os problemas com as estradas existentes apenas no papel ou sem qualquer conservação existam em todo o País, a matéria centrou o foco no trecho Boa Vista/Bonfim da BR-401, em Roraima, e também no trecho desse estado da BR-174, que atravessa o Amazonas verticalmente em direção ao Sul.

Documento com a denúncia (Imagens remontadas, da Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)

Mostrando o documento intitulado "O Assalto", a reportagem explica que mediante assinaturas falsas em planilhas de custo, foi ajeitado para que o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) em Roraima assumisse os custos de execução de serviços de reparos em trechos de estradas, enquanto as empresas contratadas nunca compraram um quilo de asfalto, não possuem usinas para fabricar o composto aplicado às estradas, sequer têm equipamentos básicos como vibro-acabadoras para fazer a aplicação desses produtos. Ainda segundo denúncia gravada pela Globo, o dinheiro arrecadado na operação era entregue ao diretor do DER em Roraima.
 

Documento incluído no processo (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001) Documento incluído no processo (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)
Documento incluído no processo (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001) Documento incluído no processo (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)
Denúncia gravada... (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001) Denúncia gravada... (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)

Se apenas essa história já merecia a inscrição no Febeanet, o complemento lhe assegura lugar de destaque entre as histórias concorrentes. Pois não é que uma empresa de transprote de carga teve de usar seus funcionários e equipamentos para reparar as estradas esburacadas, mesmo pagando os tributos devidos para que tais estradas sejam mantidas em boas condições?
 
 

Empresa assume a Operação Tapa-buraco (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001) Empresa assume a Operação Tapa-buraco (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)

A empresa desistiu de esperar que as autoridades cumprissem suas obrigações. Fazendo as contas, descobriu que ainda ficaria mais barato reparar as estradas do que suportar todos os prejuízos causados aos seus veículos e às cargas transportadas pelas más condições das rodovias. Temos assim a surreal situação de o governo fingir que paga para empresas fingirem que arrumam as estradas, enquanto a empresa que realmente paga a conta ainda tem de pagá-la uma segunda vez, executando ela própria o serviço que caberia ao governo e às empreiteiras... 

É por conta de situações como essa que 30% da produção agrícola brasileira é perdida entre a porta da fazenda e o porto (com a inestimável contribuição da falta de armazenagem). Também por isso é que certas estradas, ditas asfaltadas nos mapas oficiais, estão em terra pura, sem ao menos o cheirinho da lama asfáltica ralinha que alguns aplicam para dizer que asfaltaram.
 

Empresa assume a Operação Tapa-buraco (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001) Empresa assume a Operação Tapa-buraco (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)

Como se já não bastasse a besteira maior que é a completa inversão da matriz de transportes no Brasil: enquanto nos países mais desenvolvidos a prioridade é para o transporte fluvial, seguido pelo ferroviário e só depois pelo rodoviário e aéreo, no Um grande buraco na honestidade do governo (Imagem: Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de 4/12/2001)Brasil o caro transporte rodoviário representa a quase totalidade, com apenas traços estatísticos para o aéreo, o ferroviário e o hidroviário. Não se estranhe, portanto, que o chamado Custo Brasil seja tão alto. 

E a denúncia - mostrando em termos práticos como funciona a promiscuidade nas relações entre o setor público e a (iniciativa) privada - ajuda a entender por quê no Brasil viraram de ponta-cabeça a matriz dos transportes. Está bem azeitada a máquina da bitributação, que alinha a Taxa Rodoviária Única à cobrança de pedágios. Quem é que está, efetivamente, interessado em tornar os produtos brasileiros competitivos no duro mercado internacional?

Está portanto mais do que justificada a inclusão desse conjunto de histórias no Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet)...