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Quando surgiram as escolas de samba no RJ

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Na edição de 23 de janeiro de 1983, o semanário santista Jornal da Orla publicou:


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O primeiro desfile das escolas de samba

A idéia de promover um desfile das escolas partiu de um repórter chamado Carlos Pimentel (N.E.: não, não é o editor de Novo Milênio, nem seu parente), muito ligado ao mundo do samba. No Mundo Sportivo, a idéia do desfile foi facilmente aceita, uma vez que lá atuavam três jornalistas que iniciavam com grande sucesso a carreira de compositor: Antônio Nássara, Armando Reis (Cristovão de Alencar) e Orestes Barbosa, todos também identificados com o samba.

Era uma idéia revolucionária, pois, até então, as escolas de samba limitavam-se a apresentar-se nas favelas e nos subúrbios e, eventualmente, na Praça Onze. Eram desconhecidas do público das demais regiões da cidade, o que pode ser comprovado pelas notas que convocavam os leitores para o desfile de 1932. Eis uma delas:

"O campeonato de sambas que o Mundo Sportivo fará realizar domingo de carnaval, na Praça Onze, destina-se a um extraordinário êxito. Independente do número de atrações, a grande competição de melodias tem o seu maior elemento de sucesso rumoroso na quantidade enorme de escolas já inscritas e que se preparam para o concurso. A idéia é realmente encantadora. Daí a acolhida entusiástica que teve a ansiedade com que é aguardada a sua realização".

"Terá o público oportunidade de ouvir instrumentos mal conhecidos pela maioria da cidade. É o caso, por exemplo, da cuíca (que o redator chamou de "puíta"), cujo som se destaca de todos, pois é único e inconfundível. Para que o leitor tenha uma idéia da importância do campeonato de samba, diremos apenas que várias escolas entrarão na Praça Onze com mais de cem figuras cada uma. Além dos instrumentos conhecidos, outros aparecerão, por certo, na hora da parada sonora, criados pela febre de improvisação que sempre empolga os carnavalescos. O Mundo Sportivo oferecerá aos três primeiros colocados prêmios valiosíssimos que estão em exposição numa das vitrines da (loja) Capital".

O resultado do desfile de 1932 foi o seguinte:

1º lugar - Estação Primeira de Mangueira
2º - Segunda Linha do Estácio e Vai Como Pode (mais tarde, Portela)
3º lugar - Para o Ano Sai Melhor
4º lugar - Unidos da Tijuca.

Vinte e oito escolas de samba participaram do segundo desfile, em 1933, também na Praça Onze. Foi este o resultado:

1º lugar - Estação Primeira da Mangueira
2º lugar - Azul e Branco do Salgueiro
3º lugar - Unidos da Tijuca
4º lugar - Vai Como Pode e De Mim Ninguém se Lembra
5º lugar - União do Uruguai.

Preparando a divulgação do desfile, os jornalistas percorreram as escolas, antes do carnaval, e um repórter ficou impressionado com a bateria da Escola de Samba De Mim Ninguém se Lembra:

"A bateria da Escola de Samba De Mim Ninguém se Lembra é qualquer coisa de notável. As puítas (SIC), às vezes, parecem humanas: cantam e parecem se comover com a melancolia dos ritmos. Há também um tambor muito grande que domina todas as vozes. A bateria do tambor é monótona, esquisitamente monótona".

A fabricação da puíta foi explicada ao repórter pelo compositor Gastão de Oliviera, do Morro do Tuiuti:

"- Lá no morro existe muito gato. Pra que o gato veio ao mundo? Claro, para servir de puíta. Nós matamos um gato a pauladas e o esfolamos. Antes, o gato tem que ser deitado em água quente para que a sua pele saia com facilidade. Põe-se depois para secar ao sol. O resto é fácil. Um barril pequeno, que é fechado ao fundo com a pele. Uma corda e está terminada a puíta".

Eis alguns itens do regulamento de 1932:

"No julgamento terão valor os seguintes quesitos: harmonia, que valerá cinco pontos; poesia do samba, três pontos; melodia do samba, três pontos; enredo, três pontos; originalidade, três pontos; conjunto, três pontos.

"- Embora sem ter influência decisiva no julgamento, as evoluções, como detalhe do conjunto, terão, é claro, valor. As escolas de samba deverão trazer bandeira, não estando, porém, proibido o estandarte que, usado, não poderá merecer a observação do júri.

"- Cada escola cantará três sambas. Esses sambas serão desclassificados se já tiveram sido gravados ou se já forem conhecidos, através do rádio ou do teatro.

"- Não serão permitidos instrumentos de sopro, aceitando-se qualquer instrumento de cordas.

"- É obrigatória a presença de baianas nas escolas.

"- Para que o campeonato possa terminar cedo, isto é, meia-noite, ficou acertado que o desfile terá início às 17 horas".

Um jornal calculou em 40 mil o número de espectadores do desfile das escolas. O júri foi constituído por João da Gente, Jorge Murad e Jofre Rodrigues.

Paulo da Portela - Paulo Benjamim de Oliveira -, um carioca que nasceu no dia 12 de junho de 1901 e morreu em 30 de janeiro de 1949, é, sem dúvida, a figura mais importante de todos os tempos na história das escolas de samba. Sendo um dos fundadores da Portela, foi também um líder das escolas, organizando-as e modificando o antigo conceito de que elas eram, na verdade, reduto de malandros.

Compositor, dirigente e carnavalesco, Paulo da Portela viveu o seu grande dia no desfile da Portela de 1939, quando despontou como a grande figura do carnaval. A Portela desfilou toda fantasiada de colegial e ele fazia papel de professor, em frente à comissão julgadora, apresentando os sambistas e distribuindo diplomas.

Paulo foi Cidadão Momo - uma resposta do samba à figura do Rei Momo - e Cidadão Samba. Quando morreu, já não pertencia à Portela, mas à Escola de Samba Lira do Amor, do bairro de Bento Ribeiro.

Outra figura fundamental foi o compositor Cartola, que sugeriu o nome de Estação Primeira para a escola de Mangueira e as suas cores verde e rosa. Foi também o primeiro diretor de harmonia da Mangueira, para a qual compôs a maioria dos sambas cantados nos desfiles da década de 30.

No Morro do Salgueiro, o grande personagem foi o compositor Antenor Gargalhada (Antenor Santíssimo de Araújo), morto aos 33 anos, em 1941, vítima de tuberculose. Fundador da Escola de Samba Azul e Branco - que, em 1953, uniu-se à Depois eu Digo para formar a Acadêmicos do Salgueiro - foi Cidadão Samba e participou sempre da direção de escolas e blocos carnavalescos do Salgueiro. Por causa da sua morte, a Escola de Samba Azul e Branco não desfilou no carnaval de 1941.

Entre os nomes mais importantes na história das escolas, podem também ser citados os de Elói Antero Dias - o Mano Elói - que dirigiu várias escolas de samba e foi presidente da sua associação nos anos 30, além de ter sido Cidadão Samba; Natal - o Natalino José Nascimento - que, durante muitos anos, exerceu a função de presidente de honra da Portela; Silas de Oliveira, considerado o melhor compositor de todos os tempos de samba-enredo, tendo atuado sempre no Império Serrano; e Antônio Candeia Filho, o compositor Candeia, que aos 18 anos já assinava um samba-enredo da Portela - "Seis datas magnas", do carnaval de 1953 - e que no fim da sua vida fundou a Escola de Samba Quilombos, para - entre outras coisas - defender as escolas das deformações ocorridas a partir dos fins dos anos 50.

As escolas de samba apresentavam-se na Praça Onze, até que o local foi destruído para que desse passagem à Avenida Presidente Vargas. O carnaval dos sambistas aconteceu lá até 1941. Depois, os desfiles passaram para a própria Presidente Vargas, no trecho entre o Campo de Santana e a Avenida Passos. Na década de 50, transferiu-se para outro local da Presidente Vargas, perto da Candelária, onde o então Departamento de Turismo construiu um tablado de madeira para as escolas passarem. É que, já nessa época, o desfile começava a receber grande público e era quase impossível que todos vissem as escolas. Foi uma época de grandes confusões, com os constantes conflitos entre os policiais e a multidão.

Em fins dos anos 50, a apresentação das escolas foi para a Avenida Rio Branco, na altura da Cinelândia, onde as escadarias da Biblioteca Nacional serviam para receber o júri, autoridades, jornalistas e convidados. No desfile de 1962, o Departamento de Turismo começou a cobrar ingresso para quem quisesse permanecer nas escadarias da Biblioteca. Em 1963, foi feito o primeiro desfile com arquibancadas, instaladas novamente na Avenida Presidente Vargas. Depois, o desfile foi para a Avenida António Carlos, voltou para a Presidente Vargas (na altura do Mangue), até que encontrou o seu lugar - que parece ser definitivo - na Marquês de Sapucaí.


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