Clique aqui para voltar à página inicialESPECIAL: Independência do Brasil
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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/27/02 09:57:14

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Consolidação marítima da Independência

Não bastava proclamar a independência do Brasil, era necessário consolidar a nova nação, enfrentando os que não a aceitavam nas várias províncias brasileiras. A nascente Marinha Brasileira teve um papel vital nesse trabalho.

Os três quadros desta página retratam esse processo, pintados pelo almirante Trajano Augusto de Carvalho e expostos na Internet pelo Ministério da Marinha. O mesmo almirante conta, em trechos adaptados de seu livro Nossa Marinha - Seus Feitos e Glórias - 1822/1940:

Sortida matinal da flotilha

Flotilha Itaparicana

Quando da proclamação da nossa independência, nem todas as províncias aderiram a causa brasileira. O principal foco de resistência à nova ordem concentrou-se na Bahia, onde o Governador das Armas, general Madeira de Mello, dispunha de consideráveis forças de terra e mar; contra esse poder levantaram-se os patriotas baianos. A reação, a princípio desarticulada e sem unidade, aos poucos organizou-se e alastrou-se por toda a província.

Dentro de alguns meses os portugueses estavam praticamente confinados a Salvador e seus arredores; embora possuindo a superioridade no mar.

A sorte da guerra dependia decisivamente do domínio da Bahia de Todos os Santos e o conseqüente controle do abastecimento e das comunicações entre as vilas confederadas. Compreenderam os patriotas que pouco poderiam esperar dos sucessos do mar, se não contassem com forças ofensivas; nessa emergência surgiu a Flotilha Itaparicana, assim chamada pelos seus contemporâneos, que durante mais de sete meses trouxe desassossego e reveses aos lusitanos.

Foi escolhido para o seu comando o segundo-tenente da Armada Nacional e Imperial João Francisco de Oliveira Botas, que recebeu ordem de seguir logo para a base em Itaparica, onde deveria iniciar a "armação e arranjos" de "três barcos de borda falsa capazes de sofrer artilharia" e de mais um barco, doado pelo rico português Antônio Souza Lima, que aderira aos revoltosos.

Chegando em Itaparica em fins de novembro de 1822, João das Botas deu início a febril atividade. No dia 6 de dezembro era lançado ao mar o primeiro barco artilhado, denominado Pedro I. A flotilha foi aumentando ao longo da campanha, alcançando um efetivo de quase 800 homens.

Quando Madeira de Mello, cercado por terra, e pressionado no mar por Cochrane (primeiro almirante da Marinha Imperial Brasileira) e João das Botas, abandonou o Brasil rumo a Portugal, a caça aos navios lusos foi iniciada, ainda em águas da Bahia de Todos os Santos, pela Flotilha Itaparicana.

Esquadra brasileira deixando as águas do Rio de Janeiro

Primeira esquadra brasileira

Portugal não aceitara, evidentemente, o ato de independência de sua colônia americana. Mostrara a disposição de manter, até as últimas conseqüências, os pontos do território brasileiro onde ainda exercia seu domínio.

A guerra era inevitável. Ameaçada em sua unidade e integridade, a nação, que se espalhava ao longo de 7680 quilômetros de costa, exigiu medidas urgentes. Numa tomada de posição, nossos estadistas compreenderam que, naquela conjuntura, o Poder Marítimo era o único elemento capaz de levar a ordem e a autoridade imperial às províncias ainda fiéis às Cortes portuguesas. O material flutuante que permanecera no Brasil, após o regresso de Dom João VI para Lisboa, seria o embrião da nova Marinha. Porém esse núcleo inicial era escasso e deficiente.

Estavam surtas no Porto do Rio de Janeiro as naus Martim de Freitas, Vasco da Gama, Príncipe Real; destas, apenas pôde ser recuperada a nau Martim de Freitas, rebatizada Pedro I; a fragata Sucesso, rebatizada Niterói, foi reparada por particulares. Os demais fragatas, corvetas e brigues, fundeados junto ao Arsenal, eram navios de construção mais recente que as naus e foram considerados prontos para o serviço depois de sofrerem reparos. O Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro foi posto a trabalhar, em regime de urgência, na recuperação e preparo dos navios, dando ênfase especial à nau Pedro I, a unidade mais poderosa.

Porém, os trabalhos, por falta recursos de toda natureza, não atingiam o ritmo desejado e necessário. A esquadra organizada era ainda insuficiente para a campanha em que se iria engajar. Em janeiro de 1823, foi lançada pelo governo uma subscrição nacional para comprar, reparar e equipar navios de guerra; os assinantes foram convidados a comprar, mensalmente, ações de 800 réis, pagáveis em três anos. O patriotismo respondeu à altura do apelo. Em 1º de abril de 1823, largou do Rio de Janeiro, em socorro da Bahia, a Esquadra Brasileira, capitaneada pela Pedro I, a que se seguiram: fragata Ipiranga, corveta Maria da Glória, corveta Liberal e o brigue-escuna Real.

Momento em que a nau Pedro I corta a linha portuguesa

Combate de 4 de maio de 1823

Em 1º de abril de 1823, largou do Rio de Janeiro, rumo à Bahia, a Esquadra Brasileira, sob o comando do almirante Cochrane. Levou instruções de pôr "aquele porto em rigoroso bloqueio, destruindo ou tomando todas as forças portuguesas que encontrar, fazendo todos os danos possíveis aos inimigos deste império".

Capitaneada pela nau Pedro I , seguiram a fragata Ipiranga, corveta Liberal e o brigue-escuna Real; no dia 3, o brigue Guarani juntou-se à Esquadra e no dia 25 foi a vez da fragata Niterói reforçar a Força Naval Brasileira que demandava Salvador. Avistados os nossos navios, fizeram-se ao mar os portugueses, transpondo a barra de 30 de abril. Com força de treze velas.

Quatro dias depois, a 4 de maio, logo após o nascer do sol, surgiu a Esquadra Brasileira. Avançou diretamente sobre a força portuguesa, formada em duas colunas. Cochrane, percebendo um claro entre a charrua Princesa Real e a fragata Constituição, resolveu cortar a linha por este claro e envolver a retaguarda da esquadra lusitana antes que a vanguarda pudesse manobrar para socorrê-la. Ficaria assim, pela hábil manobra, compensada a sua inferioridade numérica.

Por volta do meio-dia, arremeteu em cheio e começou a ação. Minutos depois, cortou a linha inimiga pela proa da Princesa Real, seguido apenas pela Ipiranga, que outro tanto fez pela popa da charrua.

A manobra de Cochrane certamente teria êxito, pois uma banda (disparos de canhões de um bordo) a queima-roupa despejada por uma nau de linha como a Pedro I sobre uma charrua seria difícil de suportar. Mas à voz de abrir fogo, faltou munição desejada, porque dois paioleiros portugueses retardaram a entrega de cartuchos. Vendo-se ameaçado de ser envolvido pela vanguarda portuguesa, que já manobrava para inverter o rumo, Cochrane foi obrigado a fazer um sinal de retirada. Na tarde de 7, lançou ferro na Enseada do Morro de São Paulo. Era necessário reformular suas forças.