Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult063d7.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/04/07 11:29:58
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - A.Schmidt
Afonso Schmidt e a revista Fundamentos (7)

Leva para a página anterior
Entre suas múltiplas atividades, Afonso Schmidt participou também do conselho de redação da revista paulistana Fundamentos, na década de 1950. Neste número de janeiro de 1954, sua obra foi destacada pela revista:
 


Página 13 da revista Fundamentos de janeiro de 1954
Imagem: Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Cubatão

Afonso Schmidt, o obreiro intelectual

Helena Silveira

Certa feita, falando sobre a poesia de Afonso Schmidt, declarei em crônica na Folha da Manhã que o ético, às vezes, é uma forma do estético, e viver em bondade extensamente, em coragem, em dignidade, em valor humano, é fazer da própria vida uma obra de arte. No raro novelista de Saltimbancos temos, então, duas espécies de arte e todas elas superiores: a vida e a obra.

É algo que me comove pensar na extensão das resmas de letra de forma que o jornalista e o escritor alinhavou ao longo dos seus dias, em madrugadas de redação de jornal, ou no próprio lar, à hora em que o sono dos seus possibilitava a fatura do romance. Se se juntassem todas essas letras sofridas de vida vivida, de esforço diuturno, far-se-ia por certo uma singular estrada. E uma estrada com a missão de levar os companheiros a porto certo e firme.

Quantos de nós que, diariamente, labutamos na faina de imprensa, poderemos dizer com singeleza e modéstia: - eu servi?

Afonso Schmidt, antes de qualquer outra láurea, antes de ser louvado por seus méritos de romancista, pode reivindicar esta, aparentemente humilde, mas na verdade enorme: - a de servir. Servir aos homens da terra como o farol dentro da tempestuosa noite serve aos homens do mar. Ele torna fortes os que o lêem porque ele é um forte. Apesar de seu aspecto de brandura, da sua fala mansa de bom avô, sabemos que é um homem de convicções firmes, o antípoda dessa mocidade derivada daquela triste angústia existencial de Saint Germain des Prés. Neste momento em que à nossa volta pulula certa espécie de ociosa inteligência, a de Afonso Schmidt, sem bizantinismos estéreis, torna-se mais que nunca repousante e necessária.

Existe um belo poema de Paul Fort falando na cadeia que se poderia estabelecer ao redor do mundo com todas as cabeleiras desatadas das mulheres mortas, com as mãos dadas de todas as crianças... Eu penso numa outra cadeia que, esta sim, anularia as guerras, ordenaria o caos.

Seria feita de modestas resmas de papel que teriam o pensamento sincero dos escritores conscientes. Sim, se todos os escritores do mundo seguissem o exemplo de Schmidt, o homem compreenderia o homem, o homem amaria seu semelhante. Entretanto, nestas épocas avaras de segurança e prenhes de desenganos, a palavra de Afonso Schmidt ficará como a de um São Francisco a falar às feras...

Leva para a página seguinte da série