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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - POETA DO MAR
Vicente de Carvalho (12)

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Artigo publicado na primeira página do jornal paulistano O Estado de São Paulo em 29 de maio de 1890 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da página com o texto original

Vicente de Carvalho

Vicente de Carvalho, um dos mais inspirados poetas brasileiros, mandou-me de Santos um exemplar da segunda edição dos seus Relicarios, contendo a mais algumas composições que figuraram nas Ardentias, e a deliciosa Marinha, um Castagneto em verso.

Foi com o maior prazer que reli neste elegante volumezinho, nitidamente impresso no Porto, as mimosas composições que há dois ou três anos me deixaram no espírito as mais agradáveis impressões.

Em Outubro, Folha Solta, a lírica de Dona Flor, Na sombra e outras peças podem ser classificadas entre as que mais honram a nossa opulenta poesia lírica.

Eu não conheço Vicente de Carvalho, que é paulista e, se algum dia veio ao Rio de Janeiro, não me deu, infelizmente, ocasião de vê-lo; mas imagino que é um rapaz concentrado, e vive medito na sua redação no Diario da Manhã, despreocupado de rodas e panelinhas.

De outro modo não se explica ser o seu nome tão poucas vezes citado quando se trata dos nossos poetas.

Não deve ser esquecido quem faz disto:

Na Praia

I

Vermelha e enorme flor, desabotoa

A madrugada as pétalas; o outeiro

A pouco e pouco avulta do nevoeiro,

Surge, e de cor de rosa se coroa.

 

A passarada surpreendida voa

E canta; o azul inunda o céu inteiro;

Vê-se na orla da praia o mar fragueiro

Que ondas sobre ondas rápido amontoa.

 

De turbilhões de espuma que a emoldura

Uma ilha cresce no horizonte: em cima,

Palmas ao vento oscilam e estremecem,

 

Bordando os ares com a nitente alvura,

Voos de uma ave que ora se aproxima

Ou foge – mostram-se e desaparecem…

 

II

Vejo em torno de mim cerrar-se o mundo

Como um belo ninho delicioso:

Em cima o azul esplêndido, o radioso

Azul de um céu puríssimo e profundo

 

Em frente o mar, que o trêmulo e onduloso

Dorso pelo horizonte alonga; ao fundo,

O outeiro, verde de árvores jocundo

De flores, de gorjeios melodioso.

 

Em confusão graciosa, em pitoresca

Desordem, junto às ondas se acumula

A ilha dos rochedos, mar em fora;

Imagem: reprodução do texto original

Por sobre o alvor da praia, a espessa e fresca

Sombra do morro se derrama e a insula

No mar de ouro em que o sol despenha a aurora…

Continue Vicente de Carvalho a brindar-nos com poesias desse valor, e deixe lá falar o

A. Mallet.

Dos Flocos, do Correio do Povo.

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