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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (5)

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Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna:. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Embora sua contribuição diária começasse em 1961, já em 1940 ela começava a se destacar no jornalismo, com uma coluna sobre esportes femininos (ortografia atualizada nestas transcrições):

Matéria publicada no jornal A Tribuna em 27 de fevereiro de 1940:

Quando elas "voleibolam"

Na página esportiva de "A Tribuna" vem aparecendo diariamente uma série elegante e alinhada de 3 xxx. Essas letrinhas separam os "venenos" de E. Rado, na sua coluna "Cortando na Rede". Inútil será dizer-lhes que foi a inocência dos xxx a única responsável por esta nova coluna de "cositas" do voleibol. Concorrência? Não, em absoluto! Há concorrência somente no mesmo ramo de negócio e isto, que dizer, esta nova loja dedica-se a artigos para "elas"… para "elas" apenas!

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Quem são "elas"?

São as moças esforçadas de minha terra! São as moças que… "voleibolam", às vezes até sem rede e sem quadro. São as moças que jogam sem lições de treinador, sem campeonato e sem Liga! São as pequenas que desejam mostrar que as santistas, como as de S. Paulo e as cariocas, também querem, podem e sabem jogar…

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A "A Tribuna" lançou, há tempos, a sementinha da regulamentação do voleibom feminino. Terá ela caído em boa terra? Um "não" pessimista não seria a resposta exata, verdadeira… Se nestes últimos tempos nada se fez foi por causa do calor. Nesta época, meio mundo veraneia… Neptuno, Tamoyo,Gohayó, Tumyarú, ficaram com as turmas desfalcadas. As férias encarregaram-se de espalhar os quadros do José Bonifácio, Gymnasio do Estado, Tarquínio, São José. Mas agora o calor está mais camarada, as férias agonizam e a Liga terá nova diretoria. O que nos resta fazer é pedir a algum santo que inspire, ilumine e esclareça o espírito dos novos dirigentes. Amém!

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O Tamoyo venceu, no domingo, a turma do Fluminense. Com uma turma recém-criada, o Fluminense resistiu valentemente; conseguiu diversos pontos. Foi uma espécie de luta fino-russa, pois o Tamoyo apresentou velhas craques. Enfim… um hurra! A esses dois quadros que desafiaram o sol e o calor de domingo. Foram os primeiros, depois destas longas férias…

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Aproximou-se, certo dia, de um grupinho de moças um rapaz de espírito embotado. Elas eram do… voleibom e torciam pela chegada do campeonato. "Com que moças? Com que turmas?", perguntou ele. Foi água gelada na fervura: elas embatucaram. Mas ouça aqui, meu rico. Sabe quantas turmas de voleibol nós já temos? Mais de uma dezena! Que mais quer você? Se, naquele dia falou por ignorância, está perdoado; mas, se falou por maldade… olhe! Mando-lhe esta "cortada" no nariz.

LY.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

Matéria publicada no jornal A Tribuna em 1º de março de 1940:

Quando elas "voleibolam"

Ela apareceu no campo com meia hora de atraso. Mas vinha linda, linda… um sonho! Duas rosinhas nos cabelos ondulados, vestido de seda branca, colar e pulseira da cor das rosinhas, sapatos brancos de camurça e cortiça. Nos lábios, um sorriso satisfeito, feliz, angelical. A capitã da turma, a blusa por fora do short, suada e irritadíssima pela demora, grita-lhe do fundo da quadra: "Você não sabia que teríamos treino hoje? E agora, para onde vai?" A outra arregala os olhos verdes e inocentemente: "Mas… eu… vim treinar"! Estas moças…

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Atualmente o conjunto do Tumyarú é o mais homogêneo da ilha. Todos os seus elementos são bons. Não há nenhuma jogadora abaixo do nível geral; e este é ótimo. Todas elas sabem o que devem fazer com a bola. É o quadro de jogo mais regular, mais bonito. Apesar de vencido duas vezes pelo Neptuno – suas duas únicas derrotas! -, o clube de S. Vicente apresenta mais técnica e conhecimentos que aquele. Não venceram as vicentinas porque, quando a sorte decreta um "não", é inútil a gente romper-se para ter um "sim".

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A especialidade "delas" é a "dobradiça". Uma bola algo forte e pronto!... temos uma "dobradiça". Uma série de bolas fortes e temos uma fábrica das tais. As pequenas de um certo clube já demonstram suas tendências classificadoras, amantes da boa ordem e das situações definidas; assim é que elas classificaram as "dobradiça" em: laterais, para trás e "in loco”. Estas últimas são as que menos escandalizam a torcida. A bola vai só para cima, girando, girando, mas não traz outras consequências. São fáceis de emendar estas célebres "dobradiças"!

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O Neptuno, até hoje, e o clube que mais vitórias conta. Venceu mesmo todos os jogos, com exceção de um. E esse um foi contra o "Gohayó". Desse simples fato surgiram, entretanto, duas consequências bem graves, gravíssimas: o Neptuno ficou "doente", pois esse pequenino espinho cutuca-lhe o orgulho esportivo! Resultado pior teve o Gohayó: ainda hoje dorme ele, embalado por uma bela e maravilhosa música:

Nos mares Neptuno impera
Mas Gohayó o venceu na terra!

Cuidado, Gohayó! Que o despertar não lhe seja doloroso!...

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"Ela" era cortadora… e uma cortadora bem boazinha! Mas às vezes a bola inventava de não querer passar por cima da rede. Um dia, porém, ela resolveu a questão. Para falar a verdade, não foi "ela" e, sim, um sapato com uma sola de 7 centímetros. Nesse dia, quase quebrou as pernas, não pôde cortar e recebeu dose dupla de pitos. Que ingratidão! Tanto sacrifício… mas que culpa tinha "ela" de não ser mais alta?

LY.

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