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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - CARNAVAL
Adeus a Mestre Lú

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Um dos mais famosos sambistas cubatenses virou lenda ainda em vida. Nascido em 15 de janeiro de 1962, Luciano de Jesus, o Mestre Lú, faleceu em 24 de março de 2004. Na edição nº 27 do jornal Folha de Cubatão, que começou a circular dois dias depois, era feito este destaque:
 


Imagem: reprodução parcial da matéria

Adeus Mestre Lú

Texto de Gilson Miguel

Foi enterrado como queria e com as honras de um verdadeiro sambista.
"Quando eu morrer não quero choro nem vela". A letra do velho samba servia de testamento a Mestre Lu quando os amigos insistiam para que cuidasse da saúde.
Saúde precária que o obrigava a se internar em hospitais, de onde fugia sempre que uma batida mais forte de surdo era ouvida, mesmo a quilômetros de distância. Sabia que tinha que se cuidar, "mas não agora, depois...", acalmava a todos com seu olhar de moleque que sabe que está fazendo coisa errada, mas que não pode evitar.


Mestre Lu...
Foto publicada com a matéria

A última vez que fugiu do hospital, foi seu último carnaval. Seu último Banho da Doroti, folia que jamais será a mesma, sem aquela figura travessa, andar de malandro, vestido nas cores da Portela, com seu inseparável chapéu Panamá, comandando o samba, sempre acompanhado da Velha Guarda da X 9.

Irreverente, rebelde, inconformado com a conformidade das pessoas que teimam em  levar a vida, ao invés de "deixar a vida levar", Luciano de Jesus, em seus 42 anos, nunca se deixou enquadrar no comportamento da sociedade "pequeno burguês" que acorda para trabalhar e dorme para acordar.


Com Luíza Brunet, em um dos grandes carnavais em que desfilou
Foto publicada com a matéria

Não conseguia entender a vida sem a poesia do samba ou o romantismo das madrugadas. Nasceu para isso... esse era seu destino...

Poeta sensível, dono de uma percepção fantástica, escrevia um samba com a mesma facilidade que passava noites inteiras cantando com amigos, na mesa de um bar.

Suas proezas e peripécias eram conhecidas em todas as esquinas e rodas de samba, entre o Casqueiro e o Rio de Janeiro. Histórias contadas, recontadas,  aumentadas... Mestre Lu já era uma lenda muito antes de sua morte.


Com o cantor Zeca Pagodinho, deixando a vida levar, vida leva eu
Foto publicada com a matéria

Quando a notícia de que o "malandro" tinha morrido se espalhou, no domingo passado, suas histórias foram relembradas. Todos queriam homenagear Mestre Lu contando suas melhores passagens pela vida.

No momento em que Mestre Lu morreu, com certeza com ele morreu mais um pedaço da velha malandragem, que vai se acabando na violência do mundo, que não tem mais olhos de poesia iluminando suas noites.


Junto com o mestre Paulinho da Viola, grande compositor da sua querida Portela
Foto publicada com a matéria

Malandro da antiga [como gostava de se definir], tinha sempre um trocado prum menino comprar bala. Tinha sempre uma palavra de incentivo e de apoio para aqueles que o procuravam. Era daqueles que tiram a calça para entregar pra um amigo. Malandro do tipo que só tinha bondade em seu coração... Aquele que, quando chegava, era recebido com  festa!!!

O Mestre Lu que morreu era aquele malandro solidário, que tinha sempre uma lágrima pronta pra chorar e que não podia ver injustiça que já entrava na briga. Não importava o tamanho...

Esse era Mestre Lu, que tinha sede de vida e que foi pro céu virar estrela sambista pra emocionar a noite dos anjos.


Mestre Lú com o "galinho de quintina" Zico
Foto publicada com a matéria

Se Cubatão já não é a mesma sem a irreverência adorável de Mestre Lu, com certeza o céu também nunca mais será.

Com a notícia, uma verdadeira multidão correu para o Centro Esportivo do Casqueiro para um último adeus ao amigo, ao som de sambas escolhidos "a dedo" para seu próprio enterro: "quando eu morrer, não quero tristeza", insistia.


No velório todos os sambistas, parentes e amigos foram dar adeus a Luciano de Jesus,
o irreverente Mestre Lú
Foto publicada com a matéria

Na segunda-feira, às 16 horas em ponto, pontual como nada antes, em sua vida, uma salva ensurdecedora de rojões avisou o Casqueiro que estava saindo o enterro do Mestre Lu , que, em despedida, deu uma volta pelas ruas do bairro, enquanto o povo, acompanhado da voz rouca de um surdo triste, batendo em ritmo de lamento, cantava:

"Um lencinho é pouco
para o rio de lágrimas
que tenho pra chorar..."

Adeus, Mestre Lu!


Imagem: reprodução da página com a matéria, do arquivo enviado pelo jornal à gráfica

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