Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cubatao/ch014s.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/21/13 17:38:25
Clique aqui para voltar à página inicial de Cubatão
HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - Poluição
O vale da morte e da vida (19)

Leva para a página anterior

Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, página A-12 da edição de quinta-feira, 29 de setembro de 2011:


Imagem: reprodução da página com a matéria

OMS coloca Cubatão de novo entre as mais poluidoras

Para a Organização Mundial de Saúde, no Brasil a Cidade perde apenas para o Rio

Da Redação

Cubatão foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a segunda cidade mais poluída do Brasil (e a 204ª do mundo), com o registro de 48 microgramas de material particulado em suspensão por metro cúbico de ar. Em primeiro está o Rio de Janeiro (144º no mundo) com 64 microgramas.

O estudo da OMS foi realizado em 1.100 localidades e usou como base as informações de órgãos oficiais em cidades onde há medições desses poluentes. Apesar de Cubatão aparecer em uma colocação desconfortável, a qualidade do ar na área urbana, segundo informações da Agência Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), fica dentro dos padrões de qualidade definidos pela legislação estadual, que é de 50 microgramas de material particulado por metro cúbico.

De acordo com Marcos Cipriano, gerente da unidade da Cetesb em Cubatão, a média anual da qualidade do ar, em 90% dos dias do ano, fica dentro dos parâmetros aceitáveis. Em 2010, a média foi de 32 microgramas e, em 2009, 28 microgramas. "A situação hoje é mais grave na área do Polo Industrial, na antiga Vila Parisi", explica.

No ano passado, o índice de material particulado na atmosfera chegou a 86 partículas concentradas por metro cúbico de ar. E, na região do Vale do Rio Mogi (no sentido da Serra do Mar) a 59.

Natureza - Segundo o gerente da Cetesb, essa carga de poluentes não afeta a região central da Cidade. Além da distância da área urbana em relação ao polo, há as barreiras naturais da região serrana que separam os vales dos rios Cubatão e Mogi, e os ventos sopram, predominantemente, do mar para a montanha. Só nos períodos de vento noroeste é que circulam no sentido contrário, trazendo esse material para o Centro.

A causa da persistência do material particulado na área da antiga Vila Parisi, segundo Cipriano, é a emissão industrial. Embora esteja dentro dos parâmetros atuais, precisa adaptar-se ao novo padrão de qualidade do ar que começa a ser adotado pelo Estado.

Outro problema é a instalação de pátio de contêiner e estacionamentos de caminhões, que se iniciou em meados dos anos 2000. Pela área, circulam por dia até 5 mil caminhões.

"Mesmo assim, o quadro pelos números apresentados é melhor do que os da década de 1990, quando nem todos os acessos a esses pátios eram pavimentados. A movimentação de veículos de carga contribui, também, para maior queima de combustível, o que agrava a contaminação atmosférica", explica o gerente da Cetesb.

Vale da Morte - Conforme o estudo da OMS, que trabalha com o limite aceitável de 20 microgramas de partículas suspensas por metro cúbico, a cidade mais poluída do mundo - título que Cubatão detinha até o final da década de 1980 - agora é Ahwaz, no Irã, com 372 microgramas de poeira em suspensão, seguida de Ulaanbaatar, na Mongólia, com 279; Sanandj, no Irã, com 254; Ludhiana, na Índia, com 251, empatada com Qeta, no Paquistão, com 251. Abaixo de 20, no Brasil, só Belo Horizonte e Ibiritê (MG) com 18, e o Pontal do Paranapanema com 16.


A concentração de indústrias e a passagem intensa de caminhões agravam a qualidade do ar nessa região

Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria

Prefeitura quer saber a metodologia usada

Cubatão quer conhecer a metodologia adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na pesquisa sobre a qualidade do ar. Ontem, a prefeita Marcia Rosa contestou a forma como foi abordado e divulgado o estudo.

Em sua opinião, a abordagem dada à pesquisa ignora 30 anos de esforço para reverter um quadro crítico de poluição que levou a Cidade a receber a alcunha de Vale da Morte. A prefeita se apoia em dados da própria Cetesb, que mostram que a qualidade do ar no Centro se mantém em níveis bem melhores do que os exigidos.

Conforme as regras ambientais do Estado de São Paulo, o limite aceitável de partículas suspensas inaláveis é de 50 microgramas por metro cúbico de ar. "O próprio relatório da Cetesb utilizado pela OMS mostra que no Centro da Cidade a média em 2009 foi de 29 microgramas. O mesmo índice de Curitiba e muitas outras cidades de países desenvolvidos", argumenta a prefeita.

Para ela, esse fator deveria ser levado em conta, já que a Cidade é uma das únicas do Estado a possuir estações medidoras da qualidade do ar em regiões com características diferentes (indústrias e Centro).

"Anunciar que Cubatão é a segunda cidade mais poluída do País de uma forma tão genérica é passar a impressão de que não conseguimos mudar o quadro da década de 1980. Claro que precisamos evoluir, principalmente na área industrial para alcançarmos o patamar ideal. Mas simplesmente divulgar dados sem pormenorizá-los é jogar no lixo a história das pessoas que lutaram para mudar a realidade ambiental deste Município".

Especialista - A Tribuna procurou o engenheiro Sérgio Luis Pompéia, ex-gerente regional da Cetesb na Baixada Santista e especialista em recuperação ambiental. Porém, ele informou que, por enquanto, não comentaria o assunto.

"Tomei conhecimento do tema apenas por meio do noticiário geral e, por se tratar de um assunto bastante técnico, não é possível me manifestar sem o conhecimento detalhado dos estudos".

Sérgio participou ativamente do processo de recuperação ambiental de Cubatão, que elevou o Município do patamar de a cidade mais poluída do Mundo para o de Cidade Símbolo da Ecologia e Recuperação Ambiental.

Sujeira

"Aqui (no polo industrial) a gente fica com a cara preta de tanto pó"

Carlos Iran dos Santos, vendedor de castanhas e que é natural de Tapiraí, no Vale do Ribeira

Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria

Trabalhadores sentem o ar pesado no polo

A despeito de metodologias e formas de divulgação dos dados relativos à qualidade do ar em Cubatão, quem sofre com o problema são as pessoas, principalmente as que passam o dia na região do Polo Industrial, onde em 2009 a média de material particulado foi de 68 microgramas por metro cúbico. Número acima do aceitável pelo Estado (50 microgramas) e duas vezes maior do que o indicado pela OMS (20 microgramas).

"Quando a gente chega aqui já sente o ar mais pesado", conta o mecânico Everaldo Santos Souza, que está há seis meses trabalhando na região do Polo Industrial e é natural de Tapiraí, cidade a 135 quilômetros da Capital, próxima ao Vale do Ribeira, conhecida por possuir uma grande área preservada de Mata Atlântica.

Outro que sofre com o clima ruim da região das indústrias é o vendedor de castanhas Carlos Iran dos Santos. Ele passa o dia rodando entre as barracas da Avenida Plínio de Queiroz, ao lado de caminhões. Cuidadoso, ele faz questão de cobrir o saco de castanhas para não ser atingido pelo pó que fica visivelmente suspenso no ar.

Morador de Vicente de Carvalho, no Guarujá, ele confessa que ao chegar em casa após um dia de trabalho usa leite de colônia para limpar a pele. "Aqui a gente fica com a cara preta de tanto pó", brinca.

Outra que sente os efeitos da poluição é a auxiliar de serviços gerais Fabiana Santos. "É comum a gente sentir a garganta arder. E além do pó, também tem o cheiro forte de amônia que quando chove sempre a gente sente".

Comparações

48 50 90
microgramas de material particulado por metro cúbico de ar foi encontrado em Cubatão pela OMS microgramas por metro cúbico de ar é o parâmetro adotado pela Cetesb em sua análise por cento dos dias, no ano passado, registraram índices dentro dos padrões aceitáveis

Leva para a página seguinte da série