AMBIENTE

Guará vira símbolo da recuperação de Cubatão

Aves que haviam sumido da cidade no tempo crítico da poluição estão de volta

José Rodrigues

SANTOS – A natureza emitiu sinais claros de que as coisas estavam melhorando em Cubatão. Primeiro, foram os peixes que voltaram ao rio, que tem o mesmo nome da cidade e estava morto. Depois, a vegetação da Serra do Mar mostrou recuperação, curando chagas abertas pela poluição.

Mais recentemente, os guarás-vermelhos, espécie que está em extinção, que haviam fugido das más condições ambientais, voltaram a habitar os mangues do município, sendo escolhidos como símbolo dessa recuperação ambiental.

Os sinais da natureza foram acompanhados pelos boletins da Cetesb, a empresa que controla o ambiente: 93% das fontes de poluição foram controlados, num programa que custou, segundo cálculo das indústrias, US$ 525 milhões.

A Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), uma das empresas que estavam com o cronograma de obras atrasado, conseguiu recentemente o certificado ISO 14001, de gestão ambiental. "A cidade já foi considerada a mais poluída do mundo e conseguiu inverter esse quadro negativo com um trabalho que a deixa mundialmente como exemplo de recuperação ambiental", diz o prefeito Nei Serra (PTB), que administra a cidade pela terceira vez.

Ele ainda se lembra quando assumiu a prefeitura em sua primeira gestão e ouvia que Cubatão era um caso perdido, sem solução. Serra considera sua cidade um símbolo da ecologia.

O prefeito lembra ainda o atual índice zero de estados de alerta e emergência. Há 15 anos, foram decretados 16 estados de alerta e um de emergência.

Riquezas – Vencida a fase crítica, a prefeitura quer agora explorar algumas riquezas ofuscadas pela fama de cidade poluída. Há projetos para a criação de dois parques temáticos: um explorando as belezas naturais e a riqueza histórica do Caminho do Mar e outro para explorar uma área de mais de 2 milhões de metros quadrados entre as rodovias dos Imigrantes e Anchieta. "A ideia é construir o Parque do Guará-Vermelho na área de mangue, que será muito importante do ponto de vista da educação ambiental".

Guarás-vermelhos, espécie em extinção, na foz do Rio Cubatão: prefeitura pensa em construir um parque na região de mangue da cidade, para servir como polo de educação ambiental

Foto: Itamar Miranda/AE, publicada na página C-8 (Acervo Digital Estadão)

Cidade saudável – Além da recuperação do meio ambiente, Cubatão está preparando-se para aderir ao programa Comunidades Saudáveis da organização Mundial da Saúde (OMS). Nei Serra informa que o processo já está em fase final de elaboração. "Demos ênfase especial a essa questão".

Para conseguir recursos, a prefeitura mudou o sistema de cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS), aumentando em 34,2% a receita do tributo, que no ano passado foi de R$ 11 milhões.

Há novidades também na cota do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que o Estado repassa ao município. "Pela primeira vez, nos seis últimos anos, conseguimos reverter a tendência de queda na participação desse imposto e, para o próximo ano,haverá um aumento de 2,4%", revela o prefeito, informando que isso representa mais R$ 2 milhões aos cofres municipais.

O problema do desemprego – considerado o maior problema na cidade – está sendo atacado com incentivos para novos investimentos. Segundo dados da prefeitura, há 12 mil pessoas desempregadas cadastradas, mas o número total é maior. "Mesmo numa época de crise como a atual, o município já atraiu investimentos de R$ 1,2 bilhão".

Exagero – O vereador João Ivaniel de França Abreu (PSDB) considera "marketing ilusório" a ideia que o prefeito Nei Serra está vendendo de Cubatão como cidade símbolo da ecologia. "É vender uma imagem que não temos', diz. "Podemos dizer que é um símbolo da luta pela melhoria da qualidade de vida ambiental".

O tucano admite que houve uma grande melhora na qualidade do ar quando se compara os índices atuais com os da década de 70 e do início dos anos 80. "A poluição provocada pelo material particulado foi controlada, mas não houve avanço igual em relação aos gases e à poluição das águas".

Ele reivindica mais técnicos para a unidade da Cetesb local e denuncia a emissão de gases, que segundo ele aumentou nos últimos três meses, principalmente nos fins de semana. "Eu tenho um detector de poluição no estômago: um determinado gás ataca minha gastrite e rolo de dor na cama", contou.

Reclama ainda de um pó preto que existe há dez anos na atmosfera. Segundo ele, agora está pior.

O voo dos guarás-vermelhos sobre os manguezais do município
Foto: Itamar Miranda/AE, publicada com a matéria, na página C-8

(recorte preservado no acervo da Hemeroteca Municipal de Santos)