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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - Poluição
O vale da morte e da vida (11)

Texto publicado no jornal santista Diário do Litoral, na edição especial sobre os 57 anos de Cubatão, em 9 de abril de 2006:


Foto: Arquivo/Departamento de Imprensa/Prefeitura Municipal de Cubatão

Mudança: do "vale da morte" aos guarás

Se os manguezais de Cubatão ficaram comprometidos por quatro décadas de despejos industriais, seria de se esperar que nada ali sobrevivesse, além dos resistentes caranguejos.

Engano. Desde o início dos anos 90 que esses 3,5 mil hectares de mangues vêm se transformando num inesperado e surpreendente viveiro para ao menos três aves que se julgava quase extintas (guará, garça e gavião-asa-de-telha). Além de abrigar outras 142 espécies, 58 delas migratórias, como maçaricos canadenses, batuíras, águias-pescadoras norte-americanas e colhereiros do Sul.

Garantem os biólogos Robson Silva e Silva e Fábio Olmos, que desde 1982 realizam o monitoramento do local: "Os manguezais da Baixada Santista são agora os mais importantes sítios para aves migratórias do Litoral Sudeste, além de abrigarem um grande número de espécies residentes, incluindo uma das três únicas colônias de garças conhecidas na região costeira".

Seus levantamentos comprovam que a região de Cubatão-Santos está sendo procurada por uma grande diversidade de aves aquáticas, em número maior do que o próprio Pantanal do Mato Grosso (83 contra 60) - algumas delas consideradas extintas no Estado de São Paulo, como o gavião-asa-de-telha. Nos meios científicos, a fama desses mangues é tanta que, hoje em dia, pesquisadores de todo mundo vêm visitar o local para estudos.

Uma explicação - Mas, o que parece um contra-senso - a presença de tantas e variadas espécies no meio de um pólo industrial - tem explicações fundamentadas: para que fossem construídos os terminais marítimos da Cosipa e da Ultrafértil, foi necessário aterrar grandes extensões de mangues. Em conseqüência, formaram-se bancos de lama onde passaram a proliferar várias espécies de pequenos caranguejos, que são o alimento natural dessas aves. "Como bicho não é bobo, as aves passaram a vir pra cá, onde encontram comida abundante", afirma Robson.

Outra ironia é que o ninhal dos guarás (ave de plumagem vermelha, na língua indígena) está exatamente em frente às unidades de produção da Cosipa, de onde sai a água utilizada no processo de resfriamento do aço, o que eleva a temperatura daquela parte do rio a mais de 30 graus centígrados. Esse ambiente artificialmente úmido e quente - especulam os biólogos - é que estaria atraindo os guarás a fazerem seus ninhos ali.

Curiosidade permanece - O interesse científico volta-se, agora, para as seguintes questões: já se sabe que os caranguejos e peixes daqueles mangues apresentam índices de metais pesados, mas que quantidade desses venenos é assimilada pelas aves? Qual a gravidade disso a médio e longo prazos?

Os metais pesados se acumulam no organismo e, dependendo de sua concentração, podem ocasionar desde a fragilidade da casca dos ovos, até má formação do embrião, esterilidade e morte do indivíduo adulto. No caso do falcão peregrino, que vem dos EUA e passa seis meses nos mangues de Cubatão, uma pesquisa feita no início da década de 90 do século passado constatou a diminuição do potencial reprodutivo da espécie, devido à poluição absorvida pela ave no Hemisfério Sul.

O que os biólogos Robson e Fábio defendem é a transformação dos 5 mil hectares de manguezais, entre Praia Grande, São Vicente, Santos, Cubatão e Bertioga, numa unidade de conservação ambiental.