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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Cosipa aumentou a importância do pólo (3)

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Em 1998, dentro do processo de privatização da siderurgia nacional, a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) deu uma guinada em sua organização diretiva, com vistas à recuperação econômica da usina, mergulhada em grandes dívidas. A mudança foi comunicada em reportagem de página inteira publicada no dia 14 de novembro de 1998 no jornal A Tribuna:

EXPECTATIVA

Anunciando demissões, surge a Nova Cosipa

Direção diz que reestruturação é indispensável para evitar o colapso da usina, que acumula dívidas de R4 2,4 bilhões

Manuel Alves Fernandes
Da Sucursal

O presidente da diretoria executiva da Cosipa, Omar Silva Júnior, anunciou, ontem, a extinção dessa empresa e a criação, a partir de janeiro, da Nova Cosipa, por um processo contábil e societário conhecido como Dropdown.

A medida, embora vá representar o fechamento da Linha 1 de processamento de aço e provocar a demissão de mais 1.200 empregados (na maioria prestes a se aposentar), foi considerada por ele como essencial para evitar o colapso financeiro da siderúrgica de Cubatão, cujas dívidas chegam a R$ 2,4 bilhões e a tornam economicamente inviável.

A Cosipa original incorporou a Usiminas (que mudou sua denominação para Nova Usiminas) e deverá passar para essa empresa parte da dívida da Cosipa atual (R$ 2,4 bilhões) e as instalações do Porto e da fábrica de oxigênio da usina de Cubatão.

Apesar de a decisão ter sido anunciada numa sexta-feira 13 e ter provocado um clima de apreensão entre os cerca de 7.500 empregados da siderúrgica, Omar disse que antes do ano 2000, ou no máximo em 2001, a Nova Cosipa será a mais moderna siderúrgica do Brasil.

Enquanto dava entrevista ontem à tarde, na Bolsa de Valores, as ações da Cosipa (incorporadas agora à Nova Cosipa) apresentavam uma valorização de 25%.

Omar disse que todo o processo de transformação da Nova Cosipa será levado à comunidade cosipana e da Baixada Santista "com total transparência".

Muitas dívidas - Assoberbada por dívidas e enfrentando problemas com a colocação de produtos no mercado, principalmente no exterior, a velha Cosipa estava caminhando para um estado de insolvência.

Por isso, segundo Omar Silva Júnior, a reestruturação que está sendo feita agora é a oportunidade para "consolidar o complexo Usiminas-Cosipa como líder setorial de aço no País e também da Usiminas garantir a decolagem do CSP, que substituirá a linha 1". Trata-se de um investimento no enobrecimento da linha de produção com substituição concomitante do lingotamento convencional, que corresponde hoje a 40% da produção.

Em termos societários, a Nova Cosipa é constituída como uma subsidiária integral da Cosipa original, cujo endividamento não incluirá a parcela de inviabilidade financeira (e econômica) representada pelo passivo atual não remunerável pelas atividades siderúrgicas da Cosipa. Com a transformação, segundo seus dirigentes, a Nova Cosipa passa a ser uma companhia siderúrgica economicamente viável e geradora de resultados (e caixa) a curto prazo.

A Cosipa atual transforma-se, instantaneamente, em um negócio economicamente inviável, em face do endividamento absorvido ao se criar a Nova Cosipa, porém com ativos operacionalmente viáveis: Porto, Pátio de Minérios e Fábrica de Oxigênio.

Saneamento - Como contrapartida parcial dos passivos remanescentes (não transferidos da Cosipa para a Nova Cosipa) a Cosipa original deverá subscrever uma emissão de debêntures conversíveis, com participação nos lucros, na Nova Cosipa. Esses debêntures poderão, posteriormente, converter-se em ações.

A partir da efetivação dessa proposta (o que deverá acontecer até 30 de dezembro para que a Nova Cosipa comece a operar), começa a segunda fase de redução de capital. A Nova Cosipa deixa de ser subsidiária integral da Cosipa atual. Esta separação é realizada mediante uma redução do capital social da empresa original, de tal forma que, para cada ação atual da Cosipa, seus acionistas recebam uma nova ação representativa do capital da Nova Cosipa, que será uma companhia aberta.

Com essa etapa concluída, os acionistas da Cosipa passam a deter ações de uma companhia totalmente saneada, a Nova Cosipa, e continuam acionistas da antiga holding, caracterizadamente insolvente (economicamente falando), ilíquida e com patrimônio líquido contábil simbólico.

Na terceira fase, haverá a incorporação das duas empresas, por um sistema conhecido como Dropdown. Esse projeto de Dropdown criou uma empresa inviável - a Cosipa original, que segundo os idealizadores do sistema (que vem sendo desenvolvido há sete meses por técnicos da Usiminas e estruturado por uma equipe do Banco Fleming-Graphus, anglo-brasileiro) - "precisa ser equacionada para assegurar a existência da Nova Cosipa".

Porto - A Cosipa original tem prejuízos fiscais, ativos operacionalmente viáveis (porto, fábrica de oxigênio e pátio de minérios) e debêntures conversíveis emitidos pela Nova Cosipa.

A incorporação da Usiminas pela Cosipa Original cria também a Nova Usiminas e garante o projeto de reestruturação: sem diluir a posição dos atuais acionistas controladores da Usiminas e reforçando a posição societária da Nova Usiminas na Nova Cosipa.

Omar Silva Júnior disse que a mudança gera vantagens competitivas: seu custo-caixa das linhas modernizadas após a privatização é dos menores do mundo. Sua localização geográfica é excepcional, pois está no centro do maior Produto Regional Bruto (Sul e Sudeste) e seus recursos humanos são treinados e motivados para gerenciar o cenário competitivo que se vislumbra para o setor.

O porto é um dos setores considerados operacionalmente viáveis pelo grupo que dirige a usina
Foto de José Moraes, publicada com a matéria

Objetivo maior é tornar a empresa lucrativa

Para o presidente da siderúrgica de Cubatão, Omar Silva Júnior, a Cosipa é a partir de agora "uma empresa enxuta e viável", abrindo caminho para um investimento de R$ 500 milhões para poder transformar-se na mais moderna siderúrgica brasileira e tornar-se principalmente lucrativa, apesar da crise econômica.

De acordo com ele, apesar das dificuldades de mercado, o Brasil tem potencial de grande consumidor interno de aço. O País consome, hoje, 90 quilos de aço por habitante. Os países mais desenvolvidos consomem 400 quilos por habitante/ano. O Chile, chega a 160 quilos. Se o Brasil chegar ao nível do Chile, e tem mercado para isso, haverá necessidade de duplicar a produção.

Por isso, foi necessário fazer essas alterações. Embora a empresa viesse apresentando um quadro rentável e no qual se justificavam os investimentos, as dívidas tributárias oriundas do período de privatização, principalmente, complicaram o quadro de endividamento. Enquanto os preços de venda do aço são regulados pelo dólar e pelo mercado, as dívidas tributárias sofrem reajustes pela Ufesp. Com isso, mesmo tendo pago R$ 400 milhões dos R$ 700 milhões que devia de impostos, por exemplo, a Cosipa continuava com esse montante de débitos em R$ 700 milhões, só para exemplificar, segundo Omar.

Preconceito - A Cosipa gera de recursos cerca de US$ 1 bilhão 400 milhões por ano e, segundo os analistas, uma empresa desse porte só suporta uma dívida semelhante. No entanto, o montante dos débitos chega a R$ 2 bilhões 400 milhões. "Por isso, foi feita essa engenharia financeira".

Para evitar o comprometimento maior da usina, o plano previu que fossem colocadas à disposição unidades que não afetam diretamente a produção de aço, como o porto e a unidade de gases. Se fosse fazer isso no mercado, bastava vender o porto e a unidade de gases e reduziria a dívida, para, então, ficar só com a usina.

Omar Silva Júnior não aceita os argumentos de que a Usiminas sempre pretendeu ficar com o Porto da Cosipa fechando a usina. "Os acionistas da Usiminas não olham para o porto da Cosipa, olham para a Cosipa como um todo, com o seu porto. Essa história de mineiros tomarem conta da Cosipa é um preconceito. Mineiro e paulista são brasileiros, não são estrangeiros. Todos querem o melhor para o País. A Acesita foi vendida para um grupo francês; a CSN está sendo cogitada por um grupo alemão. A gente espera que mais brasileiros entrem na Usiminas e na Cosipa".

Demissões - Por isso, foi preferível repassar esse patrimônio à sua principal acionista, para que as duas empresas se mantivessem no mercado, embora independentes e com capital aberto. Além disso, a entrada da Usiminas vai possibilitar novos investimentos no Porto da Cosipa. Agora, o projeto será levado à assembléia ordinária de acionistas, para consolidar o processo.

De acordo com ele, a nova Cosipa vai tentar evitar ao máximo demitir funcionários que não estejam em tempo de se aposentar. Porém, está lançando um programa de demissões voluntárias para atrair preferencialmente trabalhadores com idade para aposentadoria proporcional, antes que o sistema previdenciário mude.

Foram detectados 1.180 funcionários nessas condições. Eles receberão, como incentivo, seis salários, além dos direitos trabalhistas, a multa de 40% do FGTS, além dos direitos complementares da Femco.

Imagem publicada com a matéria

Velha Cosipa morre em uma sexta-feira, 13

Quase falida, com débitos superiores a US$ 2 bilhões, a Cosipa morre numa sexta-feira 13, em meio a uma série de boatos que intranqüilizaram seus funcionários durante todo o dia. Em lugar da Cosipa, conforme procurou ontem tranqüilizar o presidente da empresa, Omar Silva Júnior, surge a Nova Cosipa, com um perfil associado à Nova Usiminas.

Omar garante que a siderúrgica será a maior do País no ano 2000
Foto de José Moraes, publicada com a matéria

Para os críticos da situação da Cosipa, que vêm há dois anos alertando para as más condições da siderúrgica de Cubatão, a situação se resume desta forma: a Usiminas, uma empresa rica, comprou a Cosipa, há cerca de cinco anos, após um processo de privatização. A Cosipa era, na época, uma empresa em estado falimentar, só não chegando a essa situação porque vinha sendo mantida pelo Estado.

Quando foi comprada por Aldo Narcisi, atual presidente do conselho e repassada ao grupo Bozanno Simonsen e à Usiminas, a Cosipa tinha dívidas elevadas, um sucateamento tecnológico em marcha acelerada e um enorme passivo ambiental. Nessa área, chegou a aplicar mais de US$ 200 milhões para cumprir um acordo com a Cetesb e o Ministério Público, e vem tentando eliminar os focos de poluição.

Fatia - A Usiminas investiu elevadas quantias na modernização, mas sempre sob a suspeita dos grupos econômicos e políticos de São Paulo de que, na verdade, a Usiminas pretendia ficar com a melhor fatia da Cosipa: as suas instalações portuárias. A Cosipa também deve tributos ao Governo do Estado e, na quarta-feira (N.E.: 11/11/1998), o prefeito Nei Serra teve que fazer um apelo a Aldo Narcisi e Omar Silva Júnior para poder receber até dezembro uma parcela de R$ 1,3 milhão de IPTU (N.E.: Imposto Predial e Territorial Urbano) não pago pela siderúrgica.

A queda das exportações para a Ásia e o fechamento do mercado norte-americano, que impõe pesadas sobretaxas para adquirir o aço brasileiro, acabaram agravando a situação. O preço do aço caiu para US$ 190,00 a tonelada.

Saída para o mar - Equipamentos considerados antigos, como a Aciaria 1 e o Alto Forno 1, componentes da chamada Linha 1 da Cosipa, contribuem para produzir um aço que custaria, em média, US$ 300,00 a tonelada, muito acima dos preços de compra que vêm sendo praticados no mercado externo. Hoje, só a Linha Dois (Aciaria 2 e Alto Forno 2) estariam em condições de produzir ao custo de empate com o preço internacional.

Sem as encomendas externas e com o preço de fabricação superior ao de compra, a Cosipa não tinha condições de enfrentar, também, suas principais concorrentes, como a Companhia Siderúrgica Nacional e a própria Usiminas, sua controladora. Tornou-se, na opinião dos técnicos, uma empresa tecnologicamente superada. Não faltam, porém, críticas ao grupo de mineiros que dirige a empresa. Segundo esses críticos, a Usiminas atingiu o seu objetivo: ficar com o Porto da Cosipa, sua saída para o mar, por Cubatão. Isso representaria o filé mignon da velha Cosipa.

Internet - A hipótese da Cosipa incorporar a Usiminas foi veiculada pela Internet em julho último e divulgada com exclusividade por A Tribuna.

O desemprego sempre foi a principal preocupação em toda a crise da empresa. Este ano, não faltaram rumores sobre dispensas. A Cosipa pretendia reformar o Alto Forno 1, e ao suspender os serviços, em setembro, deixou margem a dúvidas, embora a empresa garantisse que não demitiria ninguém: apenas fecharia temporariamente postos de emprego à medida em que os trabalhadores se aposentassem.

Afinal, a velha Usiminas dava lucro; a velha Cosipa não. Ontem, sexta-feira 13, corriam os boatos de que as dispensas devem chegar, na realidade, a 2 mil funcionários, além de 3 mil indiretos de empresas que prestam serviços de apoio à usina, que também serão afetadas e efetuarão demissões a curto prazo.

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