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BAIXADA SANTISTA - BIBLIOECA NM - Lendas e Tradições
Lendas e Tradições de Uma Velha Cidade...

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm maio de 1940, era publicada esta obra do historiador santista Francisco Martins dos Santos, reunindo uma série de histórias que ele havia publicado em jornais. Com 254 páginas e tiragem de 2.000 exemplares, Lendas e Tradições de Uma Velha Cidade do Brasil foi impresso na Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, na capital paulista, incluindo ilustrações de Wast Rodrigues e prefácio de Baptista Pereira.

O exemplar pertencente ao professor e pesquisador Domingos Pardal Braz, de São Vicente/SP, foi cedido a Novo Milênio para digitalização em 2015. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição):

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Lendas e Tradições

de Uma Velha Cidade do Brasil

Francisco Martins dos Santos

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Orelhas do livro

Escorço biográfico do autor deste livro

(P. Néves)

Francisco Martins dos Santos, o Chico Martins, como nós o chamamos na intimidade, nasceu em Santos, a 5 de fevereiro de 1903. É o antepenúltimo dos filhos do meu velho amigo, abolicionista e republicano histórico Américo Martins dos Santos com da. Valentina Guiomar Patusca. Na família é o quarto do mesmo nome. É santista de "quatrocentos anos", como se diz hoje, pois descende dos velhos fidalgos arribados com Martim Affonso. Estudou primeiras letras no Jardim da Infância, na Escola de Da. Maria Guimarães, com o prof. Saldanha e outros; depois cursou o Ginásio Santista até o 1º ano secundário.

Em 1915, por morte de sua santa mãe, seguiu interno para o afamado Liceu Salesiano de S. Paulo, onde ficou por mais de quatro anos, bacharelando-se em ciências e letras. Teve ali como professores de Português Rodolfo Machado e Assis Cintra, e de Italiano, Latim e Filosofia, o notável padre Mairini. Fez todos os preparatórios e preparava-se para ingressar na Faculdade de Direito, sua grande vocação, quando adoeceu seu pai e mandou chamá-lo para Santos, certo de que morria, a fim de integrá-lo na carreira comercial e deixá-lo com uma profissão.

Entretanto, o pai não morreu senão doze anos depois, mas o filho nunca mais quis ouvir falar de carreira jurídica. Vendo as dificuldades financeiras de seu pai, o seu abatimento, desistiu de tudo e, com profunda agonia de espírito, atirou-se à carreira que detestava, e assim perdeu-se um futuro notável advogado.

Integrado no comércio de sua terra, o meu jovem amigo criou na imprensa o seu campo espiritual. Nos dez anos a seguir trabalhou e colaborou para vários jornais e revistas: Praça de Santos, Comércio de Santos, Gazeta do Povo, Jornal da Noite, O Bandeirante, A Nota, em Santos, e Gazeta e Folha da Manhã, em S. Paulo. Em 1923 fundou um jornal: O Balneário, literário e artístico, com ótimos colaboradores, que durou dois anos.

Durante esse tempo tomou professores particulares e transformou o porão da casa de seu pai em vasto gabinete de estudo. Português, francês, inglês, italiano, latim, grego e até tupi-guarani ele estudou, ali amadurecendo a sua futura carreira literária, seus conhecimentos de história, de geografia e de toponímia brasileira.

Em 1929 fez pela imprensa a campanha a favor da Aliança Liberal, com grande ardor e puro entusiasmo, e colheu aí grandes aborrecimentos, aí e durante a Revolução, getulista como era. Após a vitória, comemorou-a em artigos vibrantes, mas nada pediu aos vencedores. Fez outras e várias campanhas jornalísticas em favor da coletividade. De 1930 em diante continuou a colaborar para vários jornais e revistas: A Tribuna, Diario de Santos, Jornal da Noite, Flamma, Estrela Azul, Revista Aduaneira, Brasilidade, Gazeta de S. Paulo, Folha da Manhã etc.

Em 1932, como homem de opinião, era detido por discordar da loucura coletiva que empolgava o seu Estado. Julgava-se com a razão e punha-se em choque com toda a população de sua terra e até com toda a sua família, integrada no movimento. Sempre foi altivo, franco, independente. Continuava getulista contra seus próprios interesses. Sofreu um passageiro repúdio social, mas, como profetizara, venceu quando com o tempo, convencidos ficaram do erro, todos os que haviam procedido de maneira inversa à sua.

Em 1936 fundava-se O Diario e Francisco Martins dos Santos tornava-se seu grande colaborador desde o primeiro dia.

Em 1937 publicava seu primeiro livro, e que livro!, a Historia de Santos, em dois volumes, acolhido com entusiasmo pela grande crítica nacional, louvado e premiado unanimemente pela Câmara Municipal da cidade e já agora citado em várias obras, discursos e conferências. Santos ficava a dever ao filho a sua primeira e monumental história escrita, e um grande, mas grande serviço, como disse um de seus apreciadores.

Em 1938 realizava uma nova obra, tão grande ou maior: fundava o Instituto Histórico e Geográfico de Santos, com Edmundo Amaral e Júlio Conceição. Foi seu factotum; desempenhou durante meses todos os encargos sociais, tesoureiro, secretário, bibliotecário, propagandista e até faxineiro; redigiu em dois dias seus estatutos provisórios que vigoraram dois anos, organizou e imprimiu seus diplomas, montou-o e inaugurou-o a 5 de fevereiro de 1938 (sua data aniversária), com suas próprias forças, com dinheiro e crédito inteiramente seus, dotando-o de início com ótimas instalações e em excelente prédio. Formou uma notável biblioteca especializada, formou um museu, uma mapoteca, arrastou associados a 100$00 de joia por cabeça, convencendo-os a aderir à obra reputada louca e absurda, impraticável; argamassou o monumento, e deixou-o finalmente entregue às diretorias organizadas depois. Em pouco mais de um ano, ele fizera uma obra de dez anos. Sofreu para isso, como bem se imagina, mas deu-se e dá-se por bem pago, assistindo o crescimento do milagre feito em Santos, a terra do café...

Em 1939, por ocasião do 1º Centenário da Elevação de Santos a cidade, organizou a grande comemoração do Instituto Histórico e Geográfico no Teatro Casino, com notável pompa, e produziu para o número especial de A Tribuna de 26 de janeiro a maior colaboração que já se fez para jornal, de uma só vez, cerca de 30 páginas, contratado por três contos de reis apenas.

Vários discursos e conferências foram pronunciados por ele nestes últimos anos: no Rotary Club, nos teatros, na Escola Italiana, na Academia José Bonifácio, na praça pública, nas estações de rádio, e ultimamente no Departamento Nacional de Geografia e Estatística no Rio de Janeiro, duas vezes, a convite do embaixador José Carlos de Macedo Soares e do dr. Leite de Castro.

Agora, em março de 1940, publicou, de parceria com o cartógrafo José Castiglione, uma obra notável e original, única no gênero, o Mappa Antigo e Moderno do Municipio de Santos, trabalho de observação e pesquisa, produto de vários anos de labor beneditino, revelando aos santistas, pela primeira vez, todo o seu território, na feição moderna, mas contendo todo o seu passado histórico e toda a sua antiga nomenclatura geográfica, trabalho esse que lhe valeu o convite do ministro Bernardino de Souza e outras figuras eminentes, para participar do 9º Congresso Brasileiro de Geografia, a realizar-se em Santa Catarina no mês de setembro.

Agora publica este excelente volume das Lendas e Tradições de uma velha cidade do Brasil, que é a parte lendária e pitoresca, tradicional, romântica, social, militar, da sua Santos. Bem disse o crítico do Estado de S. Paulo recentemente: "Martins dos Santos tem Santos na alma e no nome", e isso é de família, atávico, imemorial.

Dentro de dois meses, novo livro sairá: o seu Costeiras e Baepís, que é toda a vida pitoresca e sentimental dos "caiçaras", os praianos do Estado de S. Paulo. Para o ano, novos livros surgirão de sua pena: Figuras e fatos da história brasileira, O Visconde Dos Fiães, a Chronologia Santista em 2 volumes, e outros virão.

O futuro de Francisco Martins dos Santos, o meu jovem amigo, é esplêndido e promissor. Que ele siga a rota extraordinária do primo Martins Fontes. Que ele saiba vencer, coração e olhos erguidos, os tropeços do seu caminho, as invejas, os despeitos, as oposições, as dificuldades financeiras, e vença, franca e amplamente, para glória maior da terra comum e sua.