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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1800-1883 (16)

Clique aqui para ir ao índice do segundo volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 191 a 210 do Tomo II:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 191/tomo II da obra

 

1800-1883

[...]

CCLI – No dia 15 de abril de 1819, falece o conde de Cavalleiros, d. José Thomaz de Menezes.

CCLII - No dia 25 de abril de 1819, João Carlos Augusto de Oeynhausen, depois marquês de Aracati, nomeado governador e capitão-general da capitania de S. Paulo, toma posse da administração e govern[a] a capitania dois anos e dois meses; e em seguida, como presidente do governo provisório eleito em junho de 1821, governa um ano, dois meses e dois dias.

CCLIII –Por alvará de 10 de maio de 1819 é a povoação de Praia Grande, em Niterói, erigida em vila, com a denominação de Villa Real da Praia Grande, tendo por termo as quatro freguesias de S. José de Icarahy, de S. Sebastião de Itaipú, de S. Lourenço dos Indios e de S. Gonçalo.

CCLIV – No dia 11 de julho de 1819, morre nesta Corte o chefe de divisão Rodrigo Antonio da Costa.

CCLV – No dia 13 do mesmo mês de julho de 1819 foi recolhido à cadeia do Aljube do Rio de Janeiro o desembargador José Joaquim Botelho de Almeida, à ordem do juiz da correição do crime, vindo na nau Presiganga, e obteve nesse mesmo dia homenagem por provisão do desembargo do paço, e acórdão da Casa da Suplicação.

CCLVI – No dia 9 de março de 1819, pelas onze horas da noite, faleceu na Praia Grande d. Francisco de Almeida Mello e Castro, conde das Salveias, de um catarral, com cinquenta e oito anos, onze meses e três dias; e no dia 10 foi o cadáver transportado para S. Francisco de Paula, na Corte, onde se sepultou.

CCLVII – Por alvará de 10 de setembro de 1819, el-rei d. João VI dá estatutos à nova Ordem de Nossa Senhora da conceição da Vila Viçosa, criada por decreto de 6 de fevereiro de 1818.

CCLVIII – O reverendo fr. José de Azevedo e André Ortiga foram, por ordem do governador das armas, recolhidos à cadeia do Aljube no dia 14 de novembro de 1819, e recomendados a segredo, tendo vindo ambos presos de Porto Alegre.

CCLIX – Em dezembro de 1819, o conde da Figueira, José de Castello Branco Corrêa da Cunha Vasconcellos e Souza, governador e capitão general do Rio Grande do Sul, celebra a convenção de limites entre a província do Rio Grande do Sul e a república de Montevidéu.

CCLX – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 16; ciclo solar, 9; epacta, 15; letra dominical, B A.

CCLXI – Martirológio. Dia 1º de janeiro, sábado; Páscoa a 2 de abril; indicação romana, 8; período Juliano, 6.533.

CCLXII – No dia 4 de janeiro erige-se em vila, com a denominação de Nova Friburgo, a colônia suíça do Morro Queimado, acima da Serra dos Órgãos.

CCLXIII – No dia 19 de novembro de 1820, à uma hora da manhã, falece de uma apoplexia d. Francisco Mauricio de Souza Coutinho, almirante da Armada Real, com cinquenta e sete anos e dois meses, sendo sepultado na igreja do Engenho Velho. Esteve quatorze anos no Pará, onde criou um Arsenal de Marinha e se fabricaram várias fragatas.

CCLXIV – No dia 22 de janeiro de 1820, o conde da Figueira e os brigadeiros José de Abreu e Bento Corrêa da Camara ganham aos caudilhos La Torre e Sotello a batalha de Taquarembó, ficando mortos no campo o caudilho Sotello, quatro oficiais e setecentas e noventa e cinco praças de pret.

CCLXV – No dia 13 de fevereiro de 1820, falece o conde da Ribeira, coronel José Maria Antonio Gonçalves Zarco da Camara, nascido a 2 de dezembro de 1784.

CCLXVI – Em 12 de março de 1820 é substituída a primeira junta provisória do governo do Grão-Pará e Rio Negro, criada em virtude do pronunciamento do primeiro de janeiro do mesmo ano.

CCLXVII – No dia 14 de abril falece o desembargador José Barroso Pereira.

CCLXVIII – No dia 8 de julho de 1820 abre-se o novo edifício da Praça do Comércio do Rio de Janeiro, cujo começo teve lugar no dia 11 de junho de 1819.

CCLXIX – A família real fez mais dois casamentos no Rio de Janeiro durante a sua estada no Brasil; sendo a princesa d. Maria Isabel, com d. Fernando sétimo rei de Espanha, que a matou; e a princesa d. Maria Francisca, que casou com o infante d. Carlos, irmão de Fernando VII.

Outro casamento esteve entabulado, ajustado e contratado em 1820, o casamento do príncipe d. Miguel, com a princesa Christina das Duas Sicílias. Estava tudo pronto, e até trocados os retratos, quando arrebentou a revolução de 24 de agosto na cidade do Porto, e em 15 de setembro de 1820 em Lisboa.
Este acontecimento suspendeu o casamento, e a princesa Christina se esposou com Fernando VII de Espanha, de cujo matrimônio nasceu a rainha Isabel.

CCLXX – Os dois irmãos Lobatos, visconde de Magé e visconde da Vila Nova da Rainha, gozavam de grande valimento do rei depois do conde de Paraty.

O visconde de Magé era um excelente homem, e embora tivesse a fisionomia carrancuda, o seu coração era bom; e não consta que fizesse mal a pessoa alguma, e nem se envolvesse nos enredos do palácio, e muito menos ter influência imediata com o rei. Sua boca não se abria para falar mal dos outros; ao contrário, sempre que podia, encobria os defeitos alheios.

O irmão visconde da Vila Nova da Rainha era muito altivo, e o seu comportamento leviano em casas de família. Gostava de sociedades e de ser protetor, e influente em alguns despachos e arranjos de seus amigos e parentes; mas nada fazia por dinheiro, e nem por qualquer outro interesse.

Depois do conde de Paraty, foi o maior valido do sr. d. João VI, mas nunca esteve preso à pessoa do rei.

Gozava de plena liberdade, indo ao paço pela manhã e à tarde beijar a mão de el-rei; e entrava no quarto do soberano a qualquer hora, porque era porteiro da câmara, e governava a todos os criados de galão. Era mantieiro, tesoureiro da casa real, e do bolsinho de el-rei, e secretário da Casa do Infantado.

Nos dias de gala ele se apresentava como tesoureiro do Infantado, levando as condecorações de brilhantes e joias do mesmo Infantado a d. Miguel.

No dia seguinte as ia buscar, porque o rei dizia que essas joias, e toda a Casa do Infantado, eram suas, enquanto ele fosse vivo; porque o sr. d. João Carlos por muito tempo habitou o paço de Queluz, pertencente ao Infantado.

No dia dos anos do rei, não punha em si as joias porque quando o filho d. Pedro lhe ia beijar a mão, ele tirava-lhe as condecorações que trazia, e lhe punha as suas, como o Tosão de ouro, obra primorosa e de grande valor, entregando-lhe a bengala, encastoada com um grande brilhante da coroa. Disseram-me que nessas ocasiões o rei se mostrava mais alegre e risonho e dizia ao filho: "- Pedro, ficas muito bonito com estas medalhas". O filho, no dia seguinte, as ia restituir.

CCLXXI – "Cheguei ao Rio de Janeiro no dia 27 de julho de 1817, desembarquei debaixo do caráter de oficial francês e no mesmo dia entreguei na residência da legação francesa todos os papéis que me haviam sido precisos até aquele momento para chegar aos meus fins, sem obstáculos consideráveis.

Fui ocupar uma hospedaria, na Rua de Santo Antonio, e no dia 29 procurei o primeiro ministro de Estado, a quem disse estas palavras: 'Rogo a v. excia. queira pôr na presença de sua majestade que se acha nesta corte, Agostinho Domingos José de Mendonça, acompanhado tão somente dos seus crimes e da firme e invariável resolução de morrer aos pés do seu rei', e retirei-me à minha residência, assegurando-me o ministro que partia no mesmo momento a dar parte a el-rei.

No dia 30, às 11 horas da manhã, o ministro da polícia me intimou: que el-rei determinava fosse eu recluso na Fortaleza de Santa Cruz. Parti imediatamente, acompanhado do ministro de polícia, e cheguei a este lugar às 3 horas da manhã do dia 31. Pedi ao ministro quisesse fazer conhecer a quem competia que as minhas circunstâncias eram tais que precisava entrar em o número dos presos que a humanidade costuma socorrer.

Retirou-se o ministro, tendo a generosidade de deixar sobre a minha pequena mala a sua própria bolsa. Fiquei entregue a um ministro polido e cheio de humanidade, que por muitas vezes adoçou o martírio das minhas considerações, forçando-me a acreditar o êxito mais favorável na incerteza da minha sorte.

Tanta impressão fizeram as minhas circunstâncias no real ânimo de el-rei que determinou socorrer-me, para o que se deram as ordens mais positivas, e desde o dia 3 de agosto principiei a ser assistido com toda a qualidade de auxílio prestado da sua real casa.

No dia 11 fui inquirido pela primeira vez e bem longe de pretender defender-me ou mostrar algum desejo de que podia justificar-me, confessei meus crimes com todas as circunstâncias que os acompanharam, o que deu motivo a simplificar as perguntas que se seguiram em número, e mesmo em matéria.

No espaço de quinze dias, tudo estava concluído a este respeito e soube então que el-rei havia confirmado a sentença dada em Lisboa contra mim. Não duvidei mais da minha sorte, porém também não me arrependi de haver dado os passos que tenho referido. Os grandes do reino, meus parentes, amigos, e mesmo inimigos, correram aos pés do monarca, que ao menos me perdoasse a pena última, e alguns houve tão generosos, que pretenderam cativar seus relevantes serviços tão somente por tal objeto.

A firmeza do monarca mostrou a todos que a minha sorte estava decidida, e conseguintemente fiquei abandonado ao meu destino. Todos perderam a esperança da minha salvação, e muito mais quando viram passar o dia da gloriosa aclamação, e que el-rei nem ao menos em mim falou.

Dois dias depois da exaltação do monarca, alguns grandes do reino, em ocasião oportuna, entregaram uma memória ao soberano, que a guardou, e seus gestos descobriram a todos que sua majestade não consentia que pessoa alguma lhe falasse em mim. Conseguintemente, esperava eu a todas as horas o instante do meu suplício.

A 20 de março de 1818, entrou na minha prisão frei Custodio, cheio da maior alegria, e me disse "entrando eu ontem à noite no quarto de el-rei, o achei muito alegre e me disse – sabes frei Custodio que tenho destinado perdoar ao marquês de Loulé", beijei a mão a sua majestade, e lhe pedi o favor de ser portador de tão grata notícia; el-rei me deu a entender que estimava muito a minha resolução, e assentou: "Sim, vai e diz ao marquês que nos dias de hoje e amanhã recorda a santa igreja as grandes finezas que Jesus Cristo praticou com os homens e que eu o devo imitar e que portanto está perdoado da pena última"; poucas horas depois chegou um correio com ordem da minha soltura e a licença de poder recolher-me à Corte do Rio de Janeiro, concedendo-me a homenagem de toda a cidade.

Fui ocupar a minha hospedaria que havia já ocupado, na qual fui cumprimentado pela Corte e por outras muitas distintas pessoas; três dias depois da minha residência na hospedaria, entrou no meu quarto um homem e me entregou um saco de damasco com dinheiro, e um bilhete, fechado; assim que abri o bilhete, retirou-se o portador sem esperar resposta; dizia bilhete "quatro contos de réis para o marquês de Loulé diminuir o número de seus males"; conheci a letra e respeitei-a ainda mais do que o próprio socorro que uma alma verdadeiramente grande me liberalizava.

No espaço de cinco semanas tive algumas ocasiões de encontrar a el-rei e sua augusta família, e algumas vezes me viu sua majestade, deixando-me entrever de que me não olhava com indignação e desprezo.

Encontrei uma tarde a augusta princesa real, que vinha do seu passeio ordinário. Sua alteza teve a bondade de parar e dizer: Vós sois o marquês de Loulé?

Respondi: "Desfrutei algum tempo essa grandeza; hoje, minha senhora, sou um desgraçado". Marquês, não convenho nisso, me tornou a princesa, meu pai, rei do Reino Unido, não é vosso inimigo. "Creio, minha senhora, lhe respondi, que o meu rei não é inimigo de pessoa alguma, porém também creio que o não posso ter por amigo verdadeiro". Sua alteza, para me tirar do enlace em que me via, se aproximou mais e me fez a honra de dar-me a mão a beijar.

Continuou a sua marcha, e eu fiquei lutando com a minha oposta consideração. Quatro dias estive no meu quarto sem sair fora, porque todo o tempo me parecia pouco para considerar na minha situação. Mil conjeturas fazia e outros tantos partidos queria tomar, porém tudo ficava destruído pela cruel consideração de quem tinha sido, quem era, e a quem tinha ofendido.

Às 11 horas da noite do quarto dia, entrou o meu amigo marquês de Bellas, no meu quarto, deu-me um abraço com as lágrimas nos olhos, e me disse: "A princesa real, visitando esta tarde a el-rei, fez recair a conversação no encontro que tivera com você. A princesa teve a delicadeza de dizer a el-rei '-Eu não quero ofender o coração de meu pai em pedir-lhe favores para com o marquês de Loulé, pois não quero que ninguém presuma que a uma princesa se deve a conclusão de uma obra tão generosamente principiada por um rei'. Aproveitei a ocasião e disse '-Eu teria já acabado esta questão, se fosse Agostinho de Mendonça'. Como! Me disse el-rei. 'Lançando-me aos pés de vossa majestade aonde teria achado meu descanso'. E porque não tem o marquês de Loulé dado esse passo? Esperaria acaso que eu o procurasse? Beijei a mão a sua alteza e a el-rei, e sai imediatamente a declarar-vos que el-rei vem depois de amanhã a esta Corte, e que vos reguleis salvo o que vos tenho dito".

Saiu o marquês de Bellas e eu fiquei quase como louco, parecendo-me que existia em um mundo diverso. Dois dias depois, a duas léguas e meia distante da Corte, esperei o meu rei, e na distância que me pareceu conveniente ajoelhei no meio da estrada. Chegou sua majestade e fez parar o seu palanquim, e me disse mui brandamente: "O que quer o marquês?"

"Lembrar a vossa majestade que a minha exilada família não tem parte nos meus crimes, e depois morrer aos pés do meu augusto soberano".

"O marquês expôs-se a muito vindo a esta Corte sem auxílio".

"As virtudes de vossa majestade me animaram a dar um passo tão arriscado".

"Dizei, marquês, estais convencido de que vos devo perdoar?"

"Não, senhor, os meus crimes me impedem essa ventura".

El-rei, voltando-se para a sua equipagem, lhe diz "- É o primeiro que, fiando-se no meu coração, veio entregar-se nas minhas mãos". Voltou-se depois para mim e me disse: "Vossos crimes ficam aqui sepultados e nunca mais me lembrarei deles; tudo vos dou, até a minha amizade, e para vos confirmar que não vos enganastes com o coração do vosso rei, vinde para a Corte, na qual já não há lugar vedado para o marquês de Loulé".

CCLXXII – Na correspondência dos plenipotenciários portugueses, no congresso de Viena, se encontra que o gabinete do Rio de Janeiro tinha concebido o projeto de casar os infantes filhos do príncipe regente com o duque de Berry, sobrinho de Luiz XVIII, de França, em quem a coroa de França devia recair, porque o duque de Anguleme, seu irmão mais velho, não tinha filhos. Estes dois príncipes eram filhos de Carlos X.

O príncipe de Benevente inclinava-se a este contrato, mas tudo se desvaneceu, porque o príncipe de Benevente se descuidou. De um ofício do marquês de Marialva, que tenho à vista, vejo que, por ocasião da paz geral, pretendeu-se também casar o príncipe d. Pedro de Alcantara com uma arquiduquesa da Rússia. Parece que não produziu efeito este enlace pela diferença das religiões.

CCLXXIII – Não obstante não ser o sr. d. João VI de coração sanguinário, os abusos do seu governo, e a chusma de homens servis, e baixos aduladores, deu origem aos mais indignos acontecimentos que se podem imaginar.

Os sentimentos da liberdade, e os desejos que havia de ser o povo governado pela forma republicana, fizeram aparecer em Pernambuco o movimento revolucionário de 6 de março de 1817, sob as bases do governo republicano. Este acontecimento fez retardar a aclamação do rei, que teve lugar no dia 26 de fevereiro de 1818, com incrível pompa [10].

Esta aclamação foi o contraste do que se dava em Pernambuco e na Bahia, quando se executava cruel e barbaramente a justiça de el-rei, prendendo-se e processando-se a quatrocentos e trinta e quatro pessoas das mais distintas do Norte do Brasil, enforcando-se uns, fuzilando-se outros, surrando-se a muitos, roubando-se a todos, e deixando-se milhares de famílias no extremo da miséria!
Nos lugares competentes farei memória desses horrores
[11].

CCLXXIV – Por carta régia do dia 8 de julho de 1820, a capitania de Sergipe de El-Rei fica declarada independente do governo da Bahia.

CCLXXV – No dia 24 de agosto de 1820, rompe na cidade do Porto a revolução constitucional, que em seguida refletiu sobre o Brasil, com o fim de se obter uma constituição liberal.

CCLXXVI – No dia 10 de setembro, o caudilho espanhol d. José Artigas, que se havia refugiado no Paraguai, é preso na aldeia Curuguaty, por ordem do ditador do Paraguai, dr. Francio.

CCLXXVII – No dia 28 de outubro de 1820, chega ao Rio de Janeiro a notícia da revolução de Portugal, começada no dia 24 de agosto, na cidade do Porto, a fim de se obter uma constituição liberal.

CCLXXVIII – No dia 19 de novembro de 1820, morre no Rio de Janeiro o almirante d. Francisco Mauricio de Souza Coutinho, sendo sepultado na igreja matriz do Engenho Velho.

Foi governador e capitão general do Grão-Pará e Rio Negro, quando capitão de fragata, de que tomou posse em junho de 1790, e passou a administração ao conde dos Arcos em 22 de setembro de 1803.

CCLXXIX – No dia 15 de dezembro de 1820, por ordem de sua majestade, foi preso e recolhido á cadeia do Aljube o reverendo padre Firmino Rodrigues da Silva, sendo solto no dia seguinte.

CCLXXX – No dia 15 de janeiro de 1820, funda-se a primeira igreja episcopal anglicana no Rio de Janeiro, no Largo da Ajuda, no mesmo lugar onde foi a ermida de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, fundada antes de 1600.

CCLXXXI – Forçada a família real portuguesa a deixar Lisboa no dia 29 de novembro de 1807, em presença da invasão francesa, o príncipe regente d. João VI, com sua mãe a rainha d. Maria I e seus filhos d. Pedro, d. Miguel e o infante de Espanha d. Pedro Carlos, embarcaram na nau Principe Real.

A princesa d. Carlota Joaquina veio na nau Affonso Henrique, com suas filhas d. Maria Thereza, d. Maria Isabel, d. Maria da Assumpção e d. Anna de Jesus Maria.

Na nau D. Henrique vieram a princesa d. Maria Benedicta, viúva do príncipe d. José, irmã da rainha d. Maria I; a infanta d. Marianna, e as infantas filhas do príncipe regente, d. Maria Francisca de Assis e d. Isabel Maria, que foi depois regente de Portugal; e muitos criados homens e mulheres.

A confusão do embarque e saída da família real de Lisboa para o Brasil, em vista do terror que causou a força francesa ao mando do general Junot, fez que viessem todos mal acomodados, e quase sem a roupa necessária para o uso ordinário, a dar lugar a sofrerem privações; porque a gente era muita, e com a pressa do embarque, tanto a que pertencia à família real, como a que pertencia aos particulares, ficou no terreiro do paço em Lisboa.

Nas outras naus embarcaram os ministros de Estado, fidalgos e povo, saindo todos do Tejo com bom tempo.

Na noite de 11 de dezembro, na altura da Ilha da Madeira, desabando uma grande tormenta, extramalhou a esquadra real, forçando-os a arribar a diferentes portos do Brasil.

A sra. d. Maria I, assustada pelo que se passava, gritava para o filho: "- Para onde me levam!" Respondia o filho "para os seus Estados no Brasil, minha senhora, onde é e será sempre rainha, e nada lhe há de faltar". Ela dizia que não queria andar no mar; e o filho lhe respondia: "-Foi para salvar a vossa majestade, e a sua família, e talvez a sua dinastia, que eu, ouvindo o Conselho de Estado, resolvi deixar Portugal, para evitarmos a sorte de outros soberanos, como a de Carlos IV e sua família".

Apesar dos contratempos, chegaram o príncipe regente e a rainha d. Maria I à Bahia no dia 22 (sexta-feira) de janeiro, às onze horas da manhã, de 1808, e desembarcaram no dia seguinte, vinte e três, das quatro para as cinco horas da tarde.

No dia 28 do mesmo mês de janeiro de 1808 são abertos os portos marítimos do Brasil a todas as nações do globo.

Parte da família real, em consequência do temporal do dia 11 de dezembro, tendo chegado ao Rio de Janeiro no dia 17 de janeiro de 1808, o primeiro regente tendo disto notícia, para poupá-la de novos incômodos do mar, partiu para o Rio de Janeiro no dia 28 de fevereiro, chegou no dia 7 de março e no dia 8 desembarcou na cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, onde fundou o Império Americano, conhecido por Império do Brasil.

Estando a Corte portuguesa no Rio de Janeiro, e receoso o povo de Portugal que o rei não voltaria mais com sua Corte para Lisboa, promoveu a revolução constitucional de 24 de agosto de 1820, na cidade do Porto, e em setembro em todo o reino, cuja revolução, repercutindo em janeiro no Pará, e em seguida nas províncias do Sul do Brasil, originou o movimento do dia 26 de fevereiro de 1821 na Praça do Rocio do Rio de Janeiro, que terminou pela saída do rei com sua família e Corte para Lisboa no dia 26 de abril, pelas seis horas e três quartos da manhã, do mesmo ano de 1821.

CCLXXXII – No dia 30 de dezembro de 1820, é nomeado o conde da Ponte, Manoel de Saldanha da Gama Mello Flores Guedes de Brito, governador e capitão general da capitania do Pará.

CCLXXXIII – Por carta régia de 30 de dezembro de 1820, é o conde de Villa Flor, depois duque da Terceira, nomeado governador e capitão general da capitania da Bahia.

CCLXXXIV – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 17; ciclo solar, 10; epacta, 26; letra dominical, G.

CCLXXXV – Martirológio. Dia 1ʢ de janeiro, segunda-feira; Páscoa a 22 de abril; indicação romana, 9; período Juliano, 6.534.

CCLXXXVI – No 1º de janeiro, o Pará se pronuncia no mesmo sentido da revolução de 24 de agosto de 1820, em Portugal.

CCLXXXVII – O ex-imperador foi o primeiro que viu em Santa Helena um cometa no céu, e, como Carlos Magno, ele mesmo predisse a sua sorte.

CCLXXXVIII – No 1º de janeiro de 1821, morre no Rio de Janeiro, com sessenta e quatro anos de idade, o terceiro marquês de Pombal, José Francisco de Carvalho Mello e Daim, antes conde da Redinha, presidente das mesas do desembargo do paço, e da consciência e ordens, no Rio de Janeiro, que nascera no 1º de abril de 1753.

Era irmão do segundo marquês de Pombal, Henrique José de Carvalho e Mello, e ambos filhos do grande ministro Sebastião José de Carvalho e Mello, primeiro marquês de Pombal.

CCLXXXIX – No dia 24 de janeiro de 1821, pelas seis horas da tarde, morre na Corte do Rio de Janeiro a viúva condessa de Linhares, d. Gabriella de Azinari de San Marsan, com cinquenta anos, cinco meses e vinte e quatro dias de idade; e foi sepultada na igreja do convento de Santo Antonio, junto aos restos mortais de seu esposo, falecido no dia 26 de janeiro de 1812. Esta ilustre senhora descendia das famílias de Azinari e Pazzao, príncipe de la Sisterna.

CCXC – O Pará, em 1821, foi governado pelas juntas provisórias no sistema constitucional.
A 1ª, de janeiro de 1821 a março de 1822.
A 2ª, de março de 1822 a março de 1823.
A 3ª, de março de 1823 a agosto de 1823.

A 1ª junta provisória, de janeiro de 1821, feita por eleição popular, compôs-se dos senhores:
1º, cônego vigário capitular Romoaldo Antonio de Seixas.
2º, juiz de fora Joaquim Pereira de Macedo.
3º, coronel João Pereira Villaça.
4º, coronel Francisco José Rodrigues Barata.
5º, coronel Geraldo José de Abreu.
6º, tenente-coronel Francisco José de Faria.
7º, comerciante Francisco Gonçalves Lima.
8º, agricultor João da Fonseca Freitas.
9º, agricultor José Rodrigues de Castro Góes.

CCXCI – Por carta régia de 6 de fevereiro de 1721, cria-se a Relação de Pernambuco, com a mesma alçada e graduação que a do Maranhão.

CCXCII – No dia 10 de fevereiro de 1821, a Bahia se pronuncia no mesmo sentido da revolução de Portugal, sendo este pronunciamento pela tropa e povo.

CCXCIII – O povo e a tropa portuguesa reúnem-se no Largo do Rocio no dia 26 de fevereiro de 1821, e obrigam o sr. d. João Vi a aceder, sem reserva para o Brasil, à futura constituição que fizessem as Cortes portuguesas em Lisboa.

CCXCIV - No dia 26 de fevereiro de 1821 é nomeado o general Carlos Frederico de Caula governador das armas da Corte e província do Rio de Janeiro.

CCXCV - No dia 26 de fevereiro de 1821 é nomeado o general José de Oliveira Barboza, depois barão do Passeio Público e visconde do Rio Comprido, chefe do corpo de polícia da Corte.

CCXCVI - No dia 13 de março de 1821 apareceram distúrbios no Rio de Janeiro.

CCXCVII - No dia 6 de março de 1821, nasce no paço da Boa Vista em S. Christovão o príncipe da Beira, d. João Carlos.

CCXCVIII - No dia 18 de abril de 1821 morre, no Rio de Janeiro, o marechal de exército e conselheiro de guerra João Shadwel Connell.

CCXCIX - El-rei d. João VI não queria deixar o Brasil, porque muito o amava; porém a rainha d Carlota, o filho d. Miguel e toda a gente do paço, e os que com eles se relacionavam suspiravam pela volta para Lisboa.

Mas os portugueses de bom senso no Rio de Janeiro, unidos aos brasileiros e ao pessoal do comércio, empenharam-se para que sua majestade não saísse do Brasil, onde estava seguro o seu governo e garantida a sua pessoa.

Todos queriam ir para Lisboa e por isso principiavam a trabalhar em clubes, e tanto fizeram que, em janeiro de 1821, mudaram-se as cenas. Convinha tomar-se uma resolução definitiva. Em casa do duque de Palmella (casa n. 173 da Rua do Conde, que passou a José Bernardino Teixeira) fez-se uma reunião de vinte e quatro pessoas das várias classes da sociedade, para a decisão deste negócio; e se decidiu que fosse o príncipe d. Pedro de Alcantara para Portugal e ficasse o rei no Brasil. Com esta resolução, o paço de S. Christovão tornou-se anárquico, porque todos gritavam, todos falavam, e ninguém se entendia.

D. João VI, desde o dia em que chegaram as notícias da revolução de 24 de agosto de 1821, no Porto e depois em todo Portugal, vivia triste, abatido, embizerrado, pressentindo as suas desgraças.

Quando no dia 26 de fevereiro de 1821 o foram arrancar do paço de S. Christovão e o trouxeram para a cidade [12], sendo radiada a sua carruagem, pelos corifeus da revolução desse dia, que eram os célebres padres Goes, Macamboa, Pimenta, e o famigerado Porto (que foi empresário do teatro de S. João, e hoje de S. Pedro de Alcantara) e outros, os quais, na Praça do Rocio, mandando tirar as bestas da carruagem, fizeram que algumas pessoas do povo, que gritavam - Viva o rei constitucional, puxassem a carruagem até ao paço da cidade.

O rei, tomado de estranha surpresa, banhou-se em lágrimas, e de quando em quando limpava os olhos com o lenço, até que se apeou no paço da cidade. Nesse dia decidiu-se a partida do rei para Portugal.

El-rei, pelo decreto de 7 de março, manifesta o seu profundo sentimento em deixar o Brasil, e protesta aos brasileiros a sua sincera dedicação, e o seu empenho pelo engrandecimento deste vasto e opulento reino do Brasil.

CCC - D. Carlota Joaquina parecia andar endiabrada, gritando no paço e por toda a parte onde chegava, e dizia que em chegando a Lisboa ficaria cega porque tinha vivido treze anos no escuro, só vendo negros e mulatos [13]. Tudo quanto havia de ruim e péssimo dizia do Brasil, que a havia recebido com indizível hospitalidade, nos dias do infortúnio.

Quando chegou essa pérola a Lisboa, deitou ao Tejo os sapatos que levou do Rio de Janeiro, dizendo que não queria pisar na terra de Lisboa com sapatos levados do Brasil; e ao saltar em terra, ajoelhou e beijou o chão, que meses depois a não queria em si.

As filhas mais moças, isto é, as que ela teve do criado da quinta do Ramalhão, também diziam que queriam ir para Lisboa, porque esta terra do Brasil não prestava para nada! E tinham razão: o pai lá havia ficado.

Repare-se o caráter dessa gente: uma das filhas de d. Carlota veio para o Brasil com dois anos, e a outra fez um ano na viagem para o Rio de Janeiro!.

D. Maria Thereza não falava mal do Brasil, e coonestava o que sentia com o dizer: que o que lhe fazia ter desejos de voltar para Lisboa era para melhor ali pugnar pelos interesses e direitos do filho d. Sebastião, porque ela tinha uma demanda com a coroa de Espanha.

Fernando VII queria que a Casa do Infantado, que tinha sido do infante d. Pedro Carlos, pai de d. Sebastião, fosse tirada ao filho e ao neto, dizendo que d. Pedro Carlos fora pequeno para Portugal, onde tinha sido reconhecido infante português, vivido e falecido nos estados de Portugal, e exercido cargos militares por nomeação do soberano. D. Maria Thereza venceu essa demanda, depois que foi para Lisboa. Embora o interesse a chamasse para Portugal, contudo não falava mal do Brasil, como sua mãe e irmãs.

D. Maria Thereza veio para o Brasil com quinze anos; e dizia que estimava os brasileiros, porque eram bons e os haviam recebido, quando vieram de Portugal, com muito agasalho e amizade; porém, que desejava voltar para Lisboa, porque queria acabar seus dias onde acabasse seu pai.

As mulheres das diferentes classes eram uns demônios a falarem do Brasil e dos brasileiros, chegando a insolência dessa canalha a atacarem os homens e as senhoras brasileiras que iam ao paço, contando-lhes o que a rainha dizia contra o Brasil e os brasileiros. Que as frutas do Brasil sabiam a archote, que eram ruins e não prestavam; outras diziam que sentiam ter filhos no Brasil, e iguais parvoíces.

Os homens eram mais comedidos, ainda que alguns estivessem satisfeitos por terem lá suas casas e família; diziam que deixavam no Brasil muitos amigos, e tinham sido mui bem tratados. Outros diziam que tinham vindo de Portugal sem posição, e sem coisa alguma, e voltavam cheios de honra e de riquezas.

Toda essa gente canalha e ingrata, que blasfemava contra o Brasil, foi castigada pela Divina Providência, pois chegando a Lisboa não tiveram do que viver.

As tais mulheres do paço, desde as damas até a mais ínfima criada da casa real, não recebiam ordenado. Andavam a pedir a uns e a outros dinheiro para se alimentarem, em modo que de Lisboa escreviam à imperatriz Leopoldina, do Brasil, para as socorrer com alguma coisa; e esta senhora, reconhecendo a miséria em que elas viviam, mandou lhes dar pensões; e as que tinham no Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco parentes brasileiros, escreviam-lhes pedindo-lhes esmolas, e eram favorecidas.

Era tamanha a desgraça da gente que foi com o rei que, se vendo em Lisboa ao desamparo, escreviam aos conhecidos que deixaram no Brasil, pedindo-lhes esmolas e pensões. Isto mesmo aconteceu depois que as Cortes de Lisboa foram dissolvidas, e a Constituição foi abaixo. Os próprios fidalgos e a nobreza, em virtude da perda dos bens da coroa, sofreram muito por verem diminuídos os seus rendimentos.

Muitos portugueses, homens e mulheres, que falaram do Brasil e dos brasileiros, voltaram, por não poderem resistir à miséria em Lisboa.

Foi tanta a generosidade dos brasileiros, que mandavam esmolas aos próprios desconhecidos que, vivendo na miséria, não tinham quem lhes socorresse.

[...]


[10] Vide a Gazeta do Rio de 1818.

[11] Vide a história de 6 de março de 1817, em Pernambuco, no meu Brazil Historico.

[12] Vide o Brazil Historico de 1864, e o Brazil Reino e Brazil Imperio.

[13] Dizia assim talvez por ignorar o alvará de 15 de janeiro de 1773 pelo qual foram libertos os negros e mulatos em Portugal, mais alvos que os próprios brancos seus senhores.