Um festival andino pela paz
"Há
centenas de anos, quando o sol caminhava cada dia por vales, quebradas
e cordilheiras, levando a luz e o calor a seus filhos entre o Atlântico
e o Pacífico, surgia
cada certo tempo nos povos uma imperiosa necessidade de fazer uma oferenda
de paz a Inti, o sol radiante, a Illa Teqsi ou Pachakamaq, Fazedor e Ordenador
do mundo, e também a Pachamama, a mãe terra: mãe universal,
na qual convergem as forças telúricas, que geram a energia
que anima a todos os seres viventes.”
Embaixadores dos antigos povos americanos
eram enviados em fatigantes viagens através dos desertos e das selvas,
até um lugar escolhido, onde se comprometeriam a viver em paz, sob
um profundo sentido de amizade e concórdia, unidos pelos mesmos
sentimentos de boa vontade.
Depois de um período de esquecimento,
a tradição da homenagem à Pachamama da América
voltou a ser seguida no ano passado, quando a PromPerú promoveu
no Templo da Lua do santuário arqueológico de Pachacamac
(cerca de 30 km ao Sul de Lima), uma oferenda pela paz (“pagapu”) no continente
americano, seguindo o padrão praticado nos Andes peruanos desde
tempos imemoriais. E esse fato é lembrado pelos peruanos, em meio
às notícias sobre a ação dos guerrilheiros
na capital daquele país.
Segundo a página
Web do evento na Internet - que apresenta fotos e todos os detalhes
- os oficiantes do “pagapu” chegaram ao local em peregrinação
desde o Vale Sagrado dos Incas, em Cusco, onde já haviam feito uma
cerimônia iniciatória, coincidindo com o Dia Mundial da Terra.
A cerimônia em Pachacamac coincidiu com a realização
da Conferência Interamericana Especializada sobre Terrorismo da Organização
dos Estados Americanos (OEA), em Lima.
Mito andino - “Kausasunchispuni
Winananchispaq” (“Sempre Viveremos Crescendo”) é uma lenda relacionada
com aquela cerimônia, que mostra a importância de se viver
em respeito e harmonia com a terra, com os irmãos e vizinhos e com
o Deus Universal e os deuses menores, as forças vivas da natureza.
Em resumo - a história completa
está na
Web -, Illapa, Deus do Raio, enamorado de Pachamama,
desencadeia as chuvas e consegue fertilizá-la. Assim, ambos concebem
Axomama (mãe da batata) e Saramama (mãe do milho), confiando
em que crescerão e se reproduzirão, alimentando os povos.
Por séculos, os camponeses
se alimentam assim, mas aos poucos vão esquecendo seus bons costumes,
tradições e valores, sua cultura, deixando os deuses contrariados.
Assim, eles mandam avisos: um papagaio que tenta comer as sementes, e a
seca, debilitando os cultivos. Os camponeses, assustados, fazem uma oferenda
à mãe Terra, que recusa. Os deuses dão um último
aviso: a geada que destroi parte do cultivo.
Os camponeses pedem aos sacerdotes
que purifiquem o campo com o fogo sagrado e pétalas de flores, preparando
uma grande oferenda que comova os deuses: a Grande Oferenda de Paz, para
se reconciliarem com a natureza. A leitura do fogo mostra que foi bem recebida;
os cultivos voltam a florescer e todos podem celebrar a recuperação
da memória e de seus costumes, de suas tradições e
de sua cultura.
Veja também:
Peru:
um país entre a guerra e a paz
Mais
imagens da matéria |