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Matéria originalmente publicada pelo editor de Novo Milênio 
no caderno Informática do jornal santista A Tribuna, em 14/1/1997.
Publicado em Novo Milênio em (mês/dia/ano/horário): 10/13/01 23:23:38
Um festival andino pela paz 

"Há centenas de anos, quando o sol caminhava cada dia por vales, quebradas e cordilheiras, levando a luz e o calor a seus filhos entre o Atlântico e o Pacífico, surgia cada certo tempo nos povos uma imperiosa necessidade de fazer uma oferenda de paz a Inti, o sol radiante, a Illa Teqsi ou Pachakamaq, Fazedor e Ordenador do mundo, e também a Pachamama, a mãe terra: mãe universal, na qual convergem as forças telúricas, que geram a energia que anima a todos os seres viventes.”

Embaixadores dos antigos povos americanos eram enviados em fatigantes viagens através dos desertos e das selvas, até um lugar escolhido, onde se comprometeriam a viver em paz, sob um profundo sentido de amizade e concórdia, unidos pelos mesmos sentimentos de boa vontade. 

Depois de um período de esquecimento, a tradição da homenagem à Pachamama da América voltou a ser seguida no ano passado, quando a PromPerú promoveu no Templo da Lua do santuário arqueológico de Pachacamac (cerca de 30 km ao Sul de Lima), uma oferenda pela paz (“pagapu”) no continente americano, seguindo o padrão praticado nos Andes peruanos desde tempos imemoriais. E esse fato é lembrado pelos peruanos, em meio às notícias sobre a ação dos guerrilheiros na capital daquele país.

Segundo a página Web do evento na Internet - que apresenta fotos e todos os detalhes - os oficiantes do “pagapu” chegaram ao local em peregrinação desde o Vale Sagrado dos Incas, em Cusco, onde já haviam feito uma cerimônia iniciatória, coincidindo com o Dia Mundial da Terra. A cerimônia em Pachacamac coincidiu com a realização da Conferência Interamericana Especializada sobre Terrorismo da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Lima.

Mito andino - “Kausasunchispuni Winananchispaq” (“Sempre Viveremos Crescendo”) é uma lenda relacionada com aquela cerimônia, que mostra a importância de se viver em respeito e harmonia com a terra, com os irmãos e vizinhos e com o Deus Universal e os deuses menores, as forças vivas da natureza.

Em resumo - a história completa está na Web -, Illapa, Deus do Raio, enamorado de Pachamama, desencadeia as chuvas e consegue fertilizá-la. Assim, ambos concebem Axomama (mãe da batata) e Saramama (mãe do milho), confiando em que crescerão e se reproduzirão, alimentando os povos.

Por séculos, os camponeses se alimentam assim, mas aos poucos vão esquecendo seus bons costumes, tradições e valores, sua cultura, deixando os deuses contrariados. Assim, eles mandam avisos: um papagaio que tenta comer as sementes, e a seca, debilitando os cultivos. Os camponeses, assustados, fazem uma oferenda à mãe Terra, que recusa. Os deuses dão um último aviso: a geada que destroi parte do cultivo. 

Os camponeses pedem aos sacerdotes que purifiquem o campo com o fogo sagrado e pétalas de flores, preparando uma grande oferenda que comova os deuses: a Grande Oferenda de Paz, para se reconciliarem com a natureza. A leitura do fogo mostra que foi bem recebida; os cultivos voltam a florescer e todos podem celebrar a recuperação da memória e de seus costumes, de suas tradições e de sua cultura.

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