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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/04/09 11:23:17

 

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NOTÍCIAS 2009

Ter ou não ter, eis a questão

Mario Persona [*]

"Mario, suas dicas de gestão me impressionam muito pela clareza e coesão. Mas, se você tem um conhecimento tão vasto sobre teorias empresariais, por que você não é um multimilionário?" [Fernando]

Sua pergunta é instigante, mas o que será que quis dizer por "multimilionário"? Seria alguém com uma fortuna medida em milhões de um dólar que não seja o do Zimbábue? Se for, eu realmente não pertenço ao clube. Mas se quis dizer simplesmente "rico", então sou rico. Mas quão rico sou?

É difícil definir quão rico alguém é. Quando perguntaram a John D. Rockefeller quanto dinheiro era suficiente, ele respondeu "mais um pouco". Quando perguntei à minha mãe o que ela gostaria que eu fosse quando crescesse, ela respondeu que preferia um filho balconista e feliz a um dono de indústria infeliz. Desde então procuro ser rico como um balconista feliz.

Em uma sociedade onde você é medido pelo que possui, pouca gente já parou para questionar se o dinheiro é a melhor régua para se medir o sucesso. Apesar de tantas celebridades que entram e saem das clínicas de reabilitação, continuamos a associar riqueza material à realização pessoal e profissional.

Uma pesquisa feita com os 400 mais ricos da lista da revista Forbes revelou que o índice de satisfação dos magnatas era o mesmo encontrado entre o povo Inuite da Groenlândia e os Masai do Quênia. Ambos vivem muito bem sem eletricidade e água encanada.

Eu sei que este meu papo está mais para desculpa de incompetente, e que você, se fosse curto e grosso, estaria querendo dizer simplesmente "Mario, walk the talk!", como dizem os ianques. Mas você foi educado a ponto de rogar que eu não interpretasse sua pergunta como provocação. Então vou ser sincero: não sou multimilionário simplesmente por não enxergar razão para navegar para um Norte que não está em minha bússola. Além de, obviamente, gostar do porto atual.

Interprete isto como falta de ambição ou de perfil empreendedor, mas não é. Inventores, artistas e escritores empreendem o tempo todo, mas poucos fazem isso de olho no milhão. O que os move não é a ganância de ter, mas o prazer de ser e fazer. É neste clube que você vai me encontrar.

Mas não pense que pessoas assim têm motivos mais nobres e altruístas do que os do clube do milhão. Não têm. O orgulho de ser e o desejo utilitarista de fazer são tão egocêntricos e gananciosos quanto o apetite de possuir. No fundo tudo não passa de uma forma de justificarmos nossa existência e utilidade no mundo e na sociedade. O "mais um pouco" do Rockefeller também se aplica ao ser e fazer.

O problema é que estas coisas jamais levam à saciedade, já que o vazio que tentamos preencher com elas é do tamanho de Deus. Mas vou deixar estes assuntos mais estratosféricos para você acompanhar em meu blog www.3minutos.net.

Enquanto isso, para dar uma resposta objetiva à questão que levantou, vou traduzir sua pergunta assim: "Como é que uma pessoa que ensina a empreender não se tornou um grande empreendedor?"

John Nelson Darby responderia que "os olhos enxergam muito além do que os pés conseguem alcançar". Isso mesmo. Pode apostar que muitos dos grandes autores e professores de gestão quebrariam a cara se tentassem administrar um negócio. Mas seus pupilos provavelmente não. Por que? Pela mesma razão que Pelé não é o melhor técnico de futebol do mundo e os melhores técnicos do mundo nunca foram Pelé.

Se um dia você me encontrar multimilionário foi por ter tropeçado num bilhete de loteria, e não por apostar nela ou num grande negócio. As duas coisas não estão em minha agenda. Meu prazer está em escrever e ensinar aquilo que consigo enxergar "sentado nos ombros de gigantes", como diria Isaac Newton.

O comercial que vi na CNN talvez consiga traduzir melhor o que sinto. A cena mostra um garotinho e seu pai caminhando de mãos dadas e o menino dizendo ao pai que, quando crescer, quer ser professor. Mas o pai tenta convencê-lo a seguir outra carreira.

- Você não prefere ser médico? Médicos são mais admirados e respeitados, além de ganharem muito mais.

- Mas não são os professores que ensinam os médicos? - argumenta o garoto encerrando a conversa.


[*] Mario Persona  é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.