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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 02/18/05 23:08:17
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NOTÍCIAS 2005
Quem é seu personal coach?

Mario Persona [*]

O Jornal do Brasil diz que "personal coach é um consultor pessoal, um facilitador que ajuda seu cliente a desenvolver o que ele tem de melhor e, conseqüentemente, a atingir seus objetivos — tanto na vida pessoal quanto na profissional." Eu tive um personal coach. Você tem um?

Se pretender contratar um, que seja alguém de quem você é fã. Se Philip Kotler estivesse disponível para me ensinar a escrever sobre marketing, eu o teria contratado como meu personal coach nessa área. Ou Peter Drucker e Tom Peters, para me ajudarem a abordar temas de gestão de empresas e pessoas. Deixaria lugar em minha agenda para ser ensinado por Luís Fernando Veríssimo a fazer isso em forma de crônicas bem-humoradas. Infelizmente não foi possível.

Hoje sou escritor e admiro todas essas pessoas, mas nenhuma delas foi meu personal coach ou me incentivou a escrever e ser o que hoje eu sou. Mesmo assim, isso não impediu que eu tivesse uma personal coach. Não conte a eles para não deixá-los chateados, mas eu a considero melhor, muito melhor.

A profissional que me preparou para eu ser o que hoje sou não escreveu livros, nunca deu palestras e nem ensinou em universidades. Ela simplesmente se envolveu, se comprometeu e se dedicou em sua missão de me fazer alguém. E sempre me incentivou a escrever, acreditando que um dia eu seria escritor.

Curiosamente, ao contrário do que acontece com um trabalho de coaching, ela não cobrou um tostão sequer para me atender em período integral. É claro que para ajudar em meu desenvolvimento pessoal e profissional precisou abrir mão de muitas coisas, inclusive de uma carreira no comércio onde poderia usar ao máximo sua incrível habilidade para negócios. Nunca se lamentou disso. Ao contrário, sempre me ensinou a buscar valor em investimentos de longo prazo.

Lembro-me de uma época, há quase quarenta anos, quando minha personal coach decidiu voar mais alto do que ficar limitada aos serviços que prestava em regime de home office. Abriu uma butique e começou a ganhar dinheiro. Vinda de um lar onde o pai e a mãe eram bem-sucedidos empresários da indústria de calçados, empreender e negociar eram coisas que estavam em seu DNA. Logo viu que acertou, profissionalmente falando.

Mas errou, pessoalmente falando. Percebeu que os negócios começaram a interferir no relacionamento com seu parceiro e sócio, e com a qualidade dos serviços de coaching que prestava aos seus três principais clientes: eu e minhas duas irmãs. Nossa personal coach decidiu abrir mão de uma carreira própria, com maior ganho financeiro no presente, para investir em três carreiras alheias de valor futuro.

Esta semana minha personal coach encerrou o contrato que teve comigo por quase cinqüenta anos e se aposentou. Seu nome, Ruth Buzolin Persona, nunca vinha precedido por "doutora" ou algum outro título conquistado com diplomas, teses ou monografias. Eu sempre a chamei simplesmente de mamãe.


Ruth Buzolin Persona - 1930-2005


Hoje sinto até um alívio por não ter contratado Philip Kotler, Peter Drucker ou Tom Peters. Eles são bons, mas a atuação dela como minha personal coach foi muito melhor. Por isso é a ela que dedico esta homenagem e meu quinto livro que no dia 16 de fevereiro de 2005 deixava a editora a caminho das livrarias enquanto ela embarcava rumo ao céu.

Leia mais sobre este tema em "Um dia diferente".

[*] Mario Persona é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing. Texto disponível em seu site.