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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/24/01 20:00:26
"APAGÃO"
Onde estão os concursos e as pesquisas? 

Respondendo a um amigável desafio lançado por Flávio P. de Andrade na lista de debates sobre negócios Widebiz, em 23/5/2001, o editor de Novo Milênio postou a seguinte mensagem, logo respondida por Flávio Andrade:

Caro Flávio:

Respondendo ao seu saudável desafio, se eu fosse ministro das Minas e Energia, ou presidente da República, talvez tivesse em minha mesa outras sugestões melhores, um leque de alternativas mais aberto.

Como cidadão comum, sem acesso a todas as informações que desejaria, tentarei
responder:

1) há em várias empresas e universidades estudos para baratear consideravelmente a fabricação de painéis coletores de energia solar. Então, meu primeiro passo como ministro ou presidente (não estou me candidatando ao cargo, apenas dando idéias a esse governo apagado!) seria promover um congresso imediato sobre o assunto, já pensando em um plano de incentivo semelhante ao que está sendo preparado para o chamado computador popular. Mesmo sem analisar o assunto, sei que avanços consideráveis já foram obtidos nessa tecnologia, a faixa de preços já caiu muito mesmo e pode cair muito mais pela grande escala de produção, pelo uso de materiais e processos de conversão de energia mais eficientes. 

2) solicitaria pesquisas no exterior sobre o estado das pesquisas com energia alternativa, que soluções poderiam ser viáveis para implementação em curtíssimo prazo. Tenham a certeza, elas existem. Se as montadoras já pensam em carro movido a hidrogênio, não será viável algo no gênero em escala de usina elétrica? Como estão também as pesquisas sobre energia das marés e dos ventos (na Califórnia existem fazendas de energia eólica, por exemplo)? São aplicáveis por aqui? O que tem sido feito no campo da energia de biomassa (sim, dos depósitos de lixo)?

3) solicitaria uma auditoria, com prazo curto (por que não patrocinada por entidades não governamentais, como forma de obter maior isenção e evitar a burocracia licitatória?), sobre o verdadeiro estado do sistema elétrico no Brasil, incluindo questões objetivas sobre a quantidade de energia realmente disponível e a  defasagem real entre produção e consumo; o desperdício na geração e na transmissão da energia, o custo para reduzir esse desperdício; que outras ações de curtíssimo prazo podem ser adotadas para elevar a disponibilidade de energia elétrica, sem sacrificar a cota das represas destinada ao consumo dos próximos anos.

4) convocaria as empresas produtoras de bens elétricos (eletrodomésticos, equipamentos industriais, lâmpadas) a apresentarem novas soluções que impliquem na redução do consumo de energia desses bens, mesmo que seja oferecendo bônus tarifários às empresas que apresentarem os melhores projetos. Ora, por quê um televisor tem de esquentar, se não funciona como torradeira de pão? Todo esse calor é energia desperdiçada...

5) lançaria um concurso nacional de idéias sobre como economizar energia através de mudanças economicamente viáveis e com aplicação rápida nos processos que a utilizam. Já me explicaram que pequenas mudanças no forno elétrico de uma padaria feitas agora não só se pagariam ainda neste ano, como o dono do estabelecimento poderia passar a viajar duas vezes por ano à lusa terrinha, só com a economia feita.

Este é o trecho-chave de matéria que publiquei em 23/3/1999: (...) Vejam bem, matéria que publiquei há dois anos. E tem gente que se surpreende com a crise...

6) Considerando que a maior parcela do consumo de energia não é residencial, mas industrial, lançaria uma campanha nacional explicando ao consumidor industrial como economizar energia com ações simples como vedar adequadamente as aberturas de um balcão frigorífico, ajustar alguns procedimentos nos escritórios (ainda tem equipe de limpeza que deixa todas as luzes acesas no prédio e vai apagando à medida em que a limpeza de cada sala é concluída, usando as lâmpadas acesas como referência do que falta fazer). Cartazes de rua, por exemplo, talvez pudessem usar truques como tintas refletivas para dispensar iluminação maior. Pequenas coisas, algo que me ocorreu agora, não parei para pensar se é de fato absurdo ou tem lógica: em vez de um cartaz ter letras escuras sobre um fundo claro retro-iluminado, haveria uma forma de apenas as letras serem iluminadas sobre fundo escuro, dando o mesmo recado com menos gasto de luz?

7) Nas cidades, a iluminação pública é controlada por células fotoelétricas acionadas ao se atingir determinado nível de penumbra ao anoitecer ou quando ele deixa de existir ao amanhecer. Seria tecnicamente viável alterar um pouquinho esse limite, de forma que a iluminação pública ficasse acesa menos uma hora por dia (acender 30 minutos mais tarde ao anoitecer, apagar 30 minutos mais cedo ao amanhecer), por exemplo?

8) Existem comentários sobre energia reativa desperdiçada, como não sou eletricista, no cargo de ministro ou presidente solicitaria pelo menos mais informações, pode ser que por aí haja alguma economia possível que não tem sido considerada.

9) Nossas represas têm um reservatório para vários anos, considerando a diferença entre a água que chega e a escoada. Lógico, não podemos em 2001 avançar nos limites de 2002 e 2003, a não ser que tenhamos a garantia de que conseguiremos repor o estoque antes que ele seja necessário. Como ministro, gostaria de ter em mãos um bom estudo sobre os limites desse processo, para balizar um plano de contingência que inclua a entrada em funcionamento de novas fontes de energia. Quanto tempo demora para instalar uma termelétrica, iniciando já? Qual é a economia obtida com outras ações, mês a mês, nos próximos anos? Considerando esse cronograma, que parcela do estoque da represa para 2002/2003 posso usar já? É a esse tipo de conta que me refiro, não para protelar o problema, mas para reduzir seu grave impacto sobre a economia nacional.

Bem, não sou ministro, não tenho em mãos os dados que gostaria, nem um bando de assessores - é o que deu para pensar em alguns minutos. Se nesses minutos um leigo completo no assunto consegue pensar em nove caminhos, excluidas as medidas anunciadas, um ministro competente (eu disse: competente) deve poder encontrar muitos mais, em horas ou dias.

[ ]s

Carlos Pimentel Mendes
Consumidor consumido,
desligado e sem energia...

Esta, a resposta de Flávio Andrade, colocada na mesma lista em 23/5/2001 (propositalmente não acentuada):

Assunto: RES: [widebiz] Crise de confianca + energia
    Data: Wed, 23 May 2001 07:12:16 -0300
       De: "Flavio P. de Andrade" <flavio.andrade@***.com>
     Para: <widebiz@******>

Caros Carlos Pimentel, Manoel, Jose Luiz, Jose Alberto e lista,

Entendo que uma das principais questoes que se coloca e' a duvida sobre a real situacao dos reservatorios / capacidade de geracao de energia versus interesses escusos para tornar "palatavel" algum aumento, tarifaco, etc.

Na faculdade de Engenharia da UFRJ e na COPPE ainda em 1999, tive a sorte de ser aluno de ilustres e polemicos doutores como Luiz Pinguelli, Olavo Ramos, Roberto Schaeffer e Maurício Tolmasquim especialistas na area de energia e muitas vezes criticos de FHC e seu governo. Alguns desses doutores criaram uma org www.ilumina.org.br e la mostram que eles ja avisam que a situacao esta ruim faz tempo. Chequem em http://www.ilumina.org.br/avisos.html

Acho que como o Carlos disse, a sociedade pode e deve participar e ser esclarecida sobre as reais possibilidades de solucao para a situacao na qual nos encontramos. A energia solar que ja e viavel no aquecimento de agua para uso domestico (com  todo o avanco acho que ainda e muito cara para gerar eletricidade), a eolica (viavel em algumas regiues do pais), as mares, etc.. sao objeto de estudos do PPE - COPPE - UFRJ, e devem ser trazidos a publico.

Acho porem que as solucoes mais rapidas e eficientes para por fim a necessidade de racionamento (na qual realmente acredito), devem passar pela otimizacao do uso da energia das hidreletricas (a mais barata que existe) atraves da complementacao adequada gerada por termeletricas a gas natural, e da eficiente distribuicao com a construcao de novas linhas que permitam integrar o norte e o sul ao sudeste e centro-oeste. Tambem acho que essa discussao deva vir a publico, ja que a Internet torna isso bastante facil.

Concordo que nosso papel deve ser o de exigir das autoridades um completo disclosure da real situacao. JA QUE TENTARAM ESCONDER O PROBLEMA E DEU ZEBRA, AGORA QUEREMOS SABER DE TUDINHO NOS DETALHES. Ate mesmo para poder colaborar.

A questao levantada pelo Engenheiro da UNICAMP e' justa e realmente o plano beneficia os antigos esbanjadores pois terao facilidade em economizar ao passo que os que ja economizavam vao ter que passar algum desconforto para conseguir cumprir as metas. Isso e uma das muitas "injusticas" do plano, mas que entendo serem necessarias para que se faca algo. Na tentativa de fazer uma regra perfeita, corremos o risco da divisao salomonica, onde na tentativa de nao beneficiar a ninguem acaba-se prejudicando a todos muito mais.