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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/26/00 22:01:06
Bips

Sou free demais? - Está quente o debate sobre o acesso gratuito à Internet, que chegou ao Brasil há poucas semanas, a bordo de empresas como IG, Super11 e outras, além dos bancos Bradesco e Unibanco. O tema foi abordado pelo nosso colaborador Mario Persona, que pergunta se a Internet grátis, tal como está sendo apresentada, não vai criar um sistema de castas, em que uns preferem acesso pago mas privilegiado e outros adotam a idéia free, mas com (muita) publicidade e congestionamentos nas ligações. Existe também a dúvida sobre até que ponto um provedor de acesso gratuito vai suportar os custos, já que na comparação entre o AOL (que fatura US$ 20 per capita) e o NetZero (gratuito, que fatura apenas US$ 0.70 por usuário).

Fee ou free? - Nessa polêmica, Victor Sebastian Reis da Silva, diretor da carioca Brazilweb Internet Solutions Ltda., observa que os provedores de internet gratuita podem ter sucesso no empreendimento se fizerem parceria com empresas de telefonia, que pagariam por tempo de acesso dos usuários. 

Ele não acredita que haja ganhos importantes através da mineração do cadastro de usuários, "pois o que mais se faz na Internet é cadastro falso, ainda mais se não vão analisar seu crédito nem têm que entregar nada em sua casa, nem mesmo a fatura/cobrança usada pelos provedores normais".

Além disso, muitos usam o sistema de user/password padrão, o que não implica nem mesmo em cadastro. Ele mesmo já testou o IG sem ter feito efetivamente um cadastro naquele provedor. Em sua opinião, nem mesmo a receita com publicidade vai manter de pé os provedores gratuitos...

Gustavo Erlichman, da Netações, pensa diferente, calculando que os custos de telecomunicações no Brasil ainda poderão cair bastante e que outros setores (livrarias, leilões etc.) também abrigam negócios deficitários mas já vistos como casos de sucesso na Internet: "Imagine o poder que ela (a Internet grátis) tem de aumentar o comércio eletrônico, dobrar a capacidade de publicidade, quantos negocios novos poderão surgir, etc? Projetos para levar a Internet ao público carente já existem e a renda per capita também deixará de ser uma barreira para que todos tenham acesso à Internet. Posso estar exagerando, mas tenho confiança que a Internet hoje é como o telefone de 80 anos atrás. Preciso explicar?"

Marketing? - O internauta Tagil Oliveira Ramos tem boas histórias a respeito: "Pouca gente sabe, mas a StarMedia estava preparando estratégia para lançar o acesso gratuito à Internet em dezembro no Brasil. Fernando Espuelas, o chefão do portal latino-americano, tinha acabado de cortar a fita vermelha da inauguração da
sede da empresa em Montevidéu e alguns altos funcionários da empresa já se debruçavam sobre as planilhas de custo. Para bater o martelo, Espuelas tinha de obter respostas inequívocas para algumas perguntinhas capciosas. 

"Primeira pergunta: Quantos page views extras vou ganhar com os novos usuários? Segunda: Quanto a mais as lojas instaladas debaixo do portal vão vender? Terceira: Se aplicasse a grana do acesso gratuito em publicidade, teria um retorno melhor ou pior? Pelo jeito, na ponta do lápis as contas da StarMedia não recomendavam o
negócio.

"O Itaú foi outro que cogitou o acesso gratuito. Ao lançar a campanha Banco Digital, os executivos também pensaram na possibilidade. O retorno, ao que parece, também não seria tão alto, na avaliação deles. Acho que os  responsáveis pela Internet no banco se arrependeram amargamente quando viram as ações seus principais concorrentes, Unibanco e Bradesco, aumentarem depois desse anúncio. 

"O assunto do acesso gratuito provocou marolas no mercado. Mas não é, como querem os marketeiros do iG, uma revolução. Nos Estados Unidos existem dezenas de serviços gratuitos e nem por isso a AOL deixou de ganhar com acesso. Dizer que
pretende ter 1 milhão de assinantes em um ano é mais bravata do que realidade. Quem, em sã consciência, cancelaria a assinatura do seu provedor de acesso para ficar usando o serviço gratuito? Há dois dias, naveguei pelo iG e constatei alguns
problemas bem chatinhos: as páginas não carregavam direito e a ligação caiu uma vez em uma hora. Tudo bem, é de graça. Ninguém garante a qualidade do serviço. 

Só para finalizar, conto o caso de algumas empresas de lavagem automática de carro que dão de brinde uma sacolinha para você acoplar ao câmbio. São de muita serventia para receber papéis de bala, o maço de cigarro amassado e até aquela latinha de refrigerante bebida enquanto não abre o sinal verde. Cada vez que o motorista se desfaz de alguma sujeira tem de olhar, de alguma maneira, o logotipo da empresa. 

"Se o cara que imaginou essa forma de marketing estivesse numa companhia de Internet, certamente seria um grande defensor da idéia do acesso gratuito. Apesar da idéia da sacolinha ser interessante, ninguém ousaria dizer que o mercado de lavagem automática será sacudido pela proliferação das benditas sacolinhas", completa Tagil.

Grátis é caro - Avelar Lívio dos Santos publicou no jornal A Notícia, de Joinville (SC) a matéria Transferência Gratificante, onde analisa: "Com a conexão grátis, mais pessoas aderem à rede, passam mais tempo conectadas gerando mais impulso, que tanto na Europa como na América dos Sul se baseia no perverso sistema de multimedição chamado Karlsson. Ao contrário dos EUA, onde se paga taxa fixa de US$ 15,00 mensais pelo uso ilimitado em chamadas locais, na Europa e na América Latina o telefone é um luxo. 

"Bem - continua Avelar -, o daqui está mais para lixo nuclear, já que a qualidade é inferior mas a cobrança é altamente sofisticada. Paga-se R$ 0,08 centavos (no horário comercial) assim que é estabelecida a ligação e mais outro impulso a cada quatro minutos em média. A conta vem num valor bruto e nem mesmo a operadora consegue provar quanto exatamente você utilizou o serviço. Quanto se fala em Internet lenta, a contagem do tempo é feita em horas e então a conta vem ainda mais salgada."

Revanche - A mesma notícia catarinense lembra que o presidente da Matrix, Eber Lacerda, decidiu enfrentar a questão propondo à Anatel a antecipação da abertura de fato do setor de telefonia, permitindo que os provedores de Internet também possam contribuir para a livre concorrência neste mercado. 

"Se a companhias telefônicas podem atuar disfarçadamente na provedoria de Internet, se associando a bancos e serviços de acesso gratuito, nada mais justo que os provedores tenham a contrapartida para atuarem também no mercado de telefonia", argumenta Lacerda, em A Notícia. O jornal cita que a Matrix conta hoje com know-how da associada norte-americana Primus Telecommunications, empresa focada na transmissão de dados corporativos e operações de telefonia em países como a Austrália e Canadá. Lacerda quer que a Anatel inicie imediatamente um processo de mudança da legislação em vigor, visando antecipar a abertura definitiva do mercado de telecomunicações, prevista somente para 2002.