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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE - DIRIGENTES - Prefeitos
Koyu Iha

Prefeito de 1/2/1977 a 31/1/1981

Koyu Iha foi prefeito de São Vicente em duas gestões, além de deputado e presidente da Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem). Informações da obra Poliantéia Vicentina 1532-1982, de Fernando Martins Lichti (Editora Caudex Ltda., São Vicente/SP, 1982), páginas 362 e 363:

Prefeito Koyu Iha

Foto publicada no jornal vicentino São Vicente Jornal, em 21 de janeiro de 1979

Koyu Iha

Nascido em Santos, a 30 de junho de 1940. Filho de Kotoku Iha e d. Setsu Iha. Casado com d. Yoshico Iha.

Cursou o primário em Lins no Grupo Escolar Professor Jorge Americano, ginásio e colegial em Santos, na Associação Instrutiva José Bonifácio. É advogado, formado pela Faculdade Católica de Direito de Santos.

Desempenhou os seguintes mandatos: vereador da Câmara Municipal de São Vicente pelo MDB, de 1975 a 1976; deputado estadual e vice-líder da bancada do MDB na Assembleia Legislativa, em 1976; prefeito municipal de São Vicente, eleito pelo PMDB para o mandato de 1977 a 1981.

Advogado, exerce (N. E.: em 1982) a função de supervisor de contratos na Superintendência de Serviços Técnicos da Cosipa.

Foi presidente do Grêmio Recreativo Nissei Vicentino, ex-diretor do Clube de Cinema de São Vicente, foi membro do Conselho Deliberativo do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito de Santos, onde fundou a UP, partido de política acadêmica.

Deixou o cargo de prefeito em 31/1/1981, em protesto contra a prorrogação dos mandatos dos prefeitos e vereadores, por mais dois anos.

É membro do Conselho Administrativo da Codesavi - Cia. de Desenvolvimento de São Vicente.

Em novembro de 1982 elegeu-se, novamente, deputado estadual, pelo PMDB, com expressiva votação, para o mandato de 1983 a 1986. Como prefeito municipal de S. Vicente deu grande expansão ao plano comunitário de urbanização, eliminando valas e calçando ruas, beneficiando quase todos os bairros vicentinos.

Propaganda eleitoral como candidato a deputado federal, em 1994

Publicada no jornal paulistano O Estado de São Paulo, em 2 de outubro de 1994, página 27

(Acervo Digital Estadão)

Matéria publicada no Jornal Vicentino em 28 de junho de 2006 (acesso em 22/9/2012):

Koyu Iha

Foto publicada com a matéria

PERSONALIDADES - junho 28, 2006
Koyu Iha

Na vida é preciso planejar o futuro para que um novo e melhor presente seja construído. Na política isso não é diferente. Com essa visão de planejador experiente, com o perfil de gestor público e com seriedade e inteligência, Koyu Iha acumulou diversos cargos políticos durante estes 65 anos de vida. Da esfera municipal à federal, o ex-prefeito vicentino sempre lutou pela sua ideologia, mesmo sob o autoritarismo dos militares durante os anos de chumbo.

A Ditadura Militar serviu para que Koyu Iha percebesse que seu perfil ideológico não se enquadrava naquele sistema autoritário. Durante a vida universitária, começou a atuar politicamente em busca da democracia e assim seguiu com coerência até hoje. Nestes 65 anos, foi vereador e prefeito de São Vicente, deputado estadual, federal e diretor-executivo da Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem).

Com uma atuação voltada para a região, o político fez com que São Vicente fosse considerada Estância Balneária, o que traz a possibilidade de recursos à Cidade. Além disso, iniciou o incentivo à pesquisa de Combate a Aids ainda quando a doença estava surgindo em São Paulo.

Na entrevista que deu ao JV, Koyu mostra-se feliz consigo mesmo e afirma que sente que cumpriu sua missão política. Por isso, revela que não almeja mais os cargos públicos e considera pequena a possibilidade de atuar novamente. Mas no campo das ideias ele avisa que sempre estará atuando ideologicamente.

Jornal Vicentino- O senhor passou sua infância em Santos? Como foi esse período?
Koyu Iha- Na minha infância passei por dificuldades mil. Nasci em Santos, mas em 1943 meus pais foram expulsos da Cidade por causa da 2º Guerra Mundial e acabei indo morar em Lins. Fiz o ensino fundamental no Grupo Escolar Jorge Americano Diniz. Quando meus pais foram expulsos de Santos foi muito difícil. Eu tinha apenas três anos, mas sei que para eles foi difícil mesmo. Por conta da mudança, terminei o ensino fundamental em Lins. Já o ensino médio eu concluí em Santos, no Colégio José Bonifácio. Foi uma infância muito bacana, mas com dificuldades.

JV- Terminado os estudos básicos, o senhor continuou os estudos em uma universidade ou começou a trabalhar?
KI- Antes da universidade fui trabalhar na Cosipa em 1963. Naquele tempo era normal trabalhar sábado, domingo, era muito cansativo. Não tinha fretamento da empresa. Ou os funcionários fretavam seu próprio ônibus, ou iam de carona em caminhões. Não tinha transporte, era muito difícil. Mas comecei a trabalhar lá, fiz um curso de dois anos e, em meio a isso, em 1964, prestei vestibular para Direito.

JV- Como foi frequentar a universidade durante a Ditadura Militar?
KI- A vida acadêmica foi muito agitada, pois era a época da revolução militar. Minha vida política começou na universidade, fiz parte do Centro Acadêmico e do partido acadêmico. Discutíamos muito acordos com o MEC, muita política, e foi dali que alguns jovens, incluindo eu, saímos candidatos à vereador pelo MDB em 1967. Fui o terceiro vereador mais votado e não esperava uma votação tão expressiva.

JV- Qual era a posição do vereador Koyu Iha durante os anos de chumbo?
KI- Em São Vicente a vereança era gratuita e eu trocava horários de turno para comparecer às sessões. Tinha a consciência que deveria ser a oposição, pois a ditadura não era boa. Nas sessões, era preciso ter muito cuidado com o linguajar, porque o pessoal do DOPS acompanhava a sessão de corpo presente. Todos sabiam que era preciso mudar, então, a vereança servia para evitar os abusos do autoritarismo.

JV- A vigilância dos militares era muito forte na política vicentina? A pressão do governo deixou marcas nos oprimidos?
KI- Qualquer ação que você exercia na vereança você era considerado subversivo e era chamado ou no 2º BC ou no Itaipu. Hoje, é fácil de falar, mas na época eu tinha trauma quando alguém batia em minha porta às 23 horas. Eu ficava apavorado porque achava que iriam me prender. Fui detido três vezes pelo Exército e a gente preferia ser detido pelo Exército do que pelo DOPS. Fui detido, levado para acareação muitas vezes, mas sempre fui solto um dia depois da prisão. Passei por muito constrangimento e por isso tinha que tentar mudar a situação. O trauma era tão grande que quando via a caminhonete da Polícia eu atravessa a rua com medo que ela me pegasse.

JV- E a reeleição? O senhor esperava ser o vereador mais votado?
KI- Depois disso, eu fui para a reeleição em 1972 e aí consegui ser o vereador mais votado da época. Mas não esperava tal votação, porque a minha frente tinham nomes de peso, como Oswaldo Marques e Jaime Horneaux de Moura. No meu segundo mandato eu já era mais audacioso e fiz um trabalho de continuidade ao trabalho anterior. Em 1974, eu me lancei candidato a deputado estadual e fui eleito. Foi a primeira vez na história vicentina que um vereador da Cidade chegava a se tornar deputado.

JV- Como deputado, o senhor também era da oposição? Qual foi sua luta neste cargo?
KI- Como deputado, você passa a ter uma visão mais ampla do processo político. Uma coisa interessante é que éramos da oposição e por isso nossa linguagem era mais fácil. É mais simples criticar o governo, porque você perceber os defeitos, é mais fácil. Nossa luta era buscar a democracia, ampliar o processo democrático.

JV- Sendo o primeiro deputado vicentino, qual foi sua contribuição para a Cidade que o elegeu?
KI- Foi como deputado que consegui que São Vicente fosse transformada em Estância Balneária. Esta lei foi de minha autoria e foi muito importante para captar recursos para a Cidade. O assunto foi muito comentado na época pela sua importância, que até hoje ajuda bastante o Município.

JV- Ao assumir a Prefeitura de São Vicente, Koyu Iha mudou de alguma forma a sua postura?
KI- Em 1976, eu fui candidato a prefeito. Nesse período, eu era pressionado por outros partidos para mudar de legenda, mas sempre me mantive no MDB. Minha luta era constitucional, por eleições diretas, democracia. Minha política era ideológica. Minha geração é a da política doutrinária, que discute ideologia. Como prefeito, descobri que tinha que moderar minha linguagem contra os outros prefeitos e governadores (risos). Quando você está sentado na cadeira de prefeito é diferente. Você tem um orçamento e seus atos geram implicações reais, então, você tem que atuar de maneira diferente. No fim, acho que fiz uma boa administração.

JV- Por que o senhor autoavalia a sua gestão como positiva? Em quais áreas o senhor atuou?
KI- Tinha um ótimo relacionamento com o governador de São Paulo, Paulo Egídio, o que ajudou muito. Conseguimos trazer umas seis ou sete escolas estaduais aqui para o Município. Além disso, meu antecessor, o prefeito Bierrembach, havia deixado um ótimo Plano Comunitário, ao qual dei continuidade, embora fosse muito criticado na época. Naquela época, já discutíamos a questão do acesso à Rodovia dos Imigrantes. Não tenho arrependimentos. Acho que saí e deixei um legado muito bom, que é o comportamento de preocupação com a gestão pública. Para se ter uma ideia, eu consegui multiplicar por 10 o número de pavimentações em São Vicente. Se desde Martim Afonso a Cidade tinha uma certa quilometragem de pavimentação, eu, em quatro anos, aumentei em 10 vezes isso. A partir daí a gente começa a pensar que se cada prefeito fizer 10% daquilo que se tem de mais carente, em pouco tempo tudo estaria resolvido. A água e a iluminação pública também eram outros problemas da Cidade. Minha meta era arrumar tudo isso, mas era também a educação. Certa vez, eu disse que preferia que as crianças pisassem no barro, mas ao menos tivessem a chance de frequentar uma escola. Nossa! Fui muito criticado por causa disso. Comecei a criar escolas em todos os bairros. Outra coisa que fui criticado é que não iria reformar a orla da praia uma vez que muitos bairros estavam sem iluminação e água.

JV- O senhor citou infraestrutura e educação como áreas que sua administração conseguiu melhorar. A habitação não era um problema da Cidade?
KI- Sim, também tinha o problema da habitação. As melhorias no Samaritá, como água, luz e escolas começaram comigo. Os contratos para a execução com a Cohab Santista e de São Vicente nas áreas do Humaitá foram firmados na minha gestão. Fui considerado o melhor governo do interior pelo jornal O Estado de S. Paulo.

JV- E por que, então, o senhor renunciou ao mandato?
KI- Renunciei o mandato em 21 de janeiro de 1981, porque o PMDB estava fazendo uma campanha contra a prorrogação dos mandatos. Eu tinha outra posição, então chamei os funcionários e avisei que não viria mais para a Prefeitura.

JV- Hoje em dia, se voltasse àquela época, o senhor teria a mesma atitude?
KI- Acho que renunciaria novamente. Eu sou muito coerente, não faço nada contra minha ideologia.

JV- E como se deu a candidatura a deputado estadual?
KI- Depois de renunciar, eu voltei para a Cosipa e logo depois candidatei-me a deputado estadual em 1982. Eu fiz minha campanha nas férias da Cosipa (risos). Na própria empresa eu conseguia um grande número de votos, mas nunca coloquei minha atividade profissional na Cosipa como atividade partidária e política. A gestão de 1982 foi muito boa, junto com o governador Montoro. Naquele governo, eu apresentei uma emenda que foi muito polêmica. Era sobre a Pesquisa contra a Aids. Foi muito polêmica porque ainda estava começando a aparecer os primeiros casos da doença no mundo. A emenda foi aprovada e São Paulo iniciou os estudos sobre a doença.

JV- O que mudou quando o senhor saiu da esfera estadual para a federal?
KI
- A mudança ocorreu em 1986, quando me tornei deputado federal. Atuar no âmbito nacional faz com que você enxergue os verdadeiros problemas dos brasileiros, a pluralidade ideológica e a diversidade cultural do País.

JV- Na Agem o senhor sofreu muita cobrança? O processo de metropolização é lento mesmo?
KI
- Entrei na Agem em 1999 e fiquei até o ano passado. Todas as pessoas querem que a Agência crie algo de concreto, mas esta não é a função da Agem. Isso é função do prefeito. A Agem trabalha com planejamento estratégico, no campo das ideias. A questão da metropolização é bastante complexa e muito complicada. Como podemos falar em uma integração da região se só agora os prefeitos estão começando a conversar? Não é culpa da Agem, o processo é lento mesmo.

JV- Ainda existe uma guerra de vaidades entre os prefeitos? Isso atrapalha a integração das cidades da região?
KI
- A guerra de vaidades entre os prefeitos vai ter sempre, mas isso não impede que haja um fórum para discussões. Com o tempo, a tendência é que isso vá se atenuando.

JV- A falta de união dos municípios e a dificuldade de planejamento são os fatores que tornam a metropolização lenta?
KI
- Quando eu entrei na Agem eu montei uma estratégia com os prefeitos: eles faziam o dia-a-dia e eu montaria uma estratégia para daqui 15, 20 e 25 anos. A grande discussão que eu coloquei foi a do transporte, mas é muito difícil, porque se tem uma CET de Santos, uma de São Vicente, capacidade e competência de multa diferenciada em cada Cidade, semáforos diferenciados, então, como alguém pode unificar isso? A gente começou a discutir isso e como primeiro passo colocamos a construção das vias metropolitanas, que já começaram. O problema é que as pessoas não pensam como planejadores. Por exemplo, todos podem achar fácil a questão do transporte, mas ninguém pensa que daqui a 25 anos a população da Baixada Santista estará duplicada. Então, tem que ser criado um sistema de transporte integrado que suporte isso, e não é fácil. Os prefeitos enxergam para daqui a quatro anos, que é o fim do mandato deles, mas e o resto?

JV- Além disso, que outro fator dificulta a metropolização?
KI- A metropolização é uma questão complexa porque a vida urbana está ficando complexa. E a Baixada ainda tem uma coisa chamada limite. Tem-se uma área de mangue que é preservada; tem-se uma área de serrra que é preservada. Só se pode verticalizar, mas até que ponto, qual o limite da verticalização? Se continuarmos a discussão chegaremos em densidade demográfica e depois em controle de natalidade. Pode ver como é difícil, cada vez vai embolando mais.

JV- Sobre São Vicente, como o senhor analisa o primeiro ano da administração Tércio Garcia?
KI
- O Tércio está dando continuidade àquilo que recebeu. Ele é um técnico cuja competência é indiscutível. É só ver pela votação que obteve. Ele tem seu projeto administrativo organizado, mas acho que terá muitas dificuldades, pois substituir o Márcio França não será fácil. O sucesso de Tércio dependerá de seu relacionamento com o Estado e com a União. O volume de obras que seu antecessor fez dificilmente será alcançado.

JV- Quais são os planos políticos de Koyu Iha para o futuro?
KI- Tenho minha missão cumprida. Pretendo continuar fazendo política, mas acho difícil atuar no cenário atual. Além disso, há a dificuldade de arrecadar recursos para campanha, pois estou fora da atividade, querendo ou não. Quando se está fora do cenário é muito difícil você conseguir recursos para campanha. Então, acredito que seja complicado de eu voltar a exercer cargos políticos.

Retrospectiva de 1981, publicada no jornal santista A Tribuna em 1º de janeiro de 1982, página 10:

Renúncia não livra de discriminações

SÃO VICENTE - Certamente, o primeiro fato marcante do ano de 1981 em São Vicente foi a renúncia do prefeito Koyu Iha, no dia 2 de fevereiro. Quando o Governo impôs ao Congresso a aprovação da prorrogação dos mandatos dos chefes de Executivo, Koyu afirmou: "Fui eleito por quatro anos. Encerrado o prazo, eu saio". Seu partido, o PMDB, que antes cerrava fileiras contra o casuísmo, passou a defender, de forma não muito clara, que os prefeitos da agremiação permanecessem nos cargos, posição adotada pela sigla logo depois que a prorrogação se tornou irreversível, com a aprovação pelo Congresso. Koyu moderou o tom por algum tempo e, poucos dias antes da renúncia, chegou mesmo a declarar que não abandonaria a Prefeitura. Mas, naquela segunda-feira, dia 2 de fevereiro, o prefeito mantinha a palavra empenhada desde o princípio: deixava o cargo nas mãos do seu vice, Antônio Fernando dos Reis, também do PMDB.

Namoro - O novo prefeito, ao iniciar seu mandato de dois anos, ao contrário das expectativas de diversos observadores políticos, não procurou entrar em choque direto com o governador Paulo Salim Maluf, por causa das discriminações feitas pelo Governo Estadual ao município oposicionista. Em suas primeiras declarações, Reis dizia que seu relacionamento com Maluf ia depender da atitude do governador. E, no princípio, esse relacionamento parecia estar indo tão bem que surgiram comentários cada vez mais insistentes de que Maluf conseguiria com Reis o que durante anos tentara e não conseguira com Koyu: trazer o prefeito oposicionista para o PDS, em troca de verbas para o município. Mas o namoro durou muito pouco. E, em breve, Reis já não procurava evitar criticar abertamente o governador, pelo não atendimento de velhos pedidos da cidade. [...]

Koyu deixou seu cargo nas mãos de Reis

Foto: Walter A. Mello, publicada com a matéria