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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE - BIBLIOTECA - Na Capitania de S.V.
Washington Luís e a capitania vicentina (9)

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Além de governador paulista e presidente do Brasil, Washington Luiz Pereira de Souza foi escritor e historiador, sendo responsável pela construção dos monumentos históricos do Caminho do Mar, na subida da serra entre Santos e São Paulo, em 1922, para comemorar o centenário da Independência do Brasil.

Uma das suas mais importantes obras foi esta, Na Capitania de São Vicente, publicada em 1956 (um ano antes da morte do autor) pela Livraria Martins Editora, da capital paulista. Com 341 páginas mais 7 introdutórias, a obra foi impressa pela Empresa Gráfica Revista dos Tribunais, também de São Paulo.

O exemplar de número 956 foi cedido a Novo Milênio para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010. Páginas 83 a 91, com ortografia atualizada:

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Na Capitania de São Vicente

Washington Luís

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Capítulo VIII - A fundação de São Paulo

Na ocasião em que Tomé de Souza percorreu a costa Sul do Brasil, em 1553, em inspeção às capitanias, que constituíam seu governo geral, veio, como se sabe, em sua companhia, o padre Manuel da Nóbrega.

O superior dos jesuítas nas terras do Brasil, em visita às casas e colégios fundados para cristianização dos indígenas, esteve na vila de S. Vicente, depois também subiu ao planalto. Esse planalto já era conhecido. A ele viera, em 1532, Martim Afonso de Souza; nele, antes dessa vinda, já habitava João Ramalho com a sua numerosa tribo; nele já havia alguns portugueses, que se comunicavam com S. Vicente por veredas de índios; nele também esteve Manuel da Nóbrega [1] e, antes dele Leonardo Nunes. Nele, de bom ares e com facilidades de culturas, resolveu Manuel da Nóbrega estabelecer um ponto para irradiação da catequese religiosa dos aborígines.

Com outros padres e irmãos da Companhia de Jesus, a ele subiu e, numa povoação de índios, que chamavam Piratininga, foi construída "uma paupérrima e estreita casinha, tendo 14 passos de comprimento e 10 de largura, feita de barro e coberta de palha, que serviu ao mesmo tempo de escola, dormitório e refeitório, enfermaria e cozinha e despensa", "separada da convivência dos portugueses" [2].

Procuraram os jesuítas reunir no planalto o gentio acolhedor, fazer uma casa religiosa e construir uma igreja, distante, entretanto, da povoação de João Ramalho. Por mais tosca e rudimentar que fosse a casa, algum tempo demandaria a construção delas. Da mesma forma por mais acolhedor que tivesse sido o gentio, volúvel e inconstante, sempre seria necessário tempo para o reunir e induzi-lo a permanecer em determinado lugar. É o próprio padre Manuel da Nóbrega que expõe o seu árduo trabalho, realizado no ano anterior de 1553, como se lê na sua carta de 31 de agosto de 1553 (Serafim Leite, Páginas de História, pág. 92) a fim de que com os demais padres e irmãos pudesse o padre Manuel de Paiva celebrar missa aí, onde já se achava Tibiriçá e sua gente, no dia 25 de janeiro de 1554, dia consagrado à conversão de S. Paulo e por isso a pequenina casa tomou o nome desse apóstolo.

Manuel da Nóbrega era o superior dos jesuítas em S. Vicente, no Brasil; e, na ocasião dessa missa, José de Anchieta tinha 19 anos, 9 meses e 18 dias de idade [3] e não era ainda sacerdote, sendo apenas irmão da Companhia, tendo-se ordenado posteriormente na Bahia em 1566 (Charles Sainte Foy – Vida de José de Anchieta, págs. 1, 26, 52). Pela regra da Companhia, cujo voto de obediência era rigoroso, só o superior, só Manuel da Nóbrega, escolheria o lugar para a fundação da Igreja de S. Paulo, e, pelas leis da Igreja, só um sacerdote poderia celebrar missa.

A missa de 25 de janeiro não poderia, pois, ser dita por Anchieta, embora a ela estivesse presente, nem a igreja poderia ter sido por ele fundada.

E, porque tal dia se escolheu para isso, "ẽ Piratininga, como acima se disse, se começou de 'propósito' a conversão do Brasil" (Inf. do Brasil, R. I. H. G. B., vol. 6º, pág. 430).

Santo André ficara situada à borda do campo, o que vale dizer à borda da mata, isto é, onde acabava a mata, que cobre a encosta da Serra, e onde começa o campo onde se situou S. Paulo do Campo de Piratininga. Ficava aquela vila mais sujeita aos ataques dos índios inimigos, que acobertados com a mata atacavam com surpresa e perfídia, o que tornava muito mais difícil a sua defesa.

A casa e a igreja de S. Paulo ficavam no meio de campos abertos e largos, que permitiam os seus habitantes divisar o inimigo ao longe e assim opor-lhe defesa mais pronta e eficaz. Nesses campos de "bons ares e de boas águas" cultivavam-se cereais e frutas, se apascentava gado, com os quais se abasteciam a própria povoação, a vila de Santos e a de S. Vicente, coisas indispensáveis ao litoral, e para as quais as condições de Santo André não consentiam facilidades. Essa era a obra dos colonos.

Santo André possuía ermida, mas não tinha pároco, só recebendo socorros espirituais idos de S. Paulo, com grande prejuízo para a religião.

As duas povoações, por assim dizer contemporâneas, como núcleos urbanos, se equivaliam; a manutenção das duas dispersava esforços e atividades, cuja reunião era indispensável nessa época inicial de conquistas material e espiritual, de povoamento e catequese.

Essas razões – que tinham em vista a defesa e a segurança, e que também eram de ordem econômica, social e espiritual – levaram a Mem de Sá, terceiro governador geral do Brasil, estando em S. Vicente, em 1560, atendendo os pedidos dos padres da Companhia de Jesus e os dos próprios moradores de Santo André, a mudar a sede dessa vila para junto da casa e igreja de S. Paulo, edificadas estas na colina entre os ribeirões Tamanduateí e Anhangabaú, próximas às choças de Tibiriçá, ambas dentro do termo da vila de Santo André.

Az. Marques, Cronologia, informa que Mem de Sá chegou a S. Vicente a 31 de março de 1560, e aí esteve cerca de sete meses ou mais, o que autoriza a dizer que a mudança foi feita depois de março e antes de findar esse ano de 1560 [4].

Em 1560 foi também usado, por ordem de Mem de Sá, um outro caminho entre o planalto e o litoral, mais para Oeste, a fim de evitar os ataques dos tamoios [5].

Por essa forma, "para melhor serviço de Deus e de el-rei, nosso senhor", que nesse tempo tudo decidia, concentrou o Ggovernador geral mais uma vez, os moradores do planalto em um ponto mais avançado no sertão, alargando a posse portuguesa.

Documentos autênticos provam que não houve um pedido único, nem uma só razão, para a transferência de sede da vila.

Comprova-o uma carta de 20 de maio de 1561 à rainha d. Catarina, regente de Portugal durante a menoridade de d. Sebastião, assinada por Jorge Moreira e Joanes Annes, oficiais que foram da Câmara de Santo André e depois da de S. Paulo, na qual escreveu:

"este ano de 1560 veio a esta capitania Mem de Sá, governador geral, e mandou que a vila de Santo André, em que antes estávamos, se passasse para junto da casa de S. Paulo, que é dos padres de Jesus, porque nós todos lh'o pedimos por uma petição, assim por ser o lugar mais forte e mais defensável assim dos contrários como dos nossos índios, como por muitas causas que a ele se movera" (Cândido Mendes de Almeida, R. I. H. G. B., vol. 40, 2ª parte, pág. 349 – Serafim Leite, Páginas de História do Brasil, pág. 87. Ambas essas citações se fundam na História do Brasil, de Ad. Varnhagen, vol. 1º, pág. 290, 2ª. ed. que por sua vez cita a Carta de Piratininga a 20 de maio de 1561).

Comprova-o a vereança de 12 de maio de 1564 (Atas de S. Paulo, vol. 1º , pág. 42) na qual a Câmara de S. Paulo fez registrar um requerimento dirigido a Estácio de Sá, então com sua esquadra no porto de S. Vicente, onde viera buscar reforço: "primeiramente lembramos em como esta vila de S. Paulo sendo há tantos anos edificada doze léguas pela terra adentro, agora faz quatro anos que a esta capitania veio o governador Mem de Sá e por lhe ser requerido pelo povo de S. Vicente, Santos e padres da Companhia de que as provesse e fortalecesse esta vila, ele o fez com o despovoamento da vila de Santo André recolhendo os moradores para viver nesta dita vila". "A capitania de S. Vicente estava entre duas gerações de gente inimiga de várias qualidades e forças, que em toda a costa do Brasil há, como são os tamoios e os tupiniquins".

São, pois, expressos os documentos profanos em atribuir a Mem de Sá a mudança, em 1560, da sede da vila de Santo André para junto da Casa Jesuítica de São Paulo. Com eles concordam os documentos jesuíticos.

Em a carta de 12 de junho de 1561, José de Anchieta, (Cartas, vol. 3º, pág. 170) relata ao padre geral dos Jesuítas, Diogo Laynez, que uma povoação, que estava três léguas apartada, se mudou para Piratininga por mandado do governador e por instâncias dos padres.

A Informação do Brasil, em 1584 (Rev. I. H. G. B., vol. 6º, pág. 430), declara que "a vila de S. Paulo era antigamente de invocação de Santo André, estava três léguas mais para o mar, e no ano de 60 por mandado do governador Mem de Sá se mudou a Piratininga, porque não tinha cura, somente era visitada e sacramentada dos padres da Companhia, assim portugueses como índios seus escravos". Foram esses pedidos, aqui resumidos, que determinaram a mudança da sede.

No Arquivo Municipal de São Paulo faltam as atas da vila de Santo André da Borda do Campo, correspondentes aos anos de 1553 a 1555 e faltam as de São Paulo de 1560 a 1562 (e faltam muitas outras) período no qual se fizeram a criação e aclamação de Santo André, e a mudança da sede desta vila para junto da casa dos jesuítas. Neles deveriam constar os assentos relativos a esses fatos.

O foral da vila de Santo André, se bem que a ele haja referências positivas, desapareceu, como desapareceram vereanças de alto valor. Os livros, que os continham, mal guardados, mal cuidados, maltratados, comidos pelas traças, em clima úmido e quente, constituídos por brochuras ordinárias e em certo tempo muito manuseados, se foram gastando, dilacerando, rompendo nas suas últimas e primeiras páginas. Muitos desses livros desapareceram e o arquivo local emudeceu para a História.

O silêncio dos arquivos locais, entretanto, não impediu que outros documentos autênticos narrassem que houve a transferência da sede da vila de Santo André para junto da igreja que os jesuítas tinham levantado e dedicado a São Paulo. Para aí vieram os homens bons da governança de Santo André e para aí se transportou a administração local portuguesa autorizada nos forais concedidos pelo rei d. João III; aí já estavam alguns colonos, dos que andavam espalhados pelo campo; aí já se encontravam muitos índios; já aí havia mamelucos.

Há que concluir, portanto, que S. Paulo não foi obra de um só homem, nem de um só partido, nem de uma só geração. Claro como a evidência. Basta indicar e resumir os elementos que coletivamente concorreram para que São Paulo existisse.

Em 1553, Tomé de Souza, na capitania de Martim Afonso, doada pelo rei de Portugal, juntou as diversas povoações, dispersas pelo campo, e fundou a vila de Santo André perto de uma ermida que aí havia, dedicada ao apóstolo desse nome. Já antes havia autorizado os jesuítas a evangelizar nesses campos.

Em 1554, com autorização desse governador geral, os padres da Companhia de Jesus [6], construíram uma igreja e nela celebraram missa, numa estreitíssima casa, no dia da conversão de S. Paulo, na colina entre o Tamanduateí e o Anhangabaú.

Em 1560, Mem de Sá, terceiro governador geral, mudou a sede dessa vila de Santo André para junto dessa casinha. Daí passaram os padres a catequizar os aborígines, e os colonos e seus mestiços, chamados mamelucos, e estes e todos começaram a devassar o sertão, a fazer fazendas a apascentar gados e a descobrir minas.

Em 1711, após o descobrimento de minas, o rei d. João V elevou a vila a cidade, nela estabelecendo a sede da capitania.

Em 1822, desmembrando-se de Portugal, o Brasil viu a pequena cidade transformada em capital de uma província imperial.

Em 1889, a república se estabeleceu e aí constituiu a capital de um estado autônomo e federado, com rendas próprias. Este abriu as portas de suas terras dadivosas, que ele as fez sadias e seguras, à imigração dos outros estados da Federação e à de todas as nações do mundo. Assim floresceram a agricultura, o comércio, as indústrias, as artes, alargando e erguendo, próspera e rica, a cidade atual com mais de 2.300.000 habitantes.

Foi a conjunção de todos esses elementos que fez a cidade, "que mais cresce no mundo", segundo proclama o orgulho brasileiro. Mudada a sede da vila para junto à igreja dos Jesuítas, no campo, que estava no termo de Santo André, este nome foi-se esvaecendo, até se integrar no de S. Paulo.

À vila de S. Paulo não foi, pois, dado foral. E o nome de São Paulo absorveu totalmente o de Santo André. E essa absorção foi ainda mais vasta, se estendeu por toda a capitania de S. Vicente, por todo o sertão do Brasil.

São Paulo, com a força de um destino, transmudou os vicentinos e os forasteiros em paulistas e o nome de S. Paulo, numa igrejinha em pequeníssimo povoado, passou para a vila, passou depois para a cidade, passou para a capitania e mais tarde para todo o território sertanejo, desde as altas e recônditas cabeceiras dos regatos, que afluem para o Paraguai e para o Paraná até formar o Rio da Prata, como passou até para o Norte, até as que constituem a bacia Sul do Amazonas e para a bacia do São Francisco, no sertão.

Oficialmente ainda havia a capitania de S. Vicente, mas já é de São Paulo que se fala. Ainda havia a capitania de S. Vicente e todos os seus habitantes já se chamavam paulistas e trilhavam terras desconhecidas, como os seus antepassados europeus navegaram mares tenebrosos.

Sem dúvida alguma, a 25 de janeiro de 1554, numa tosca casinha de 14 passos de comprimento por 10 de largura, na colina entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, foi celebrada uma missa. Mas essa data não marca também a primeira missa celebrada no planalto de Piratininga.

Missionando, desde fins de 1549 ou princípios de 1550, o padre Leonardo Nunes percorrera esse planalto, e o padre Manuel da Nóbrega, em catequese, também aí estivera, em 1553 e demoradamente. Segundo os preceitos da Igreja Católica os padres devem diariamente celebrar missas, sempre que possível. Os padres Manuel da Nóbrega e Leonardo Nunes, já aí haviam dito missas, visto que aí, nos campos, já havia a ermida de Santo André, desde antes de junho de 1553, conforme Tomé de Souza informou a d. João III.

Mas, a 25 de janeiro de 1554, dia consagrado à conversão de São Paulo, o apóstolo do gentio, foi celebrada outra missa no planalto. Outro passo para conversão do gentio do interior sul-americano e para devassamento e posse do seu território.

A data de 25 de janeiro de 1554 só marcaria, pois, os aniversários, os centenários da missa celebrada nos campos de Piratininga pelos jesuítas, se aí não estivessem também os colonos portugueses, os índios e as índias e seus descendentes, os mamelucos e, ainda mais, os representantes da administração portuguesa na capitania de S. Vicente, portanto do rei, todos concorrendo, sem o suspeitar talvez ou pelo menos em sua maior parte, que estavam iniciando com a catequese religiosa, com o trabalho civilizador, com o cruzamento das raças, com as entradas ao sertão, com as leis e a autoridade portuguesa, para uma obra coletiva, da qual resultaria a formação do Brasil atual. Marcaria, portanto, os centenários da casa de São Paulo.

Mas a missa intencionalmente celebrada pelo padre Manuel de Paiva a 25 de janeiro de 1554, entretanto, marca a reunião de todos os elementos que iniciaram a formação territorial e a cristianização do interior do Brasil [7], como procurarei demonstrar.

Ainda hoje, é com missas votivas que católicos solenizam os seus grandes acontecimentos; e, ainda hoje, até empresas industriais e comerciais, dirigidas por católicos, pedem bênçãos para seus empreendimentos em dias diferentes daqueles em que começaram os seus trabalhos.

A própria Igreja Católica comemora os seus maiores dias – paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo – em dias que se mudam anualmente, a que se chamam solenidades móveis.

O que se comemora é o fato e não o dia.

No evoluir de uma civilização não há separações nítidas que marquem os seus faustos, como os valos e cercas indicam as divisas de fazendas.

Os grandes acontecimentos da história não surgem, não se realizam num só dia. Assim, 7 de setembro de 1822 consagra a nossa Independência Política, como 14 de julho de 1789 simboliza a Revolução Francesa; mas a Independência e a Revolução não começaram e não se terminaram nesses dias.

O que se deve comemorar em São Paulo, cuja capital conta hoje mais de dois milhões de habitantes, e cujo território, depois de desmembrado de vastíssimos territórios, hoje estados, possui ainda mais de 9 milhões de habitantes, concorrendo fortemente para a grandeza de um país de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados e com mais de 50 milhões de habitantes. Por conseqüência o que em São Paulo se deve comemorar é a obra realizada no passado, é o seu progresso no presente e a sua esperança no futuro. O dia exato em que todas as forças primitivas da colonização e da catequese começaram a atuar conjuntamente, é difícil, senão impossível, de precisar.

Mas os homens têm obrigação de comemorar os feitos de valor de sua gente e sentem a necessidade de fixar um dia para esse fim.

Obedecendo a esses dois ditames imperativos, é o dia 25 de janeiro de 1554, o dia que se deve adotar para comemorar a fundação de São Paulo, dia já sancionado por uma tradição de quatro séculos [8].


[1] Cartas Jesuíticas, Manuel da Nóbrega, vol. 1º, pág. 145.

[2] Cartas Jesuíticas, José de Anchieta, vol. 1º, pág. 145.

[3] Nasceu a 7 de abril de 1534.

[4] Vide – Instrumento dos serviços de Mem de Sá – Anais da Biblioteca Nacional, vol. 27, págs. 129 e seguintes.

[5] Essas duas veredas, ordinaríssimas, mal traçavam o trânsito entre o planalto e o Cubatão. Esta última ficou conhecida sob o nome de Caminho do Padre José, não se sabe desde que data e por que razão, talvez por ser freqüentada por Anchieta. Em 1560 José de Anchieta era apenas irmão da Companhia de Jesus, só tendo tomado ordens sacerdotais em 1566, na Bahia (Serafim Leite, História da Companhia de Jesus, vol. 1º, pág. 29, nota 2). Nem ele tinha poderes, nem a Companhia de Jesus, nessa época, tinha posses para construção de caminhos, por piores que fossem. José de Anchieta "subia por esse caminho" (Documentos Interessantes, Vol. 29, pág. 112).

É o que diz a Memória de Melo e Castro aqui citado. Foi uma preocupação constante, e com muita razão, da gente do planalto em manter a comunicação com o litoral. Desde as mais remotas vereanças da vila de Santo André (Atas, pág. 15), através das atas da Câmara de S. Paulo, continuamente se fala e se recomenda e se insta pela conservação do caminho do mar. Este caminho nos primeiros tempos, e por muito tempo, foi uma vereda de índios pela serra de Paranapiacaba, (porque da ilha de S. Vicente até ao pé da serra se viajava por água) e daí para a vila de S. Paulo, até à borda do campo, atravessavam-se rios caudalosos.

Em 1560 o caminho do mar ainda passava pelo vale do Mogi, pelos sítios de João Ramalho, e por Ururaí, e foi por ele que Martim Afonso subiu até a região de Piratininga. Depois se fez outro, mais a Oeste, que a tradição chamou caminho do Pe. José (Os rios correm para o mar) e que por ordem de Mem de Sá começou a servir ao tráfego entre o planalto e o litoral. O primeiro chamou-se o caminho velho do mar. Pelo caminho novo, era proibida a passagem de boiadas, visto o estrago que causavam. Ambos eram péssimos; do alto da serra até ao campo havia atoleiros causados pelas inundações dos rios Grande e Pequeno; do alto da serra para baixo eram aspérrimos e apenas indicados pelos cortes das árvores.

Depois, no fim do século 18, Bernardo José de Lorena mandou fazer uma estrada, em ziguezague na descida, que se chamou a "Calçada do Lorena". A Câmara de S. Paulo, todos capitães-generais, todos os viajantes descrevem o caminho novo como temeroso. Todas as administrações, conforme as suas posses, fizeram esforços para melhorá-lo. O capitão general Antônio de Melo e Castro, em 1799, fez uma memória sobre esse caminho que se pode ler nos Documentos Interessantes, vol. 29, pág. 112 e seguintes, publicados pelo Arquivo do Estado.

[6] Nesse tempo, tudo dependia de licença do rei, diretamente ou de seus representantes autorizados.

[7] Os padres do Brasil estavam sujeitos ao poder absoluto dos reis, que os subsidiavam, poder exercido pelos governadores e donatários, que davam e negavam autorização para entrada ao sertão, como se pode ver nas cartas jesuíticas.

[8] Como bem disseram Manicourt e Bertrandfosse, a História é um processo em perpétua revisão (Les Bourbons, pág. 244).