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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE
Duas professoras em 1892


Texto condensado da obra Vultos Vicentinos - Subsídios para a História de São Vicente, de Edison Telles de Azevedo, impresso na Empresa Gráfica Revista dos Tribunais S.A. (S.Paulo/SP), e lançado em São Vicente/SP em 1972 - exemplar no acervo da professora Sidnéia Lopes Escobar:


O Colégio Imaculada Conceição, na Rua Frei Gaspar, esquina da XV de Novembro, em 1912.
A placa designativa foi doada pelo sr. Paulino de Oliveira Filho
Imagem: bico-de-pena do autor do livro, publicado com o texto

Duas irmãs brasileiras, de origem alemã, que viveram em São Vidente por muitos anos, merecem que seus nomes aqui figurem, na galeria dos vultos que se destacaram em nossa cidade. Tiveram, em seu tempo, determinada presença na terra afonsina, cuja vida conseguiram tocar por seu compassivo afeto e sensibilidade.

Em rápidos traços, vamo-nos referir à história verídica de duas bondosas mestras-escolas, as quais, por dilatado tempo, se devotaram a plasmar o tenro espírito e a inteligência em flor de seus pequeninos alunos.

Criaturas serenas, conscienciosas - algo de permanente que, nesse árduo mister, prestava serviços e despertava confiança - tinham boa parte de suas vidas voltada para o atendimento ao próximo, e cuja virtude residia, essencialmente, em seu cândido e poético espírito de infância. Exerciam, assim, sua benéfica influência sobre criaturinhas que iam crescendo e teriam, talvez, importância no mundo. Daí, haverem permanecido as suas singelas personalidades, de velada e discreta beleza íntima, gravadas na memória de muitos que com elas conviveram.

O magistério particular era a principal atividade dessas inesquecíveis damas, de delicada simplicidade e desprovidas de ambição, sendo que a mais importante lição que ministraram não teria, possivelmente, sido dada em aula: a vida tranqüila e sem jaça, pontilhada de gestos de bondade, compreensão e espírito de entreajuda foi, talvez, à semelhança de outros casos aqui postos em relevo, o mais exuberante e dadivoso de seus ensinamentos.

Jardim da infância - O nosso sistema de ensino e educação, salvo honrosas exceções, quer público ou particular, é ainda deficiente, e relativamente há pouco tempo vem o empirismo sendo dele banido. Nesse terreno, há ainda muito a completar, em que pese o esforço de reduzidos núcleos de dedicados estudiosos.

A batalha parece não ter fim, quando em outras partes do mundo toda atenção e empenho estão permanentemente voltados para esse aspecto essencial da vida humana. E se ainda agora, entre nós, assim é, o que não seria há 60 ou 70 anos atrás na terra afonsina, em matéria de encaminhamento da criança no pedregoso caminho do saber?

Quem, no começo do século, falava em jardins-da-infância, pré-primários e outras facilidades que somente agora começam a despontar, a tomar corpo, para todas as criaturinhas que se iniciam na luta, a cada momento mais acirrada, do ganha-pão diário? Naquela época já distante, nada havia em nossa cidade que se pudesse vislumbrar nesse sentido.

1ª escola - 1892 - Àquelas duas senhoras se deve o trabalho precursor dos chamados jardins-da-infância e pré-primário. Foram elas quem, pelo ano de 1892, instalaram a primeira escola para esse fim, completando-a com o ensino de conhecimentos iniciais.

Desejamos referir-nos às irmãs Adelaide e Isabel Giebler, que residiram naquela época no caminho da linha de bondes 1, hoje Av. Antônio Emmerich, à esquerda de quem vai para Santos, vizinhas ao sítio que era conhecido como o da "Tia Romana", atualmente "Jardim Três Estrelas", na circunvizinhança do Clube Hípico. Ali começaram, incipientemente, a nobre tarefa que foi a razão de suas existências.

Através do documento que pesquisamos na Seção da Receita da Prefeitura, pudemos constatar terem as duas irmãs fundado em nossa terra, a 1º de setembro de 1905, o Colégio da Imaculada Conceição, de  que ainda em 1918 eram as diretoras, pois em setembro desse ano recolhiam, pelo registro de seus diplomas de professoras e dirigentes do Colégio, os emolumentos de 10 mil réis recebidos pelo tesoureiro da Câmara Municipal, o saudoso e prestante cidadão que foi Olegário Herculano Alves, por muitos anos também correspondente, em nossa cidade, deste jornal.

Auxílio da Câmara - No afã de ampliar os benefícios de sua árdua mas – para ambas as irmãs - sedutora tarefa, tornavam-se-lhes insuficientes os minguados recursos que lhes advinham da contribuição dos pequenos alunos e alunas, tantos deles de humilde e desprovida origem.

Fiéis, entretanto, ao lema de não ensinarem só por dinheiro, era natural que as dificuldades para elas tomassem vulto, na razão direta do empenho em estender o campo de suas benéficas quão - em muitos casos - desinteresseiras atividades didáticas e educacionais.

Muitos percalços de ordem financeira lhes surgiram, ameaçando seriamente o prosseguimento da obra a que inteiramente se devotavam durante o dia, e às vezes à noite, em vésperas de exames, numa ajuda suplementar àqueles alunos menos inteligentes.

Sabedores da situação crítica por que passava o colégio, foi que os membros da Câmara, no começo de 1912, votaram, com a aquiescência do intendente municipal, um auxílio de 50 mil réis mensais correspondendo ao período de janeiro a dezembro de 1911, o que foi concretizado pelo secretário da Câmara, naquela ocasião, Antônio Augusto Rios Carneiro.

Trabalho premiado - Não limitavam suas tarefas ao ensino das letras, alongando-o aos trabalhos manuais para as alunas. Muitos desses trabalhos, confeccionados durante o período letivo, figuravam em exposição escolar no fim do ano, e prêmios, modestos embora, eram conferidos aos que melhor impressão causavam aos visitantes e julgadores.

Uma dessas obras de delicado artesanato feita pelas alunas - um vistoso trabalho de crivo - figurou na Exposição Nacional do Rio de Janeiro, em 1907, recebendo como prêmio diploma e medalha de prata, galardão a mais recomendando o esforço e dedicação das irmãs Adelaide e Isabel Giebler, em benefício de suas pequeninas alunas.

Fundadora do Apostolado da Oração - O Apostolado da Oração, cuja função catequizadora, social e de benemerência é obra marcante em nossa terra, teve como fundadora e laboriosa incentivadora Adelaide Giebler (1-11-1907). Ainda nas comemorações do jubileu de ouro desse prestigioso sodalício católico, em novembro de 1957, Adelaide Giebler tomou parte, sem embargo de sua provecta idade, em todas as festividades promovidas pela paróquia de São Vicente Mártir.

Falece d. Isabel. D. Adelaide prossegue - Isabel Giebler não pôde acompanhar a meritória obra a que ambas, em sua mocidade, se propuseram - a de ensinar e educar. Tendo falecido prematuramente, coube à sua irmã Adelaide prosseguir, só, na benquista cruzada.

No chalé da Frei Gaspar - A certa altura de sua vida de magistério, Adelaide Giebler transferiu a escola para melhores instalações, em chalé à Rua Frei Gaspar, esquina da Rua 15 de Novembro, e lá, por muito tempo ainda, depois em prédio de alvenaria, até que a exaustão obrigou-a a deixar definitivamente o ensino, continuou a espargir as benesses de seus conhecimentos, de sua bondade, de seu espírito de entreajuda e solidariedade humana.

A professora Adelaide era filha do dr. Henrique Giebler (da Alemanha) e de d. Ana Guimarães. Nasceu no Rio de Janeiro e faleceu aos 78 anos, no Hospital São José, em São Vicente, em 6/12/1965. Está sepultada na campa perpétua 963-"O", nesta cidade, onde também repousam os restos mortais de sua mãe, falecida em 22/11/1919, e de sua irmã Ana Isabel, falecida em 9/10/1922. Foi casada com Antônio Macedo, serventuário da Justiça.

29/10/1967


Mestra-escola Adelaide G. Macedo, viveu para ensinar
Imagem: bico-de-pena do autor do livro, publicado com o texto

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