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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE - AS PONTES (6)
Ponte Pênsil - detalhes históricos

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Os primeiros automóveis, o primeiro policial, um operário que trabalhou nas obras da Ponte Pênsil, algumas tragédias ali ocorridas, foram registrados na edição nº 52 (de maio de 1982) do Informativo Cultural, boletim da Associação Centro de Estudos Amazônicos de Praia Grande (Aceam), de Praia Grande/SP:


A ponte, no dia festivo em que foi declarada patrimônio histórico e artístico nacional
Foto: copião do filme 2165x82 do jornal Cidade de Santos, de 30/4/1982
Pesquisa do historiador Waldir Rueda nos arquivos do jornal, mantidos no acervo da Unisantos

A Ponte Pênsil e sua História

(do arquivo particular do historiador Jaime Mesquita Caldas, membro do Instituto Genealógico Brasileiro e do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e São Vicente)

OS PRIMEIROS AUTOMÓVEIS QUE ATRAVESSARAM A PONTE PÊNSIL

Os primeiros automóveis que atravessaram a Ponte Pênsil, três dias antes de sua inauguração, foram os de nºs. 77, guiado por José Antonio Alves, e 41, conduzido por Antonio Correia Amorim, mediante permissão especial.

O primeiro carro transportava engenheiros alemães e o outro, comerciantes também estrangeiros, todos se dirigindo para Itanhaém. Fizeram a viagem em 40 minutos. Na ocasião, a obra foi muito elogiada pelos técnicos alemães que a transpuseram por antecipação, isto é, no dia 18 de maio de 1914.

O PRIMEIRO GUARDA

Fernando Besson é um nome que merece tópico especial. Nascido na França em 11/8/1874, veio com 16 anos para Santos. Trabalhara em 1910 no início da construção da ponte. Logo inaugurada, foi ele designado para guarda responsável, trabalhando dia e noite, durante 32 anos. De largos bigodes, fumando cachimbo, Besson enfrentava as intempéries para cumprir a árdua missão.

Era casado com d. Maria de Jesus, natural de Iguape, e tinha 8 filhos. O seu ordenado inicial era de Cr$ 200,00 e em 1937 já ganhava o dobro.

Era de extrema necessidade, então, a construção de uma casa próxima à Ponte Pênsil, destinada à moradia do guarda dessa obra. Encaminhou-se requerimento, nesse sentido, à Prefeitura de São Vicente, sendo anexada a planta pelo diretor dr. José Luiz Gonçalves de Oliveira. No dia 20 de agosto de 1926 o então prefeito sr. João Francisco Bensdorp dava a competente autorização, sendo designado pelo dr. Aristides Bastos Machado o engenheiro dr. Meira, para fiscalizar a construção, que ficou pronta em 1927.

Com o passar dos anos, Besson adoeceu e foi obrigado a aposentar-se, vindo a falecer em 12 de julho de 1946, com 72 anos, na Casa de Saúde de Santos, sendo porém sepultado no cemitério de São Vicente.

Entrevistado em 1937 por um repórter, assim se manifestou: "A minha vida é tomar conta da ponte. Habituei-me tanto com ela que penso não a deixar até morrer. O trabalho, para aqueles que, como eu, nasceram pobres e sempre labutaram, é uma necessidade". E a sua vontade foi cumprida.

AINDA É VIVO O CANTEIRO QUE TRABALHOU NAS BASES DA PONTE

Nascido em 1900, Antonio Vidal, com boas recordações do seu tempo de menino na Vila Valença, um dos seus maiores orgulhos é ter trabalhado junto com seu pai, José Vidal Rodrigues, na construção das cabeceiras da Ponte Pênsil, aos 12 aos de idade em diante.

Tudo começou quando seu pai, dono da Pedreira Itararé, foi o vencedor da concorrência pública promovida pela Repartição de Saneamento de Santos, para o fornecimento de pedras para construção de duas cabeceiras, onde posteriormente foram fincadas as torres de sustentação dos cabos. Na época, a Pedreira Itararé pedia, pelo fornecimento de pedras e auxiliar na construção da base das ditas cabeceiras, a importância de Rs. 28:000$000 (vinte e oito contos de réis), motivo pelo qual foi a vencedora da concorrência, contra a Pedreira Aveira, que também disputava esse serviço, por um preço mais elevado.

Essa construção das bases das torres levou aproximadamente 1 ano e foram utilizados cerca de 500 metros de pedra, de diversos tamanhos.

Antonio Vidal, entrevistado recentemente e agora com 82 anos, diz que de vez em quando vai até a ponte: "é muito bom, pois lembro do meu tempo de moço", afirmou. Mas, se perguntarmos qual a ponte mais bonita, a nova ou a velha, ele repetirá as mesmas palavras que disse na sua entrevista em A Tribuna (21/03/82): "Ah, é a Ponte Pênsil, é mais antiga, é do meu tempo".

O LADO TRÁGICO DESSA GRANDE OBRA

Como todas as obras de vulto e famosas, que deixaram atrás de si uma triste história no que diz respeito a tragédias, a Ponte Pênsil não foi uma exceção. Serviu também de cenário aos acontecimentos funestos e inesquecíveis.

Tudo começou em dezembro de 1913, durante a sua construção. Quando os operários estavam esticando os cabos de aço numa barcaça, um deles caiu e foi ao fundo, desaparecendo. No dia seguinte só encontraram metade do corpo, em frente ao Porto do Campo. Falava-se, então, que a outra metade havia sido devorada por um mero, ou por uma tintureira, mas provavelmente por esta, visto ser uma espécie de tubarão.

No dia da sua inauguração, 21/5/1914, numa quinta-feira, uma nota triste veio empanar o brilho da festa. Carlos Victorino, um dos grandes jornalistas do passado, no seu Exórdio 1905-1915, pgs. 70-71, assim relata o acontecimento:

"Deixando a inauguração do pavilhão para tuberculosos, vamos assistir a outra inauguração - a da Ponte Pênsil em São Vicente. As grandes obras de artes nas quais descobre-se a vasta inteligência dos que as constroem, são para mim objeto de alta estima. E, neste firme propósito, abalei-me até a vizinha cidade de São Vicente, embarcando num auto em companhia de Antonio Santos Amorim (Jota Calunga) e Décio de Andrade. Lá chegados, dirigimo-nos à Avenida Bartolomeu de Gusmão, que dá entrada para a colossal ponte.

São Vicente nesse dia era toda festas: o mais humilde pescador lá estava também, boquiaberto, diante da monumental obra, vendo pessoal que nunca viu, embasbacado, ao contemplar aquele movimento fidalgo, com todas as praxes de ato oficial.

Antes, porém, da formalidade da abertura da ponte, que foi feita com uma tesoura cortando um cabo, um reboliço qualquer fazia-se em uma curva da Avenida Bartolomeu. Já se vê: o povo afluiu em massa para aquele ponto.

A causa desse movimento era nada mais do que um desastre que vinha colorindo a festa com rubras gotas de sangue! Um automóvel chocou-se com uma motocicleta montada por Sylvio Lambertti, que viera de São Paulo expressamente para assistir a inauguração.

Não quis ver mais nada. Voltei a Santos imediatamente, ficando lá o Amorim no seu encargo de reportagem. O inditoso Lambertti foi nesse mesmo dia para São Paulo, com o triste destino de falecer junto à sua família, em conseqüência dos graves ferimentos que recebeu por ocasião do desastre".

A foto do desastre, publicada à página 71 do seu Exórdio, tem a seguinte legenda: "A motocicle de Lambertti sob as rodas do automóvel".

Mas, as tragédias não terminam aí. Depois vieram os suicídios. Sempre havia um na semana. Nove, dez horas da noite, eles se jogavam. E a causa era sempre a mesma: problemas sociais, financeiros e casos de amor impossível. De manhã, os cadáveres apareciam na praia, empurrados pelos botos. Há uns trinta anos atrás, os operários que trabalhavam na manutenção da ponte até apostavam se o próximo que iria se jogar lá de cima seria homem ou mulher.

Antes dos guardas rodoviários policiarem a ponte, muitas pessoas que moravam em Santos e mesmo de outras localidades iam lá para se matar. Ainda hoje, de vez em quando, alguém consegue se jogar.

Temos lembrança do último: João Jarusevius, um operário de 58 anos, que no dia 6 de março de 1966 amarrou uma grande pedra no corpo e pulou da ponte. A correnteza arrastou o cadáver por mais de um quilômetro.

Mas, seja como for, a Ponte Pênsil não é culpada por essas tragédias. Antonio da Silva, que cuidou da ponte desde 1939, achava aquilo uma beleza:

"Pode ser que construam outra bem maior, está certo, vai mudar muito e aliviar esta aqui. Mas, mais bonita não é possível", dizia ele.

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