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Aventuras de Patolo e Patilda    (7)

Hamleto Rosato (com desenhos de Dino e Lobo)

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Depois do lanche na casa de Patolo, deliberaram os garotos comemorar a ressurreição de Jesus Cristo, matando o Judas. Trocaram idéias, fizeram planos e resolveram convocar a meninada toda. Jabuca foi logo dizendo: "Vou trazer a minha turma para malhar o Judas. O bicho vai entrar na lenha até o diabo dizer chega. Depois queimaremos o perverso..."

Novamente Patilda ponderou: "Vocês querem matar e queimar o Judas. Afinal, ninguém falou até agora quem vai fazê-lo. Eu disse, durante o lanche, que devemos começar as coisas em ordem. Logo, temos que começar pelo começo, isto é, preparar o Judas. Depois, então, vamos malhá-lo.

Dessa ponderação de Patilda resultou que todos fariam o Judas. O Jabuca se encarregou de arranjar uma calça velha e um par de sapatos velhos. A camisa e a palha para o enchimento do corpo do Judas seriam arranjados por Patolo, Patilda e Paulinho, o japonês. O trabalho seria feito na casa de Jabuca, para onde iriam Patilda, Patolo e o Paulinho. Tudo certo, no dia seguinte puseram mãos à obra. Pontualmente, como o combinado, os três apareceram na casa de Jabuca.

Quando, depois de uma hora de trabalho, o Judas se encontrava quase pronto, faltando apenas o paletó, Patolo falou: "Está faltando a gravata..."

Patilda riu, seguida de Paulinho. Jabuca olhou sem compreender. Então Patilda explicou: "No tempo de Cristo ainda não se usava gravata... Estaremos faltando à história se colocarmos gravata nesse tranca..."

Os garotos compreenderam e acabaram vestindo no Judas apenas o paletó.

Aí foi a vez de Patolo: "Se não havia gravata, também não havia paletó..."

Patilda tornou a rir: "Realmente, você tem razão. Mas, em todos o caso, um paletó não fará muita diferença. Pelo menos atualizamos esse Judas. E depois também poderemos segurar o bicho pelos braços... Fica mais fácil para a gente pendurá-lo..."

Chegou, afinal, o grande dia. Juntou a garotada. Quando o tio do Jabuca apitou, a meninada, munida de cabos de vassoura com pregos, passou a esbordoar o Judas, que se encontrava preso num bambu, sustentado por um jovem. A garotada vibrava de alegria. Gritava, enquanto malhava o Judas.

A malhação do Judas durou, rendeu. Enquanto o jovem segurava o boneco que serviu bem para vingar a morte do Divino Mestre, a garotada não perdeu paulada. Depois, espetaram o bambu no chão. Quando o Judas estava bem firme, redobrou a pancadaria. Meninos e meninas se misturavam na ânsia de espancar o Judas.

Às folhas tantas, Jabuca, muito vivo, riscou um fósforo e pôs fogo no meio do Judas. O fogo propagou-se. Aí o contentamento da garotada chegou ao máximo. O Judas foi ardendo de baixo para cima. O bambu que segurava o boneco, depois de chamuscado, também pegou fogo. Meia hora depois, nada mais restava, a não ser cinzas...

Terminada a malhação do Judas, o tio de Jabuca, seu Capitulino, convidou Patilda, Patolo e Paulinho para comerem um doce em sua casa. Os três aceitaram imediatamente o convite. Conduzidos para a sala de jantar, os garotos viram a mesa posta. Havia refrigerantes, ovos de Páscoa e doces diversos.

Patolo olhou para o japonezinho e piscou, como a dizer: "Está prá nós..." Paulinho, em resposta, lambeu os beiços. Ninguém, a não ser Patilda, reparou no gesto do japonezinho. Sentaram-se. Seu Capitulino passou a servir. Num prato colocou um ovo de Páscoa e alguns doces. Fez outro prato. Um para cada um dos que ali se encontravam. Passou uma garrafa de refrigerante para cada um dos convidados e membros da família.

Patolo, que se mostrava impaciente, não agüentou mais e soltou a língua:

- Puxa, tio Capitulino. O senhor deve ser rico, deve ganhar muito dinheiro...

Diante das palavras de seu irmão, Patilda esfriou. Olhou severamente para Patolo. Este tentou desfazer a gafe cometida: "Não falei por mal, tio Capitulino. É que os ovos de Páscoa estão tão caros..."

A conversa na casa do tio de Jabuca, sr. Capitulino, continuava. Os garotos, que se banquetearam com os ovos de Páscoa, estavam felizes, eufóricos. Patolo, com olhar vivo, examinava a casa. Olhava tudo. Reparou a geladeira, que estava na copa. Observou a televisão. Viu o aparelho de rádio. Seus olhos pareciam holofotes de navio de guerra. Corriam tudo.

Patilda observava seu irmão, na certeza de que alguma coisa sairia dele. Não demorou. Pensou e aconteceu. Não teve tempo de evitar que Patolo falasse. Foi rápido, o menino:

- Seu Capitulino, o senhor até parece deputado. Tem tudo na sua casa. Caramba, nunca vi tanta coisa gostosa. O senhor deve ser um homem rico?!...

Patilda sentiu-se vermelha pela indiscrição do irmão. Tentou corrigir, emendar, falando: "Patolo, o senhor Capitulino é um homem trabalhador. Trabalha muito na estiva e ganha bastante. Ele não tem medo do trabalho. Daí ele poder oferecer o conforto à família..."

Patolo limitou-se a fazer um "ahn..."

Capitulino riu. Elogiou até a observação de Patolo e falou: "Se nós queremos ter conforto, devemos trabalhar".

- Mas outros trabalhadores...

Patilda cortou a frase, mudando logo de assunto:

- Já é tarde. Devemos regressar. Estamos muito contentes, senhor Capitulino, mas precisamos voltar para casa.

Feitas as despedidas, saíram Patolo, Patilda, Paulinho e Jabuca. Em caminho, Patilda recriminou seu irmãozinho. Este não deu muita atenção e inventou logo um passeio. Jabuca, que ainda se encontrava com os garotos, sugeriu: "Vamos passear na lagoa de Nova Cintra? O meu tio tem um amigo que tem barcos e ele nos empresta".

Tudo ficou resolvido para o domingo seguinte. Às 9,30 horas do dia combinado, Jabuca apareceu. Logo depois chegava Paulinho. Lá foram os quatro garotos. Não houve dificuldade em conseguir dois barcos. Puseram-se a bordo, indo para o meio da lagoa. Dois remavam: Jabuca e Patolo, enquanto Patilda e Paulinho olhavam o céu e tomavam banho de sol. Gostosa brisa soprava, enquanto os barcos deslizavam suavemente.

Em dado momento, quando Jabuca foi dar uma remada, fê-lo desastradamente, indo o remo alcançar a cabeça de Patolo: "Paft". O garoto recebeu a pancada e gritou logo: "Caramba, tinha que ser em mim... Você não tem cuidado, seu palhaço..."

Não obstante a bronca dada por Patolo, que levara com o remo na cabeça, resultando um galo, o passeio nos dois barcos continuou durante uma hora. Patolo estava ansioso para mergulhar. Patilda, porém, não permitiu. "Temos muito tempo para fazer isso", disse para Patolo.

Patolo conformou-se. Terminado o passeio de barco, voltaram à margem. No desembarque, Paulinho não se conteve e exclamou: "Acho bom você fazer um buraco no gorrinho para deixar o galo passar..."

Jabuca gostou da piada e abriu uma daquelas gargalhadas, enquanto Patilda limitou-se a sorrir.

Patolo, enfurecido, não contendo a raiva, gritou: "Não precisa mostrar essa gengiva vermelha que nem camarão..."

Jabuca não se importou e continuou rindo a valer. Patilda advertiu seu irmãozinho: "Patolo, quando Jabuca bateu com o remo em você não o fez por querer. Quanto ao Paulinho, ele achou que fazendo um buraquinho no gorro o galo poderia passar. Foi só".

- É - retrucou Patolo -, quem levou a remada fui eu, não vocês. Quem está sendo alvo de risos sou eu e não você, bem?"...

Paulinho, percebendo as coisas, inventou logo outro passeio: "Pessoal, vamos na matinée, hoje, à tarde?"

De uma só vez, todos responderam: "Vamos".

Ficou combinado o passeio. Depois do almoço, todos desceriam o morro pelo lado do Monte Serrate. Viajariam pelo bondinho.

Às 14 horas, todos tomaram o bondinho. Patolo, Paulinho, Patilda e Jabuca estavam eufóricos. Haviam esquecido as broncas do patinho. Pensavam somente no filme de mocinho. Tinham visto no jornal o mocinho salvando a mocinha dos índios. Estes tinham cabelos compridos e cicatrizes nas caras. A fita deve ser boa, aventurou Paulinho...

Todos concordaram que sim. Devia ser mesmo um fitão. Durante a descida do bondinho não se falou noutro assunto. Até mesmo a remada que Patolo levara durante o passeio de barco estava esquecida.

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