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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CANUDOS
Santos e Canudos, em estreita ligação (1)

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A cidade de Santos tem muitas ligações diretas com os episódios do sertão nordestino que constituíram a chamada Guerra de Canudos. Alguns dos registros disponíveis da guerra travada nos sertões da Bahia estão no jornal Diario de Santos. Na edição de quinta-feira, 8 de julho de 1897, registrou em sua primeira página, com título fazendo a ligação com a terra santista (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da pagina 1 do Diario de Santos de 8/7/1897, cedida a Novo Milênio em 8/2012 pelo acervo da família do jornalista Paulo Mattos

 

Canudos-Santos

Ontem, durante o dia, recebemos do nosso correspondente no Rio um despacho comunicando-nos que a Noticia afixara um telegrama, expedido por um alto funcionário da Bahia, dizendo que as forças legais haviam entrado em Canudos, arrasando aquele reduto do fanático Antonio Conselheiro.

O nosso correspondente, porém, escrupuloso como é, acrescentava que o governo ainda não recebera a confirmação desse fato.

Por esse motivo, e à espera da confirmação, que por telegrama urgente pedimos para o Rio, não afixamos logo aquele despacho.

Mais tarde, como viessem ao nosso escritório muitos cavalheiros pedir informações, resolvemos afixar o telegrama.

Pouco depois de nove horas da noite recebemos a confirmação oficial da grande notícia.

Imediatamente afixamo-la à porta da nossa redação, fazendo iluminar a fachada dos prédios em que funcionam as nossas oficinas.

Fizemos queimar inúmeros foguetes e hasteamos a bandeira nacional.

Enorme massa de povo aglomerou-se nas proximidades do Diario, fazendo esta redação o centro de suas jubilosas manifestações de regozijo pelo grande acontecimento que veio assinalar a vitória completa e decisiva das forças legais, contra as hostes conselheiristas.

Até alta hora da noite o nosso escritório esteve repleto de amigos, que vieram trazer-nos os seus cumprimentos e pedir informações sobre os sucessos do dia.

O mesmo Diario de Santos, na primeira página da edição de terça-feira, 3 de agosto de 1897, registrou (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da pagina 1 do Diario de Santos de 3/8/1897, cedida a Novo Milênio em 8/2012 pelo acervo da família do jornalista Paulo Mattos

 

Para Canudos

A população santista moveu-se anteontem patrioticamente impelida pela nobreza de seus sentimentos, para dizer o último adeus, em terra paulista, aos bravos soldados do 1º batalhão da brigada policial que marcharam contra Canudos.

Não podiam ser mais espontâneas, nem mais brilhantes, as festas de anteontem, se é que se pode chamar festas àqueles vivas retumbantes em que os nomes dos mortos queridos da República eram lembrados no delírio das ovações, se é que se pode chamar festa a aquele imenso e comunicativo entusiasmo popular que se misturava com o entusiasmo dos soldados, respondendo aos vivas à República com o sorriso nos lábios, onde se conservava ainda palpitante o calor do último beijo da esposa querida e dos filhos idolatrados; se é que se pode chamar de festas à cena estertorosa da despedida, os lenços que se agitavam, chapéus ao mar - o último adeus, enfim - aos que partem para a guerra, em defesa da pátria comum, aos que vão cheios de coragem, aos que ficam cheios de esperança.

O povo de Santos mais uma vez testemunhou os afetos da alma generosa, comparecendo em massa ao embarque dos soldados paulistas, acompanhando-os até o último momento [... (N. E.: na mesma página, há uma descrição pormenorizada do evento)]

O mesmo Diario de Santos, na primeira página da edição de terça-feira, 7 de outubro de 1897, registrou (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da pagina 1 do Diario de Santos de 7/10/1897, cedida a Novo Milênio em 8/2012 pelo acervo da família do jornalista Paulo Mattos

 

Canudos

Canudos está tomado!

Essa notícia, esperada já de há muito tempo, ecoa nesta hora agradavelmente em todos os corações brasileiros.

Está finalmente terminada a grande luta, a sanguinolenta tragédia, onde tantas vidas queridas da República foram sacrificadas, através dos mais ingentes rasgos de coragem, dos mais abnegados sacrifícios pela honra e pela grandeza das instituições democráticas, que por felicidade nossa nos regem desde o glorioso dia 15 de novembro de 1889.

Está vingado o sangue do bravo soldado Moreira Cezar e de tantos outros que demonstraram que a República possui no seu seio dedicações ardentes, braços fortes, que não trepidam diante dos perigos e das ameaças, nem mesmo da própria morte.

Essa extraordinária epopeia de civismo e de coragem servirá de lição a futuras tentativas de restauração, que porventura irrompam de cérebros desequilibrados, e falará bem alto da firmeza e do prestígio desta República cada vez mais forte e cada vez mais invencível pelo brilho e pela dedicação intransigente com que a defendem os seus filhos.

No dia em que, com o coração retalhado da mais profunda dor, choramos nestas colunas o fracasso calamitoso da expedição Moreira Cesar, afirmamos que essa enorme catástrofe seria logo reparada pela espada valorosa do soldado republicano.

O fanatismo encapotado do Antonio Conselheiro resistiu até ao último momento, oferecendo uma luta toda desigual, de traições e de surpresas, de guerrilhas e de emboscada, através das lúgubres caatingas, donde partiam as balas certeiras dos sectários da monarquia, assassinando covardemente os nobres defensores da nobre causa da Pátria.

Canudos está arrasado!

Esse fato quer dizer que vamos entrar na normalidade da nossa vida política, sem mais enxergar na atmosfera que nos cerca essa nuvem de apreensões e de dúvidas, que se avolumava dia a dia, trazendo para o nosso espírito a dolorosa mágoa da incerteza do futuro.

Tudo isso terminou.

No horizonte da Pátria rasga-se uma nova aurora de esperanças.

A República mais uma vez venceu.

Tertuliano, em referência ao martírio dos cristãos, dizia que a constância dos defensores da fé em suportar os [... (N. E.: trecho ilegível na cópia disponível)] o mais indestrutível baluarte da crença nova e que o sangue vertido era semente de cristãos - Semen martyrum, semen christianorum.

Que o sangue dos soldados republicanos, da heroica mocidade empenhada na defesa da República, seja como o sangue dos mártires, com que se firme de vez a sólida e inabalável fé republicana.

Na primeira página da edição de terça-feira, 26 de outubro de 1897, o Diario de Santos registrou (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da pagina 1 do Diario de Santos de 26/10/1897, cedida a Novo Milênio em 8/2012 pelo acervo da família do jornalista Paulo Mattos

 

Canudos

Regresso do 1º

Está em terra paulista o 1º Batalhão da Brigada Policial, que regressa de Canudos tendo contribuído com o contingente do seu sangue para a vitória que a República alcançou contra o fanatismo de Antonio Conselheiro.

A família paulista neste momento estremece de alegria, abraçando os seus filhos abnegados, que não trepidaram diante da morte, e que voltaram da guerra, trazendo nas suas fardas esfarrapadas os despojos gloriosos do combate pela República.

Pouco antes de 1 hora correu pela cidade a notícia de que o cruzador Andrada apontara ao Norte da Barra. Logo depois, foram dados no Monte Serrat os sinais de cruzador nacional.

Já a essa hora o movimento nas ruas era enorme.

O cais principiou a encher-se de povo que se acotovelava na ânsia de ver o navio.

Partiram ao encontro do Andrada diversas lanchas a vapor.

Entre estas, notamos as seguintes: a Paula Pires das Docas, na qual iam os membros comissão popular, paulistas, a banda de música do 1º e os representantes de diversas comissões paulistas; a Roberto Vasconcellos, da Alfândega, levando a seu bordo os srs. Amadeu do Amaral, redator d'A Nação; Mario dos Reys, repórter do Correio Paulistano e o nosso companheiro de trabalho Juvenal Pacheco e muitas outras pessoas; a [... (N. E.: trecho ilegível na cópia disponível)] uma guerra toda de traição e de emboscadas.

O cruzador Andrada partiu da Bahia no dia 20 à uma hora e meia da tarde, gastando na viagem 121 horas, isto é, cinco dias e uma hora.

Devido à má alimentação de uma máquina auxiliar, o navio perdeu algumas horas de viagem, estando parado próximo aos Abrolhos e entre o Rio de Janeiro e S. Sebastião.

Vieram 21 oficiais, 36 inferiores, 381 praças.

Dos oficiais regressaram todos, estando apenas ferido o major José Pedro.

Esse bravo oficial trazia o braço direito apoiado sobre um lenço preto e além desse ferimento que recebeu no combate no dia 1º, apresenta outros no peito e na cabeça.

O comandante do 1º, coronel Elesbão dos Reis, foi extremamente felicitado por todas as pessoas que estiveram a bordo do Andrada.

Essas felicitações estenderam-se também aos oficiais e às praças.

Na ocasião da atracação, a banda do 1º tocou o Hino Nacional.

A baía apresentava um aspecto lindíssimo; estava coalhada de pequenas embarcações, que rodeavam o cruzador Andrada.

Este, às 3 horas da tarde, fundeou em frente à Rua Xavier da Silveira.

Com o batalhão vieram alguns jaguncinhos, entre os quais vimos os seguintes: Maria de 3 anos, filha de Pedro Sant'Anna, morto no combate do dia 1º, veio em companhia do sargento Gonçalves de Vasconcellos; José, de 4, irmão da primeira, veio com o capitão [... (N. E.: trecho ilegível na cópia disponível)].

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