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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CHALÉS
Tempo dos chalés vai terminando (3)

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Casas geralmente simples, de madeira, às vezes com parte em alvenaria (cozinha, principalmente), diretamente no chão ou com um espaço por baixo (pequeno porão) para evitar a umidade da terra, muitas vezes tendo por perto chácaras e galinheiros (aos poucos substituídos por cimentados e jardins), construídas desordenadamente por imigrantes e representantes da camada mais pobre da população, seguindo estilos bem diferentes (relacionados com a origem de seus moradores), os chalets (palavra depois aportuguesada para chalés) vão desaparecendo da paisagem santista.

O assunto também foi abordado em matéria do jornal santista A Tribuna, nas edições impressa e digital de 11 de maio de 2007 (página A-8):

Ao lado do marido, Hilda Cançon relata as mudanças que testemunhou na mesma rua durante 8 décadas

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Sexta-feira, 11 de Maio de 2007, 08:12

COMEMORAÇÃO

Há 80 anos no mesmo endereço

Desde 19 de maio de 1927, moradora do Campo Grande vive na Rua Pedro Américo, 173

César Miranda

Da Redação

Quando celebrar o seu 80º aniversário no próximo dia 19, Hilda Pousada Cançon vai comemorar também o tempo em que vive na mesma casa no Campo Grande. Essa marca é para poucos. Quantos santistas moram há tantas décadas no mesmo lugar?

Dona Hilda viu o tempo passar e guarda boas recordações. Quando nasceu ali em 1927 na Rua Pedro Américo, número 173, tudo era diferente. Os chalés dominavam quase todo o bairro, com seus quintais amplos e plantas espalhadas em volta da casa. A moradia da família foi comprada por seu pai a 6 mil réis. Hoje, muitas daquelas construções de madeira deram lugar aos prédios. "A rua nem era asfaltada. Era tudo areão. Lembrava cidadezinha do interior", relembra.

Sem nunca ter se mudado dessa casa, os pais criaram os quatro filhos. Quando ela se casou com o marido, Ibraim Cançon, de 72 anos, continuou a viver no mesmo lugar com a família.

Entre tantas alegrias que teve nessa residência por quase 80 anos, apenas dois fatos muito tristes marcaram a vida pessoal dessa senhora de olhar sereno, fala mansa e poucas palavras. Foram as mortes de dois entes queridos (a mãe e a irmã) em um espaço de 48 horas, entre 7 e 9 de abril de 1956. Aqueles dias ficaram em sua memória. Ela lembra que naquele tempo os velórios eram realizados dentro de casa. "Foi um trauma", diz, emocionada.

Mudando o rumo da prosa, prefere continuar a recordar dos momentos felizes. Dona Hilda disse que lá nasceram e foram criadas as quatro sobrinhas, que eram filhas de sua irmã que havia falecido. "Com o apoio do pai delas, tomei conta dessas sobrinhas até se casarem", diz, sem esconder a satisfação do dever cumprido.

Nesse mesmo ambiente de cordialidade e respeito, ela também criou o único filho, Paulo Ibraim Cançon, hoje professor de Inglês. Diferentemente da mãe, Paulo nasceu na Beneficência Portuguesa.

FRASE

"Sou feliz por morar aqui. Não é chique, mas bastante confortável"

Hilda Pousada Cançon

Boa vizinhança - Dona Hilda diz que havia uma tranqüilidade diferente naquele tempo no bairro do Campo Grande. As crianças brincavam na rua, sem os pais ficarem preocupados. "Todas as mocinhas e mocinhos se conheciam. Era uma vizinhança maravilhosa". Hoje, Dona Hilda observa que a falta de segurança mudou as relações. Prova disso são as casas cercadas por muros e grades.

Ela conta que o chalé permaneceu em pé durante muitos anos até que a família recebeu uma herança, nos anos 50, e resolveu construir a casa de alvenaria que se mantém até hoje em um terreno de 8x38. "Não está faltando mais nada, depois de tantas reformas", diz, sob o olhar do marido que também concorda.

Segundo o casal, trocar por um apartamento está descartado. Motivo? Os custos são altos e a privacidade é diferente. "Não é um bairro de elite, mas temos tudo por perto", complementa o seu companheiro.

Em seu tempo de criança e adolescente, a aposentada lembra que era uma raridade passar um veículo na rua, que liga a Avenida Ana Costa ao Canal 2. O bonde 17, que passava na Avenida Bernardino de Campos, era mais fácil de ver do que os poucos os veículos que existiam.

Da antiga vizinhança, ela diz que muitos já morreram. Porém, a lembrança deles é boa e generosa. "Havia franqueza e sinceridade". O que mais Dona Hilda deseja? Ela quer comemorar bodas de ouro ao lado de seu companheiro no dia 17 de maio de 2008 na mesma casa em que nasceu há 80 anos.

Destaque

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

 

Cinco décadas

 

Para os mais jovens, chalé só é conhecido por fotografias. Essa construção de madeira que era bastante comum antigamente quase não existe mais. No Campo Grande, há alguns bem-preservados que foram reformados ao longo dos anos. Rosa Maransoldi, de 88 anos, diz que não troca o seu chalé por nada. Ela vive lá há 52 anos. "Meu quintal é abençoado", diz a senhora, que mora com sua filha Vilma Maransoldi Borsen (foto), de 57 anos. No amplo quintal, elas têm pé-de-acerola, tangerina, jaca e bananeira.

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