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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Crônica policial - 05
A City e o japonês

E a mania de pular do bonde em movimento...

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Um costume da época dos bondes abertos era pular dos mesmos em movimento, e havia até linhas (R, X, Y,...) em que os bondes - mantidos pela empresa The City of Santos Improvements Company - apenas diminuíam a velocidade para o passageiro descer, o que requeria uma certa habilidade para ele não se estatelar no chão. Habilidade que não teve o personagem desta história, registrada pelo jornal santista A Tribuna, em 25 de outubro de 1913 (página 2 - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução da matéria original

Um "combate simulado" entre a City e um japonês

Depois que o Japão se celebrizou no concerto das nações pelos sucessos alcançados na guerra russo-japonesa, todos os estrangeiros são acordes em dizer que os filhos do império do Sol Nascente são fortes e temíveis.

Mas, os tais nipônicos são mais fortes que temíveis, tanto que a pacata Companhia City "declarou-se" em guerra, ontem, contra um desastrado súdito do filho de Mitshuito, imperador daquelas vastas regiões amarelas.

E para provar o nosso acerto em como não são tão temíveis como fortes, está no ter perdido na "guerra" o celebrado inspirador destas linhas.

Um japonês, trabalhador da Docas, a quem não conhecemos o nome, mas a quem vemos com admiração pelos formidáveis bíceps de que dispõe em sua artilharia braçal, travou-se ontem em luta com um reboque da City, julgando-se ainda nos tempos das ferozes pugnas guerreiras.

Tendo tomado o bonde da linha do Boqueirão (n. 3) que seguia para aquele ponto, ao chegar ao meio do quarteirão da Rua Senador Feijó, entre as ruas Bittencourt e S. Francisco, entendeu de mostrar às vistas curiosas um excelente pulo de gato, atirando-se de costas ao chão.

O resultado não se fez esperar. A City, na sua pacatez habitual, com os louros da vitória e o sangue japonês a jorrar de um corpo inerme, ao meio da via pública, deteve-se em sua marcha e veio dar proteção ao vencido.

Do combate simulado entre o Japão e a City coube a decepção ao provocador do conflito.

O condutor desceu e, acompanhado de uma grande massa popular que se formou em roda do ferido, procurou reanimá-lo, enquanto que o policial de ronda naquela zona dava as orde, completamente atrapalhado com o imprevisto da cena.

Todos julgaram morto o japonês, e até já se ia mandar buscar a ambulância, quando o homem veio à fala.

Então, em uma roda, formou-se uma coligação de patrícios que evitou a intervenção estrangeira da polícia e populares.

E o homem, que estava deitado sobre o solo, inanimado e em posição de quem espera a morte, levantou-se, desembuchou duas palavras no idioma pátrio e seguiu naturalmente rumo da Praça José Bonifácio, onde tomou outro bonde da City, talvez para tentar outro encontro pelas armas.

Não sabemos se foi vencido ou se venceu a City, por isso não podemos considerá-lo terrível; mas que seja forte como a rocha, isso é incontestável para todos os que viram o homem identificar-se com as pedras...

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