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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SAGA NIPÔNICA
Os primeiros 70 anos

A história, em um álbum comemorativo de 1978...

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Quando se comemorou o 70º aniversário da chegada a Santos da primeira leva de imigrantes japoneses, foi editado um álbum especial pela Editora Cultura Brasileira, da capital paulista, coordenado pelo editor Massao Ohno. Desse álbum, "70 anos de imigração japonesa no Brasil", consta este relato:

 

A presença japonesa nas artes visuais

Seria um lapso deixar de consignar, no decurso das festividades comemorativas do 70º aniversário da Imigração Japonesa, a expressiva contribuição dos imigrantes e seus descendentes no campo das artes, notadamente no das artes visuais.

Ao imigrante não coube, de início, uma dedicação maior aos afazeres artísticos, seja porque a preocupação primordial fosse a da adaptação aos novos usos e costumes o porque as circunstâncias exigissem uma dedicação total ao trabalho da terra.

Certamente, nos raros momentos de lazer, o canto e a dança pontearam, juntamente com festivais esportivos e convescotes, a desesperança de alguns ou a saudade de amigos e parentes distantes. A realidade não era exatamente aquela divulgada pela publicidade oficial japonesa, e o ambiente, se bem que não hostil, era agreste e difícil de trabalhar, a linguagem estranha e a alimentação diversa. Voltar foi impossível para a maioria, já que a passagem só garantia a vinda.

Da condição de colonos para a de meeiros e de donos das terras, o processo levou cerca de vinte anos. A primeira geração brotava emergente e era necessário construir escolas, pequenos ambulatórios, já que a malária era um fato e dizimava grupos inteiros de colonos. O acesso às cidades próximas, de alguns recursos, levava dias, o escoamento da produção era lento e houve a necessidade de se abrir estradas e de pequenas obras de engenharia, o que foi feito, e cooperativas foram organizadas para defender e organizar o trabalho dos pequenos agricultores.

A necessidade de formação escolar, em grau secundário e universitário, era premente, e muitas famílias transferiram-se para São Paulo. Por volta de 1930 cerca de duzentas famílias já habitavam na Capital. E dessa época datam as primeiras manifestações, no campo das artes, dos imigrantes japoneses.

Tomoo Handa, já setuagenário, foi homenageado com uma exposição retrospectiva, em 1977, na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa. Influenciou muitos pintores, hoje com muito renome na pintura brasileira. Takaoka foi contemporâneo do hoje chamado "Grupo Santa Helena", que se reunia no velho Palacete Santa Helena, na Praça da Sé.

Flavio Shiró Tanaka foi estudar em Paris, onde reside até hoje. Manabu Mabe, de agricultor a I Prêmio do Festival de Veneza de Pintura, enfrentou grandes dificuldades. Seu é o mérito da fundação do Grupo Seibi, que reúne as maiores expressões artísticas da colônia japonesa. Tomie Ohtake, além de progenitora (R.E.: SIC: genitora, mãe, e não progenitora, avó) de dois renomados arquitetos, é certamente a pintora mais respeitada no círculo artístico japonês.

Lydia Okumura foi pesquisar as modernas tendências da pintura americana em Nova York, onde reside até hoje. Sua participação na última Bienal foi uma impressionante mostra do vigor de sua proposta. Fukushima ainda não esgotou as suas possibilidades na área do abstrato. João Suzuki mostra um gênio criativo num trabalho coerente sem nenhuma pressa. Há vinte anos vem pesquisando e construindo a sua obra, certo de que atingirá a maturidade plena.

Tamaki é certamente o mais rigoroso para com a sua pintura. Sem concessões ou artificialismos, realiza a sua pintura, íntegra, certo de que o reconhecerão futuramente. Yvette Ko naturalmente alcançará no desenho a sua plenitude artística, depois de várias andanças  pelo exterior.

Tomoshige é o representante das mais novas tendências plásticas japonesas, além de professor da Fundação Armando Álvares Penteado. Megumi Yuasa, na escultura, vem despontando mercê de um trabalho profícuo de pesquisa da argila, que ele próprio trabalha e põe a queimar. Toyota é o poeta das grandes estruturas de aço inoxidável que está numa carreira definida e ascendente.

Enfim, "seria um absurdo lamentável esquecer, como diz Olney Kruse, nestas comemorações da imigração japonesa no Brasil, a poderosa influência dos artistas japoneses na arte feita no Brasil, nestes últimos anos, e depois da Segunda Guerra Mundial. Muito maior do que se imagina e divulga, essa influência, ao contrário do que a Europa e os Estados Unidos exerceram sobre nossa cultura, é uma influência sutil, mas consistente. Dela poucos se apercebem porque tudo que os japoneses fazem aqui - arte inclusive - tem sempre a marca da modéstia, do comedimento e da discrição".

Segundo Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de São Paulo "Assis Chateaubriand" (MASP), a participação dos japoneses nas atividades artísticas, não só em São Paulo, mas também nos demais Estados da União onde se radicaram, sempre foi cordial, estimulante e grata, e assim continua sendo desde a chegada, há setenta anos, do primeiro imigrante.

Muito oportuna, pois, a exposição coletiva de 57 pintores, japoneses e descendentes aqui radicados, preconizada pelo presidente do Conselho Regional do Sesc/SP, José Papa Júnior, em homenagem à colônia japonesa pela comemoração dos 70 anos de Imigração, ou, no seu dizer, "não é apenas uma homenagem mas sim um painel vivo da sensibilidade dos imigrantes japoneses e seus descendentes no campo das artes visuais, constituindo-se em contribuição valiosa para o processo de formação cultural do povo brasileiro".

A exposição será inaugurada por S. Alteza, príncipe herdeiro Akihito, no Centro Campestre, "numa demonstração do que significa o labor dos imigrados e seus filhos, integrados em nossa terra. É impossível falar, diz Bardi, de cada um dos expositores, tampouco se tem possibilidade de falar de grupos ou tendências que os mesmos formam. Esta exposição deve ser vista como uma expressão de vitalidade dos japoneses e seus descendentes brasileiros, irmanados na nova pátria que os acolheu".

Massao Ohno, para Editora Cultura Brasileira.

S. Paulo, junho de 1978.

Mensagem dos organizadores do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Com o apoio e colaboração de todos os japoneses e seus descendentes radicados no país, constituiu-se a Comissão Pró-Construção do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, monumental edifício, que abrigando extenso material, a ser exposto, mostrará o caminho enveredado pelos imigrantes, que, oriundos do Japão, aqui constituíram suas famílias, para uma perene colaboração e desenvolvimento dos vários setores onde atuaram.

O objetivo a que se propõe a Comissão é a organização de um amplo museu, este de nível nacional, abrangendo os imigrantes nipônicos radicados em todo território brasileiro, a exemplo do que já tem sido construído por elementos alemães, italianos e americanos.

Organizou essa Comissão a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, que já dispõe do local em fácil ponto de acesso e propiciará o edifício a maior número de visitantes e estudiosos sua visita, onde terão oportunidade de constatar as fases da luta e o trabalho de imigrantes, como também o desenrolar de suas atividades desde os primórdios até a data atual, apresentando à visitação pública meticulosa seleção de materiais e acurado estudo à sua disposição. Mostrará várias fases da evolução da agricultura, como também a das atividades culturais, sociais, esportivas, educacionais e assistenciais, inclusive sobre o intercâmbio entre o Brasil e o Japão. Incluir-se-ão, ainda, a seu acervo, principais acontecimentos, e destacar-se-ão personalidades que tiveram atuação preponderante na História da Imigração Japonesa, de maneira a tornar mais interessante a freqüência ao edifício, para seus visitantes.

Dedicou-se a maioria dos imigrantes japoneses, à agricultura, atividade a mais dificultosa, onde souberam conseguir resultados surpreendentes, aplicando o conhecimento já auferido em sua terra de origem. Com a capacidade demonstrada nas lides agrícolas, aliada ao esforço e dedicação ao trabalho, lograram pleno êxito, o que os levou a serem altamente reputados na sociedade do País.

Neste ano em que transcorre o 70º aniversário da chegada da primeira leva de imigrantes do Japão, para perpetuar sua passagem, não só através de documentos escritos, mas também em objetos que os representam, como instrumentos de trabalho, utensílios domésticos, fotografias, sentiu essa Comissão o dever de acelerar os trabalhos de construção de mais dois pavimentos sobre a sede atual.

Além das honrosas homenagens que serão tributadas aos filhos do Sol Nascente, esta será mais uma a ser acrescentada, àqueles que por todas honras muito a merecem.

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