Muçulmanos breve terão sua mesquita em Santos

Uma autêntica mesquita, obedecendo rigidamente ao estilo oriental, cheia de arcos e vitrais, está sendo concluída na Avenida Afonso Pena e, a partir de março ou abril do próximo ano, passará a reunir todos os muçulmanos da Baixada. Pouca gente talvez saiba, mas em Santos existe uma crescente e ativa comunidade muçulmana, que começou a ser formada nos anos 50 por imigrantes árabes, originários principalmente da Síria e do Líbano. Hoje, os seguidores da religião islâmica na Baixada chegam a 700 e estão reunidos pela Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista, que funciona provisoriamente em São Vicente.

Foi durante a fundação daquela sociedade, em fins de 1977, que ocorreu a arrecadação do dinheiro necessário à compra do terreno onde mais tarde seria construída a sede para a comunidade. Explica o presidente da Sociedade Islâmica, Ibrahim Ahmad Assaf, que a princípio os muçulmanos pensavam em adaptar as três residências adquiridas, transformando-as em locais adequados a cultos e reuniões de congraçamento. Acontece que três meses após a fundação da sociedade, eles receberam a visita do adido cultural da Arábia Saudita, que se comprometeu a conseguir verba para auxiliar no erguimento da mesquita. Pouco tempo depois chegava uma ajuda de 100 mil dólares, enviada por intermédio do Ministério da Arábia Saudita encarregado dos patrimônios históricos e religiosos.

A República Árabe do Iraque, através de um programa de intercâmbio entre os dois países, também concedeu uma ajuda de 500 mil dólares para todas as sociedades muçulmanas existentes no Brasil, cabendo 20 mil dólares para a sociedade. Daí em diante, a obra prosseguiu com recursos dos muçulmanos da Baixada e da Capital.

Revestida de mármore, interna e externamente, a mesquita tem três andares e depois de pronta não se verá nela qualquer imagem. Apenas seus vitrais é que poderão vir a ser decorados com frases extraídas do Alcorão. Na parte térrea ficará toda a parte administrativa da sociedade, além de um amplo salão social. No primeiro andar, além do templo e de uma sala de visitas, haverá uma biblioteca, onde poderão ser encontrados livros sobre as culturas árabe e brasileira, e sobre a religião dos dois povos. Como durante o culto homens e mulheres oram separadamente, a mesquita contará com um salão na parte superior do templo, que terá ampla visão para a parte inferior e onde ficarão as mulheres.

O líder espiritual da comunidade é o xeique Mohamed el Jubul, que preside as reuniões para o culto, realizadas às sextas-feiras, ao meio-dia, no estabelecimento comercial do presidente da sociedade, Ibrahim Assaf, enquanto não está pronto o templo. Assaf esclarece que a religião islâmica prevê cinco cultos diários, que podem ser feitos em casa, além do realizado obrigatoriamente na mesquita. Para este culto os muçulmanos devem comparecer trajando sua roupa mais limpa, para acompanhar as condições da alma, que deve estar igualmente limpa, e entrar descalços ou calçando chinelos guardados no templo.

O culto é iniciado com um sermão, feito pelo líder espiritual da comunidade, e a seguir os muçulmanos rezam em posição voltada para Meca, uma vez que lá, dentro da mesquita, fica o Al Kaaba, marco inicial do islamismo.

Lembra Ibrahim Assaf que a religião islâmica está apoiada por cinco pilares fundamentais: 1º Adoração a um só Deus; 2º Realização de cinco cultos diários e mais o efetuado na mesquita; 3º Jejum durante o Ramadan, o mês mais estritamente ligado às glórias islâmicas e às datas santas e históricas da religião muçulmana. O Alcorão começou a ser revelado por Deus ao profeta Muhamad no mês de Ramadan e em Ramadan também foram revelados os mandamentos de Abraão, a Bíblia e o Evangelho. O jejum deve ser realizado durante 12 horas por dia, desde o alvorecer até o anoitecer, quando os muçulmanos abstêm-se de comer e beber, do sexo e e qualquer outro prazer material. Esse jejum é obrigatório para todos que gozam de perfeita saúde física e mental e visa avaliar o sacrifício dos pobres.

O 4º pilar da religião são os donativos, que devem ser de 2,5% dos ganhos líquidos que os muçulmanos auferirem durante o ano. E, por último, os seguidores do islamismo, que tiverem condições físicas e financeiras, devem fazer uma peregrinação a Meca.

Depois de inaugurada, a mesquita da Avenida Afonso Pena poderá ser visitada por todos os santistas, independentemente do credo religioso.