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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIOGRAFIAS
Galeria dos militares santistas (9)

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Na sua edição especial de 26 de janeiro de 1939, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade (exemplar no arquivo do historiador Waldir Rueda), o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Galeria de notáveis militares santistas

[...]


Brigadeiro José Ferreira - Nasceu em Santos, a 7 de abril de 1820, do legítimo consórcio do cel. José Ferreira (igualmente reformado no posto de brigadeiro) com d. Anna Ferreira.

Fez alguns estudos em Santos e sentou praça num dos regimentos de S. Paulo, na idade de 18 anos, no qual chegou a atingir o posto de tenente, quando se verificou a guerra do Paraguai.

Encarregado, naquela ocasião, do serviço de recrutagem, desempenhou-se a contento da missão recebida e logo depois partia para o campo da luta, chefiando um daqueles corpos heterogêneos que o instinto de conservação talvez ou o próprio espetáculo da crueldade paraguaia transformaria em verdadeiras legiões de bravos.

Em três anos de guerra conquistara ele vários galões por atos de bravura. Passo da Pátria, Tuiuty, Humaitá, cada batalha era um elogio em ordem do dia e um começo de promoção, até que, ao final de 1868, era já coronel.

Verificou-se, então, a famosa passagem de Itororó. Comandava a coluna brasileira o general Argolo. Na manhã de 6 de dezembro de 1868, a artilharia paraguaia devastava os batalhões brasileiros, colocada como estava, a cavaleiro da ponte e do desfiladeiro, cuja transposição era reputada impossível e desaconselhada por todos os técnicos ingleses, franceses e americanos, que na época emitiram opinião, consultados pelas autoridades brasileiras.

As companhias brasileiras caíam quase completas, como se todos os camaradas estivessem ligados entre si por uma mesma corrente fulminante. Inimigos eram tão perto de inimigos que, de lado a lado, ouvia-se o rumor confuso dos comandos e dos gritos que o estrondo da ação dominava.

Várias cargas de infantaria e de cavalaria haviam sido tentadas, mas a todas haviam repelido as baterias paraguaias, superiormente colocadas sobre o pequeno morro do outro extremo. Acorrendo então ao setor tornado vital para toda a campanha, o marquês de Caxias ordenou que o general Osório seguisse com o 1º corpo do exército pela direita do inimigo e fosse contorná-lo, a ver se podia colhê-lo pela retaguarda, mas nada decidida a situação, porque o terreno vencia qualquer plano.

O 51º Corpo de Voluntários, comandado pelo bravo coronel Frias Villar, foi o primeiro que transpôs a ponte, formando quadrado e sustentando o fogo: poucos escaparam, entretanto, à aventura heróica, porque a ação não podia ser parcial. A derrota brasileira parecia irremediável. Foi então que o marquês de Caxias, com o seu grande tino de guerra e inexcedível coragem, desembainhando a espada, gritou para os soldados:

"O vosso general vai transpor a ponte! Se sois soldados brasileiros, conto convosco!" (sic).

Conta o capitão F. Ferreira de Araújo, que é o nosso depoente nesta descrição, e que foi participante deste feito, que não se pode descrever precisamente o efeito daquelas palavras; dir-se-ia que o solo, oscilado por um tremor subterrâneo, fizera estremecer e rodar a multidão dos bravos. Um viva enorme ao Brasil, ao imperador e a Caxias reboou como um presságio de vitória. Duas detonações paraguaias precipitaram os acontecimentos. As primeiras tropas a embarafustar pelo desfiladeiro a marche-marche foram as do então coronel José Ferreira, cujo cavalo, no primeiro avanço, teve as pernas cortadas a metralha.

De roldão, aquela massa formidável atirou-se a baioneta calada contra as posições paraguaias e, quando os primeiros soldados do Brasil já transpunham os entrincheiramentos inimigos, o heróico e precipitado comandante santista entregava seu sangue à vitória, abatido por traiçoeira machadinha paraguaia.

Daí a momentos, a bandeira brasileira tremulava no alto da posição inimiga. Estava dado o passo definitivo para o triunfo de 1870, mas estavam mortos, também, o heróico comandante santista, o major Eduardo da Fonseca, o tenente-coronel Guedes, o coronel Fernando Machado e tantos outros, confundidos no mesmo chão, onde centenas de anônimos brasileiros pagavam o seu tributo à pátria.

Depois de morto, e como homenagem do Império a tão assinalado e valoroso soldado, é que o cel. Ferreira foi promovido a brigadeiro, ou general de brigada.


[...]
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