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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PROF. W.BESNARD
Entre a quente Santos e a gelada Antártida (1)

Navio oceanográfico Prof. W. Besnard começou a operar em 1967
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É comum encontrá-lo atracado ao cais antigo, próximo à Praça da República e ao prédio da Alfândega. Quando não está ali, navega pelo litoral brasileiro em pesquisas oceanográficas, ou dá apoio à base brasileira Comandante Ferraz, no gelado e distante continente antártico. Sua chegada ao porto santista, que se tornaria a sua base operacional, foi divulgada no primeiro número do antigo jornal diário Cidade de Santos, em 1º de julho de 1967 (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria, com foto do navio ainda na Noruega

Este navio vem dizer onde estão os peixes

Está cruzando o Atlântico em direção ao Brasil, deslocando 574 toneladas métricas a uma velocidade de 11 nós, um navio de pesquisas que o governo paulista comprou na Noruega por três e meio milhões de cruzeiros novos. Ele vem para estudar a geografia de nosso mar e determinar as zonas onde é só jogar a rede que a pesca será abundante. Está fazendo sua primeira expedição de estudos e só chegará no fim do mês.

Chama-se Professor W. Besnard o primeiro navio oceanográfico brasileiro. A imensidão de nossa costa, onde peixe morre de velho ou é levado por estrangeiros, sai um pouco do grande abandono que colocava o Brasil entre as mais atrasadas nações do mundo em matéria de pesca.

O pescador brasileiro de alto mar, além de não dispor de equipamento adequado, vive ao sabor da sorte ou da benevolência de São Pedro. Agora entramos na era da pesca científica.

O navio que a Universidade de São Paulo comprou para seu Instituto Oceanográfico tem tudo que a ciência moderna pode oferecer em matéria de equipamento, o que justifica seu custo elevado. O problema alimentar que ameaça o mundo super-povoado do futuro faz com que as nações considerem de importância estratégica, maior que a de um porta-aviões, a posse de navios como esse.

A primeira expedição - O Prof. W. Besnard chegará a Recife, primeira escala brasileira, só no fim deste mês, pois está fazendo amplo cruzeiro experimental, iniciado em Bergen (Noruega) no último dia 10. Antes disso, fez uma viagem de 5 dias às ilhas Faroe e Shetland, para testar o equipamento.

A presente viagem inaugural é uma expedição conjunta de que fazem parte técnicos brasileiros e noruegueses. Quando o navio saiu de Bergen, dia 10, levava oito técnicos do Instituto Oceanográfico da USP, quatro do Geofysik Institutt e Fiskeridirektoratets de Bergen, e mais um técnico da FAO (Food and Agriculture Organization, da ONU).

A primeira escala será em Las Palmas (costa da África). Lá será desenvolvido um plano para maior conhecimento na detecção de peixes por ecosondagem, avaliação imediata da abundância de cardumes pelágicos, identificação e amostragem. Também serão feitos estudos ambientais, especialmente sobre hidrografia.

Essa primeira etapa deverá durar 21 dias, até 13 de julho, quando o navio retornará a Las Palmas, para de lá partir rumo a Recife. Deverá permanecer nesse porto mais ou menos 3 dias, quando serão substituídos alguns elementos da equipe de pesquisadores.

A etapa brasileira da expedição, com duração prevista de 20 dias, servirá para determinar a produtividade primária das diferentes massas de água, particularmente da água tropical. Essa parte do esquema é importante, pois o navio atravessará águas costeiras, regiões de recifes e cortará a Corrente do Brasil; com isso, poderá fornecer dados sobre a produtividade das águas quentes. Medições sobre produtividade serão tomadas em 14 estações, em intervalos diferentes, que variam de 15 até 120 milhas entre duas estações.

Instituto deu até o nome

O contrato para aquisição do navio oceanográfico foi assinado pelo ex-reitor da Universidade de São Paulo, prof. Gama e Silva, em 1964, com o estaleiro Mjeller & Karlsen, de Bergen, Noruega, vencedor da concorrência.

Especialmente construído para pesquisas no mar com determinação de zonas piscosas no litoral, o primeiro navio oceanográfico brasileiro recebeu o nome do Prof. W. Besnard, como homenagem ao primeiro diretor do Instituto Oceanográfico da USP.

O navio foi armado e equipado com verba do Instituto Oceanográfico, que teve colaborações da Unesco, Conselho Nacional de Pesquisas, Fundação Ford e da Norad (Norwegian Assistance Program). O custo, com o navio devidamente equipado, está calculado em NCr$ 3,5 milhões.

Uma Comissão foi designada pelo governo de São Paulo para encarregar-se dos estudos e providências relacionadas com a aquisição da embarcação. Dela fazem parte o contra-almirante Yaperi Tupiassu de Brito Guerra, então presidente da Comissão Naval em São Paulo; o engenheiro naval Vicente M. A. Verrone, chefe da Secção de Produção Marinha; a sra. Hebe R. P. de Campos Salles, então diretora da Divisão de Informação e Documentação Científica e a dra. Marta Vannucci, do Instituto Oceanográfico.

Batismo - O navio oceanográfico Prof. W. Besnard foi batizado dia 5 de maio, em Bergen, nos estaleiros da Mjeller & Karlssen. Compareceram o embaixador brasileiro na Noruega, sr. Jaime de Sousa Gomes, que representou o governador de São Paulo; o engenheiro naval Vicente Verrone, indicado pelo governador para acompanhar a construção do navio; membros da Comissão designda pelo governo, cientistas e técnicos brasileiros e noruegueses, autoridades navais e portuárias norueguesas e membros da tripulação. Foi madrinha da embarcação a sra. Bernardete Machado, esposa do ministro Rodolpho Kaiser Machado, da Embaixada Brasileira.

A cerimônia de troca de bandeira, em Bergen, foi a 30 de maio e o governo de São Paulo foi representado no ato pelo contra-almirante Yaperi Tupiassu. O Lóide Brasileiro é o preposto do Instituto Oceanográfico na viagem inaugural do Prof. Besnard. Forneceu uma tripulação de 23 elementos, sob a direção do comandante Hélio Martins de Andrade.

Esse navio diferente - É uma embarcação de linhas modernas e elegantes. Está dotado de instalações e equipamentos técnicos os mais avançados, e tem condições de efetuar missões científicas de longo alcance e pesca de arrasto, de meia-água e espinhal.

Construído com casco de aço e casa do leme inteiramente de alumínio, tem 49,35 metros de comprimento; boca máxima - 9,33 m; calado carregado - 3,60 m; deslocamento - 575 ton. métricas (leve) e 674 ton. métricas (carregado); velocidade máxima - 12,5 nós; velocidade de cruzeiro - 11 nós.

Tem motor diesel B&W, tipo 498, de 960 BHP e 310 rpm, dotado de hélice de passo ajustável, de 3 pás; conta com 2 guinchos hidrográficos com capacidade de 2 mil e 6 mil m de cabo de 5/32", e dispõe de plataformas basculantes para facilitar a operação do pesquisador; um guincho de popa para 2 toneladas com propósitos de plancton e um guincho de pesca, com 3 tambores.

A embarcação tem ar condicionado em todas as cabines, laboratórios, refeitórios, casa de leme, casa de telegrafia e de navegação. Nessas dependências também há aquecedores, para quando operar no Atlântico Sul durante o inverno. E mais: um destilador de água doce com capacidade de 2.500 litros em 24 horas, chuveiros de água doce com controle termostático e seus tanques de água para 50 mil litros. Os tanques de combustível comportam 103 m³. Um tanque Flume, anti-balanço, reduz de até 75 por cento o balanço do navio, proporcionando melhores condições de trabalho aos pesquisadores.

As instalações - As instalações de trabalho do navio compreendem:

1. no convés principal - laboratório molhado, laboratório químico, laboratório com temperatura constante e um laboratório seco geral;

2. no convés de embarcações há um laboratório eletrônico e para propósitos meteorológicos e uma central de observações, onde ficam o Asdic, dois ecobatímetros e indicador do Asdic;

3. no convés inferior estão os laboratórios de desenhos e cálculos, laboratório fotográfico e o laboratório de peixe. Os laboratórios foram arranjados em divisões removíveis, propiciando diferentes arranjos de acordo com as diferentes finalidades de cada expedição.

Suas instalações frigoríficas incluem o porão de peixe, com 35 m³ e temperatura de -20º C; duas câmaras frias, com 10 m³ e -5º C; câmara frigorífica para amostras de peixe, com 6 m³ e -20º C; câmara fria para mantimentos, com +2º C e câmara frigorífica para mantimentos congelados a -20º C.

Dois geradores fornecem energia elétrica de 220 volts, 60 ciclos. Possui também um gerador para porto. Nos laboratórios poderão ser utilizados correntes de 220 volts, 50 ciclos; 220 volts, 50 ciclos (N.E.: SIC) e 32 volts, CC.

Instrumentos de navegação - Seus instrumentos de navegação compreendem: agulha magnética no topo da casa do leme, com periscópio invertido para a casa do leme; agulha giroscópica, com duas repetidoras, uma a BB e outra a BE (N.E.: bombordo e boreste), no passadiço; um prumo de mão com sondareza-marcada; ecobatímetro Simrad, do tipo EH2A; um ecobatímetro para 5.200 m; um Asdic Simrad; um velocímetro de superfície completo, com ampulheta com marcas até 15 nós; um velocímetro elétrico; um radar Decca, equipado com giro-estabilizador; 3 barômetros aneróides; um sextante e um cronômetro.

Instalação de rádio: um radiogoniômetro Marconi; um radiotransmissor para fonia e grafia; um transmissor de emergência; dois receptores; um receptor de emergência, com unidade de manipulação e alarme automático; um seletor de antena; e um rádio para barco salva-vidas, tipo portátil.

Sistema de intercomunicação: Marconi, para quatro estações, a partir da casa do leme.

Instalação de alto-falante para recreação com alto-falantes nos seguintes lugares: casa do leme, sala de rádio, laboratório geral e químico, refeitórios, camarote do comandante. Uma rede telefônica para 20 estações, incorporando conexão para radio-telefone, completa o sistema.

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