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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA
A imprensa santista (10)

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De 1931 a 1938, circulou em Santos a Gazeta Popular, com instalações na Rua Frei Gaspar, 109/113. Sobre este periódico, o jornalista Olao Rodrigues (que nele trabalhou) fez esta referência, em sua História da Imprensa Santista (lançada em 26 de março de 1979, Gráfica A Tribuna, Santos/SP):
 


Funcionários e dirigentes da Gazeta Popular, defronte ao prédio do jornal, em 1932
Foto: revista não identificada de 1932 - Imagem cedida a Novo Milênio por Ary O. Céllio

Gazeta Popular - 1931

A data de 12 de janeiro de 1931 assinalou a circulação do primeiro número de Gazeta Popular, sob a direção do dr. Amazonas Duarte. Propriedade da Sociedade Editora Santista Ltda. Redação, administração e oficinas na Rua Frei Gaspar ns. 109/113.

No artigo de apresentação salientava que Gazeta Popular não viera preencher lacuna na imprensa citadina. "Tão pouco traz inscritas em seu programa idéias de competição na esfera econômica e no campo do pensamento com qualquer dos órgãos que vai encontrar na arena jornalística. É seu máximo objetivo colaborar com a opinião pública e com os jornais existentes, na obra insigne de restauração dos princípios democráticos que a Revolução consolidou pelas armas da vitória, depois de uma campanha memorável nas armas, na tribuna das ruas e do Parlamento, na qual, pela primeira vez no regime, o Brasil assistiu o espetáculo inédito da inteligência liberta, batendo-se desarmada contra a força brutal da Oposição".

Alberto de Carvalho e Francisco Sá eram sócios na empresa proprietária do nascente vespertino, em cuja redação, entre outros, trabalhavam Santos Amorim, Ramiro Calheiros, Alberto de Carvalho, Francisco Sá, Santos Júnior, Benedito Merlin, Francisco Sá Júnior, José Cardoso Pinto (cronista varzeano) e outros.

Gazeta explorava muito polícia, esportes, cinema e teatro. Alberto de Carvalho fazia esporte, sobretudo futebol, enquanto Santos Amorim cobria a polícia. Francisco Sá escrevia, como na Gazeta do Povo (N.E.: publicada em Santos de 1917 a 1930) os bilhetes caipiras assinados sob o pseudônimo de Zé Tramela.

Amazonas Duarte escrevia artigo de fundo, crônica e suelto, usando muitas vezes o pseudônimo de João da Terra.

Correram os anos. O dr. Amazonas Duarte deixou a Gazeta, transferindo-se para o Jornal da Noite. Francisco Sá brigou com Alberto de Carvalho. E nova fase surgiu para o vespertino da Rua Frei Gaspar. Alberto de Carvalho, ele apenas, tornou-se dono da folha. Era o fac-totum, além de diretor. Antônio Bento de Amorim Filho ingressou na redação, em substituição a Francisco Sá Júnior, em conseqüência do desentendimento do pai com o Pardal, alcunha de Alberto de Carvalho. José Cardoso Pinto continuou fazendo várzea, muito explorada pelo vespertino. Santos Amorim deixou também a redação.

Este escrevedor (N.E.: Olao Rodrigues), ainda semi-foca, também se alistou no quadro profissional dos gazeteiros e entrou a fazer Polícia. Quando havia crime no período da manhã era dia de festa no jornal, pois a reportagem começava na primeira página, continuava na terceira e se estendia à última página. Completa a reportagem. Só não era entrevistada a vítima por já estar morta...

Gazetinha tinha uma originalidade. Possuía uma sirena que soava estridentemente todos os dias, menos aos domingos, quando o jornal ficava pronto e já em poder dos pequenos vendedores. Um detalhe: tinha de sair primeiro que o outro, o Jornal da Noite.

Pouca gente na redação. Mas o Alberto de Carvalho exercia as funções de três.

Outro detalhe: foi ali que Amorim Filho conheceu sua esposa, da. Vera, sobrinha de da. Angelina, mulher de Alberto de Carvalho.

Waldemar Noschese, o Ratinho, que teve a honra - dizia ele - de haver sido presidente do Bloco Carnavalesco "Agora Vai...", era o gerente de Gazetinha, pontualíssimo no pagamento quinzenal dos salários, mais do que A Tribuna. Enquanto o jornal de Nascimento fazia o pagamento à tarde, também quinzenalmente, nós outros, os da Gazeta, pobres redatores, quando chegávamos à redação às 7 horas da matina já encontrávamos sobre a mesa o envelope de pagamento. Quer dizer que recebíamos a quinzena antes de começarmos a trabalhar no 15º dia!

No dia 26 de fevereiro de 1938, a Gazeta Popular encerrou sua missão no campo jornalístico de Santos, depois de 7 anos de incessante labuta. Alberto de Carvalho precisava de repouso e pretendia retirar-se provisoriamente do País.

Todo acervo gráfico do jornal foi vendido ao Diário Português do Rio de Janeiro.

Páginas de publicação de 1932 que se referem à imprensa santista, incluindo referências ao aniversário da Gazeta Popular, ao jornal A Tribuna (de Nascimento Júnior) e aos jornais de 1872
Imagens: revista não identificada de 1932 - Imagem cedida a Novo Milênio por Ary O. Céllio

 
No dia 12 de janeiro de 1934, o jornal Gazeta Popular publicou uma edição especial de terceiro aniversário, com artigo na página 2 (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Primeira página da edição de 3º aniversário da Gazeta Popular, em 12 de janeiro de 1934
Reprodução de exemplar dilacerado, cedida a Novo Milênio pelo historiador Waldir Rueda

Três anos de lutas

Três anos de lutas e labores nesta casa, longe de entibiarem a fibra dos que fazem aqui a imprensa dentro do programa que nos traçamos na tarde de 12 de janeiro de 1931, mais enrijaram a coragem de todos nós, mercê da simpatia do público que nos acompanha com o seu estímulo e nos estimula com o seu acolhimento.

No meio da trepidação ambiente, no emaranhado das competições políticas que agitam os alicerces da nacionalidade desde a vitória da revolução de 30, no esmorecimento geral, conseqüente à crise dos valores e também da vontade, a GAZETA POPULAR se traçou um programa que consubstancia, em poucas palavras, o idealismo [...] de [...] (N.E.: trecho dilacerado no original) exclusivamente dele, no que o povo representa de trabalho honesto e de esforço construtor, quer a GAZETA POPULAR o julgamento expressivo porque, no dia em que lhe faltar a simpatia das massas, sobretudo das massas humildes que são o sangue e o alicerce da Pátria, terá ela, a bem dizer, perdido a razão de ser da sua existência.

Daí a insistência com que, em todos os momentos e quase todos os dias, apelamos para o coração do povo generoso de Santos, confiando-lhe as nossas preocupações de ordem sócio-político, nos nossos comentários redacionais, e acolhendo, em nossas colunas, o pensamento desse mesmo povo nos manifestos, comunicados e outras divulgações oficiais dos sindicatos e núcleos associativos que representam as classes trabalhadoras.

Completando, hoje, o nosso quarto ano de existência (N.E.: SIC: deveria ser completando o terceiro ou iniciando o quarto ano), a nossa primeira palavra no torvelinho da alegria ambiente é dirigida, especialmente, àqueles a quem confiamos cotidianamente o nosso pensamento, todo ele tecido no idealismo dos que desejam construir em bases sólidas e não querem solapar os alicerces do que aí está, desafiando a voracidade dos políticos ambiciosos e dos homens sem fé.

Resgatada essa duvida (N.E.: SIC: deveria ser "dívida") de gratidão para os nossos amigos de todas as horas e aos quais confiamos a segurança do nosso destino, voltamo-nos, em seguida, para todos os excelentes companheiros que nos rodeiam, desde as oficinas à gerência e à redação, partilhando-nos, entre nós mesmos, numa comunhão felicíssima e cordial, os minutos de ventura que provamos no passado e que estamos provando agora.

Injustos seríamos se silenciássemos a parte com que o dinâmico e fecundo comércio santista tem contribuído para a efetivação do nosso progresso material, núncio do progresso moral em que porfiamos e em virtude do qual temos podido, com coragem e dignidade, vencer a rota que nos impusemos no dia em que, pela primeira vez, surgimos na arena da publicidade.

Fixados esses pontos cardeais da nossa gratidão imensa, vamos insistir ainda uma vez, na realização integral do nosso programa que é, a bem dizer, um programa eminentemente social, arredado do politiquismo personalista, causa de todos os males em estado alarmante de cronicidade que nos perseguem há longos e doloridos anos.

Jornal político, no sentido alto e científico do termo, porque jornal consagrado ao estudo e à observação dos problemas sociais brasileiros e daqueles que se relacionem com a psicologia do nosso povo, a GAZETA POPULAR não tem e não terá partidos, sobretudo os partidos efêmeros que se formaram e se vêm formando depois de outubro de 1930, bafejados, ali e acolá, pela brisa interesseira do momento e do favoritismo e, por isto mesmo, todos eles fadados à morte por inanição ideológica e falta de condutores conscientes e capazes.

Distante, bem distante, de tais partidos onde o interesse predomina e dentro dos quais os homens improvisados em chefes só fazem servir-se a si próprios, em detrimento dos interesses coletivos, a GAZETA POPULAR sente-se feliz com esta linha de conduta, e os aplausos que tem recebido são de molde a impor-lhe que persevere nesta trilha.

Encerrando estas linhas, que outra coisa não são que um rápido relatório dos dias que temos vivido e uma advertência quanto aos dias que nos serão dados viver, aqui deixamos consignado que o nosso programa de ação jornalística está sendo da nossa parte o cumprimento que o povo de Santos tem sabido incentivar e compreender.

E isto nos basta.


Segunda página da edição de 3º aniversário da Gazeta Popular, em 12 de janeiro de 1934
Reprodução de exemplar dilacerado, cedida a Novo Milênio pelo historiador Waldir Rueda

 

Alberto de Carvalho, diretor-gerente

 

Dr. Amazonas Duarte, redator principal

 

Cap. Sarmento Pimentel, colaborador

Severo Bomfim, repórter

Fotos: pág. 2  da Gazeta Popular de 12/1/1934, exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda

José Cardoso Pinto,

redator da seção varzeana

Domingos Fernandes, um dos mais ativos vendedores da Gazeta Popular

Fotos: páginas 2 e 33 da Gazeta Popular de 12/1/1934, (acervo do historiador Waldir Rueda)

José Alves Neto,

encarregado da publicidade

Sebastião Carrara, zeloso encarregado da distribuição da Gazeta Popular

Fotos: página 33 da Gazeta Popular de 12/1/1934, (acervo do historiador Waldir Rueda)


Seção de paginação  da Gazeta Popular, com os funcionários Claudino A. da Silva (aprendiz), José Torres Rios (chefe da paginação) e Alinor Torres (tipógrafo anuncista)
Reprodução parcial da pág. 3 da Gazeta Popular de 12/1/1934 (acervo do historiador Waldir Rueda)


Seção de impressão, com os funcionários José Lopes (ajudante da impressão), José Sgal (chefe da impressão, "artista de reconhecido mérito") e Francisco Sgal (ajudante de impressão)
Reprodução parcial da pág. 6 da Gazeta Popular de 12/1/1934 (acervo do historiador Waldir Rueda)


Seção de linotipia da Gazeta Popular, com os funcionários Romeu Russo (linotipista), Josaphat Medeiros (chefe-linotipista), Moacir Faro (mecânico) e Djalma Torres (linotipista)
Reprodução parcial da pág. 7 da Gazeta Popular de 12/1/1934 (acervo do historiador Waldir Rueda)

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