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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA
A imprensa santista (7j)

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Em 26 de março de 1944, o jornal santista A Tribuna publicou edição comemorativa de seu cinqüentenário (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), com esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

O 50º aniversário d'A Tribuna

Um pouco de história da terra andradina mal contada por velho jornalista sem memória

(Crônica de Euclides Andrade)

[...]


"Sapos" de jornal

"Sapos" de jornal, na gíria empregada por homens de imprensa, são criaturas que gostam de assistir ao trabalho de amigos que o destino cruel transformou, um dia, em operários da pena. Essa espécie de batráquios de calças, colarinho e gravata, vai-se extingüindo. A "struggle for life" impede muita gente de dar um pouco de alegria ao espírito, trocando idéias, cavaqueando com amigos.

Os "sapos" de jornal rarearam, talvez por isso ou - quem sabe? - por não apreciarem muito as conversas moles para boi dormir, os leros-leros, hoje em moda em certas rodas citadinas ou suburbanas.

Nos meus alegres tempos de jornalismo na Tribuna, a redação desta folha era um seio de Abrahão para quem desejava arejar um bocado o espírito.

A nossa rodinha era excelentemente escolhida: Valentim Bouças, um dos nossos mais assíduos "sapos", era, em 1909, um rapazote muito simpático. Magro, alto, vivo como azougue, agilíssimo na argumentação e que terminava o curso na Escola de Comércio José Bonifácio.

Valentim era amigo do pessoal da Tribuna e aqui vinha muitas vezes para alegrar-nos com as suas piadas felizes e os seus ditos irônicos. Inteligente como sempre foi, dinâmico e culto, não é para admirar que Valentim Bouças se haja guindado à posição que hoje ocupa - de oráculo da economia e das finanças brasileiras.

Como a de Bouças, era constante a visita de Heitor de Morais e de Carlos de Menezes Tavares à redação da Tribuna. Rara era a noite em que não recebíamos esses amigos para uma agradável palestra.

E com eles vinham outros: João Salerno, o saudoso Salerno, diretor da secretaria da Câmara Municipal, o homem que mais conhecia a legislação da edilidade santense; Aprígio Gonzaga, que dirigia o grupo escolar "Dr. Cesário Bastos", e que vinha discutir com Acaiaba graves problemas pedagógicos; Elias Mendes, sempre a reclamar contra a má colocação dos seus anúncios de leilão; Ludgero Carneiro, Manoel Espíndola; e outros.

Em determinadas noites, havia sessão magna. E a ela compareciam os paredros do novel Partido Municipal, fonte inesgotável de benefícios trazidos a Santos por um grupo de abnegados santenses e filhos de outras terras, nesta radicados por interesses comerciais.

O Partido Municipal

A simples citação dos nomes dos elementos de que se compunha esse grande Partido nos seus primeiros dias bastará para que se aquilate da sua larga projeção em Santos, onde o povo ansiava por uma administração, que lhe proporcionasse os melhoramentos de que a urbe tanto necessitava.

Foram os seguintes, entre muitos outros, os promotores da fundação do Partido Municipal, de que a Tribuna foi, por muitos anos, autorizado porta-voz: Antônio da Silva Azevedo Júnior, Antônio de Freitas Guimarães Sobrinho, Benedito Pinheiro, dr. Benedito de Moura Ribeiro, Arnaldo Aguiar, Carlos Luiz de Afonseca, coronel Joaquim Montenegro, Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, coronel Luiz Aires da Gama Bastos, dr. João Galeão Carvalhal, Carlos José Pinheiro, Flávio Soares de Camargo, Osvaldo Cockrane, João Gonçalves Moreira, coronel Gil Alves de Araújo, dr. Azarias Martins Ferreira, José Domingues Martins, afora outros, cujos nomes, infelizmente, não me ocorrem, no momento em que redijo, sem auxílio de arquivos ou quaisquer outros documentos, esta síntese histórica da fundação e vida rutilante da Tribuna, comemorando o seu meio século de proveitosa existência para o progresso de Santos.

Fundado poucos anos antes de Nascimento Júnior adquirir este matutino, o Partido Municipal recolheu desde logo nas suas fileiras a maioria do povo santense, com cujo apoio venceu brilhantemente e por grande maioria o primeiro pleito para escolha da nova edilidade, pleito esse memorável, no qual elegia dois terços da vereança, além do prefeito da cidade.

E, desde então, o Partido Municipal jamais deixou de concorrer às eleições realizadas em Santos, antes que a Revolução de 30 extinguisse os partidos políticos brasileiros.

A Companhia Construtora de Santos, sob a direção do dr. Roberto Simonsen e fundada nessa época, incumbiu-se de muitos melhoramentos da cidade, entre os quais sobressai o da nova pavimentação urbana e construção de grandes edifícios públicos.

Santos tornava-se de dia para dia uma grande e moderna cidade. Perdia Santópolis o seu aspecto provinciano, desapareciam os bondes à tração animal, para dar lugar aos movidos a eletricidade, melhoramento inaugurado festivamente pela City of Santos Improvements Co.; começaram a rodar pelas ruas da cidade os grandes e velozes caminhões automóveis da Companhia União de Transportes, inauguravam-se majestosos hotéis, para hospedagem de forasteiros, cuja fluência foi crescendo vertiginosamente.

Santos perdera a sua triste fama de cidade insalubre, flagelada periodicamente por epidemias de febre amarela.

Saturnino de Brito, o notável engenheiro sanitarista patrício, traçara e iniciara a execução do grande plano de saneamento da cidade, plano esse que Miguel Pregreave concluiu, com a construção de novos canais drenadores e a abertura de extensas e largas avenidas nos bairros do Macuco, Marapé e Vila Matias.

A febre amarela em Santos! Quantas vidas preciosas esse morbus horrível roubou à grande cidade litorânea! De nada valiam os sacrifícios feitos para extingüir o mal, que, periodicamente, na estação estival, enlutava a cidade de Santos.

Os médicos locais multiplicavam seus esforços no combate ao flagelo. Manoel Maria Tourinho, Benedito Moura Ribeiro, Soter de Araújo, Assis Corrêa, Amâncio da Cunha Mota foram heróis abnegados dessa campanha humanitária em defesa da saúde do povo santista.

Eles tiveram sempre o apoio dos poderes municipais empenhados, tanto quanto aqueles clínicos, em livrar a urbe da febre amarela, que milhares de vidas roubava e muitas lágrimas fazia verter..

Para o saneamento de Santos também muito concorreu a construção do novo porto. A extensa linha de cais acostável, que vai da Alemoa à Ponta da Praia, obrigou ao aterramento dos baixios marginais, em cujo mangue proliferava o stegomia fasciata, propagador da febre amarela.

E Santos começou a crescer e a progredir, impulsionada por todas as forças reunidas para elevá-la ao grau de adiantamento material e cultural em que hoje se encontra.

Terra abençoada, esta, que tão boa gente agasalha! A vida de Santos é a mesma vida da Tribuna. O progresso de uma decorre do desenvolvimento da outra.

Santos não pode passar sem a sua Tribuna, ninguém lhe dispensa a leitura, nesta terra que a viu nascer e a viu crescer e prosperar. Nos seus cinqüenta anos de existência, muitos jornais aqui foram fundados com um único objetivo: matar a Tribuna. E ela a todos sobreviveu. Nenhum a conseguiu derrotar nessa competição, cujo maior prêmio era a conquista integral das simpatias populares.

Finaram-se, exangues, envergonhados, os que pretendiam derrubar do seu trono a Tribuna soberana. E ela não se vangloria dessa vitória. Ela os enfrentou, altaneira e sorridente, confiada em que o seu povo jamais a trairia.

É verdade que em outubro de 1930... Mas, isso é história moderna; é história de ontem, que Santos inteira conhece. Ao povo de Santos ninguém poderá, em sã consciência, acusar de haver renegado o seu passado. Santos foi sempre amigo da folha que Olímpio Lima fundou e Nascimento transformou em indômita fortaleza a serviço da causa pública.

E a prova de que o povo de Santos jamais deixou de amparar a Tribuna, está clara, insofismável, na presteza com que o grande matutino de Nascimento Júnior reiniciou a sua publicação, após o atentado de que fora vítima, nos dias agitados de outubro, quando as paixões políticas, os velhos ódios e a inveja vieram à tona da maré montante, valendo-se do momento para satisfação de seus perversos instintos.


Salão nobre. Mobiliado com luxo e conforto, é o "Panteão da A Tribuna". Nas paredes da sala estão aos retratos dos grandes vultos que por aqui passaram, contribuindo decisivamente para a grandeza, o prestígio e a prosperidade do jornal
Foto e legenda publicadas com a matéria


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