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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TIROS DE GUERRA
Tiros de Guerra santistas (6)

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Um dos tiros de guerra de Santos era o Tiro Naval, fundado em 21/10/1917 e extinto após a Revolução Constitucionalista de 1932. A documentação destas páginas pertence ao acervo da família do comandante Armando Erbisti, sendo as imagens cedidas a Novo Milênio por Sérgio Barros de Moura, residente na cidade de Peruíbe/SP. Um quadro desse acervo reúne dois recortes de jornal do tempo da revolução. O primeiro deles é de 23 de setembro de 1932 e o outro é um pouco anterior, de quando Armando voltou a Santos para buscar novo contingente destinado a reforçar as suas posições de combate (ortografia atualizada nestas transcrições):


Imagem: reprodução do quadro com os recortes de jornal de 1932

Magnífica, a atuação do Tiro Naval de Santos, nos setores do Norte!

Seu comandante foi promovido a capitão, depois do belíssimo feito de Silveiras

O Tiro Naval de Santos, que é comandado agora pelo capitão Armando Erbisti, tem brilhado nos setores do Norte, onde está desde os primeiros dias do movimento constitucionalista, tendo pago já, exuberantemente, o seu tributo de sangue, porém sem esmorecimentos. E tal tem sido a sua ação, que seu comandante, que saíra de Santos como simples sargento, foi promovido a tenente e agora a capitão, por ato de bravura.

Ontem, casualmente, encontramos Armando Erbisti.

Pedimos-lhe notícias.

E ele falou assim:

- Fui promovido a capitão. Devo tal promoção ao meu povo. QUero que façam referências sobre Vasco Bicudo e Joaquim Lemos, ambos 2ºs tenentes, mas devido aos serviços de guerra prestados, irão logo a 1ºs tenentes. Muniz é outro elemento de real valor, no Naval. É o homem mais sereno da tropa. O tipo do soldado alemão. Chico TicoTico, indicado para 1º sargento, é deveras formidável!

Oriovaldo, vulgo "sargento Cobrinha", outro elemento de valor. Nascimento, Iago, Frederico Ribas, Manoel Furtado de Almeida, Manoel Furtado de Oliveira, Pereira, Barreto, Nunes, enfim grande número de Navais estão fazendo o diabo nas tropas inimigas! O Naval, na zona Norte, em Silveiras, era denominado pelos inimigos - segundo nos disse um prisioneiro - de "Leão do Barulho". Quanto à minha promoção, fiquei surpreso, mas acho que foi em virtude da barragem e cobertura de retraimento que o Naval fez, com 28 homens, pois o inimigo, aproximando-se sorrateiramente, não deu tempo de nada. Mas o bravo cap. Barreto Lins, que também tomou parte na barragem, pediu-me auxílio e eu, com meus homens, fui em socorro dos companheiros e conseguimos debandar 3 patrulhas inimigas, fazendo cerca de 40 baixas. Na barragem, perdemos um homem do 12º R. I e o Naval ficou com o sargento Guerino Boregio ferido.

A barragem foi mantida e o inimigo, durante cinco horas, manteve-se à distância. Só nos retraímos quando recebemos ordem.

Sigo agora para Guará, pois o Naval e o 5º B. C. P. M. formarão um batalhão que terá o orgulho e a felicidade de ser comandado pelo destemido capitão Freitas Borges, que tem dado provas sobejas de seu valor. É grande amigo dos Navais e os Navais têm nele um grande chefe e amigo também.

Eu continuo no referido batalhão, comandando o Naval, pois os meus homens ainda querem que assim seja.


Detalhe de um dos recortes de jornal


HOJE

Um homem

Armando Erbisti visitou-nos ontem. Chegava do front. Já nove combates lhe viram a bravura e o ânimo forte de paulista. Os seus navais, os nossos navais, lá estão nas trincheiras, alegres e prontos a batalhar. Não os perturbou o primeiro embate e agora perturba-os a ausência de lutas. Foram para bater-se. Não compreendem e nem querem repouso. O duelo há de ser breve no seu entender e para ser breve é preciso avançar correndo.

Foi Armando Erbisti que soube com a sua fé galvanizar o corpo morto do velho tiro santista. Mas para dar consistência e duração ao milagre, quis ser primeiro nos perigos e nos trabalhos. Onde estão os homens que comanda - honra que a raros se concede - está o sargento sem vaidades que teima em recusar os galões que de direito lhe pertencem. Sua assistência é permanente e constantes os seus cuidados. Até agora o Naval não perdeu um homem. E não é porque se acautele, pois o contrário está escrito na sequidão das ordens do dia.

Erbisti fala-nos com serenidade. Sabe que vai vencer. Vem buscar gente nova. Também precisam descansar os nossos rapazes, diz ele.

O cel. Figueiredo e o cel. Palimércio gostaram de nós. E deram-nos a guarda de Cachoeira, quando vimos dos fossos onde se jogam balas e vidas. Precisamos uma reserva de cem homens e é esta que eu pretendo conduzir.

***

Notícias para Santos, pedimos. Estas: - nenhuma terra paulista sairá da guerra com mais honra e maiores feitos, responde-nos Armando Erbisti.

E continua, entusiasmando-se - dois mil santistas estão em armas. Não há um desânimo. Não se fala em uma deserção. Para o monumento que um dia comemore a guerra da libertação do Brasil, terá de buscar-se o assunto no episódio heróico em que dois santistas foram protagonistas - os irmãos Pinho.

***

Fala-nos mais Armando Erbisti e a gente sente-lhe e fadiga. Damos-lhe um abraço, seguros de que apertávamos ao nosso peito alvoroçado um homem, um paulista.

L.A.


Detalhe de um dos recortes de jornal


Documentação fotografada por Carlos Pimentel Mendes em 16/12/2007

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