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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - BIBLIOTECA NM
Clique na imagem para ir à página principal do livro 'Os Andradas'1922 - por Alberto Sousa (10)

A história, desde a fundação, pelo autor de Os Andradas

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

É o caso da obra Os Andradas, publicada em 1922 por Alberto Sousa (Typographia Piratininga, São Paulo/SP) - acervo do historiador Waldir Rueda -, cuja transcrição do capítulo 1 (A Vila de Santos), com ortografia atualizada, continua (páginas 215 a 229):
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Vila de Santos no Ano de 1801
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A Vila de Santos
Suas condições topológicas, demográficas, econômicas e sociais

A divisão da Vila, a extensão, os limites e os nomes das ruas continuaram a passar por sensíveis alterações e no princípio do século seguinte, no ano de 1801 [259], era este o seu aspecto:

1ª) Rua Direita, que continuava a ser a principal, servindo de ligação rápida e cômoda entre os dois núcleos extremos que primeiramente se constituíram na banda oriental e na ocidental da primitiva povoação. Dantes ia somente dos Quatro Cantos ao largo do Carmo, exclusive, mas ganhara agora em extensão, pois decorria "desde o lugar chamado Quatro Cantos (atual Rua de Frei Gaspar) até o largo do Convento dos Religiosos e Nossa Senhora do Carmo, e deste à casa do Trem Real, junto à Capela de Santa Catarina" [260].

Quer dizer que a rua que principiava "do Pelourinho até Santa Catarina" (futura Rua da Matriz e depois Meridional) tinha perdido sua autonomia, e o mesmo acontecera à de Santa Catarina, que pertencia em 1765 à dita Rua Meridional, que onze anos depois, em 1776, já estava desagregada dela e que agora vemos incorporada à Rua Direita, da qual ambas se separaram em 1810 [261]. Em 1801, a Rua Direita contava 111 casas.

2ª) Rua Pequena da Parte do Mar, junto à Igreja Matriz. É a mesma rua da nomenclatura anterior (a de 1765), que "principiava do Pelourinho junto à Matriz". Chamou-se depois Setentrional da Matriz, por ser paralela à Rua Meridional, que corria, como o nome o indica, do lado Sul da localidade. Chamou-se, mais tarde, simples e abreviadamente, Rua Setentrional e desapareceu com a sua irmã, em 1908, para a formação da Praça da República, conforme já dissemos. Tinha 27 casas em 1801.

É grande a diferença que se nota entre o número de casas existentes em 1765 e o número das que existiam em 1801. É que naquele ano a rua começava do Pelourinho (em frente à Igreja do Carmo) e abrangia, portanto, as casas situadas no largo, do lado do mar.

Daí a razão por que a rua contava em 1765, só desse lado, 59 casas. Em 1801, porém, a Rua Direita, que antes ia dos Quatro Cantos até a ponta do Convento do Carmo, absorveu todo o largo desse nome, ficando os limites da rua Pequena recuados até o canto oposto do dito largo, começando, pois, onde veio a ser estabelecido mais tarde o sr. Raymundo Corvello e terminando no Largo da Matriz.

3ª) Rua da Praia - Sofrera, desde os últimos anos do século anterior, importantes modificações. Estendia-se agora desde o seu limite primitivo, nos Quatro Cantos, até para além do porto das Canoas, em frente à atual Rua de José Ricardo, "dando volta da parte do Norte até entrar na Rua de Santo António, compreendendo todos os moradores da Ilhota".

Não se chamava mais Rua da Alfândega como em 1776; fora de novo denominada da Praia e ia desde os Quatro Cantos (trecho da parte do mar, começando na Rua Direita) até o Largo do Monte Alegre, inclusive o trecho que ora existe entre a Estação da Inglesa (antigo muro do Convento dos Franciscanos) e o pesado casarão em que funciona o Governo Municipal.

A Ilhota, que as mais recentes gerações não conheceram, era na realidade uma península, encravada entre os ribeiros de S. Jerônimo e S. Bento e limitada ao Norte pelo canal. Estendia-se, portanto, desde a esquina da Rua José Ricardo até o canto extremo do citado prédio que a Municipalidade há muitos anos ocupa. Duas pequenas e toscas pontes de pau, colocadas sobre as margens daqueles ribeiros, comunicavam a Ilhota com o restante da Vila. A Rua da Praia tinha 31 casas habitadas.

4ª) Rua de Santo António, antiga de S. Francisco e antigo Beco de Maria Ribeira. Começava nos Quatro Cantos e ia terminar em frente ao Convento de Santo António, compreendendo nos seus limites o Mosteiro de S. Bento e o Beco do Gonçalo Borges.

Principiava, pois, na esquina dos Quatro Cantos com a rua que se chamou mais tarde Antonina, que ainda então não tinha vida independente, o que só conseguiu um século depois, para voltar de novo à sua antiga condição dos tempos coloniais, não mais como prolongamento da Rua de Santo António, mas como parte integrante da Rua 15 de Novembro.

O Beco do Gonçalo Borges, que acabava de perder a sua autonomia e com ela parte de seu território e o seu recente nome de Rua do Campo, era agora, como ainda há pouco dissemos, apenas o pequeno trecho conhecido mais tarde por beco do Alfaya e onde hoje se acha a Agência de jornais.

Alcançamo-lo ainda em nossa infância, apertado, tortuoso e sombrio, com seus casebres de pedra quase negra, acaçapados e toscos, de longos beirais de telha portuguesa avançando para a rua e resguardando os transeuntes das tremendas soalheiras e das copiosas chuvas estivais. A maior parte dessas habitações eram ocupadas por quitandeiros africanos, alguns dos quais juntaram não pequena fortuna com seu lucroso comércio diário de legumes, frutas e petisqueiras que as famílias abastadas consumiam em grande escala. Total das casas - 57.

5ª) Rua do Campo - Com o desmembramento do Beco do Gonçalo Borges, anexado à Rua de Santo António, os seus limites se modificaram sensivelmente, e iam "desde a travessa do Carmo até a obra da Igreja do Rosário dos Pretos". Não existindo então a Rua do Rosário, o Campo abrangia não só o espaço, ocupado no futuro por essa rua, como pelo largo do mesmo nome.

Chafariz da Coroação. Donativo do Imperador. Carta da Marquesa de Santos

O Campo tomou a denominação de Campo da Misericórdia, em razão de terem nele começado a edificar, poucos anos antes, a nova Igreja da Santa Casa. Com o correr dos tempos, e já quando tinha desabado totalmente a referida Igreja, passou a chamar-se Largo da Coroação, em homenagem a d. Pedro 2º, então imperador do Brasil, que foi quem inaugurou o chafariz construído no centro do mesmo logradouro, por ocasião de sua primeira visita a Santos, onde chegara inesperadamente às 5 horas da tarde de 18 de fevereiro de 1846, de volta de sua excursão à Província do Rio Grande do Sul [262].

O Largo da Coroação, que ulteriormente se chamou praça José Bonifácio (N.E.: não confundir com a atual Praça José Bonifácio, situada em outro local), é hoje, como já várias vezes dissemos, a bela Praça Mauá, que é tudo quanto resta do vasto Campo da quadra colonial. A Rua do Campo tinha 29 casas habitadas.

6ª) Rua dos Cortumes - Passou por grandes alterações, pois se desagregou dela a Rua do Valongo e os seus limites se modificaram. Começava, como em 1765, do caminho dos Jerônimos e ia terminar na esquina da Rua de Santo António, "compreendendo o Mosteiro de S. Bento e a Rua Transversal até a chácara do Professor de Gramática Latina", José Luís de Moraes e Castro; chácara que depois veio a pertencer ao capitão-mor da Vila de S. Vicente, Bento Thomás Vianna, por ter-se ausentado para o Reino aquele professor [263].

Esta Rua Transversal é a Rua de S. Leopoldo, antiga Rua Vermelha; e a chácara, que se delineia nítida na planta, estendia-se do lado do Sul, desde o canto da referida rua até um pouco além do velho sobrado onde morou J. T. Rosmann cerca de um século depois e que foi levantado em terrenos pertencentes à aludida chácara; e do lado ocidental dava para uma imunda betesga cortada ao meio pelo córrego de S. Bento, chamada outrora Beco dos Canudos e hoje Rua Alexandre Rodrigues.

Por morte de Bento Thomás Vianna, que era solteiro, passou a seu irmão António José Vianna; e muito mais tarde a Roberto Maria de Azevedo Marques, que alguns octogenários santistas, ainda vivos, conheceram residindo nela em companhia de sua numerosa família [264]. Pelas razões expostas, a atual Praça dos Andradas, que era então uma vargem pantanosa, chamava-se Campo da Chacra.

Para comunicar a Rua de S. Bento com aquela praça, uma das nossas progressistas Municipalidades transactas mandou abrir os terrenos e abater os rijos muros da vetusta habitação campestre, onde Moraes e Castro descansava da ingrata faina diária de iniciar os jovens santistas de antanho no áspero aprendizado das declinações.

A Rua dos Cortumes, que é a própria Rua de S. Bento, aparece nos recenseamentos ora com este, ora com aquele nome, ora com ambos simultaneamente (Rua de S. Bento ou dos Cortumes). Em 1801 contava 30 casas, inclusive a Rua Transversal, compreendida nesta a chácara que lhe servia de baliza.

7ª) Rua do Valongo - Desincorporada da Rua dos Cortumes, os seus limites começavam no muro do Convento de Santo António e iam terminar junto à ponte do ribeiro do Macário, que descia do morro de S. Bento e corria para o mar, cortando o terreno situado entre a atual Rua Alexandre Gusmão e a travessa Marquês do Herval. 20 eram as casas habitadas que contava.

8ª) Rua dos Quartéis (ou dos Coarteis, como escreveu espevitadamente, em bela caligrafia ornamental, um escriturário da época). - Não perdeu nem ganhou em extensão, mas os seus limites aparecem fixados com maior nitidez do que anteriormente. Começava "na ponta do Canal (Paquetá) e ia morrer junto ao Forte de Nossa Senhora do Monte Serrate", na rampa do rio, perto do Colégio dos Jesuítas. Contava com um total de 39 casas.

9ª) Travessa do Carmo - Não sofreu alteração, a não ser no número das casas habitadas, que se elevou a 13.

10ª) Travessa do Parto - A única alteração por que passou foi a diminuição do número de casas, que desceu a 7.

11ª) Travessa da Banca do Peixe - Reportamo-nos ao que ficou dito na nomenclatura anterior, sob o título Beco da Alfândega Velha. Perdeu este nome, naturalmente, ou por ter desaparecido o pardieiro em que funcionava anteriormente a Alfândega, e que era situado ao fim da rua, em frente ao mar, ou por que foi esse pardieiro adaptado a outro uso. É provável mesmo que nele funcionasse algum mercadinho para venda de peixe a retalho, provindo daí a nova denominação dada pelo povo ao antigo Beco da Alfândega Velha.

12ª) Travessa dos Quatro Cantos - Começava no lugar chamado Quatro Cantos, à esquina da Rua Direita, e ia sair no Campo da Misericórdia. É o mesmo trecho da atual Rua de Frei Gaspar que, do canto da Rua Quinze, vai até desembocar no largo do Rosário, que então era parte integrante daquele campo. Tinha 8 casas.

A parte oposta que dá para o mar, chamava-se, em 176, Rua da Alfândega, juntamente com a Rua da Praia, à qual ficou pertencendo por muito tempo e por fim tornou-se novamente autônoma sob a denominação de travessa da Alfândega Velha, quando a repartição aduaneira passou para o Colégio dos Jesuítas.

13) Beco de Maria Francisca - Não sofreu modificações.

A Rua das Sete Casas foi recenseada com a do Valongo, a que ainda pertencia. Chamou-se depois da Penha e hoje é a Rua Marquês do Herval.

Essas eram as ruas existentes no perímetro da Vila em 1801. À primeira vista parece que no transcurso de 35 anos a localidade permaneceu estacionária, porquanto o número de ruas é o mesmo no período inicial e no final: 13 em 1765 e 13 em 1801. A verdade, porém, é que surgiram três vias novas: a Rua do Valongo, desagregada da dos Cortumes; a do Campo (desmembrada em 1776 do Beco do Gonçalo Borges); e a Travessa dos Quatro Cantos; mas esse acréscimo não é quase notado porque, por sua vez, desapareceram três vias que existiam anteriormente: o Beco do Gonçalo Borges, que foi incorporado à Rua de Santo António, a Rua Meridional que se integrou na Rua Direita, e a "rua que principia dos Quatro Cantos e vai até a Alfândega", que passou a pertencer a Rua da Praia.

Até 1785, os Quatro Cantos não aparecem nos recenseamentos senão como um ponto-de-partida de diversas ruas. É o "logar chamado Quatro Cantos", de onde se irradiam para Oeste a Rua de Santo António, para Leste a Rua Direita e para o Norte a Rua da Praia. Nada mais. Não consta que seja uma rua, uma travessa, um beco, uma viela tendo moradores.

Explica-se a aparente anomalia: os Quatro Cantos, sabem-no todos, eram as quatro esquinas que ainda hoje existem e em cada uma das quais se levanta um prédio. A parte que deita para o mar era uma rua independente, a princípio. Depois, incorporada à Rua da Praia, tomou o nome desta. Mais tarde voltou a ser denominada oficialmente Travessa da Alfândega, desmembrando-se da Rua da Praia, definitivamente. Longos anos após, era popularmente conhecida pelo nome de Beco do Consulado, porque na sua extremidade, em frente à praia, se levantva o barracão grosseiro assim chamado.

A outra parte, a que vai para o Largo do Rosário, só nos fins do século dezoito é que começou de ser habitada por gente aliás pouco numerosa e de posição inferior na sociedade da época: apenas oito fogos (N.E.: fogo = residência de uma família) ocupados por barbeiros, sapateiros, engomadeiras e costureiras; e assim permaneceu por dilatado período.

Era uma viela horrível: suja, fétida, negra, estreitíssima. Chamava-se Travessa dos Quatro Cantos, nome que no recenseamento de 1822 é merecidamente substituído pelo de Beco do Inferno.

Hoje, os dois trechos estão reunidos debaixo de um só nome - Frei Gaspar, em homenagem ao velho historiador santista cujos pais ali tinham, no canto formado com a Rua Antonina, à esquerda de quem vai para a de Santo António, uma casa e sobrado, onde o autor das Memórias da Capitania de S. Vicente, depois que voltou a residir em Santos, em 1769, recolhendo-se ao Mosteiro de S. Bento, passava diariamente longas horas ao lado de sua devotada mãe, a matrona santista de exemplaríssimas virtudes, d. Anna de Siqueira e Mendonça, então viúva de Domingos Teixeira de Azevedo, também santista e falecido poucos anos após seu casamento [265].

População de 1801 a 1822

No interregno de 1801 a 1822, a Vila prosperara, embora vagarosamente. Tinham-se aberto novas ruas. Construíram-se novas casas. Cresceu a população, como se pode ver destes algarismos que apresentamos em resumo:

Anos

Habitantes

Anos

Habitantes

Anos

Habitantes

1801

3.446

1808

4.126

1815 

5.133

1802

3.475

1809

4.110

1816 

4.885

1803

3.370

1810

4.466

1817 

5.131

1804

3.437

1811

4.187

1818 

5.166

1805

3.409

1812

4.874

1819 [266]

--

1806

3,638

1813

4.862

1820 [266]

--

1807

3,937

1814

5.149

1821 [266]

--

 

 

 

 

1822 

4.781

Através das várias oscilações periódicas, que se observam no quadrinho acima, a marcha ascendente da população operou-se de forma lenta, gradativa e segura. Os 4.871 (N.E.: SIC: observada a discrepância entre este número e o constante na tabela) habitantes do ano da Independência estavam distribuídos pelas seguintes ruas, cujo percurso e limites podem ser acompanhados e conferidos na planta respectiva. O recenseamento foi feito na direção do Oriente para o Ocidente.

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Vila de Santos no Ano de 1822
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Ruas existentes no ano da Independência

1ª) Rua Josephina, formada em 1808, conhecida popularmente pelo nome de Rua da Palha durante muitos anos, e hoje chamada Rua da Constituição. Começava na praia, ladeando o Outeiro de Santa Catarina e parava muito além da atual Rua General Câmara. Tinha 25 casas habitadas.

2ª) Rua dos Quartéis, com os mesmos anteriores limites. Contava 51 casas.

3ª) Rua de Santa Catarina - Reconquistou sua autonomia em 1809. Partia do largo da Matriz até encontrar-se com a Rua Josephina. Número de casas - 32. É hoje a Rua Visconde do Rio Branco.

4ª) Rua Setentrional - É a mesma Rua Pequena da parte do mar, junto à Matriz, e que consta dos recenseamentos que já citamos. De 1810 até 1821 chamou-se Setentrional da Matriz. Total de casas - 21.

5ª) Rua Meridional - Desmembrou-se em 1810 da Rua Direita, com o nome de Meridional da Matriz. Começava no Convento do Carmo, inclusive, e ia terminar no Largo da Matriz. Chamou-se depois, e sucessivamente, 28 de Setembro e Visconde do Rio Branco. Número de casas - 21.

6ª) Rua Direita - Voltou aos seus antigos limites: dos Quatro Cantos ao Convento do Carmo, exclusive. Contava 46 casas.

7ª) Travessa do Parto - Manteve os mesmos limites. Tinha 10 casas habitadas - menos 4 que em 1765 e mais 3 que em 1801.

8ª) Travessa da Banca do Peixe - Idem. Total de casas - 7.

9ª) Beco do Inferno - Era, como já dissemos, a travessa dos Quatro Cantos, do lado de cima, isto é, da Rua Direita ao Largo do Rosário atual. Tomou aquela nova denominação em 1822, com a qual permaneceu até poucos anos atrás. Número de casas - 12.

10ª) Rua Antonina - Formou-se em 1810, do trecho que começava na esquina dos Quatro Cantos com a Rua Direita e acabava na esquina da Rua de Santo António, à qual pertencia. Modernamente voltou à situação anterior a 1810, não mais como parte integrante desta última rua, mas incorporada à Rua Direita, hoje 15 de Novembro. Total de casas - 14.

11ª) Travessa da Alfândega Velha - Principiava nos Quatro Cantos e terminava em frente ao edifício da Alfândega Velha, na orla do cais. É o atual trecho da Rua Frei Gaspar que, do canto da Rua 15 de Novembro, desce para o mar: que se chamava antes Rua da Alfândega e que depois fora incorporado à Rua da Praia, com o mesmo nome desta.

Tendo-se feito a mudança da Alfândega, do barracão em que ali funcionara até 1806, para o local em que está ainda hoje, aquele barracão passou a ser conhecido por Alfândega Velha para evitar confusão com a nova Alfândega; e esse nome estendeu-se à rua. Contava 6 casas onde residiam famílias abastadas e importantes, como a do governador do Forte de Itapema, José António Vieira de Carvalho, no prédio senhoril, ora bem velho, onde esteve o Banco Mauá e depois o Banco Mercantil; d. Gertrudes Ferreira, o negociante Romão José Florindo e outras pessoas de notória posição.

12ª) Rua da Praia - Os seus limites sofreram apreciável alteração, com o desmembramento que se operou em virtude da formação da travessa da Alfândega. Principiavam, então, no trecho entre a casa de José António Vieira de Carvalho (Banco Mercantil) e o velho casarão do Branco, onde é hoje o Telégrafo Submarino e iam, como anteriormente, até entrar na Rua de Santo António, em frente à Igreja. Tinha 1 casas.

13ª) Rua da Graça - Ganhou este título, em 1810, da Capela aí erguida por José Adorno e d. Catharina Adorno, sua mulher, em devoção da Senhora da Graça [267]. Antes desse ano, pertencera à Rua da Praia, e depois de 1822 foi conhecida popularmente pelo nome de Rua do Sal, porque nela existiam depósitos desse gênero. É hoje, oficialmente, a Rua de José Ricardo. Contava 5 casas.

14ª) Rua de Santo António - Com o desmembramento da Rua Antonina, os seus limites se modificaram. Em 1822 principiava, como hoje, no Largo do Rosário, que era então uma parte do Campo da Misericórdia, segundo já dissemos; descia pelo beco do Gonçalo Borges (onde se acha atualmente a Agência de jornais) e parava em frente ao Convento de S. Francisco (Santo António). O Mosteiro de S. Bento já se não encontrava dentro dos seus limites, por ter sido, desde 1810, integrado na Rua de S. Bento. Total de casas - 43.

15ª) Rua do Valongo - Só sofreu alterações quanto ao número de casas habitadas, que subiu a 33.

16ª) Rua de S. Bento - Formada, ora com a denominação de Rua dos Cortumes, ora com a de S. Bento, ora com ambas simultaneamente, vinha do morro, a que o mosteiro deu o seu nome, até a esquina da Rua de Santo António. Total de casas - 24.

17ª) Rua do Rosário - Nasceu em 1810. Começava perto da Igreja do Rosário dos Pretos, ainda em obras, e seguia em rumo da Rua Josephina. Só estava aberta até certo ponto e contava 33 casas de ambos os lados. Para se ter uma idéia bem clara do que era esta rua naquele tempo, basta lembrar que o grupo de casinhas baixas existentes entre a atual Rua 2 de Dezembro (N.E.: atual Rua D. Pedro II) e a Travessa do Rosário, e onde até há pouco tempo funcionaram várias pensões alegres, achava-se então cercado de mato por todas as bandas; e à direita de quem desce do monte passava tranqüilo o Ribeirão do Carmo. Por estar assim localizado em sítio agreste, acharam-lhe os habitantes alguma semelhança com o Cubatão; e puseram-lhe o nome de Cubatãozinho.


O Cubatãozinho (entre a Rua Dois de Dezembro e a Travessa do Rosário. Estado em 1922). 
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18ª) Rua da Misericórdia - Partia da travessa dos Quatro Cantos e terminava no Campo da Misericórdia. É o trecho da atual Rua Cidade de Toledo, compreendido entre a Praça Mauá e a Rua de Frei Gaspar. Número de casas - 12.

19ª) Rua do Campo - Com as novas ruas criadas e os diversos desmembramentos havidos, os seus limites passaram por modificações essenciais. Desde 1810 começava ela no Campo da Misericórdia, esquina do beco do Gonçalo Borges, e ia terminar quase em frente ao Beco de Maria Francisca. Em 1822 contava 45 casas de ambos os lados.

20ª) Travessa do Carmo - Não sofreu modificações. Tinha 6 casas.

21ª) Rua do Tororó - Surgiu em 1808, com o nome de Rua da Fonte do Tororó. Era o caminho que da Travessa do Carmo levava àquela tradicional biquinha. Travessa do Carmo e Rua do Tororó formam hoje a Rua do Itororó. Contava 12 casas no seu início.

22ª) Rua Áurea - Apareceu em 1809 e começava no Campo da Misericórdia, quase em frente ao Beco de Maria Francisca, caminhando na direção da Rua Josephina. Só estava construída e habitada até certo ponto, mas em 1822 já contava 47 casas. A Rua do Campo e a Rua Áurea, fundidas, converteram-se na Rua General Câmara atual, que também se chamou anteriormente - Rua Nova.

E eis tudo quanto havia em matéria de ruas no ano da proclamação da Independência. A que do canto da Rua Pequena descia para a praia, e a que do Campo da Misericórdia subia para o Itororó (parte mais alta da atual Rua 11 de Junho) (N.E.: depois rebatizada como Rua Riachuelo) não eram habitadas e, por isso, não figuram no recenseamento, e seus nomes não constam das plantas.

As casas que havia em cada uma das esquinas da primeira, prolongavam até quase à beira do rio os seus muros, cercados ou quintais abertos; e o mesmo se dava com a segunda, cujos prédios, com frente para o campo referido, estendiam-se na direção do Monte Serrate, de modo que nas ditas ruas não havia habitantes.

A que hoje se chama de Martim Afonso era uma ruela que saía do caminho do Itororó e vinha ter ao Largo do Carmo. Também não estava edificada. Tais ruas tinham denominações populares que a tradição oral não conservou.

Quanto aos diferentes bairros, houve neles pequenas, quase imperceptíveis modificações. A Barra Grande, por exemplo, que pertencia ao bairro do Embaré, desmembrou-se dele, passando a formar um bairro autônomo. Tinha 7 casas, inclusive as da praia do Góis, situada em frente, do outro lado da baía. O bairro do Embaré ficou apenas com 9 casas.

O Itapema abrangia o Guarujá, com 9 casas também. Da praia de Tegereva até à enseada havia 8 sítios. A enseada de Santo Amaro tinha 9 e o bairro do Cubatão Geral até ao Rio Grande, 23. A Bertioga, compreendendo a Ilha das Couves, o Sahy, a praia Preta, o Juquehy, Buracéia, Guaratuba, S. Lourenço, o Canto do Ribeiro, o Buriquy, a Armação, a Ponta-Grossa, o Bariguy, o Iporanga e o Cambury, contava 59 casas ou sítios.


NOTAS:

[259] Original no Arquivo Público do Estado.

[260]/[261] Recenseamentos de Santos, 1801, 1809 e 1810 (No Arquivo do Estado).

O dr. Affonso Taunay, na longa e interessante biografia de Frei Gaspar, com que precede a 3ª edição das Memórias para a história da Capitania de S. Vicente, escreve à página 17: "Possuía D. Anna de Siqueira, na Vila, excelente morada de casas de sobrado", nos Quatro Cantos, no começo da antiga Rua Direita, principal artéria da povoação, que "se estendia do Convento dos Carmelitas ao Trem Real". E à página 59, repete mais detalhadamente: "No coração da futura Cidade, os Quatro Cantos, onde se achava a casa paterna do cronista, cruzavam-se as principais artérias, a Rua Direita, a mais importante, vinda do largo do Carmo, em direção da Casa do Trem Real etc.".

É manifesto o equívoco do ilustrado biógrafo, porquanto a Casa do Trem estava localizada na parte oriental da Vila e, portanto, a Rua Direita, vinda do Largo do Carmo até cruzar-se com os Quatro Cantos, seguia em direção do Ocidente e não podia encontrar-se com a dita Casa do Trem que ficava exatamente no lado oposto.

Se o emérito investigador do Passado pátrio quis dizer que ela partia do largo em direção àquela Casa, então não se cruzava com os Quatro Cantos; e o trecho compreendido entre o lugar assim chamado e o referido largo, apesar de ser o mais povoado, ficaria arbitrariamente excluído da mencionada rua, o que não é a expressão real da verdade.

A Rua Direita começava nos Quatro Cantos e ia até o Largo dos Religiosos do Carmo e daí seguia em direção do Oriente até encontrar a Casa do Trem Real, junto à Capela de Santa Catarina, passando pelo trecho que de futuro veio a chamar-se Rua Meridional da Matriz. Esta era então um prolongamento da Rua Direita - e nada mais.

[262] As autoridades paulistas, não esperando tão cedo o monarca e sua consorte, tinham-se deixado ficar sossegadamente na Capital; e os santistas foram surpreendidos em meio dos preparativos que faziam ativamente para proporcionar aos augustos visitantes condigna recepção e confortável e gasalhosa hospedagem. A ala esquerda do antigo Colégio dos Jesuítas, destinada, desde o tempo do capitão-general Franca e Horta, para aposentadoria das altas autoridades quando fossem a Santos, estava devidamente preparada para recebê-los.

A inauguração do chafariz, cuja água vinha canalizada da fonte do Itororó, realizou-se às 8 horas da noite de 23 de fevereiro. O largo estava profusamente iluminado a lâmpadas multicores alimentadas a azeite e pendentes de todos os lados. A multidão apinhava-se no local. Eis senão quando o imperador, acompanhado de sua consorte, aproxima-se. A banda de música atroa os ares com o Hino Nacional; girândolas estrondam fragorosamente; daqueles milhares de peitos fidelíssimos escapam-se repetidas ovações aos jovens soberanos; o entusiasmo popular é incandescente.

Chega-se d. Pedro, segura no copo que lhe estende respeitoso o presidente da Municipalidade, abre uma das torneiras e, com surpresa que não dissimula, vê que do chafariz milagroso, em vez de água potável, jorra copiosamente vinho tinto. Diante desse inaudito acontecimento, o entusiasmo da multidão tocou às raias do verdadeiro delírio e vivas frenéticos saíram de todas aquelas bocas sederentas.

Fora autor da surpresa um exaltado e intransigente monarquista luso, que se impusera provar ao povo atônito como d. Pedro, imitando a façanha bíblica do Cristo, era capaz de transformar prodigiosamente a água em vinho, operação mágica, aliás, que é hoje vulgaríssima, segundo a espirituosa observação de Alphonse Karr, pois que a fazem diariamente os taberneiros modernos, sem dispêndio do menor esforço sobrenatural.

Por essa ocasião, o imperador entregou à Municipalidade um donativo de 2.000$000 de réis para que os condutos d'água fossem levados do chafariz até a praia, a fim de servirem os navios que demandassem o porto. E, para a ereção do mesmo chafariz comemorativo, contribuiu também, por solicitação da Municipalidade, a marquesa de Santos, com a quantia de 400$000 réis, conforme se vê da carta que ora reproduzimos, copiada do original existente no Arquivo da Câmara de Santos:

"Tive a satisfação de receber o ofício que VV. SSas. me dirigiram em data de 6 de maio pp., em que me comunicam a deliberação que tinham tomado de erigir um chafariz nessa cidade, para memorar o faustoso dia da coroação de S.M. o Imperador, convidando-me a concorrer para uma obra tão interessante. Sendo-me sumamente lisonjeiro cooperar para qualquer coisa de utilidade pública, é-me demais muito agradável subscrever para uma obra pela qual se deve prestar um benefício ao povo, e ao mesmo tempo perpetuar um dia que será sempre o penhor da paz e união dos brasileiros, e ainda mais numa cidade da qual me ufano de ter o título, e assim mando entregar por mão do sr. capitão António Martins dos Santos a quantia de quatrocentos mil réis, sentindo que as circunstâncias não me permitam que dê uma prova mais importante dos meus bons desejos. S. Paulo, 21 de julho de 1841 - Marquesa de Santos".

E assim se associou ela publicamente à homenagem, que ao esperançoso filho de seu imperial amante se dignaram de prestar, ufanos e satisfeitos, os Poderes Municipais da terra dos Andradas, sem embargo de terem sido estes conspícuos e notáveis cidadãos perseguidos, deportados e enxovalhados, graças à discricionária influência que essa perniciosa criatura exercera sobre o espírito do primeiro Imperador.

[263] Moraes e Castro, professor régio, natural do Porto, viera para Santos por nomeação da Mesa Censória de Lisboa, contratado por seis anos. Era grande sabedor de Latim e tinha aptidão especial para transmitir aos outros seu saber. O VISCONDE DE S. LEOPOLDO (Memórias, pág. 11) rende-lhe grata e eloqüente homenagem, confessando que com suas lições se tornara provecto no conhecimento daquele idioma. Sua Provisão foi renovada por mais seis anos, tendo ele, em 1805, regressado ao Reino em gozo de licença por tempo indeterminado, para tratar de seus negócios.

Como, porém, a sua ausência já datasse de dez anos, e não era intenção do Príncipe Regente que esse tempo indeterminado se prolongasse tanto, mandou declarar vaga a referida Cadeira por ofício de 4 de setembro de 1815, dirigido pelo marquês de Aguiar ao governador de S. Paulo, conde de Palma. Este nomeou para o lugar António Manuel da Silva Bueno, santista de talento, e que o requerera ao dito governador (Doc. ints. Vol. 29, pág. 19 e Vol. 36, pág. 18).

[264] António José Vianna teve dois filhos nascidos em Santos: Bento Thomás Vianna e António José Vianna. O último era pai do sr. Christiano Peregrino Vianna que nos forneceu importantes esclarecimentos a respeito da situação da aludida chácara e nos franqueou o exame de vários papéis antigos do seu arquivo particular, pertencentes a seu tio-avô, Bento Thomás Vianna, chegado de Lisboa a 4 de junho de 1790, a bordo do navio Santos Martyres, de que era capitão Luís da Piedade.

Para Santos viera recomendado pelo negociante lisbonense Joaquim Pedro Quintella ao abastado negociante Luís Pereira Machado, e na carta de apresentação pedia-se ao destinatário, "com todo o empenho e eficácia distribuir-lhe as suas sábias instruções e prudentes conselhos em tudo quanto for conducente para o seu bom regime".

Bento Thomás Vianna estava incumbido de gerir em Santos os negócios do armador de navios e mercador de escravos em Lisboa, Jacintho Fernandes Bandeira, que desses misteres "acertadamente o incumbira pela experiência e conhecimento que tem das suas recomendáveis qualidades" em muitos anos em que o teve como caixeiro na sua casa comercial da Metrópole.

[265] AFFONSO E. TAUNAY - Biographia de Frei Gaspar. PEDRO TAQUES - Genealogia Paulistana (Rev. do Inst. Hist. Brasº.).

[266] Não existem no Arquivo do Estado os recenseamentos destes anos.

[267] MACHADO DE OLIVEIRA (Quadro histórico, Apêndice, pág. 306, 1ª ed.) diz que essa Capella foi levantada por Braz Cubas, que a doou aos Religiosos carmelitas para nela residirem enquanto não edificassem o seu Convento.

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