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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - BIBLIOTECA NM
1915 - por Carlos Victorino (08)

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Carlos Victorino apareceu na imprensa santista como tipógrafo no jornal Gazeta de Santos (de 1883) e reapareceu como revisor no Jornal da Noite, criado em 1920. Também escreveu para teatro e nos gêneros romance e comédia.

Suas lembranças de Santos, vivenciadas entre 1905 e 1915, foram reunidas na obra Santos (Reminiscências) 1905-1915, cujo Livro II (com 125 páginas) foi em 1915 impresso pela tipografia do jornal santista A Tarde (criado em 1º/8/1900). O Livro I, correspondente ao período 1876-1898, já estava com a edição esgotada quando surgiu a segunda parte.

Nesta transcrição integral do Livro II - baseada na 1ª edição existente na biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos (SHEC) -, foi atualizada a ortografia:

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Santos (reminiscências) 1905-1915

Carlos Vitorino

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VIII

Quando no dia 10 de fevereiro de 1912 Santos recebeu a dolorosa notícia da morte do grande e inesquecível brasileiro, o barão de Rio Branco, o luto em respeito a esse grande homem alastrou-se por toda a parte. Além de outras demonstrações de pesar, os teatros foram fechados; recolhiam-se ao silêncio as diversões costumeiras:o pranto era geral.

No dia 11, o Coliseu reabriu as suas portas, dando isso lugar a um conflito naquele teatro. Muitos populares opuseram-se a esse alvitre da Empresa Cinematográfica: queriam que o luto se prolongasse por mais dias. Foi essa oposição uma demonstração do respeito e carinho que os brasileiros consagravam e consagram à memória do ilustre morto.

Passado isto, voltemos as vistas para a casa da Rua Senador Feijó, 278, antigo, onde reinava alegria, pois ali dava-se um enlace matrimonial, revestido de todas as galas, nada faltando para a completa felicidade dos nubentes.

Terminado o ato das bodas nupciais, os convivas retiravam-se, deixando os noivos, por certo, no início da lua-de-mel, entre carícias, doces afagos e tudo quanto consta do rol da noite de núpcias. Mas, egoísta de sua honra, como é e deve ser todo o homem, o noivo Francisco Venâncio dos Santos pôs em dúvida a virgindade de sua noiva, Maria Luiza da Conceição. Desesperado, aturdido, julgando-se vilmente traído, fere a noiva, deixando-a entregue aos cuidados da Santa Casa de Misericórdia, que, solícita, socorreu a vítima do infortúnio, a esposa da necrópole...

Venâncio evadiu-se.

No dia seguinte ao deste desastre social, a natureza presenteou-nos com um ciclone, ocasionando desastres no mar, sofrendo muito a Ponta da Praia e o Itararé. Alguns embarcadiços e viajantes em pequenas embarcações foram vítimas dessa tempestade.

Cessou a tempestade dos elementos e surgiu outra em casa de Pedro Tabarula, que, furioso devido à grande quantidade de álcool ingerido, amarrou de pés e mãos a amante, Raphaela Sacaneja, de 22 anos, cortou-lhe os cabelos e os supercílios. Assim, defeituando a pobre Sacaneja, Pedro tirou uma desforra gratuita, pois a sua amante, segundo diziam, era uma verdadeira escrava dos seus caprichos e de uma fidelidade a toda prova.

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Procuremos agora os artistas e vamos esbarrar com eles numa exposição de pintura iniciada e posta em prática por Mario de Mello. A esta exposição concorreu com belos trabalhos o nosso artista conterrâneo, o Wladimir Alfaya, que a morte nos roubou tão cedo quando ele corajosamente trabalhava conquistando aplausos em todas as ocasiões que expunha um trabalho seu.

***

A arrojada arte da aviação prometia visitar-nos. Corriam notícias de que o aviador Garros viria de S. Paulo a Santos em 40 minutos, num Bleriot. A nossa população, no dia marcado, ansiosa esperava a chegada de Roland Garros. Milhões de olhos levantavam-se para o espaço, para o infinito, a ver se lobrigavam o Bleriot.

De repente, explodiram as exclamações:

- Lá vem ele! É ele! E como vem rápido e sereno! Que belo!

Apontavam com entusiasmo um ponto preto, em forma de aeroplano, que se destacava no claro horizonte.

O suposto Bleriot baixou mais. Não havia dúvida: era Garros que nos visitava pelo ar. Aclamações, palmas, risos, assobios, estrugiam em profusão.

O ponto preto baixou mais ainda, muito mais, e... verificou-se com espanto, com decepção, ser um representante das aves de rapina - era um corvo...

Horas depois, recebia-se telegrama avisando que fora adiado para outro qualquer  dia o raid de Roland Garros.

***

Para compensar o logro que levamos, 3 dias depois recebemos a ilustre literata d. Julia Lopes, acompanhada de seu venerando pai, o sr. visconde de São Valentim. Realizou algumas conferências no Real Centro Português, sendo a primeira sob o tema "Jardins da História". A ilustre conferencista foi fartamente aplaudida, deixando-nos logo, pois ia a Poços de Caldas.


Em 1911, outro aviador francês, Planchut, visitou Santos, sobrevoando o Gonzaga

Foto: cartão postal, coleção de Marcelo Tállamo