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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [44]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 919 a 927, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Vistas de Niterói: 1) Praça Pinto Lima; 2) Colégio Salesiano de Santa Rosa; 3) Icaraí; 4) Palácio Isabel
Foto publicada com o texto, página 919. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Estado do Rio de Janeiro

estado do Rio de Janeiro está situado entre 20º9'30" e 23º19'10" de latitude Sul, e 2º9''0" de longitude Oeste e 1º40'50" de longitude Leste. De Norte a Sul, mede 700 quilômetros; e de Leste a Oeste, perto de 500 quilômetros. A sua superfície é muito aproximada de 69.000 quilômetros quadrados; e a população anda por 1.400.000 habitantes, cifras que lhe dão o primeiro lugar, no Brasil, pela densidade da população.

Quase 800 quilômetros do território do estado são banhados pelo Oceano Atlântico. As terras adjacentes ao mar são baixas, geralmente inda que se levantem na vizinhança da Serra do Mar, que atravessa o estado e depois toma a direção de Oeste.

O clima varia com o aspecto do solo. No litoral, é quente e úmido, mas, à proporção que o terreno vai se levantando, para a região montanhosa, torna-se cada vez mais frio, seco e saudável.

O rio principal do estado é o Paraíba do Sul, que, tendo um curso de 900 quilômetros, conta, entre os seus muitos tributários, os rios Piraí, Paraibuna, Pomba e Muriaé. Os outros rios importantes são: o Itabapoana, o Macaé, o São João, o Macacu, o Guapi, o Magé, o Iguaçu, o Guandu e o Itaguaí. A pouca distância do litoral, encontram-se grande número de ilhas, entre as quais não devem deixar de ser mencionadas a de Sant'Ana, em frente a Macaé, as de Cabo Frio e a Grande, a poucas léguas de Angra dos Reis. A principal baía é sem dúvida a extensa e bela baía do Rio de Janeiro, sendo também importante a enseada de Jacuecanga.

Dentre as suas numerosas lagoas, as mais notáveis são as denominadas: de Cima, em Campos; Feia, entre Campos e Macaé, com 600 quilômetros de circunferência; a de Carapebhus, em Macaé; a de Imboassica, entre Macaé e Barra de S. João; a de Juturnaíba, em Capivari; e a soberba Araruama, de águas continuamente revoltas, que banha os municípios de Cabo Frio, S. Pedro d'Aldeia e Araruama. As belas lagoas de Maricá e Saquarema, grandes viveiros de ótimo peixe, ficam nos municípios dos mesmos nomes.

O território que forma o atual estado do Rio de Janeiro fez parte outrora de três importantes capitanias. Destas, a primeira, de S. Vicente, fora, em 1531, doada a Martim Afonso de Souza e compreendia todo o litoral, entre Santos e Ponta Negra. A segunda, conhecida pelo nome de capitania de Cabo Frio, fora doada a João Gomes Leitão e se estendia até a embocadura do Rio Macaé. A terceira, denominada da Paraíba do Sul, que teve por primeiro donatário Pero de Góes da Silveira, atingia a foz do Paraíba do Sul.

Devido a um ataque dos espanhóis do Rio da Prata, que não respeitaram a fé dos tratados, foi o governo geral do Brasil, em 1763, definitivamente transferido da Bahia para o Rio de Janeiro. Anteriormente, tinha a capitania geral do Rio de Janeiro compreendido, além de todo o território atualmente incluído no estado do mesmo nome, excluída a capitania da Paraíba do Sul, todo Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e mais a Colônia do Sacramento, no Rio da Prata.

S. Paulo foi separado da Bahia e anexado ao Rio de Janeiro, em 1698. Em 1709, criou-se uma nova capitania geral de S. Paulo e Minas, na qual foi incluído todo o território de Oeste, pelo que a capitania geral do Rio de Janeiro ficou reduzida à estreita porção de terra compreendida entre o mar e as serras da Mantiqueira e Parati, tendo Ponta Negra como último limite ao Norte. Este limite foi, em 1749, dilatado até Macaé, pela incorporação da capitania de Cabo Frio. Em 1832, também se lhe incorporou a capitania da Paraíba do Sul, fixando-se então definitivamente os limites do Rio de Janeiro, tais como hoje se encontram.

Até 1834, esteve a capitania do Rio de Janeiro na dependência da Metrópole; mas, em 1835, separaram-se as administrações e Niterói se tornou a sede do Governo da Província do Rio de Janeiro que se acabara de constituir, enquanto a cidade do Rio de Janeiro, a então Corte, naquele tempo capital do Império e hoje, da República, passava a ser administrada por um Conselho Executivo Municipal, nomeado pelo Poder Central.

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Praça da Matriz, Niterói
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Colônias e imigração

Tanto o governo do estado como o da União têm estabelecido colônias no Rio de Janeiro, para favorecer os imigrantes. A primeira das colônias do estado foi já estabelecida em Teresópolis. Entretanto, há ainda, nas proximidades da mesma cidade, uma vasta área de terra, que o governo pretende colonizar. Estes terrenos são muito férteis e se adaptam especialmente à cultura de frutas e vegetais.

Outra colônia do estado, no município de Macaé, foi recentemente transferida a uma companhia de imigração japonesa; mas o governo estadual possui ainda outras terras em Petrópolis, destinadas a imigrantes europeus.

O governo da União tem duas adiantadas colônias na região do Itatiaia, especialmente adaptadas ao cultivo da maçã e à criação de gado. Estas colônias estão situadas entre 600 e 2.500 metros acima do nível do mar, encontrando-se, em uma delas, já estabelecidas, numerosas famílias suíças.

Em nenhuma parte o imigrante obtém maiores favores do que neste estado, e para, ainda mais, animar a vinda de novos imigrantes, que não tenham propensão para os serviços agrícolas, tem o Poder Legislativo do estado autorizado o governo a conceder favores especiais a novas indústrias.

Nestas condições, três novas empresas industriais foram já estabelecidas: duas para a fundação e exploração da matança do gado e congelação da carne e a terceira para o fabrico da farinha de trigo e conseqüente cultura do trigo, no estado.

Nada menos de 37.393 imigrantes desembarcaram no porto do Rio de Janeiro em 1910; mas é impossível fazer-se o cômputo exato daqueles que se estabeleceram no estado.

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Vistas da Serra dos Órgãos, com o famoso Dedo de Deus e a cidade de Teresópolis
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Agricultura

Quanto a produtos naturais, é o estado do Rio de Janeiro tão rico como qualquer outro do Brasil e, mais do que qualquer outro, favorecido por sua proximidade do grande centro comercial que é o porto do Rio de Janeiro.

A grande diversidade das condições climatéricas, a natureza variada do solo em diferentes regiões, as extensas planícies, os férteis vales e as terras montanhosas cheias de árvores frutíferas, são de tal ordem que, com o mínimo de trabalho, os habitantes podem ter a certeza de obter todos os elementos indispensáveis à vida.

A principal riqueza agrícola do estado consiste na cultura do café, cuja produção foi de 67.948 toneladas, em 1907; 57.047 em 1908; e 51.524 em 1909. Ainda que esta produção esteja longe de atingir a de S. Paulo e Minas Gerais, não há dúvida que o estado do Rio ocupa o terceiro lugar entre os estados do Brasil, produtores de café.

Cerca de 50% da quantidade exportada vão para os Estados Unidos da América do Norte; 15,5% para os portos brasileiros; 10% para a França; 9,25% para o Rio da Prata e Chile; 3% para a Bélgica; 2,5% para a Áustria e 1,25% para outros países.

Pode-se ainda asseverar, com segurança, que os lavradores já adotaram, tão espontaneamente como fizeram os fazendeiros paulistas, os modernos processos de cultura, sendo porém de esperar que melhor sistema de colheita e uma adoção mais vastas de maquinismos aperfeiçoados vejam determinar não somente um melhoramento da qualidade do produto, como também o aumento da produção.

O bem-estar financeiro do estado também depende em larga escala do curso dos produtores de café, porque as taxas cobradas sobre a exportação do café constituem 25% da renda ordinária.

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1) O porto da Estrela; 2) Olaria; 3 e 6) Macaé; 4) Um rio; 5) Fazenda Santa Cruz
Foto publicada com o texto, página 921. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Pela sua importância entre as indústrias agrícolas, vem logo, em seguida ao café, a cultura da cana-de-açúcar, que está difundida por várias partes do território do estado. Todavia, Campos é o centro principal da indústria açucareira, seguindo-se-lhe, em importância, os municípios de Macaé, São Fidelis, São João da Barra, Angra dos Reis e Parati.

Há, mais ou menos, 30 grandes engenho de açúcar naquela região, os quais produzem,na média, 20.000 toneladas de açúcar, no valor aproximado de £500.000, sem falar na produção de cerca de 5.000.000 de litros de aguardente e 700.000 litros de álcool.

A cultura de cereais de ano para ano vai ocupando maior marca e a produção não só é suficiente para suprir os mercados estaduais, como ainda deixa um resto para a exportação.

O milho anualmente exportado orça por perto de 30.000 toneladas; o feijão quase chega a 3.000; e a exportação do arroz cresce progressiva e rapidamente. Outras culturas lucrativas são as de batatas, alhos, cebolas, legumes, frutos e algodão.

Há uma vasta extensão de terreno apropriado para esta última cultura, cujos produtos têm constante procura para o suprimento dos vários teares do Estado. Quanto aos legumes e frutas, é um fato que os mercados da Capital Federal absorvem diariamente quantidades que se medem por toneladas.

O fumo, a mandioca e as plantas têxteis são outras tantas culturas perfeitamente adaptáveis ao solo do estado. Muitos outros ramos da agricultura, ainda não ensaiados, seriam, sem dúvida, fartamente remuneradores. Por exemplo: as terras altas da Serra dos Órgãos, onde reina uma temperatura média de 18º centígrados, são especialmente apropriadas para a cultura do trigo e do centeio, assim como as planícies de Cantagalo e Nova Friburgo.

Teresópolis é bem situada para a cultura do chá, bem como para o cultivo das frutas européias de toda a espécie, que tão bem se dão nas regiões frias do estado. As plantas oleaginosas também são nativas em uma considerável extensão do território fluminense. A cultura da vinha, tentada embora em escala limitada, apresentou, entretanto, os mais promissores resultados.

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1) Arraial da Penha; 2) São João Marcos
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Também já manifesta grande importância a exploração de madeiras apropriadas a todos os fins, e que se encontram dentro dos limites do território do estado. Suas florestas e matas são abundantes em cedro vermelho (cedrela brasiliensis), angelim pedra (andira spectabilis), angico (pipteodenia rigida), guarabu (piltogine discolor), vinhático amarelo (echirosperim Balthazarii), araribá (centiololeum tomentosum), apraju (lecuma procera), as canelas (neclandras), caixeta (vochysia tucanorum), canjerana (cabralea cangerana), gonçalo-alves (astronium speciosa), os ipês (tecoma curialis ipe, tecoma speciosa), os jacarandás (dalhergia nigra macharium Allemani, macharium fivun), os jequitibás, os óleos vermelhos (ayrospermum arytoxilon), a peroba (aspidosperma), a sucupira (bowdichir major) etc.; as árvores de curtume, tais como o angico (peptiodenia rigida), o jequitibá rosa (contratari legalis), a sapucaia (lecythis Piconis), os monjolos (enterolobium), o mangue vermelho (rhysophoro mangle de Linneu) etc.; plantas tintoriais, tais como o urucu (bixa Orellana de Linneu); o araribá (piknea rubescens) etc.; mais de 50 variedades de plantas têxteis, e centenas de plantas medicinais, por demais numerosas, para serem mencionadas.

O Rio de Janeiro ainda está longe de competir com Goiás e Minas Gerais, na indústria da criação do gado, mas, nesse sentido, já se vai evidenciando um grande progresso e, dentro em breve, o gado fluminense será um fator importantíssimo da produção.

O leite que do estado se exporta, principalmente para a Capital Federal, já alcança um total superior a 5.000.000 de litros por ano e, ainda que a sua produção fosse dez vezes maior, não haveria o perigo da falta de mercado e nem também o da falta de remuneração lucrativa.

A fabricação da manteiga e queijo aumenta rapidamente, e a exportação atual representa um valor oficial de mais de £30.000.

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Linhas da Leopoldina Railway para Petrópolis: 1) Um viaduto; 2) Estação de Meio da Serra; 3) Estação de Raiz da Serra; 4) Estação de Alto da Serra
Foto publicada com o texto, página 922. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Minas - Indústrias

O governo do estado tem se esforçado por espalhar informações concernentes à riqueza mineral do Rio de Janeiro. Para levar por diante tal objetivo, foi estabelecido em Niterói um museu, onde existem e são colecionados exemplares e amostras, podendo também ali ministrar-se informações concernentes à situação das várias jazidas, às análises e aos métodos e custo do transporte, bem como a tudo que tiver relação com o assunto.

Já foi verificada a existência de manganês, ouro (em pequena quantidade), ferro magnético, níquel, alumínio, plombagina (N.E.: minério de carbono puro, cristalizado), chumbo, monazita, cobre, greda (N.E.: ou gré, um tipo de calcário branco, muito poroso, usado principalmente na fabricação de giz escolar), talco, areias silicosas, bela e excelente argila para ser usada em cerâmica, cristal de rocha e várias pedras preciosas.

Investigações recentes têm demonstrado a existência de grandes riquezas ainda não exploradas, tais como: ferro magnético (em Parati), capaz de produzir de 70 a 80% de metal puro; mármores de cor e rochas calcárias, barros refratários, caulim, greda, cobalto, estibina, argila plástica, talco, cobre, esmeril, mica, quartzo, sílica, zircônio, turfa etc.

Já há muitos estabelecimentos industriais no estado, mas ainda há lugar para muitos outros, sendo que, nos que existem, podem ser introduzidos muitos melhoramentos. Mais capital e operários são empregados na indústria de tecidos do que em qualquer outra, sendo que os tecidos de algodão têm um lugar mais importante, mostrando um positivo progresso, em confronto com os tecidos de juta e seda.

As maiores destas fábricas estão em Niterói, Petrópolis e Magé, havendo em Niterói duas importantes fábricas, em Petrópolis 4, em Magé 3, em Campos 1, em Pádua 1 e em Itaguaí 1. Em Paracambi e em Parati, foram estabelecidas fábricas de aniagem.

As fábricas de algodão produzem mais de 5.000 toneladas de tecidos por ano; várias fábricas de lã, cerca de 50.000 quilos; os teares de seda, 2.500 quilos; e os de juta, mais de 1.000.000 de quilos de tecidos para sacos.

A indústria dos couros e da carne, em todos os seus variados aspectos, é de importância, entre as indústrias do estado, e o seu progresso está na dependência do desenvolvimento da criação do gado não só no estado do Rio, como também nos estados vizinhos. Disto também depende a indústria frigorífica. A exportação de peles e couros tem mostrado alguma decadência, devendo-se atribuir esse fato ao fechamento de um dos maiores estabelecimentos que exploravam este ramo industrial. Quanto à indústria frigorífica, tem o governo do estado feito e continua a fazer concessões especiais, para animar o seu desenvolvimento.

Niterói, por sua proximidade com a Capital Federal, que tão rapidamente se vai desenvolvendo, poderia assegurar um belo futuro para a indústria frigorífica, porque a capital do estado fluminense bem se poderia tornar o depósito de carnes, frutos, legumes etc., que, conservadas pelo frio, seriam depois dadas ao consumo da capital da República. Outra vantagem que não pode ser desconhecida é que tais estabelecimentos determinariam um suprimento de eletricidade, por um preço insignificante.

Outro elemento da atividade industrial fluminense são as fábricas de fósforos de Niterói e Mendes, a preparação de fumo e a fabricação de cigarros, que estão em relação com muitas outras fábricas importantes.

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O trajeto da Leopoldina Railway em e perto de Nova Friburgo
Foto publicada com o texto, página 923. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A fabricação do álcool e da celulose, relacionada com a fabricação do açúcar, e a manufatura de artigos de couro, de sabões, de sebos, de perfumes, de conservas e de stygia (um explosivo muito parecido com a dinamite, mas superior quanto ao efeito que produz) são outros tantos elementos que contribuem para firmar a riqueza industrial do estado.

O comércio de madeiras representa uma exportação anual de £70.000, que poderia ser extraordinariamente aumentada se se adotassem mais modernos sistemas de transporte.

O desenvolvimento das grandes indústrias será muitíssimo auxiliado pela enorme quantidade de energia elétrica que existe em quase todas as partes do estado, à espera de ser aproveitada. Fizeram-se já enormes instalações que produzem força elétrica para uso da cidade do Rio de Janeiro e de Niterói, mas há ainda numerosas quedas d'água de grande força, absolutamente abandonadas.

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Club dos Diarios (Palácio de Cristal) em Petrópolis
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A indústria do sal, a fabricação da cal de mariscos e a pesca de peixes e camarões merecem menção muito especial, devido à importância que assumem em certas regiões do estado, nas quais constituem senão toda, ao menos quase toda a fonte de renda de grandes massas de população, que, na exploração daqueles produtos, obtém fáceis meios de subsistência, com pequena soma de trabalho.

A indústria do sal está exclusivamente localizada nas margens da lagoa Araruama, e constitui a principal riqueza dos municípios de Cabo Frio, S. Pedro d'Aldeia e Araruama. Muitas salinas existem nesta parte do estado, podendo-se considerar como as mais notáveis, por sua extensão, as do falecido Léger Palmer, as das Peirinas, as do Porto d'Aldeia, as duas primeiras no município de Cabo Frio e a última em S. Pedro d'Aldeia. Esta indústria ocupa, no município de Cabo Frio, mais de 10% da população, e nos municípios de S. Pedro e Araruama, mais de 8% da população ribeirinha da lagoa.

A exportação média anual vai a mais de 80.000 toneladas, no valor aproximado de Rs. 2.500:000$. Esta produção poderá melhorar muito em quantidade e qualidade, desde que os governos do estado e da União se resolvam a proteger os produtores e incitá-los a adotar processos mais modernos e aperfeiçoados, uma vez que os processos que adotam atualmente são os mesmos dos tempos coloniais: isto é, a distribuição das riquíssimas águas de clorureto de sódio por tabuleiros de tabatinga, sobre os quais os raios solares vêm exercer a sua ação, determinando a evaporação da água e conseqüente formação de cristais de sal marinho.

E tão ricas são, em clorureto de sódio, as águas da lagoa Araruama, que, às vezes, no espaço de poucas horas, depois de ter começado o trabalho da fabricação do sal, se pode efetuar farta colheita do produto. A produção do sal está, no Brasil, sujeita a taxa de consumo.

A produção de cal de mariscos é outra fonte de riqueza dos municípios de Cabo Frio e São Pedro d'Aldeia, onde existem muitas caieiras. As caieiras são estabelecimentos destinados ao aproveitamento, por meio da calcinação, de todo o óxido de cálcio (cal) contido na concha dos mariscos, o qual é retirado da lagoa Araruama, que parece constituir um depósito inesgotável de carcaças de moluscos. A exportação da cal de mariscos, para os diferentes pontos da República, ascende a mais de 10.000 toneladas, no valor aproximado de Rs. 1.300:000$000.

A pesca é feita, no estado do Rio, nos municípios de Parati, Angra dos Reis, Mangaratiba e, sobretudo, em Cabo Frio, São Pedro d'Aldeia, Maricá e Saquarema. Em todos estes municípios, o peixe pescado é salgado, para a exportação, mas, no município de Cabo Frio, há algumas fábricas de conservas, em franco progresso. Esse município, se tivesse meios de comunicação rápidos, fáceis e certos, poderia ser o fornecedor de todo o peixe necessário ao consumo da Capital Federal, porque, se enorme é a quantidade que dele sai, muito maior é a que se perde, apodrecendo nas praias, por falta de gente que se empregue no trabalho do preparo do peixe pela salga.

São Pedro d'Aldeia e a localidade conhecida pelo nome de Baixo, em Cabo Frio, entregam ao consumo dos mercados cariocas quantidades verdadeiramente fantásticas de tainhas e ovas, cuja produção atinge o máximo nos meses de junho e julho.

A pesca do camarão representa outra notável indústria que, no estado, tem sua sede ainda nas localidades banhadas pela lagoa de Araruama, sendo de lamentar que só em Cabo Frio estejam estabelecidas umas 4 ou 5 fábricas, insuficientes para o aproveitamento da colheita dos camarões, que, em sua maior parte, são preparados pelo processo primitivo e anti-higiênico da seca.

Entretanto, bastaria a quantidade de camarões que o Baixo e o Itajiru são capazes de produzir diariamente, para abastecer, abundantemente e por baixo preço, os mercados da capital da República, visto como raro é, em Cabo Frio, pagar-se, por litro de camarão, mais de 100 réis.

Para dar saída a todos esses produtos - o sal, a cal, o peixe e o camarão -, há um flotilha de cerca de 30 navios a vela, pertencentes aos estabelecimentos salineiros e produtores de cal ou a particulares, que transportam mensalmente cerca de 12.000 toneladas. Há também alguns vapores que, semanalmente, aportam, várias vezes, a Cabo Frio, de onde saem abarrotados de carga.

Infelizmente, a entrada da barra é de difícil acesso, pelo que a navegação não pode aí apresentar o desenvolvimento que, sem dúvida, teria, se fossem melhoradas as condições do porto.

Não há estradas de ferro que liguem diretamente tão importantes centros de comércio e indústria à Capital Federal e a Niterói. É a Leopoldina Railway que serve aos municípios de Cabo Frio, Aldeia e Araruama, pela estação de Capivari, que dista, respectivamente, 50, 40 e 20 quilômetros daquelas localidades. Espera-se porém que, dentro em pouco, a Estrada de Ferro Maricá leve os seus trilhos até estas riquíssimas paragens, ansiosas por progredir, desenvolvendo as suas riquezas naturais.

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