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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [43-B]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 901 a 910, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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O Porto do Pará: vista geral antes da construção do novo porto pela Port of Pará Co., cuja concessão inclui a construção de cais e todas as outras obras necessárias na zona entre a confluência dos rios Oriboco e Guama, dum lado, e o Mosqueiro, do outro
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Pará (cont.)

A capital

A cidade de Santa Maria de Belém, capital do estado do Pará, fica a 1º26'54" de latitude Sul e a 5º21'31" longitude Oeste do meridiano do Rio de Janeiro. Situada à margem direita do Rio Pará, sobre a Baía de Guajará, a cidade de Belém foi fundada em 1616, por Francisco Caldeira Castello Branco. Dista 138 quilômetros do oceano. Pela sua posição excepcional, ruas e edifícios modernos, importância comercial e industrial, amplo porto dotado de cais e armazéns modernos, muito justamente é Belém do Pará considerada a primeira cidade do Norte do Brasil.

Ainda há 20 anos passados era Belém uma pequena cidade de 50.000 habitantes; nestes poucos anos, porém, se transformou completamente e é hoje uma grande metrópole com 220.000 habitantes, centro de intensa vida comercial, industrial e social.

O traço característico da cidade, situada em terreno plano, é dado pela luxuriante arborização das ruas, praças e jardins públicos e pela pujança da vegetação tropical, que a enquadra. O clima é úmido e quente, mas grandemente amenizado pelos aguaceiros freqüentes e pela brisa do oceano, que reina quase constantemente.

As condições higiênicas da cidade merecem o maior cuidado da Municipalidade; o serviço de limpeza pública é executado, mediante contrato com o município, pela The Pará Public Works Company, que tem o capital de £62.000 e se acha muito bem aparelhada para executar os seus serviços. Todo o lixo retirado das ruas e casas é cremado, para o que existe a Usina de Cremação, propriedade da Municipalidade, mas a cargo da empresa.

A salubridade da cidade de Belém, como foi mostrado no artigo desta obra sobre o Pará, é a maior possível e não sofre na comparação com os outros centros populosos do mundo. A moderna Belém, com as suas ruas bem calçadas e largas e as suas praças convertidas em parques lindíssimos, com ajardinamentos caprichosos, umas e outros elegantemente arborizados e cuidadosamente conservados, mostra bem a amplitude do esforço, que a transformou.

Os edifícios que margeiam as avenidas dos bairros mis modernos são de um bela arquitetura, apropriada às condições climatéricas. Muitas das residências particulares são verdadeiros e luxuosos palacetes. Durante o dia, às horas de maior calor, fica o movimento da cidade limitado ao bairro comercial e zona fronteira à docas; à tarde, porém, enchem-se os parques e avenidas, os tramways circulam apinhados e o movimento se torna intenso, principalmente no famoso Largo da Pólvora, que constitui o Boulevard do Pará.

Belém é dotada de um magnífico serviço de tramways, feito pela The Pará Electric Co., que tem mais de 55 quilômetros de linhas servidas por mais de 100 tramways, de luxuosa disposição interna. A cidade é iluminada a eletricidade, fornecida por duas companhias. Há também iluminação particular a gás, fornecida pela Pará Gas Co. A cidade dispõe de uma extensa rede telefônica. É amplamente suprida de água e tem uma completa rede de esgotos.

Entre os edifícios públicos de Belém, tornam-se dignos de nota o Palácio do Governo, cuja construção remonta ao tempo do marquês de Pombal e constitui um verdadeiro monumento histórico; o Teatro da Paz, um dos mais belos da América do Sul e onde, durante a estação teatral, trabalham sempre ótimas companhias líricas, contratadas pelo governo; o Palácio da Câmara dos Deputados; o palacete do Senado; Intendência Municipal; Quartel do Corpo Municipal de Bombeiros; Asilo de Mendicidade, amplo e formoso edifício, instituição caritativa custeada pela Municipalidade e dirigida pelas Filhas de Sant'Anna; Hospital dos Tuberculosos, elegante e sólido edifício situado em uma colina, em lugar aprazível e higiênico; o vasto e elegante reservatório d'água, que atinge a altura de 54 metros, e muitos outros.

Dos parques de Belém, que são belíssimos, devem citar-se os das praças da República e Visconde do Rio Branco, o encantador Bosque Municipal, orgulho dos paraenses, com largas avenidas arborizadas, fontes, lagos, estátuas, artisticamente dispostos e emoldurados na exuberância da vegetação tropical; e o Jardim Botânico e Zoológico, com belas coleções da flora e fauna da Amazônia.

Entre as numerosas instituições pias e de beneficência, está o Orfanato Municipal, benemérita instituição custeada pelo Município de Belém e onde mais de 100 meninas recebem asilo, alimentação e educação. Esse asilo é dirigido pelas Redentoristas.

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O Porto do Pará: outra seção da frente do porto. A sub-estrutura ficou terminada em 30 de abril de 1912, e os outros trabalhos - emparedamento do cais, dragagem dos canais de chegada, construção de oficinas para consertos com diques flutuantes, aterros, construção de trapiches e lançamento de bóias nos canais - progridem satisfatoriamente
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A instrução pública merece, tanto do estado como do município, a maior atenção. A instrução primária é ministrada no município por 11 grupos escolares, a cargo do estado, e 57 escolas municipais.

Mantido pela Municipalidade, há ainda o Instituto Cívico e Jurídico Paes de Carvalho, instalado em magnífico e confortável edifício e onde é ministrado o ensino secundário. O programa de estudos compreende as seguintes matérias: Português, Geografia, História, Direito Pátrio, Instrução Moral e Cívica e Estudo das Constituições.

O Instituto Pedro Américo, também mantido pela Municipalidade, dá a instrução artística a um número regular de estudantes, que o freqüentam. A instrução secundária é também ministrada no Liceu do Pará, cujo programa compreende três cursos: 1º, curso equivalente ao do Ginásio Nacional; 2º, curso de Agrimensura; 3º, curso comercial.

A instrução técnica e profissional é dada pelo Instituto de Artes Mecânicas do Pará, estabelecimento de instrução gratuita, para menores, e sujeito a um regime militar. Este instituto compreende cinco oficinas: carpintaria, ferraria, alfaiataria, funilaria e sapataria; a esta última estão anexas oficinas de correeiro e curtume.

Neste instituto, ao terminar a sua aprendizagem técnica, são os alunos obrigados a servir durante um ano na milícia estadual. As instalações do instituto são magníficas e funcionam em bons e belos edifícios.

Outra escola técnica, que é uma das melhores da América do Sul, é o Instituto Lauro Sodré. Este instituto dispõe de magníficas instalações, e por sua esplêndida organização desperta a admiração dos visitantes. Possui 110 máquinas para fins diversos; e ali é ministrado gratuitamente o ensino técnico a mais de 400 alunos internos e 100 externos; estes últimos recebem o ensino prático da lavoura. As aulas técnicas abrangem todos os ofícios: impressão, encadernação, decoração e pintura, carpintaria, alfaiataria, curtume, caldeireiro etc. etc.

São também escolas técnicas profissionais de grande valor o Instituto General Bittencourt e o Liceu Benjamin Constant. As Escolas Normais da cidade têm visto o número de seus estudantes matriculados aumentar de ano para ano. Os cursos superiores são dados na Escola de Direito do Pará, na Escola de Farmácia e outras.

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A Port of Pará Company, construtora do novo porto: 1 e 3) Navios descarregando no novo cais; 2) Construção do primeiro trapiche
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Dos serviços a cargo da Municipalidade, convém mencionar o do Corpo de Bombeiros, militarmente organizado com esplêndido quartel e provido de todos os aparelhos, maquinismos e viaturas para o serviço de extinção de incêndios.

O matadouro está instalado com todos os requisitos modernos, e ali se observam todos os cuidados higiênicos, indispensáveis em tais estabelecimentos. O mercado é vasto e inteiramente construído de ferro. O município é administrado por um Conselho composto de um intendente, que é o chefe do Executivo do município, e 12 vogais.

Belém é dotada de um magnífico porto, com extenso cais de alvenaria de pedra, onde podem atracar navios de qualquer calado, margeado por grandes armazéns para carga, descarga e depósito de mercadorias.

Belém é o centro onde afluem os produtos do interior para a exportação. Os artigos de importação são recebidos na praça de Belém por casas importantíssimas, que os distribuem pelo interior. Muito naturalmente, a vida comercial da grande metrópole está concentrada em torno do produto soberano, a borracha. À borracha se prendem todas as transações; da posição do mercado da borracha dependem as condições financeiras da praça.

A indústria da cidade de Belém é representada por fábricas de beneficiamento de produtos nacionais, olarias importantes, serrarias, fábrica de cerveja, fábricas de gelo etc. etc. Os principais jornais da capital, e também do estado, são a Provincia do Pará, a Folha do Norte e o Jornal, que, excelentemente organizados e redigidos, dispõem, todos três, de amplos serviços de informação.

Na cidade de Belém, contam-se atualmente 53 ruas, 22 largos e praças, 52 travessas e 11 avenidas, contendo, ao todo, mais de 17.000 casas. Belém é a sede do Arcebispado do Pará e do Tribunal Superior de Justiça.

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A Port of Pará Company, construtora do novo porto: 1) Draga de sucção Honorio Bicalho; 2) Transporte de mercadorias do trapiche; 3) O dique flutuante em Val-de-Cães; 4) Draga de baldes David Campista
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A igreja do Pará

A primeira freguesia do estado do Pará foi criada, sob a invocação de Nossa Senhora da Graça, no mesmo ano em que foi fundada a capitania, isto é, em 1616. O Pará foi elevado à categoria de bispado pela bula Copiosus in misericordia, do papa Clemente XI, de 4 de março de 1719; e à de arcebispado, por decreto de Leão XIII, datado de 1º de maio de 1906.

Teve os seguintes bispos: 1º, d. fr. Bartholomeu do Pilar; 2º, d. fr. Guilherme de São José; 3º, d. fr. Miguel de Bulhões e Souza; 4º, d. fr. João de São José e Queiroz; 5º, d. fr. João Evangelista Pereira; 6º, d. fr. Caetano Brandão; 7º, d. Manuel de Almeida Carvalho; 8º d. Romuldo de Souza Coelho; 9º, d. José Affonso de Moraes Torres; 10º, d. Antonio de Macedo Costa; 11º, d. Jeronymo Thomé da Silva; 12º, d. Antonio Manuel de Castilho Brandão e 13º, d. Francisco do Rego Maia.

O primeiro arcebispo é d. Santino Maria da Silva Coutinho, que fez a sua entrada solene no dia 29 de junho de 1907, e, ilustrado, modesto e prudente, é muitíssimo estimado pelos seus arquidiocesanos.

O primeiro sacerdote que desempenhou na capitania as funções do seu sagrado ministério foi o padre Manuel Figueira de Mendonça. O bispo d. Romualdo de Souza Coelho era paraense. O Arcebispado do Pará compreende também os bispados do Amazonas, do Maranhão e do Piauí, assim como as prelazias de Santarém e do Araguaia, em território paraense, e do Rio Negro, no amazonense.

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London & Brazilian Bank, Ltd., Belém do Pará
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O porto do Pará

A cidade do Pará, situada na boca do Amazonas, é o primeiro ponto na entrada do imenso vale regado por este rio, cuja bacia tem uma extensão de mais de 7.000.000 de quilômetros quadrados. A importância do porto do Pará, por esta razão, começou a aumentar de modo extraordinariamente rápido, quando foi aberta ao mundo a navegação do Amazonas, assim posto em comunicação direta com a Europa e os Estados Unidos.

A população aumentou de 35.000 habitantes, há cerca de 30 anos, para mais de 200.000, atualmente. Este rápido desenvolvimento da cidade e do estado do Pará, em breve, tornou patente não serem os recursos do porto adequados ao seu crescente movimento. Tornava-se necessário, pois, melhorar o porto e aparelhá-lo com os recursos modernos.

A concessão para as obras a efetuar no porto foi obtida pela Port of Pará Company, que tem a seu cargo os três seguintes grandes empreendimentos, fatores importantes no desenvolvimento do vale amazônico nos estados do Pará e Amazonas: (a) construção do porto, com todos os aparelhos modernos para o rápido e econômico movimento de mercadorias; (b) construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré; (c) organização de uma companhia de navegação fluvial, chamada Companhia Navegação do Amazonas.

A concessão da Port of Pará Company, obtida do Governo Federal Brasileiro, lhe dá o monopólio dos serviços do porto, construção e exploração comercial dos cais, armazéns e outros serviços no Pará, em uma zona de 18 milhas na direção do oceano, e de 12 milhas na direção oposta, por um prazo de 65 anos, prazo este que será estendido a 90 anos depois de completada a segunda parte das obras.

As obras têm o cunho moderno, estando o porto provido com os melhores aparelhos, para carga e descarga de navios e para armazenagem e distribuição de mercadorias, e, de todos os pontos de vista, igual aos mais modernos portos da Europa, tais como Liverpool, Antuérpia e Hamburgo. Os melhoramentos do porto acham-se atualmente prestes a ser concluídos. Navios do maior calado podem vir do antigo ancoradouro, profundo, para junto da nova muralha do cais, por um canal recentemente aberto, qualquer que seja a maré.

Presentemente, acham-se concluídos os seguintes trabalhos: 87 acres conquistados ao rio por meio de aterro; 4.133 pés de muralhas para o cais, para atracação de transatlânticos, com uma profundidade, ao longo do cais, de 30 pés, em marés baixas ordinárias; 722 pés de muralha para cais, para navios fluviais, com uma profundidade, ao longo do cais, de 12 pés; 1.500 pés de muralha para cais, para navios fluviais, com uma profundidade, ao longo do cais, de 9 pés e 9 polegadas; 12 armazéns, com uma superfície coberta de 28.694 jardas quadradas; 7 guindastes elétricos, com capacidade para 5 toneladas; vários pequenos guindastes a vapor; usina de força e luz elétrica; facilidades para abastecimento, carga, descarga e aguada dos navios; oficinas para conserto de navios.

Além destas, acham-se em construção as seguintes obras: 2 armazéns de dois pavimentos, com 394 pés x 66 pés, e 4 elevadores elétricos, com capacidade para 1½ tonelada, assim como outros aparelhos elétricos para o transporte das mercadorias; 2 armazéns de um pavimento, com 328 pés x 66 pés; 5 guinastes elétricos, com capacidade de 3 toneladas, cada um, e 1 com capacidade para 5 toneladas; um grande depósito para inflamáveis.

Em uma propriedade fronteira à de Val-de Cães, adquirida pela companhia do porto, cerca de três milhas ao Norte da cidade do Pará, foram instaladas oficinas completas para reparo de navios, compreendendo duas docas flutuantes e três carreiras para navios.

As docas flutuantes, cujos aparelhos são movidos a eletricidade, destinam-se a navios fluviais e têm, cada uma, capacidade para 1.700 toneladas de peso morto. As carreiras, também providas de aparelhos elétricos, têm capacidade para receber navios até 800 toneladas de peso morto, em qualquer estado da maré.

As oficinas para reparos compreendem vários edifícios, incluindo oficina mecânica, ferraria, fundição, oficinas para chapear, para modelar e ajustar, escritórios e depósitos, todas providas com o melhor e mais eficiente maquinismo movido por eletricidade, trazida esta pela linha de transmissão da companhia, da usina geradora, também propriedade da empresa e situada na cidade do Pará.

A primeira seção das obras do porto foi oficialmente inaugurada em 12 de outubro de 1909 e, desde essa época, atracam os navios ao cais, sendo todo o movimento feito a contento das autoridades da Alfândega, agências de navegação e mais interessados.

A importância da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré foi logo reconhecida pela companhia, a qual, desejando adquirir para si as grandes vantagens que esta estrada trará, resolveu comprar cerca de metade das ações da empresa. A construção da Madeira-Mamoré, que se estende de Porto Velho, no Rio Madeira, até Guajará-Mirim, no Rio Mamoré, contornando a série de cataratas que impedem a navegação do Madeira, tem um desenvolvimento de 340 quilômetros, estando já toda a extensão de sua linha aberta ao tráfego.

Esta estrada de ferro, ligando a navegação fluvial do Amazonas e seus tributários com os rios navegáveis da Bolívia, virá desenvolver uma enorme e fértil zona e dará também lugar ao aproveitamento das riquezas minerais da vertente oriental dos Andes.

Para estabelecer comunicações entre esta estrada de ferro e o Pará, foi então organizada a Companhia de Navegação do Amazonas, que tem em construção uma frota de 12 paquetes de dois hélices e de 1.000 toneladas, cada um, destinados a estabelecer as comunicações entre a cidade do Pará e os rios Madeira, Purus e Juruá, até onde forem eles navegáveis durante todo o ano. Daí para cima, uma frota de 14 vapores, com rodas à proa e de pequeno calado, transportará as mercadorias e os passageiros aos pequenos tributários do vale amazônico.

Esta última companhia trará um grande acréscimo de tráfego ao porto do Pará e naturalmente virá baratear os preços de transporte e, portanto, desenvolver o comércio com as regiões superiores da Amazônia.

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Agência do Banco do Brasil em Belém
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Associação Comercial do Pará

A Associação Comercial do Pará foi instalada na cidade do Pará a 1º de novembro de 1864, com a denominação de Praça do Comércio do Pará. Com a reforma de seus estatutos, aprovados em sessão de assembléia geral de 19 de maio de 1899, passou a sociedade a ter a denominação de Associação Comercial do Pará.

O fim da associação é, como o seu nome o indica, proporcionar ao comércio e à indústria um centro de apoio e de auxílio, que, investigando as suas sucessidades, defenda os seus direitos e promova quanto possa contribuir para o seu desenvolvimento.

No desempenho desta vasta tarefa, tem sempre a Associação Comercial do Pará se esforçado por bem cumprir o seu objetivo. Assim é que, entre outras coisas, já construiu um edifício para a Bolsa, que veio prestar relevante serviços ao comércio paraense.

Na crise por que tem passado nestes últimos anos o comércio de borracha no Pará, tem também a associação se distinguido como defensora da classe que representa. Em 31 de dezembro de 1911, o quadro social se compunha de 201 sócios.

A diretoria é constituída pelos srs. barão de Souza Lages, presidente; Carlos Lopes Larranagua, vice-presidente; Joaquim G. Gonçalves Vianna, 1º secretário; Eduardo Neale, 2º secretário; José Maciel Guerreiro, tesoureiro; e srs. Theodoro H. White, coronel José Pinto Ribeiro, Manoel da Silva Araujo e Carlos Delforge, diretores.

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London & River Plate Bank, Ltd., a sucursal de Belém
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Finanças, indústria e comércio

London and Brazilian Bank, Limited - Este importante banco, com sede em Londres, tem sucursais nas principais cidades do Brasil. No Pará, a sucursal foi fundada em 1874 e fica situada à Rua 15 de Novembro, esquina da Travessa Campos Salles; o seu gerente é o sr. James Ross. Em outra parte desta obra, encontra-se, pormenorizado, o movimento e o histórico desta importante instituição bancária.

Agência do Banco do Brasil no Pará - É, em importância, a segunda agência do Banco do Brasil. Fundada há cinco anos, tem amparado quanto possível o grande produto de exportação do Norte do Brasil: a borracha. Ao comércio paraense, a sua instalação foi de profícuos resultados e até hoje auxilia eficazmente, não só esse ramo de atividade, como também a indústria. Seu gerente atual é o sr. Agostinho Militão Costa, honrado e provecto funcionário do banco, há perto de 30 anos. Em outra seção deste livro se encontra minucioso artigo sobre esta importante instituição bancária.

London and River Plate Bank, Limited - Esta importante instituição bancária, com sede em Londres, possui sucursais nos centros mais importantes do Brasil. Em outra parte desta obra damos o histórico e o movimento deste banco. O gerente da sucursal no Pará é o sr. J. S. Cole.

Banco de Crédito Popular - O Banco de Crédito Popular, que em 1891 foi fundado e instalado em Belém do Pará, com a denominação de Sociedade de Crédito Popular, começou a funcionar nessa época com o capital de Rs. 300:000$000. Este capital, por diversas vezes aumentado, é hoje de Rs. 3.000:000$000, representado por 30.000 ações nominativas de Rs. 100$000 cada uma. Seu fundo de reserva eleva-se a Rs. 548:574$800. Os dividendos distribuídos desde sua fundação elevam-se à respeitável soma de Rs. 2.548:597$800.

Suas transações, durante os vinte anos, que se têm escoado desde a instalação deste estabelecimento de crédito, têm sido sempre constantes e progressivas nas carteiras de descontos de letras da terra e de câmbio, empréstimos garantidos por hipotecas de bens de raiz, cauções de títulos de firma, valor comercial etc.

Emite este banco cartas de crédito dentro do país e no estrangeiro, sobre seus correspondentes; ocupa-se de cobranças de todo o gênero, por conta de terceiros; realiza pagamentos por telegrama, encarrega-se da locação de prédios e do recebimento dos respectivos aluguéis; incumbe-se da compra de venda de títulos etc. Paga juros sobre dinheiro em conta-corrente com retiradas livres e a prazo fixo, às seguintes taxas: letras a 3 meses, 3%; a 6 meses, 4% e a 12 meses, 5% ao ano.

Em 1911 o banco fez hipotecas no valor de Rs. 1.087:080$599; descontou letras no valor de Rs. 734:711$730; os depósitos em garantia, caução etc. elevam-se a Rs. 3.788:044$564; o dinheiro em caixa era em 31 de dezembro de 1911 Rs. 1.100:322$054.

Seus correspondentes no estrangeiro e no Brasil são os seguintes: em Londres, Crédit Lyonnais; em Paris, Crédit Lyonnais; em Madrid, Crédit Lyonnais; em Lisboa, Crédit Franco-Portuguais; no Porto, Crédit Franco-Portuguais; em Roma, Banca Commerciale Italiana; em Berlim, Dresdner Bank, e Deutsche Bank, em c/c com o Crédit Lyonnais de Paris; no Rio de Janeiro, Banco do Comércio; na Bahia, Banco da Bahia; em Pernambuco, Banco do Recife; no Maranhão, Jorge & Santos; no Ceará, Banco do Ceará; em Camocim, J. Felinto Cvalcante; em Manaus, Banco Amazonense.

A diretoria do banco é formada pelos srs. Antonio Alves da Silva, presidente; Augusto de Mattos Pereira, vice-presidente; e Alberto de Miranda Pombo, secretário.

Garantia da Amazônia - A carreira da Garantia da Amazônia, Sociedade Mútua de Seguros, tem sido, de todos os pontos de vista, admirável. Foi fundada em 1897 como Sociedade Mútua, pelo sr. J. A. do Amorim, a quem o falecido rei d. Carlos de Portugal conferiu o título de visconde de Monte Redondo.

O sucesso obtido pela Garantia da Amazônia lhe foi logo a princípio granjeado, pela confiança depositada pelo público em sua diretoria, de que faz parte até hoje, como diretor-gerente e membro mais influente, o referido visconde de Monte Redondo.

Durante o período relativamente curto de sua existência, até fins de 1911, havia a sociedade pago, por falecimento de segurados, mais de Rs. 9.400:000$000; em benefício de possuidores de apólices, Rs. 245:666$300; e por vencimento de apólices, Rs. 1.128:913$300. A companhia tem acumuladas as seguintes importantes somas: lucros para futura distribuição, Rs. 2.122:464$905; reserva especial, Rs. 1.100:000$000; e reservas técnicas, Rs. 9.401:810$075.

A Garantia da Amazônia faz um mínimo de dispêndio, a par de constituição de reservas suplementares e de uma reserva técnica em excesso das mais rigorosas exigências científicas. A sociedade emite as suas apólices sobre bases liberalíssimas e empresta dinheiro sobre as suas próprias apólices a juro módico, pagando os sinistros à vista de provas satisfatórias dos falecimentos.

A sede da companhia fica situada no Pará, no Bulevar da República, 48; há também escritórios no Rio de Janeiro, à Avenida Rio branco, 43, e em Pernambuco, à Rua 15 de Novembro, 30. A sociedade tem banqueiros e correspondentes em todos os estados do Brasil.

Brazil Seguradora e Edificadora - A Sociedade Anônima Brazil Seguradora e Edificadora foi fundada em 14 de junho de 1910 e autorizada a funcionar por decreto do governo federal, nº 8.229, de 15 de setembro do mesmo ano. A sociedade tem a sua sede no Pará e o seu capital é de Rs. 1.000:000$000, representado por 10.000 ações de Rs. 100$000 cada uma. Tem a sociedade duas seções: uma de seguros terrestres e marítimos; outra de construções, mediante pequenas anuidades, cobradas durante determinado tempo e condições. Em 1911, a receita de prêmios de seguros foi de Rs. 649:507$573, elevando-se os sinistros pagos a Rs. 222:372$470.

Mantém também a Sociedade Brazil Seguradora e Edificadora agências em Manaus, Camocim e Rio de Janeiro. A sede da sociedade acha-se em edifício apropriado, à Rua 15 de Novembro, 52. Sua diretoria é constituída pelos srs. Francisco Antonio de Abreu, presidente; Cassio R. dos Reis, secretário; Antonio Faciola, tesoureiro; e José Carvalho Lima, gerente.

Companhia de Seguros Paraense - A Companhia de Seguros Paraense foi fundada a 8 de julho de 1878 e é hoje uma das mais prósperas do país. Fundada com um capital de apenas Rs. 100:000$000, está este hoje elevado a Rs. 600:000$000. Para mostrar a importância desta empresa, basta considerar que, em 1911, as responsabilidades por seguros assumidas pela companhia se elevavam a Rs. 75.037:256$850, sendo a sua receita total de prêmios de seguros terrestres e marítimos, nesse mesmo ano, de Rs. 537:008$497, e os sinistros pagos, durante o referido ano, de Rs. 303:021$302.

A companhia mantém agências em Pernambuco e em Manaus, as quais se acham também em período de grande prosperidade. A diretoria da companhia é constituída pelos srs. José de Mendonça Sobrinho, presidente; João da Rocha Fernandes, secretário; e Amelio de Figueiredo, tesoureiro. A comissão fiscal se compõe dos srs. Felippe de Oliveira Condurú, Carlos Maria Gonçalves Barbosa e Constantino Gomes de Carvalho.

Companhia de Seguros Terrestres e Marítimos Lealdade - A Companhia de Seguros Terrestres e Marítimos Lealdade foi fundada a 16 de março de 1893, com o capital de Rs. 1.000:000$000, dividido em 10.000 ações de Rs. 100$000 cada uma. Fez apenas uma chamada de 50% do capital, ou seja, de Rs. 500:000$000 em dinheiro, integralizando o restante com lucros acumulados, sete anos depois da sua fundação, quando já havia distribuído ao seus acionistas dividendos no total de Rs. 730:000$000, isto é, 146% do capital em dinheiro com que haviam entrado.

Os dividendos distribuídos até 31 de dezembro de 1911 montam a um total de Rs. 1.650:000$000, o que prova bem o tino administrativo com que tem sido dirigida esta importante empresa de seguros, uma das que gozam de melhor reputação no país. O total de sinistros pagos, desde a sua fundação até 31 de dezembro de 1911, é de Rs. 4.707:910$470; os fundos de reserva elevam-se a Rs. 425:000$000.

O ativo da companhia é na maior parte representado em apólices federais, títulos dos empréstimos estadual e municipal do Pará e prédios no valor aproximado de Rs. 950:000$000. A diretoria da Companhia Lealdade é constituída pelos srs. Van-Dyck Amanajás Tocantins, A. F. de Souza & Cia. e João Pessoa de Queiroz.

Lloyd Paraense - Esta companhia de seguros, uma das que de melhor reputação goza na praça do Pará, foi fundada em 1899. Opera sobre seguros marítimos e terrestres, tendo também uma seção de seguros de vida. O seu capital realizado é de Rs. 1.200:000$000, possuindo também reservas técnicas no valor de Rs. 1.309:677$587. A sua diretoria é constituída pelos srs. Placido Felippe Ribeiro, Joaquim Gomes Nogueira, Heitor Fernandes e Pedro Augusto de Oliveira.

Amazônia - A Amazônia, Companhia de Seguros Terrestres e Marítimos, foi fundada em 1894. O capital realizado da empresa é de Rs. 1.000:000$000, e os seus fundos de reserva elevam-se a Rs. 549:200$446. A sua diretoria é formada pelos srs. visconde de Monte Redondo, Antonio Rodrigues Alves e Alfredo José Pereira.

Drs. Samuel e José Maria Mac-Dowell - Os drs. Samuel Mac-Dowell e José Maria Mac-Dowell são reputados advogados e consultores jurídicos muito conhecidos no Norte do Brasil. O dr. Samuel Mac-Dowell é doutor em Direito, professor da Faculdade de Direito do Recife, membro da Sociedade de Legislação Comparada e da Sociedade de estudos Legislativos de Paris, etc.; o dr. José Maria Mac-Dowell é bacharel em Direito.

Os drs. Mac-Dowell têm seu escritório à Travessa Campos Salles, 10, e são consultores jurídicos e advogados das principais empresas paraenses, entre elas do London and River Plaate Bank, Limited; London and Brazilian Bank, Limited; Banco de Crédito Popular; Zarges, Berringer & Co.; Lloyd brasileiro; Booth & Co.; Booth Steamship Company, Limited; Hamburg Amerika Linie e Hamburg Sudamerikanische Dampfschifffahrts Gesellschaft; The Amazon River Steam Navigation Company (1911), Limited; Port of Pará; Municipality of Pará Improvements, Limited; Pará Public Works, Limited; Suarez Hermanos and Company, Limited; Fábrica de Cerveja Paraense; Companhia de Seguros Marítimos e Terrestres Alliança; S. Pearson and Son, Limited; Madeira-Mamoré Railway Company.

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Banco de Crédito Popular, Belém
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