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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [40-B]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 755 a 760, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Institutos de educação: 1) Escola de Barro Preto; 2) Ginásio Mineiro, Barbacena; 3) Colégio em S. João d'El-Rei; 4) Escola em Colafata; 5) Escola em Pitangui; 6) Escola em Leopoldina
Foto publicada com o texto, página 752. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Minas Gerais (cont.)

A Capital

Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, está situada quase ao centro deste, em um planalto a 920 m acima do nível do mar, 19º55'2" de latitude Sul e 1º'0'6" de longitude Oeste do meridiano do Rio de Janeiro. O seu território pertence ao município de Sabará, célebre nos tempos coloniais pelas minas de ouro, que abasteciam fartamente, com as de Ouro Preto (Vila Rica), Mariana (Vila do Ribeirão do Cano), Caeté (Vila Nova da Rainha) e S. João d'El-Rei, o erário da metrópole; constituía o distrito do Curral d'El-Rei, muito importante outrora, por ser a invernada das boiadas que desciam das zonas pastoris. É rica de minerais, principalmente ferro, de que há poderosas jazidas na serra do Curral, a alguns quilômetros da cidade.

A área de Belo Horizonte, demarcada na carta cadastral, é de 33.746.185 m², sendo a urbana de 8.815.382 m² e a suburbana de 24.930.803 m². O município compreende apenas o distrito da cidade, com os núcleos coloniais e subúrbios, dividido em duas paróquias atualmente: N. S. da Boa Viagem, que tem por matriz a secular igreja do antigo arraial do Curral d'El-Rei, e S. José, cuja sede é um magnífico templo construído modernamente, com uma subvenção do Estado, pelos padres redentoristas. A comarca da capital abrange, porém, os municípios de Santa Quitéria, Contagem e Vila Nova de Lima, vizinhos de Belo Horizonte e, como este, pertencentes outrora ao de Sabará.

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Meninos de colégio
Foto publicada com o texto, página 754. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Data de 12 de dezembro de 1897 a instalação do governo do estado em Belo Horizonte, mandada construir para ser a capital, por lei votada no Congresso Estadual em fins de 1893, tendo os trabalhos de construção começado em fevereiro de 1894. O tempo de construção foi, pois, inferior a quatro anos.

O governo mineiro, considerando que Ouro Preto, a velha sede do governo de Minas desde a Colônia, não preenchia, pelas suas condições topográficas, as exigências de uma capital moderna, resolveu transferir a sua sede para outro ponto melhor, incumbindo - do estudo de várias localidades que preenchessem as desejadas condições – a uma comissão técnica chefiada pelo engenheiro sr. Aarão Reis.

Essa comissão apresentou cuidadoso parecer, depois de meses de estudos, submetendo à escolha dos poderes públicos cinco localidades, cujas condições particulares analisou: Juiz de Fora (cidade), Várzea do Marçal (arredores de S. João d'El-Rei), Barbacena (cidade), Paraúna, no Norte do estado, e o arraial do Curral d'El-Rei (nome mudado, antes da mudança da capital, para Belo Horizonte).

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Uma vista de Belo Horizonte
Foto publicada com o texto, página 755. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A mudança da capital da cidade de Ouro Preto era idéia, aliás, que vinha sendo propugnada de longa data, e começou pelo padre Paraizo, que apresentou um projeto nesse sentido, como deputado, à Assembléia Provincial, no tempo do Império, e a terminar pelo de Alexandre Stockler, que foi, na República, o mais ardoroso propagandista desta aspiração.

A sua realização, entretanto, não foi sem dificuldades e protestos naturais dos ouro-pretanos, tendo sido necessário, para decidir do respectivo projeto, transferir provisoriamente a sede dos poderes públicos para Barbacena, a fim de que o ramo legislativo deliberasse sem coação. Foi assim votada, sendo presidente do estado o dr. Affonso Penna, mais tarde presidente da República, a lei da mudança da capital do estado, para um dos cinco lugares citados.

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Edifícios públicos em Belo Horizonte: 1) Teatro Municipal; 2) Igreja protestante; 3) Departamento de Agricultura; 4) Imprensa Oficial; 5) Ministério das Finanças
Foto publicada com o texto, página 756. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A escolha de Belo Horizonte é um curioso episódio dessa campanha. Dividindo-se as correntes de opiniões, com maior ou menor vulto, pelas várias localidades, pleiteando cada uma pela sua preferência, era, entretanto, de mais peso a que se inclinava para a escolha da Varzea do Marçal, na qual se encontravam elementos mais favoráveis à realização imediata do empreendimento; Paraúna ficou breve fora de combate; Juiz de Fora e Barbacena tinham fortes adeptos; Belo Horizonte, apesar das suas excelentes condições, tinha contra si a extensão das obras a realizar, o que tornava mais custosa e demorada a construção.

Justamente por isso, os defensores da velha capital, vendo perdida a primeira batalha com a decretação da mudança pelo Congresso Legislativo, passaram a pleitear a localização em Belo Horizonte, reforçando as fileiras dos partidários deste, convencidos de que a construção ali não se ultimaria nos quatro anos fixados em lei e esta caducaria, se tal se desse. Era o último estratagema de guerra. A escolha extremou-se entre Várzea do Marçal e Belo Horizonte e decidiu-se finalmente no Congresso mineiro em favor desta, por um voto - de um senador ouro-pretano, que estava enfermo e que compareceu no dia para votar, carregado em uma cadeira. Este senador faleceu pouco tempo depois dessa memorável votação.

O presidente Affonso Penna fez, porém, atacar vigorosamente os trabalhos da construção e em 1897, graças ao esforço e devotamento da comissão construtora, chefiada pelo engenheiro Aarão Reis (a quem sucedeu mais tarde o engenheiro Francisco Bicalho) e da qual fizeram parte profissionais de grande valor, a nova capital era inaugurada, com todos os seus admiráveis serviços de água, luz, esgotos etc., com todos os seus belos edifícios públicos, as suas amplas ruas e avenidas e grande soma de edificações particulares.

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Belo Horizonte, com a vista dos Correios
Foto publicada com o texto, página 757. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Como homenagem à ação decisiva do presidente Affonso Penna no êxito desse empreendimento, foi dada à mais importante avenida da nova capital o nome do devotado estadista. Foi a única personalidade viva que teve o nome nas ruas de Belo Horizonte. Quatro anos mais tarde, foi dado o nome de outro vivo - o de Alexandre Stockler, a uma praça da cidade.

Mera cidade oficial no seu início, Belo Horizonte progrediu rapidamente; a sua população, pequena e esparsa por extensa área, aumentou desde cedo; em 1900 acusava 12.000 habitantes, 15.000 em 1902, 18.000 em 1905, 25.000 em 1909, pelo censo municipal. Hoje deve ter cerca de 30.000.

Possui numerosas e importantes indústrias, com um operariado já avultado. Todo os dias surgem novas iniciativas. O comércio tem certa importância, havendo casas com um movimento anual superior a Rs. 1.000:000$000.

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1 e 2) Os jardins do palácio presidencial; 3 e 4) Jardins da Praça Liberdade
Foto publicada com o texto, página 757. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A cidade estende-se por um terreno levemente acidentado, com pequenos planos interpostos na série de elegantes colinas. As ruas, todas arborizadas, cruzam-se aí em xadrez, com 20 e 25 metros de largura; a espaços, abrem-se lindas praças ajardinadas; e amplas avenidas, de 30 e 35 m, cortam de distância em distância, em diagonal, esse tabuleiro.

A Avenida Affonso Penna atravessa, também em diagonal, a cidade, com 3.000 metros de extensão e 50 de largura, tendo seis renques de árvores. A perspectiva da cidade é belíssima. Do traçado de Belo Horizonte, disse o arquiteto francês M. Bouvard, que a visitou em 1910, que "não havia ali que aumentar nem que diminuir".

A edificação desenvolve-se febrilmente; nestes últimos tempos, a média da construção é de 22 por dia. Calcula-se o número atual de prédios em 5.000. Há, porém, ainda uma ampla zona a construir, somente na periferia, pois que a cidade foi traçada para 200.000 habitantes, com todos os serviços.

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O reservatório de água, Belo Horizonte
Foto publicada com o texto, página 759. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Os serviços de águas, esgotos, arborização, nomenclatura de ruas e numeração de casas são aperfeiçoadíssimos e alguns deles originais. A nomenclatura das ruas é sistemática e compreende, por quarteirões e zonas determinadas, as figuras e fatos capitais da história, da geografia, da etnografia, das artes, da literatura etc., do país e do estado, com a característica de não permitir a consagração, em nomes de logradouros públicos, de indivíduos vivos.

Foram exceção única o de Affonso Penna, agora falecido, e o de Alexandre Stockler. O marechal Floriano Peixoto, os drs. João Pinheiro e Silviano Brandão, ilustres estadistas, e agora Rio Branco, só depois de mortos receberam essa homenagem. A numeração das casas é também interessante: o número do prédio corresponde ao número de metros contados da estaca inicial da rua até a porta onde está a placa indicadora.

Belo Horizonte é iluminada a luz elétrica e tem desenvolvida rede de carris elétricos e de telefones. Possui um grande parque, em cuja construção foram aproveitados interessantes acidentes topográficos locais, e que ocupa, no centro da cidade, uma área aproximadamente de 572.400 m².

Há, entre os edifícios públicos e particulares, muitos de valor e de gosto; foi, pode-se dizer, uma preocupação da Comissão Construtora da Nova Capital, a originalidade arquitetônica. Dos primeiros destacam-se o palácio presidencial, as secretarias do Estado, o Tribunal da Relação, o Quartel da Força Policial, residências oficiais dos secretários de governo, a Escola Normal, a Imprensa Oficial, a Estação Distribuidora de Eletricidade, a Estação da E. F. Central, a Delegacia Fiscal e o Correio, estes três últimos da União. Além dos dois templos já referidos, a cidade tem quatro pequenas e elegantes capelas.

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A Escola Normal, Belo Horizonte
Foto publicada com o texto, página 759. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Belo Horizonte possui os seguintes institutos de ensino, de caridade e de arte: Faculdade de Direito, Escola de Engenharia, Faculdade de Medicina e Farmácia (recém-criada), Escola de Odontologia, Escola Normal-Modelo, Ginásio do Estado, Escola de Música, Escola de Artífices (federal), Biblioteca Pública, Curso de Comércio (criado pela Associação de Empregados no Comércio), Hospital de Misericórdia, Teatro Municipal e vários estabelecimentos particulares de instrução.

O Clube Belo Horizonte, belamente instalado, é o principal centro da vida elegante da cidade. Há quatro folhas diárias. A capital é sede de dois batalhões de polícia e de duas unidades do Exército Federal.

A poucos quilômetros da cidade estão a colônia de Jatobá e a fazenda estadual da Gameleira, cridas pelo presidente João Pinheiro, organizações-modelo que constituem hoje um ponto obrigado de visita e que têm exercido grande influência na lavoura do estado.

Há nos arredores excelentes sítios. O bairro da Serra, sobre ser um dos mais pitorescos subúrbios de Belo Horizonte, é recomendado pelo seu clima milagroso. A 16 quilômetros da capital, transpondo a serra do Curral, está Vila Nova de Lima, onde se encontra a famosa mineração de Morro Velho, propriedade de uma companhia inglesa e considerada, pela importância técnica das suas instalações, a terceira do mundo.

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Ruas e logradouros públicos, Belo Horizonte: 1) Praça Liberdade; 2) Praça Tiradentes, com a estação dos bondes; 3) Avenida João Pinheiro; 4) Praça da Estação; 5) Avenida Álvares Cabral) 6) Avenida Affonso Penna
Foto publicada com o texto, página 758. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A capital do estado de Minas Gerais dista da capital da República 605 km, pela E. F. Central do Brasil, sendo até há pouco tempo o término de um pequeno ramal que parte da estação de General Carneiro - um belo e original modelo arquitetônico - por ali. Hoje, é o ponto de partida também de um trecho ferroviário ligando a capital à estrada de ferro Oeste de Minas e, por meio desta, ao Oeste do estado e à E. de F. de Goiás.

Belo Horizonte é governada por um prefeito nomeado pelo presidente do Estado e assistido, para os efeitos orçamentários, de um Conselho Deliberativo eleito pelo voto popular. O orçamento municipal foi, em 1911, de Rs. 876:584$000.

A formosa cidade, cuja construção custou aos cofres do estado Rs. 33.000:000$000, em grande parte resgatados, tem hoje um capital de cerca de Rs. 100.000:000$000 de particulares empregados no comércio, nas indústrias, nas edificações. E é, pela beleza do seu traçado e dos seus sítios, pelo aperfeiçoamento dos seus serviços, pela evolução do seu trabalho, uma das mais interessantes capitais do Brasil.

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Conselho Municipal. Belo Horizonte: 1) Dr. Alcides Baptista; 2) Dr. Olyntho Deodato dos Reis Meireles (prefeito); 3) Major Narcizo Coelho; 4) Major Alberto Cintra; 5) Dr. Pedro Segaud; 6) Professor Benjamin Flores; 7) Senador dr. Levindo Ferreira Lopes (presidente do Conselho Deliberativo); 8) dr. José Pedro Drummond
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