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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [39-H]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 731 a 738, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Companhia Campineira de Tração, Luz e Força: 1) Interior da usina elétrica; 2) A sede da companhia; 3) Vista do açude e canal; 4) A usina
Foto-montagem publicada na página 734

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Campinas

Campinas foi algum tempo a cidade principal do Estado e ainda ocupa um lugar de destaque. Acha-se no centro de um rico distrito cafeeiro e conta cerca de 100.000 habitantes. Cidade bem traçada, com bom suprimento d'água potável e farta iluminação, deixa agradável impressão no espírito do visitante, fato este que sem dúvida lhe valeu o cognome de Princesa do Oeste.

Entre os seus mais notáveis estabelecimentos, figuram o Teatro S. Carlos, grande e bem delineado edifício; a estação da Estrada de Ferro Paulista, de estilo normando e com uma torre quadrangular; a Câmara Municipal em linhas simples, mas nobres; a Igreja de N. S. da Conceição, edifício de estilo romano, mais ou menos igual ao da Igreja da Glória no Rio de Janeiro; e a Escola Corrêa de Mello.

O Jardim Público e o prado de corridas são bem dignos de uma visita, assim como o Mercado e o Matadouro, sendo o último o mais belo deste gênero no Estado. A catedral de Campinas, iluminada a luz elétrica, pavimentada com mosaicos de madeira e ornada com trabalhos de fina arquitetura, é uma das mais belas igrejas de todo o Brasil. Também em Campinas funciona um Instituto Agronômico, fundado em 1887 e justamente reputado um dos melhores estabelecimentos de ensino agrícola do país.

A cidade é iluminada a gás e a eletricidade e dispõe de um bom serviço de águas e esgotos, feito pela Companhia Campineira de Águas e Esgotos, cujos encanamentos servem a 4.443 casas.

Centro das mais antigas plantações de café do Estado de São Paulo, Campinas foi, por assim dizer, a sua capital agrícola; e ainda hoje é uma excelente região cafeeira, ao mesmo tempo que, em todo o Município, e particularmente nas colônias agrícolas aí fundadas pelo governo estadual, se cultivam a cana-de-açúcar, o algodão e produtos para a alimentação.

Campinas é também um centro manufatureiro considerável, dispondo as indústrias, além da força hidráulica, de abundante energia elétrica, fornecida pela Companhia Campineira Luz e Força; e em Campinas é que se acham as oficinas da Mogiana, tão bem aparelhadas como as congêneres da Europa.


Personalidades de Campinas: 1) Dr. Alberto Ribeiro; 2) Dr. José Rios Rebouças; 3) J. Neubern; 4) Dr. Antonio Alvares Lobo; 5) Francisco Calabrez; 6) Dr. Coriolano Gomes de Mattos; 7) Dr. Celso S. Rezende; 8) Alberto de Cerqueira Lima
Foto-montagem publicada na página 735

A Diocese de Campinas - O grande desenvolvimento religioso do florescente Estado de São Paulo deu causa à constituição de uma província eclesiástica no mesmo estado, por Decreto Consistorial do Papa Pio X, de 7 de junho de 1908. Assim, foi elevada a Arquidiocese a antiga Diocese de São Paulo, instituída em 1746, e criadas as dioceses de Taubaté, Botucatu, São Carlos, Ribeirão Preto e Campinas.

É justo consignar que, para a realização deste desideratum dos fiéis campineiros, muito contribuíram os esforços dos exmos. srs. d. Duarte Leopoldo e Silva, ao tempo bispo de São Paulo, d. João Baptista Corrêa Nery, então bispo de Pouso Alegre, e dr. Bruno Chaves, diplomata brasileiro junto à Santa Sé; e na cidade de Campinas os trabalhos dos exmos. srs. padre Francisco de Campos Barreto (depois monsenhor e hoje bispo de Pelotas), padre Pedro Francisco dos Santos (hoje cônego), Antonio Carlos do Amaral Lapa (falecido), Orozimbo Maia, Julio Franck de Arruda, dr. João de Assis Lopes Martins e outros. A Câmara Municipal concorreu com um auxílio pecuniário e associações e fiéis correram ao encontro do apelo que lhes foi dirigido pela comissão adrede organizada para o efeito.

Causou a maior satisfação saber-se que o primeiro bispo seria o exmo. revmo. monsenhor d. João Baptista Corrêa Nery, campineiro por muitos títulos ilustre. Nascido em Campinas a 6 de outubro de 1863, após os estudos competentes no Seminário de São Paulo ali se ordenou aos 11 de abril de 1886. Vindo para a terra natal, iniciou o paroquiato, que exerceu com brilho, sendo vigário da paróquia de Santa Cruz (1887-94) e da freguesia da Conceição (1894-96).

Os relevantes serviços prestados por s. excia. revma. à Religião e à sociedade são longos de enumerar, mas basta assinalar os atos de benemerência exercidos durante as terríveis epidemias que assolaram Campinas por aquele período de tempo. O virtuoso sacerdote empreendeu e levou a efeito a construção do grandioso edifício do Liceu de Artes e Ofícios de N. Senhora Auxiliadora, um dos mais notáveis monumentos da cidade de Campinas.

Cônego em 1888, foi s. excia. revma. eleito bispo da nova Diocese do Espírito Santo por breve de S.S. o papa Leão XIII de 29 de agosto de 1896; transferido mais tarde para a de Pouso Alegre, também recente, por breve do mesmo pontífice, de 18 de maio de 1901; nomeado Conde Romano, Prelado Doméstico e assistente ao Sólio por letras apostólicas de S.S. o papa Pio X, de 6 de maio de 1907. Os seus trabalhos foram proveitosos nas dioceses citadas como bispo fundador e não menos o tem sido na de Campinas, para que foi transferido por breve de S.S. o papa Pio X, de 3 de agosto de 1908. Em meio de pomposas festas tomou s. excia. revma. posse de tão alto cargo a 1 de novembro de 1908.

Situado na parte Este do Estado de São Paulo e confinando com o de Minas Gerais, o Bispado de Campinas é limitado pelos de Ribeirão Preto, São Carlos, Botucatu e Pouso Alegre, e o Arcebispado; e está dividido em 33 paróquias que representam a população de 538.600 almas. Há na Diocese numerosos colégios, externatos e asilos mantidos por devotadas religiosas como as Irmãs Terceiras Franciscanas, Terceiras Dominicanas, de S. José, de Santa Catarina e Salesianas. Em todas as paróquias existem aulas de catecismo e em 1910 o número de seus alunos atingia a cerca de 7.000.

Para assistência a enfermos pobres em diversas paróquias existem Casas de Misericórdia com hospitais e merecem menção especial as de Campinas, Limeira, Itapira, Rio Claro etc.; bem como os hospitais de S. Vicente de Paula, de Pirassununga, D. Anna Cintra, de Amparo, e do Grêmio Português, da mesma cidade. Para proteção aos órfãos e aos desamparados, são dignos de nota, na Diocese, o asilo da Santa Casa, o Liceu de Artes e Ofícios, e os Asilos de Inválidos e de Morféticos e o Instituto Santa Maria de Campinas, o Asilo de Morféticos do Rio Claro, os asilos de Pirassununga e de Piracicaba. Nesta última paróquia merece também menção e encômios o estabelecimento de criação da exma. sra. d. Lydia de Rezende.

Quanto ao movimento religioso na Diocese, é importantíssimo e bem o demonstra o seguinte quadro dos trabalhos realizados na primeira visita pastoral, em 1909-1910: comunhões, 25.352; crismas, 63.762; casamentos, 305. O fervor religioso do povo paulista, enfeixado nesta circunscrição se tem manifestado de forma brilhante, em várias ocasiões, e uma delas foi a da instalação do Primeiro Congresso Católico Diocesano a 27, 28, 29 e 30 de abril de 1911, na cidade de Campinas, com a presença dos exmos. prelados da Província e cerca de 500 congressistas. Na paróquia de Monte Alegre, onde se venera uma imagem do Senhor Bom Jesus, há anualmente uma romaria concorridíssima.

A fachada da hoje catedral de Campinas se compõe de três corpos superpostos em forma de torre assíria, e sua cruz fica a 59 m de altura. O custo desta igreja é orçado em Rs. 6.000:000$000. Contém grande número de cômodos interiores, e num deles funciona a Câmara Eclesiástica do Bispado. A nave e a capela-mor são pavimentadas a mosaico de madeira; as entradas laterais a mosaico de mármore. O templo é iluminado a luz elétrica e, além das citadas obras de talha, possui belíssimos trabalhos de fina arquitetura. É finalmente considerada uma das primeiras igrejas do país inteiro. Na Catedral de Campinas, funciona também o Cabido Diocesano, instalado a 3 de novembro de 1909 e composto de dez cônegos efetivos, com as dignidades de arcediago e arcipreste.

Há na sede do bispado, como foi dito, 15  igrejas ou capelas abertas ao culto, 28 associações pias, beneficentes ou contemplativas, com grande número de associados, e congregações religiosas diversas que servem nas escolas, hospitais e asilos mencionados já. Três quartas partes da população, como na Diocese, no Estado e no Brasil, se compõem de católicos apostólicos romanos.

Instituto Agronômico de Campinas - O decreto que reorganizou o Instituto Agronômico de Campinas foi uma medida que se impôs por um conjunto de circunstâncias todas elas tendentes a imprimir àquele estabelecimento uma feição essencialmente prática e utilitária, de acordo com as necessidades atuais da lavoura e das indústrias agrícolas paulistas. O instituto foi fundado em 1887 pelo governo geral e passou para o domínio do Estado em 1892. Durante a sua existência contam-se alguns períodos de notável atividade e de trabalhos que muito ilustram o estabelecimento no país e no estrangeiro.

É considerável o valioso estoque de pesquisas e estudos, como se verifica dos seus relatórios e boletins, verdadeiros tesouros de informações sobre a lavoura de café, as terras do Estado, as principais culturas, as forragens e os meios de conhecer as pragas e insetos nocivos à agricultura. O instituto serve de escola de aplicação aos diplomados pelas escolas agrícolas ou aos que queiram freqüentar durante um certo tempo, para fazer o seu tirocínio prático, quer seus laboratórios, quer seus campos agrícolas, pagando simplesmente o material que consumir em seus trabalhos.

O decreto de 27 de julho de 1909 determinava: iniciar, auxiliar e dirigir o melhoramento da cultura do café, aperfeiçoamento da policultura, instalação e desenvolvimento das indústrias agrícolas, os melhoramentos rurais, estudos das moléstias das plantas e pragas da lavoura, fazer investigações de biologia vegetal e animal, química industrial e agrícola etc.; comunicar os trabalhos científicos ou agronômicos às sociedades, congressos e instituições congêneres; fazer estudos de engenharia, economia, comércio, contabilidade e sociologia rurais.

O instituto compreende o pessoal seguinte: 1 diretor, 1 secretário, 2 biologistas, 2 químicos e 2 ajudantes, 1 agrônomo chefe de cultura e 1 bibliotecário. Mensalmente, é publicada uma revista de todos os trabalhos científicos, técnicos ou práticos do estabelecimento. Tal revista é impressa com o título de Instituto Agronômico de Campinas, em número suficiente para distribuição gratuita no Brasil e no estrangeiro. A diretoria do instituto está a cargo do sr. Arthaud-Berthet, engenheiro agrônomo do Instituto Agronômico de Paris, antigo auxiliar do Instituto Pasteur e condecorado da Ordem do Mérito Agrícola da França.

Clube Campineiro - Estabelecido há vinte anos, é o Clube Campineiro, com 200 sócios, a principal sociedade recreativa de Campinas. A sede social é esplendidamente equipada e mobiliada, tendo um magnífico salão de concertos, salão de honra, gabinete de leitura e salas para bilhar, jogos d cartas, barras etc. A diretoria é composta do coronel Antonio Alvaro de Souza Camargo, presidente; dr. Antonio Alvares Lobo, vice-presidente; dr. Alfredo Monteiro de Carvalho e Silva; dr. Antão de Souza Moraes, e do sr. Falvino Egydio de Souza Aranha, tesoureiro.

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Companhia McHardy, Campinas: 1) A sede e o departamento de vendas; 2) Serraria e carpintaria; 3) Depósito e fundição
Foto-montagem publicada na página 736

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Cargos e profissões

Dr. Heitor Penteado - O dr. Heitor Penteado foi eleito para o cargo de prefeito municipal de Campinas, em 1910, por um período de três anos. Graduou-se em 190 na cidade de S. Paulo, em Direito, e foi logo nomeado promotor público de Campinas, donde é natural, cargo que desempenhou por oito anos. Até 1910 foi juiz, exercendo também particularmente a sua profissão. O dr. Penteado possui magníficas plantações de café em Jaú.

Dr. Antonio Alvares Lobo - O dr. Antonio Alvares Lobo é natural da cidade de Itu, filho do maestro Elias Lobo, o primeiro brasileiro que compôs trabalhos para a cena lírica. Conta 50 anos de idade, é advogado de grande renome e político reconhecido pelo seu zelo, influência e ilibadês. Formado em Direito-Ciências Sociais e Jurídicas em 1884, pela Academia de S. Paulo, fixou residência em Campinas, iniciando sua carreira de advogado com o senador Francisco Glicério.

É advogado da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, da C.C. de Água e Esgotos, deputado dos mais ilustres ao Congresso de S. Paulo em diversas legislaturas, presidente da edilidade, da Associação Teatro S. Carlos, da conferência S. Vicente de Paula, mordomo da Santa Casa de Misericórdia.

É o mais influente e real prestígio no seu distrito e acatado pela sua capacidade e sabedoria na administração. Campinas deve-lhe os mais assinalados serviços, tendo estado à testa do governo local na quadra das epidemias e dirigido as obras de saneamento que fazem hoje desta bela cidade paulista um centro de grande atividade e o mais higiênico e salubre dos seus municípios.

Dr. José Rios Rebouças - O dr. José Rios Rebouças tem uma grande clientela em Campinas como engenheiro civil, e tem se incumbido de inúmeros contratos para construção de pontes, estradas e obras sanitárias. Já trabalhou  na Estrada de Ferro Mogiana e como engenheiro municipal das obras públicas em Campinas. Nasceu em Piracicaba no ano de 1866, educou-se no Rio de Janeiro, graduando-se depois na Escola Politécnica de S. Paulo.

Dr. Alberto Ribeiro - O dr. Alberto Ribeiro graduou-se cirurgião-dentista na Universidade de Pennsylvania em 1898, voltando depois para a sua cidade natal, Campinas, onde revalidou o seu título e tem exercido sua profissão com muito sucesso.

Dr. Clemente di Toffoli - O dr. Clemente di Toffoli, que há muito tempo exerce a Medicina em Campinas, nasceu na Itália há quarenta anos, tendo recebido sua educação nas cidades de Pádua, Viena e Paris. Graduou-se na Universidade de Pádua em 1894, e na Europa praticou sua profissão por dois anos. Veio então para o Brasil, tendo clinicado em São Roque e em Sorocaba antes de estabelecer-se definitivamente em Campinas. Desde essa ocasião, visitou a Europa por duas vezes com o fim de assistir a conferências médicas. O dr. Toffoli é proprietário, sendo também possuidor de inúmeras ações de bancos e estradas de ferro.

Dr. Francisco Betim Paes Leme - O dr. Francisco Betim Paes Leme é o médico da Sociedade Paulista em Campinas e da Estrada de Ferro Itapura-Corumbá, Mato Grosso. Depois de formar-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1882, ele uniu-se à comissão da Estrada de Ferro Mamoré, tendo sido também delegado de Higiene e diretor do Jardim Botânico até 1889. Pelos cinco anos seguintes, ele viveu de sua clínica, aceitando depois os cargos atuais. Passa a maior parte do tempo em Corumbá.

Alberto de Cerqueira Lima - É o mais velho de três irmãos e uma irmã, filho do sr. João de Cerqueira Lima e d. Constança Calmon de Cerqueira Lima, da Bahia. Nasceu em 1870 na fazenda de seu pai, perto de Santo Amaro na Bahia, e depois de algum tempo de estudos primários e de Humanidades foi enviado em 1882 para a Inglaterra, como na sua mocidade o foram seu pai e seu avô, e ali passou o melhor do seu tempo de estudante no Collegio St. Bade, Alexandra Park, Manchester.

Depois de alguns meses na Alemanha, matriculou-se no Collegio Owen da Universidade Victoria de Manchester em 1887, onde, guiado pelo distinto professor Osborne Reynolds, lente da Faculdade de Engenharia, fez o seu curso de engenheiro. Tendo acabado os estudos em 1891, voltou ao Brasil e empregou-se na Estrada de Ferro Mogiana. Entre 1891 e 1893 desempenhou encargos técnicos e procedeu a estudos de campo para o prolongamento da linha e sua extensão ao porto de Santos.

Em 1894 o sr. Cerqueira Lima foi para o interior, onde se casou, e, fundando um engenho de açúcar de sociedade com seu sogro, trabalhou na fazenda como engenheiro, agricultor e criador. Ao mesmo tempo, procedeu a estudos para a construção de uma estrada e linha de bondes como subsidiária das estradas de ferro. As suas idéias eram tidas por demasiado adiantadas para aqueles que o cercavam; não obstante, obteve favores municipais para várias estradas. Em outubro de 1908, foi convidado para ocupar a vaga do cargo de superintendente auxiliar da Força Motriz, em que o encontramos na Estrada Mogiana em Campinas.

É um homem decididamente inglês nos seus gostos e suas idéias e depois de tantos anos ainda acaricia as agradáveis recordações da vida inglesa e da sociedade que ele parece ter gozado e conhecido bem. Os seus conhecimentos são vastos e o seu espírito é cosmopolita, embora seja amante e respeitador da tradição e da disciplina. O efeito de uma educação inglesa em temperamento latino foi a sobriedade deste elemento e vemos no sr. Cerqueira Lima um homem progressista, acessível às novas idéias, querendo ouvir e considerar a opinião de outras pessoas, e tendo uma idéia exata da liberdade prática que ele muito admira no caráter inglês.

O Canadá, Nova Zelândia, a Austrália e geralmente os domínios britânicos são os seus campos favoritos de observação em questões de governo e desenvolvimento. Com as suas idéias e sob aqueles métodos de liberdade, jamais perdendo de vista a ordem, a disciplina e a justiça, o Brasil desenvolver-se-á tão rapidamente como qualquer das possessões britânicas e tomará o seu lugar entre as nações que lutam por uma colocação na fileira da frente. "Brasileiros", diz o sr. C. Lima, "são todos aqueles que, vivendo no Brasil, concorrem para o seu progresso material e moral e ajudam a aumentar a fortuna pública e a elevar a sua grandeza, pouco importando donde tenham vindo ou onde tenham nascido".

Em assuntos industriais, o sr. Cerqueira Lima é um homem de idéias avançadas e decididamente favorável aos métodos eqüitativos de remuneração do trabalho e à adoção de métodos eficientes pelos quais todos são levados a ganhar bons salários.

Coriolano Gomes de Mattos - O sr. Coriolano Gomes de Mattos tem sido o superintendente chefe do tráfego da Estrada de Ferro Mogiana em Campinas desde 1901. Nascido em 1876 em Pernambuco, ali educou-se e mais tarde em Paris e RIo de Janeiro. Na Escola Politécnica da última cidade graduou-se ele em Engenharia em 1897. Então, uniu-se à Brazilian Contractors Corporation Ltd. e com eles trabalhou no Rio e Santos, até ligar-se à Companhia dos Açudes de Quixadá, no Ceará, posição que resignou para aceitar o seu cargo atual.

Francisco Calabrez - O sr. Francisco Calabrez é eletricista da Companhia de Tração, Luz e Força de Campinas, em serviço da qual tem sido muitas vezes incumbido de trabalhos de construção. É de descendência italiana e no Rio de Janeiro adquiriu grande prática como eletricista, tendo sido empregado por muitos anos da Light & Power.

Finanças, indústria e comércio

Banco do Comércio e Indústria de São Paulo - Este banco é filial dum estabelecimento congênere, cuja descrição minuciosa se encontra noutra parte desta obra. Por muitos anos o sr. Mario de Siqueira tem sido o seu gerente, passando por suas mãos a maior parte dos negócios bancários de Campinas.

José de França Camargo e Luiz de Paula França - Os srs. José de França Camargo e Luiz de Paula França, com escritório em Campinas, Estado de S. Paulo, incumbem-se do seguinte: compra e venda de ações de companhias e de bancos; letras de câmaras municipais; debêntures de estradas de ferro e de companhias; letras hipotecárias, apólices federais e estaduais; descontos de letras; levantamentos de empréstimos hipotecários, rural, agrícola e para câmaras municipais; conversão de dívidas; incorporações de companhias; vendas de prédios, terrenos e fazendas agrícolas. Rua General Ozorio, 118-H, caixa postal 19; telefone 396; endereço telegráfico: Paul França; Códigos: Ribeiro e A. B. C.

Companhia Campineira Luz e Força - Esta companhia, cujo diretor é o ativo e inteligente engenheiro sr. Alberto Byington, tem a propriedade das usinas de gás e hidrelétrica do Salto Grande, cuja força motriz provém da cachoeira do Rio Atibaia, situada entre Campinas e Itatiba e distante 19 quilômetros daquela e 10 desta última cidade. A bela obra hidrelétrica está destinada sem dúvida a prestar grandes serviços à cidade de Campinas e a tornar-se um dos mais poderosos elementos do seu progresso e desenvolvimento material. O volume daquele rio foi em setembro de 1904, estando ele na maior vazante, de 27 metros cúbicos por segundo; e a sua queda natural de 15,5 m foi elevada a 24 metros por meio duma represa feita de granito e cimento entre dois barrancos de pedra.

Essa represa, que mede 70 metros de extensão, assenta na rocha viva que atravessa o fundo do rio. O vertedor tem 48,5 m de largura e é feito de pedra lavrada em forma de curva dupla. O volume total de alvenaria da represa é de 2.350 metros cúbicos. As obras da represa foram iniciadas em 1905 e concluídas em 1907; durante esse período ocuparam 150 trabalhadores. A base é toda ela trabalhada sobre rocha completamente ponteada com uma espessura de concreto de 1 metro por 70 metros de comprimento e 9 de largura. Na construção desta original e grandiosa obra foram gastas 600 barricas de cimento de 130 quilos cada uma.

Durante a construção, houve muitos contratempos devidos principalmente às grandes enchentes que impossibilitavam o trabalho. O canal do Rio Atibaia foi iniciado em 1904, na extensão de 440 metros, com 3 metros de profundidade por 650 de largura. Foi todo revestido de pedra de alvenaria e cimento; e o seu fundo levou uma camada de concreto sobre bases transversais de 3 em 3 metros. Numa das extremidades estão colocadas as três comportas que separam o dito canal da represa, as quais têm 2,20 m por 3 m cada uma e foram calculadas para suportar um gasto de água para a energia mínima de 7.000 cavalos. Na outra extremidade acha-se a caixa dos tubos que tem 10 metros de comprimento por 12 de largura, construída em condições de poder ser aumentada no futuro.

Junto à caixa do canal estão os tubos com 100 metros de comprimento e 2 de diâmetro, obedecendo a uma diferença de nível de 25 metros. Estes tubos são ligados com rebites de ¾, e as chapas têm a espessura de ½" e são de aço mole. Debaixo dos tubos, para evitar choques de água com o fechamento dos resgatadores, estão colocadas duas válvulas automáticas para darem descarga, quando necessário. Os tubos vão até dentro da usina e são conectados com os registros das turbinas; estes são inteiramente de ferro e fechando hermeticamente, de modo a permitir a limpeza e qualquer concerto das turbinas, quando necessário.

As duas turbinas têm, cada uma, capacidade para desenvolver 1.000 cavalos de força. Cada qual tem o seu regulador de pressão de óleo, obedecendo a uma constância de 2 volts por cento, e que trabalham com uma pressão de 150 livras e são regulados com toda a precisão. As turbinas têm, cada uma, um tubo de sucção, de 3,60 m, com 0,50 m dentro d'água. A saída é feita dentro da casa das máquinas, cavada na rocha viva e a qual fica 4,05 m abaixo do nível do soalho da usina. Os geradores são da capacidade de 650 quilowatts cada um, dando 450 rotações por minuto e produzindo uma corrente de 2.300 volts que, nos transformadores, é elevada a 22.000 volts, para ser conduzida pelas linhas de transmissão.

As linhas de alta tensão são providas de interruptores a óleo, operados por eletromagnetos de ação automática e instantânea para os casos de desarranjo nas transmissões. Nas linhas de saída dos transformadores, estão colocados dois jogos de barras; e esses transformadores podem ser conectados, indiferentemente, com qualquer dos jogos, da maneira mais rápida, conforme as exigências do serviço. Os transformadores são trifásicos, conectado em estrela o circuito secundário e em delta o primário; e são para 650 quilowatts. Os pára-raios são do tipo eletrolítico e dos mais modernos.

A linha transmissora é suportada por torres de aço, compreendendo nove condutores de fio de cobre nº 0, e tem a extensão de 9 quilômetros, da usina a Campinas. Chegando à cidade, os fios condutores se ligam diretamente aos interruptores a óleo; daí, passam aos transformadores, que reduzem a voltagem a 2.080 volts, para a distribuição da cidade. Além disto, há a linha de Itatiba, com 10 quilômetros de extensão, simples, feita por um trilho de aço, transmitindo a energia para a iluminação da cidade. Há ainda outra linha que, partindo da usina, vai em direção a Pedreiras. Esta linha tem atualmente 7 quilômetros e conduz força motriz a 7.000 volts que serve quatro fazendas de café; e há uma outra, com 6 quilômetros, que distribui força a cinco fazendas vizinhas.

O edifício da usina é todo de pedra, com cimalhas de tijolo, e mede 36 metros de comprimento por 15 de largura. Tem dois pavimentos, um de 9 e outro de 6 metros de largura. No primeiro, estão montadas as unidades geradoras; e no segundo, que tem mais 2,60 m de altura, estão os quadros de distribuição, transformadores, interruptores a óleo, barras de transposição e pára-raios. No segundo pavimento, há uma galeria que se estende 1,5 m para dentro do primeiro pavimento e que serve para os operadores terem sempre à vista toda a usina. Os quadros estão instalados entre os dois pavimentos, em seções, uma para os geradores, outra para os excitadores e a terceira para a linha de transmissão.

A subestação de Itatiba fica em um edifício novo, de tijolo e concreto, e tem todas as condições e aparelhos modernos para o fim a que se destina. Anexa, há uma confortável habitação que serve de residência ao encarregado, com compartimentos para oficina. A subestação de Campinas está em um edifício que fazia parte da usina de gás e que será mantido tão somente até que fiquem prontas as construções de tramways elétricos.

A subestação de Arraial dos Souzas, pitoresco distrito de Campinas, está em um prédio adaptado para esse fim e contém todos os aparelhos necessários ao seu funcionamento automático, dispensando o trabalho dos empregados. Atualmente, tem a Companhia muitos pedidos para instalações de motores em Campinas; e mais de 100 fazendas num raio de 100 quilômetros esperam também ser providas de força elétrica.

Este desenvolvimento da importante empresa é o atestado evidente do esforço da sua diretoria e perfeitamente acompanha os progressos realizados pela cidade de Campinas. A Companhia Campineira Força e Luz, que está indubitavelmente destinada a um grande futuro de prosperidade, será também um auxiliar preciosíssimo das indústrias grandes e pequenas de Campinas, as quais, mediante a distribuição fácil da força motriz, tomarão seguro incremento numa cidade que dispõe de todas as condições para se tornar um centro manufatureiro de primeira ordem.

Companhia Campineira de Águas e Esgotos - Pela Companhia Campineira de Águas e Esgotos é a cidade de Campinas suprida de abundante água potável para as suas 4.443 casas. Em canos do diâmetro 14 por uma distância de 18 quilômetros, a água é trazida de dois reservatórios de 9.000.000 e 12.000.000 de litros, respectivamente, os quais se nutrem dos rios Bom Jardim e Iguatigmi. Nesses reservatórios, a água se filtra pelo sistema da areia em depósito. O reservatório da cidade pode conter 3.000.000 de litros e é construído inteiramente de pedra e cimento.

Para a condução da água a diversos pontos da cidade, a Companhia dispõe de uma canalização bem assentada na extensão de 61.760 metros. Empreende agora a drenagem da cidade, tratando a água em refugo por filtração em tanques desinfetantes. O coletor principal é de ferro fundido, servido de uma rede de canos louçados de 22 de diâmetro e de 1.680 metros de extensão, fabricados por Dalton & Cia. de Londres.

A companhia começou a trabalhar em 1891. O capital nominal é de 5.000:000$000, em 25.000 ações de 200$000 cada uma, estando realizado apenas 30% do mesmo. Um dividendo de 7% sobre o capital realizado tem sido verificado anualmente.

O gerente e engenheiro chefe da companhia é o sr. Augusto de Figueiredo, natural do Rio de Janeiro, que se formou na Escola Politécnica da capital em 1880. Desde então, tem-se incumbido de importantes trabalhos, como a construção da linha do Espírito Santo da Leopoldina Railway, da linha de Curitiba e de muitas outras. No cargo atual ele se acha desde 1905.

J. Neubern - Em 1908, o sr. Neubern inaugurou em Campinas uma fábrica de perfumarias, especialmente para o preparo do seu tônico para o cabelo de nome Iracema, de que só em 1911 vendeu 15.000 garrafas. Os outros produtos de sua fábrica constam de brilhantina e perfumes, sendo o movimento anual de cerca de 90:000$000. O sr. Neubern possui também um armazém geral de artigos de eletricidade, material fotográfico, gramofones etc. É natural de Rio Claro, tendo sido ali professor público até 1908, quando iniciou a sua vida industrial.

Companhia Cortume de Campinas - Nos mercados de São Paulo e RIo de Janeiro há uma constante procura dos couros curtidos na fábrica da Companhia Cortume de Campinas, pela qualidade dos mesmos. Todo o maquinismo, movido a eletricidade, é dos modelos mais modernos, e cerca de 30.000 couros são curtidos anualmente. A fábrica foi inaugurada em 1899 pelo sr. Carlos Olympio Leite Penteado, mas em 1910 passou a ser uma companhia com o capital de 600:000$000 em ações de 200$000. Atualmente estão cotadas a 250$000 na Bolsa de São Paulo.

Companhia McHardy - Esta sociedade anônima, com sede na cidade de Campinas, foi fundada no ano de 1891. Dispõe ela de grandes e importantes oficinas de mecânica, fundição e carpintaria. Fabrica toda a sorte de maquinismos para a indústria e para a lavoura, fazendo especialidade das máquinas de beneficiar café, largamente conhecidas nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A companhia importa também da Europa e dos Estados Unidos maquinismos industriais e agrícolas e mais artigos desse gênero. O capital da sociedade é de Rs. 980:000$000, ou sejam, ao câmbio par, £110.000.

Arthur Furtado A. Cavalcante - O sr. Arthur Furtado A. Cavalcante é proprietário de duas fazendas importantes no estado de São Paulo. Uma delas, a fazenda Duas Pontes, no município de Campinas, próximo à Estação Desembargador Furtado, tem de área 620 alqueires, com 430.000 pés de café que produzem uma colheita anual de 22.500 arrobas. A instalação para beneficiamento de café etc. é do tipo mais moderno.

As pastagens ocupam 160 alqueires. Há na fazenda gado bovino, em número de 300 cabeças, das melhores raças, Hollstein, holandesas e alemãs. O proprietário ocupa-se também da criação de cavalos puro sangue, das raças árabe, andaluza etc. Há na fazenda uma boa casa de administração e boas casas para moradia dos colonos, que compõem 120 famílias.

A outra fazenda, de propriedade do sr. Arthur Furtado A. Cavalcante e denominada Fazenda de São José, fica no município de Jaboticabal, próximo à Estação Hammand. Tem 326.000 pés de café, que produzem uma colheita anual de 28.000 arrobas; mata virgem, cobrindo 80 alqueires, com ótimas madeiras de lei; e boas pastagens para o gado e animais do serviço da fazenda.

Os maquinismos são modernos e bem instalados. Há um bom suprimento d'água para todas as necessidades da fazenda. Os colonos empregados na fazenda compreendem 56 famílias, para as quais existem, separadas, excelentes moradias.

João Jorge Figueiredo & Cia. - Esta firma, que tem sua clientela nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, negocia em ferragens, cereais, vinhos, óleos etc. e tem um movimento de 9.000:000$000 anuais, com um capital de 600:000$000. Recebe de seus clientes café em consignação, depositando-o em Santos para vendas futuras.

É também agente das linhas de vapores da Royal Mail, Pacific e Lloyd Holandez. Suas operações bancárias são feitas por intermédio de um pequeno estabelecimento particular conhecido pelo nome de Banco Campineiro.

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Vistas de Campinas: 1) Monumento a Carlos Gomes, nascido em Campinas; 2) A Catedral; 3) Rua da Conceição; 4) A Escola Pública; 5) Praça Carlos Gomes
Foto-montagem publicada na página 737

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