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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [39]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 627 a 639, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Vista da Capital
Foto publicada com o texto, página 627

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Estado de São Paulo (A)

Nota: muitas das informações relativas ao Estado de São Paulo nos foram gentilmente fornecidas pelo sr. dr. Paulo Rangel Pestana, secretário do Departamento de Indústria e Comércio do Estado.

Estado de São Paulo tem a área de 290.876 quilômetros quadrados e até 1910 contava 2.800.424 habitantes. Situado no Sul do Brasil, mais de três quartos de sua área se acham na região limitada pelo Trópico de Capricórnio. Embora represente 1/32 da superfície total da República, contém 1/8 da população do Brasil.

Aspecto e clima - O Estado, que se acha entre os paralelos 20 e 25 de latitude, é limitado ao Norte por Minas Gerais e Mato Grosso; a Leste, pelo Rio de Janeiro e Oceano Atlântico; a Oeste, pelos estados do Paraná e Mato Grosso; e ao Sul, pelo Atlântico e Paraná.

É atravessado de Nordeste s Sudoeste por duas cadeias de montanhas que, encontrando-se perto da cidade de São Paulo, se espalham em cordilheiras com os nomes de Serra do Mar e Mantiqueira, em que têm origem dois sistemas fluviais distintos.

O primeiro compreende o Paraíba, o Ribeiro de Iguape e muitos outros, menores, que desembocam no Atlântico; e o segundo, o Tietê, o Piracicaba e outros afluentes do Rio Grande e do Paraná, que correm para o Oeste, afastando-se do Atlântico e indo afinal avolumar as águas do Prata. Os cursos da maioria desses rios são obstruídos por freqüentes saltos, sendo, pois, de pequeno valor como meios de transporte.

A maior parte da superfície do Estado forma um planalto de leve declive para Noroeste, com a altitude média de 600 metros, embora haja em muitos lugares elevações de 1.000 metros. As desvantagens climatéricas, tão comuns em tal latitude, são assim contrabalançadas pela altitude, e o clima é amenizado por uma atmosfera temperada.

Os dados fornecidos pelas 60 estações meteorológicas do Governo, espalhadas por todo o território, dão melhor a idéia das condições dominantes. As seguintes médias em graus centígrados foram observadas num período de 10 anos nas estações de Santos, S. Paulo, Tatuí, Bragança e Porto Ferreira:

  Santos S. Paulo Tatuí Bragança Porto Ferreira
Verão 25.0º 21.4º 22.7º 22.2º 25.4º
Outono 23.1º 18.7º 19.3º 20.1º 22.1º
Inverno 18.8º 14.7º 15.3º 16.0º 17.6º
Primavera 20.6º 18.0º 19.2º 19.3º 21.9º
Média anual 21.9º 18.2º 19.1º 19.4º 21.7º
Máximos absolutos 40.0º 38.5º 42.5º 36.5º 35.0º
Mínimos absolutos  5.0º  2.5º  1.8º  0.0º  3.0º

Nestas observações, o verão corresponde aos meses de dezembro, janeiro e fevereiro; o outono a março, abril e maio; o inverno, a junho, julho e agosto; e a primavera a setembro, outubro e novembro.

No que diz respeito ao conforto, as condições de temperatura são favoráveis, pelo fato de haver evidentes oscilações nas passagens dos dias para as noites. Nas estações já tomadas para exemplo, a média dessas oscilações, no mesmo período referido, foi de 8.6º centígrados em Santos; 9.6º em S. Paulo; 12.3º em Tatuí; 11.1º em Bragança e 10.2º em Porto Ferreira. Assim, embora os dias sejam quentes, as noites são sempre frescas e agradáveis.

As chuvas são regulares e uniformemente distribuídas, não havendo secas. Nas aludidas estações meteorológicas, a média das chuvas tem sido observada, como mostra o quadro seguinte, em milímetros:

  Santos S. Paulo Tatuí Bragança Porto Ferreira
Verão    851    569    587    647    616
Outono    636    290    292    305    258
Inverno    402    139    154    115      57
Primavera    442    317    346    389    307

Total

2.331 1.315 1.379 1.456 1.238

A relativa escassez de chuvas no inverno é compensada pelo orvalho que cai em abundância, não sofrendo de modo algum a vegetação. Por isso é muito pronunciada a umidade média da atmosfera.

Os únicos fenômenos meteorológicos que de algum modo prejudicam a agricultura são as geadas que caem, às vezes, nas altitudes mais elevadas, produzindo estragos especialmente nos lugares em que as árvores foram destruídas, porque estas constituíam uma barricada natural contra aquele mal. Contudo, é insignificante o dano causado por esse fenômeno, a que aliás se atribuem alguns benefícios.

Em um clima como o de S. Paulo, não é de admirar que a saúde dos habitantes seja boa. Há alguns anos passados, foram algumas das principais cidades devastadas pela febre amarela; mas, desde que se instalaram sistemas regulares de suprimento d'água, esgotos e drenagem, essas epidemias desapareceram.

Durante o ano de 1910, os nascimentos dentro do Estado elevaram-se a 113.865 ou 40,65 por 1.000 habitantes, ao passo que o número de óbitos foi de 62.522 ou 22,32 por 1.000; isto é, os nascimentos excederam os óbitos em 51.343 ou em 18,33 por 1.000. Estes algarismos são realmente mais favoráveis do que parece, à primeira vista, porque todos os anos entram no Estado grandes levas de imigrantes que ali habitam e cujos óbitos são incluídos nos relatórios da mortalidade de S. Paulo, quando o mesmo não acontece com os nascimentos, pois estes não figuram na respectiva estatística. O número de casamentos foi de 21.121 ou 7,54 por 1.000.


Governo do Estado de S. Paulo: 1) Dr. Altino Arantes (secretário do Interior); 2) Dr. Joaquim Miguel Martins de Siqueira (secretário das Finanças); 3) Dr. Carlos Guimarães (vice-presidente); 4) Dr. Raphael Sampaio Vidal (secretário da Justiça; 5) dr. F. P. Rodrigues Alves (presidente); 6) dr. Paulo de Moraes Barros (secretário da Agricultura)
Foto-montagem publicada com o texto, página 628

História - Muitas vezes se tem dito que a história do Estado de São Paulo é a história do Brasil. Essa asserção é exagerada; mas em verdade se pode dizer que a história de S. Paulo está intimamente ligada ao desenvolvimento de todo o Sul e Centro do Brasil. Encontram-se traços das explorações dos enérgicos paulistas até o Piauí ao Norte, Cuiabá a Oeste, e até a região banhada pelas fontes do Madeira, descendo para o Sul até as margens do Prata.

Em 1531 foi enviada por d. João III uma expedição que desembarcou em Cananéia, um pouco abaixo de Santos, e fundou depois um forte em Santo Amaro, ilha que fica à entrada da baía, assim como estabeleceu uma colônia em S. Vicente, hoje subúrbio de Santos. Abandonado por alguma expedição anterior, já ali habitava o sertão um português de nome João Ramalho, que se aliara ao poderoso Tibiriçá, chefe dos Tupiniquins, esposando sua filha Bartira. Ramalho foi garantido pelo rei na posse das terras que ele ocupava, conhecidas por Borda do Campo. Em 1533, foi elevada esta povoação à categoria de vila, com o nome de Santo André, que deu origem à capital de São Paulo.

A nova povoação em São Vicente teve períodos de lutas no começo de sua fundação. Em 1535, foi assaltada por um bando de malfeitores espanhóis; e mais tarde, saqueada por um pirata inglês de nome Cavendish. Não era só do mar que advinham os perigos e ameaças a essa vila: por 60 anos, os Tamoios, poderosa tribo de canibais, continuamente assolavam os colonos e até ameaçavam a cidade de S. Vicente. Em 1563, foi o sítio depois ocupado pela cidade de Santos, concedido a Braz Cubas, que fundou um hospital e uma capela, aquele conhecido hoje por Santa Casa da Misericórdia, e o qual se tem transformado em vasta e rica instituição.

Em 1554, fundaram os jesuítas um núcleo missionário com o nome de São Paulo, que, seis anos mais tarde, absorveu a povoação de Santo André. Esta foi destruída, com gáudio dos jesuítas, e tal ato semeou o descontentamento, que chegou ao auge com a expulsão dos jesuítas de S. Paulo.

Antes deste tempo, contudo, já os jesuítas tinham construído a primeira estrada regular entre S. Paulo e Santos, conhecida por Caminho do Padre José. Essa estrada ainda serve como via de comunicação entre Santos e o Interior. Foi calçada em 1788 e em 1841 tornou-se conhecida pelo nome de Serra da Maioridade.

Em 1550 , mais ou menos, penetrou pelo rio Tietê uma expedição, em busca de ouro, até Cachoeira do Padre. Com o aumento da população branca, as rivalidades de raça tornaram-se agudas. "A rápida concentração de brancos e índios em torno de S. Paulo", escreve Machado de Oliveira na sua História de S. Paulo, "produziu as conseqüências inevitáveis da aproximação das duas raças.

Da parte dos brancos, era notável o desprezo pelos seus inferiores, tratando-os como irracionais; e da parte dos índios, notava-se a resistência à sujeição e ao trabalho que lhes impunha a arrogância dos invasores e conquistadores, que os jesuítas não puderam dominar. Daí, o ódio nascido, dum lado, da ambição insaciável, e do outro lado, da barbaridade. Tal sentimento, alimentado pela obstinação de ambas as raças, tem atravessado os séculos e só se extinguirá com a extinção da própria raça perseguida".

Em 1580, essas dificuldades chegaram ao ponto culminante e grande número de índios fizeram uma incursão resoluta, mas sem êxito, contra São Paulo. Aquele ano marca a verdadeira era da escravidão dos índios. Daí por diante, a história está cheia de episódios relativos à caça de índios no Paraguai e no Chaco; e em S. Paulo um grande mercado de escravos se estabeleceu.

Nova fase assinalou na história do Estado a descoberta de ouro e diamantes no Rio das Velhas, no território hoje pertencente a Minas Gerais. Este fato atraiu aventureiros de todos os pontos do Brasil e até da Europa, cujos interesses se chocaram, havendo lutas em que os paulistas foram vencidos. Foi mais ou menos nessa época que se mudou de S. Vicente para São Paulo a sede do governo da "capitania".

Em 1739, um contingente de paulistas expulsou do Rio Grande do Sul os espanhóis, obrigando-os a retirar-se para o Uruguai. A primeira tentativa regular de estabelecimento de imigrantes em São Paulo foi feita em 1814, quando vinte famílias açorianas se estabeleceram em Casa Branca. Desde a proclamação da Independência, às margens do Ipiranga, e especialmente desde a fundação da República no Brasil, São Paulo tem marchado na vanguarda dos Estados brasileiros.

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Ribeirão Preto
Foto publicada com o texto, página 628 - Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Imigração - O fato de receber S. Paulo a maior parte dos imigrantes que procuram o Brasil, deriva de que as autoridades do Estado, não satisfeitas com os benefícios que o Governo Central concede aos imigrantes, se tem esmerado em os atrair, com medidas e esforços próprios, e em promover nos paises emigratórios ativos e eficazes serviços de propaganda.

O Estado mantém em Bruxelas uma agência de informações, que edita publicações de propaganda em todas as línguas faladas na Europa. Assim, calcula-se que 1.368.082 imigrantes tenham dado entrada no Estado de S. Paulo de 1827 a 1910, como abaixo se vê:

De 1827 a 1887 ........................................................................... 177.715

De 1888 a 1899 ........................................................................... 762.969

De 1900 a 1903 ........................................................................... 153.131

De 1904 a 1909 ........................................................................_    37.690

                                                             Total ..........................1.368.082

Calcula-se, além disso, que 49.419 passageiros de primeira e segunda classe tenham entrado no Estado, de 1827 a 1901, e 59.912 de 1902 a 1909, ao todo 108.631, que elevam, durante o aludido período, o número total de imigrantes a 1.476.713. Depois da proclamação da República, a corrente imigratória avolumou-se rapidamente, e só nos anos de 1895, 1896 e 1897 entraram mais de 350.000 pessoas.

Tudo se tem feito para se garantir o conforto e bem estar aos recém-chegados; e na fundação de colônias, tem o governo estadual desenvolvido especial atividade. A seguinte lista mostra estes centros coloniais, na ordem da fundação, assim como os distritos em que se acham, os meios de comunicação, as estações ou portos mais vizinhos, as áreas colonizadas e a nacionalidade dos colonos:

Centros coloniais Data da fundação Distritos Meios de comunicação Estações e portos vizinhos Área em alqueires Nacionalidade dos colonos
Rio Negro 1828 Hoje faz parte do Paraná -- -- -- Alemães
Santo Amaro 1828 Sto. Amaro (S. Paulo) -- -- -- --
Pariquera-Açu 1861 Iguape -- Iguape 6.434 Italianos, austríacos, polacos e brasileiros
Cananéia 1862 Cananéia -- Cananéia -- --
Sant'Anna 1877 S. Paulo -- -- 50 Italianos e portugueses
S. Caetano 1877 -- -- -- 399 Italianos
Glória 1877 -- -- -- -- Italianos, alemães, polacos e brasileiros
S. Bernardo 1877 S. Bernardo (S. Paulo) Estr. Ferro S. Paulo S. Bernardo 3.807 --
Canas 1885 Evrena Estr. Ferro Central Canas 484 Italianos, portugueses e brasileiros
Cascalho 1885 Limeira Estr. Ferro Paulista Cordeiro 286 --
Ribeirão Pires 1887 S. Bernardo Estr. Ferro S. Paulo Ribeirão Pires 280 Italianos e brasileiros
Antonio Prado 1887 Ribeirão Preto Estr. Ferro Mogiana Barracão 589 Italianos
Rodrigo Silva 1887 Porto Feliz Estr. Ferro Sorocabana Boituva 555 Italianos, belgas e brasileiros
Barão de Jundiaí 1887 Jundiaí Estr. Ferro S. Paulo Jundiaí 211 Italianos
Sabarina 1889 Mogi das Cruzes Estr. Ferro Central Sabauna 2.239 Italianos, espanhóis e brasileiros
Quirim 1890 Taubaté -- Quirim 468 Italianos
Piaguí 1892 Guaratinguetá -- Guaratinguetá 409 Italianos, austríacos e brasileiros
Campos Sales 1897 Campinas Estr. Ferro Funilense Geraldo de Pombal 1.400 Italianos, austríacos e alemães
Nova Odessa 1905 Vila Americana (Campinas) Estr. Ferro Paulista -- 1.031 Russos
Jorge Tibiriçá 1905 Rio Claro -- Corumbataí Ferraz 1.784 Alemães
Conde do Pinhal 1906 Ubatuba -- Ubatuba 800 Italianos
Boracéia 1906 -- -- -- 2.000 --
Nova Européia 1907 Araraquara -- -- 2.500 Russos
Nova Paulicéia 1907 Matão -- -- 2.500 --
Cons. Gavião Peixoto 1907 Ibitinga -- -- 2.044 --
Boa Vista 1907 Jacareí Estr. Ferro Central Ch. de Jacareí 446 Italianos
Bom Sucesso 1907 C. Largo Sorocabana Estr. Ferro Sorocabana Villeta 192 Brasileiros

O valor do alqueire varia em muitas partes do Brasil. Aqui é de 2,2 hectares.

Uma ou duas colônias mais foram fundadas recentemente, mas faltam dados sobre as mesmas. Durante o ano de 1910, o número de pessoas que deram entrada na Hospedaria de Imigrantes em S. Paulo foi de 32.024, elevado a 32.600 com as que já existiam ali em 31 de dezembro de 1909; Em 1900 entraram 31.013; em 1908, 30.315; em 1907, 22.635; em 1906, 37.400; em 1905, 34.449; e em 1904, 17.541.

A Agência Oficial de Colonização e Trabalho, anexa à Hospedaria de Imigrantes, de acordo com o Dec. 1.722 de 7 de abril de 1908, presta relevantes serviços aos imigrantes. Em 1910, facilitou a 29.106 operários a colocação em fazendas, em núcleos coloniais e em várias indústrias no interior, tendo também proporcionado trabalho na Capital a 1.577 artífices. Junto à referida Agência, há uma seção de câmbio para uso dos imigrantes.

Durante 1910 o movimento atingiu a Rs. 77:636$872 em transações de câmbio; o correio da Agência recebeu 4.921 cartas e despachou 16.622, tendo também recebido 1.012 cartas registradas com valor, montando a Rs. 4:322$240. A agência do telégrafo expediu 2.307 telegramas com 29.177 palavras e entregou 1.073 telegramas com 15.648 palavras.


Políticos eminentes do estado de São Paulo: 1) Dr. Carlos Guimarães; 2) O falecido dr. Prudente José de Moraes Barros; 3) Dr. Washington Luiz; 4) Dr. Albuquerque Lins; 5) Senador Luiz de Toledo Pisa e Almeida; 6) Dr. João Sampaio; 7) Dr. Olavo Egidio de Souza Aranha; 8) Dr. Padua Salles; 9) Dr. Jorge Tibiriçá
Foto-montagem publicada com o texto, página 630

Agricultura - Pelo seu clima variado e configuração topográfica, o Estado de São Paulo presta-se às mais diversas culturas. A região do litoral, entre o oceano e a Serra do Mar, com uma temperatura mais quente e chuvas abundantes, é adequada ao cultivo das plantas tropicais, como cacaueiro e bananeira, os coqueiros, a baunilha e outras. Constituem a sua principal riqueza as plantações de arroz. Na região do planalto do Interior, com um clima temperado doce, semelhante ao do Sul da Itália e menos úmido, prosperam vastas lavouras de café, algodão, cereais e árvores frutíferas européias.

Dos 290.876 quilômetros quadrados da superfície do Estado, apenas a quarta parte se acha em exploração. O resto está inculto e só aguarda o trabalho humano para fornecer suas enormes riquezas. pelo recenseamento agrícola levantado no ano econômico de 1904-05, na superfície em exploração, havia 56.931 propriedades agrícolas que ocupavam uma área total de 5.013.809 alqueires (um alqueire é igual a 24.200 metros quadrados ou a 6 acres), assim repartida, desprezando-se as frações de alqueires:

Em matas e bosques ................................................... 2.855.718 alqueires

Em campos e pastos ................................................... 1.447.752 alqueires

Em cultura ................................................................    602.805 alqueires

Em brejos e terras imprestáveis ....................................    107.802 alqueires

Quanto ao tamanho, essas propriedades se classificam desta maneira:

Até 10 alqueires ......................................................... 21.535 propriedades

Até 25 alqueires ......................................................... 11.735 propriedades

Até 50 alqueires .........................................................   9.269 propriedades

Até 100 alqueires .......................................................   6.180 propriedades

Até 250 alqueires .......................................................   4.777 propriedades

Até 500 alqueires .......................................................   1.970 propriedades

Até 1.000 alqueires ....................................................      866 propriedades

Mais de 1.000 alqueires ..............................................      589 propriedades

As 56.931 propriedades representavam o valor total de 1.051.836:180$400 (70.122.412 libras esterlinas), assim repartido pelas nacionalidades dos proprietários:

Proprietários

Número de propriedades

Área

Valor

Brasileiros 48.508 4.539.342 alqueires 914.443:554$900
Italianos 5.197 192.021 alqueires 48.395:164$500
Portugueses 1.607 130.787 alqueires 32.814:950$500
Austríacos 117 5.135 alqueires 1.499:500$000
Alemães 675 60.776 alqueires 29.791:708$500
Ingleses 25 17.994 alqueires 12.921:905$000
Espanhóis 470 9.413 alqueires 2.990:437$500
Franceses 76 12.739 alqueires 3.673:687$000
Diversos 225 45.608 alqueires 5.305:272$500

A área cultivada distribuía-se assim, com a sua produção:

Em cafezais 361.572 alqueires café 36.355.828 arrobas
Em canaviais 20.131 alqueires açúcar 1.525.529 arrobas
aguardente 122.989.599 litros
Em algodoais 3.461 alqueires algodão 568.554 arrobas
Em arrozais 27.441 alqueires arroz 101.424.818 litros
Em milharais 143.384 alqueires milho 891.587.336 litros
Em feijoais 64.792 alqueires feijão 133.401.324 litros
Em plantações de fumo 1.994 alqueires fumo 135.183 arrobas
Em videiras 1.233 alqueires uvas 110.870 arrobas
vinho 1.581.409 litros
Em mandiocais 2.888 alqueires farinha 66.423.471 litros
Em batatais 1.738 alqueires batatas 36.775.525 litros
Em outras culturas 6.932 alqueires ---

Desde 1840 a principal cultura do Estado é a do café, que aí encontra excepcionais condições para prosperar. Atualmente, o Estado é o maior produtor mundial de café e fornece anualmente mais da metade da produção do mundo.

A produção de S. Paulo que, em 1850, não passava de 103.260 sacas, chegou, no último decênio, aos seguintes totais, compreendido o consumo interno:

Em 1900-01 ...................................................................   8.933.500 sacas

Em 1904-05 ...................................................................   9.088.957 sacas

Em 1909-10 ................................................................... 12.285.224 sacas

Nos 85 .000 hectares consagrados a essa cultura existem 688.845.410 cafeeiros, quantidade não atingida em qualquer outra parte do globo. Cada um desses cafeeiros vale, em média, 1$ e exige a despesa anual de 300 réis para ser conservado em bom estado. A produção média de cada um deles varia de 750 a 1.200 gramas; nos anos mais favoráveis, chega-se a obter até 2 quilos e 250 gramas por pé nas terras mais férteis.


Algumas personalidades da cidade e do estado de São Paulo: 1) Francisco Braga Junior (Taubaté); 2) Antonio Conde (Cruzeiro); 3) Cel. José F. de Oliveira Castro (prefeito de Cruzeiro); 4) Leão Pio de Freitas (prefeito de Matão); 5) Cel. Clementino M. de Oliveira (Itapetininga); 6) Cel. Gerardo de Souza Tosta (Bragança); 7) Capitão F. Pinto de Cunha (prefeito de Serra Negra); 8) Felix Guisard (Taubaté); 9) Achilles Isella, cônsul da Suíça (São Paulo); 10) Dr. Fr. de Paula Oliveira Borges (Guaratinguetá); 11) Pedro Marcondes Leite (prefeito de Guaratinguetá); 12) Dr. Gastão A. V. L. de Camara e Leal (prefeito de Taubaté); 13) Pedro Voss (Itapetininga); 14) Fr. de Oliveira C. Rabello (vice-prefeito de Guaratinguetá); 15) José Aranha do Amaral; 16) Dr. João Alves Meira Junior (vice-presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Preto); 17) Tenente-coronel S. Corrêa de Carvalho (Ribeirão Preto); 18) Cav. of. Pietro Baroli, cônsul geral da Itália (São Paulo); 19) Dr. Octaviano Vieira (São Carlos); 20) Constantino Senger (Sorocaba); 21) M. Augusto Junqueira) vice-prefeito de Ribeirão Preto); 22) Cel. Manoel M. Junqueira (Ribeirão Preto); 23) Antonio Blundi; 24) W. Fox Rule (São Paulo); 25) M. J. da Fonseca (Sorocaba); 26) F. Jacintho Pereira; 27) Cel. Jacintho Domingues de Oliveira (prefeito de Bragança); 28) Dr. Joaquim Macedo Bittencourt (prefeito de Ribeirão Preto); 29) O bispo de Taubaté; 30) Renato Jardim (Ribeirão Preto); 31) Alberto de Menezes Borba (São Paulo); 32) O bispo de Ribeirão Preto; 33) Dr. Constantino Martins Sampaio; 34) Manoel José da Silveira; 35) Dr. José Vieira Barbosa (Mococa); 36) Roberto Clark; 37) Arnolfo Rodrigues de Azevedo (Lorena); 38) Dr. Alvaro Augusto de C. Aranha (Guaratinguetá); 39) Major José de Castro (Ribeirão Preto); 40) Dr. Orozimbo Corrêa Netto (Mococa)
Foto-montagem publicada com o texto, página 631

A plantação de café geralmente se faz em grandes fazendas, com um numeroso pessoal e nas quais se acham aplicados avultados capitais. Algumas têm 10, 15 e até 20.000 hectares, com milhões de cafeeiros.

Nas fazendas há importantes depósitos de víveres, oficinas, escola primária, farmácia, médico e até banda de música. Os seus terreiros para secar o café ocupam milhares de metros quadrados e o produto é conduzido das plantações por meio de canalizações, com quilômetros de extensão, ou por pequenas vias férreas. As suas máquinas de beneficiar o café são freqüentemente movidas por força elétrica, que também se transforma em luz, para iluminar a propriedade.

O maior produtor de café em todo o mundo é o coronel Francisco Schmidt, um antigo colono alemão que se estabeleceu nos municípios de S. Simão e Ribeirão Preto. Esse "Rei do Café", como é popularmente conhecido, possui 31 fazendas, com 32.894 hectares, dos quais 9.505 plantados com 7.885.154 cafeeiros, cuja produção anual sobe a 10.500 toneladas. Abaixo do coronel Schmidt, são estes os maiores produtores de café, com a produção média:

Nomes Municípios Produção Cafeeiros
Dr. Henrique Dumont S. Simão 400.000 arrobas 1.500.000
Dumont Coffee Co., Ltd. Ribeirão Preto 310.000 arrobas 3.999.900
S. Paulo Coffee States Co. S. Simão 300.000 arrobas 2.325.000
Herdeiros de d. Veridiana Prado Sertãozinho 190.000 arrobas 1.268.000
Herdeiros do dr. Martinho Prado Ribeirão Preto 160.000 arrobas 2.112.700
Comp. Agrícola Ribeirão Preto Cravinhos 93.000 arrobas 1.800.000
Comp. União Santa Clara S. Simão 60.000 arrobas 1.000.000
D. Francisca S. do Val Ribeirão Preto 60.000 arrobas 977.000
Conde de Prates Rio Claro 50.000 arrobas 950.000
Ellis & Netto S. Carlos 45.000 arrobas 1.000.000
J. da Cunha Bueno Cravinhos 40.000 arrobas 950.000

Na colheita de café, que se faz de maio a junho, emprega-se todo o pessoal de uma fazenda - homens, mulheres e crianças. Os frutos, colhidos à mão, são postos em cestos contendo de 40 a 50 litros. O trabalhador recebe por este serviço de 400 a 700 réis por litro e pode colher uma dezena por dia, o que lhe garante um ganho diário de 4$ a 7$.

Além desse lucro, o colono contrata com o proprietário o tratamento das plantações de café, recebendo de 70$ a 100$ por mil és, e a esse trabalho se entrega, não somente ele, mas a sua família. Para isto, habita próximo à plantação em grupos de casas, formando colônias, e lhe é permitido plantar cereais nas terras e criar animais domésticos.

As despesas de produção do café ficam, na média, para o fazendeiro, por 2$500 por arroba, ou 10$ por saca de café beneficiado, compreendendo-se nisto os gastos com os colonos, os carreiros, camaradas de terreno e administração, desde as carpas, colheita, secagem e beneficiamento até o embarque na estação da estrada de ferro.

A isto, há que acrescentar cerca de 1$340 por arroba, ou 5$360 por saca, para o frete ferroviário até Santos, carreto nesta cidade e comissão ao negociante que se encarrega da venda do café nesse porto. Estas despesas, em que não está compreendida a amortização do capital, variam, naturalmente, com a distância a que está do porto de Santos a fazenda. Os fretes ferroviários freqüentemente chegam a ser de 4$ a 5$ por saca de 60 quilos.

A lavoura da cana de açúcar é uma das mais antigas do Estado, e há cinqüenta anos atrás tinha mais importância do que a de café. Hoje, ocupa o terceiro lugar, havendo cerca de 287.000 hectares, que proporcionam anualmente de 22.000 a 24.000 toneladas de açúcar e 223 milhões de litros de aguardente. Nos últimos dez anos, a produção de açúcar e aguardente seguiu esta marcha:

  Açúcar Aguardente
  toneladas litros
1900-01 13.932 34.556.000
1904-05 22.882 122.989.599
1909-10 24.135 122.599.200

A zona em que se planta mais cana de açúcar é a da Estrada de Ferro Central do Brasil, onde fica o grande Engenho Central de Lorena. Mas a zona da Estrada Mogiana é a que possui melhor clima para essa cultura, principalmente nos municípios de S. Simão e Ribeirão Preto, nos quais existem dois engenhos.

As principais variedades cultivadas são: a cana rosa, a cana violeta, a cana rajada, a cana Cayenna e a cana taquara. A rosa é considerada a melhor para a produção de açúcar e a violeta para o fabrico de aguardente. As grandes usinas dão preferência às três primeiras, ao passo que nas engenhocas a Bourbon é a mais apreciada, por ser mais tenra e ter mais caldo. A cana taquara emprega-se somente para a alimentação do gado, constituindo excelente forragem, que se acomoda a qualquer terreno e pode ser cortada em qualquer época do ano.

A produção média de canas por hectare cultivado é de 20 toneladas em Lorena; de 40 toneladas em Piracicaba, Porto Feliz e Jaboticabal. Em Capivari, eleva-se a 45 toneladas; na Franca, a 50; e em Campinas, a 59.

O preço de uma tonelada de cana varia de 8$ a 10$ em Campinas; de 14$ a 16$ na Franca; de 10$ a 12$ em Jaboticabal; de 7$ a 15$ em Piracicaba; de 8$ a 15$ em Lorena; e é de 10$ em Porto Feliz. A despesa média com a produção de uma tonelada de cana é de 4$ em Jaboticabal, de 8% em Campinas, Araraquara e Piracicaba; de 10$ a 12$ em Porto Feliz, Lorena, Capivari e S. Simão.

Além de cerca de 3.000 engenhocas (pequenas moendas) espalhadas pelo Estado, existem treze engenhos centrais de açúcar. Entre os mais importantes, estão os de Piracicaba, Vila Raffard, Porto Feliz, Lorena, Cosmópolis (Usina Esther), S. Simão etc., dos quais se dá uma notícia na parte deste livro referente à indústria do açúcar.

O rendimento médio da aguardente, em Campinas, é de 35 litros por cem litros de melaço; de 32 litros em Piracicaba; de 40 litros em Porto Feliz e de 38 litros em Capivari. A lenha para o trabalho das usinas custa 9$ por tonelada em Lorena, Porto Feliz e Capivari. Em Piracicaba, vai a 9$500 por tonelada. Em Campinas e Franca, o preço é de 3$ por metro cúbico.

Quanto aos salários do pessoal, um trabalhador rural ganha 2$250 por dia, se é adulto, e 1$250 se é menor, em Campinas; 2$750 e 1$375 em Piracicaba e, em ambos os casos, 2$ e 1$ em Lorena. O trabalhador fabril recebe 2$750 quando é adulto e 1$750 quando menor, em Campinas; 2$750 e 1$750, respectivamente, em Piracicaba; e 2$500 e 1$200 em Lorena.

Os altos salários, o preço da lenha e o custo da produção explicam porque os engenhos de São Paulo ainda não produzem o suficiente para o consumo do Estado. Por isso, ele ainda importa de Pernambuco, Alagoas e outros Estados do Norte, dezenas de milhares de toneladas de açúcar, apesar das despesas de transporte, impostos etc.

Depois da guerra da Secessão nos Estados Unidos da América do Norte, a cultura algodoeira no Estado de S. Paulo chegou a adquirir certa importância. É assim que, entre 1870 e 1880, o Estado exportava anualmente de 7.000 a 8.000 toneladas de algodão em rama. Atualmente, porém, só produz esse têxtil para consumo de suas manufaturas, que exigem quantidades cada vez maiores. A produção total de algodão em caroço foi a seguinte, nos anos abaixo indicados:

1900-01 ........................................................   511.504 arrobas (15 quilos)

1904-05 ........................................................   568.554        "         "

1909-10 ........................................................ 1.127.101       "          "

Pela estatística agrícola de 1904-05, existiam no Estado 8.375 hectares plantados com algodoeiros, que produziram 568.554 arrobas, ou 8.528.310 quilos de algodão em caroço. Isto equivale a 2.558.493 quilos de algodão em rama, o que representa trinta por cento do produto bruto.

Em 1909-10, subiu a produção total em caroços a 16.906.519 quilos. Na safra de 1909-10, o preço do algodão em caroço oscilou entre 4$500 e 5$ por arroba. Na base de 4$500, a colheita rendeu, no mínimo, 5.071:995$700, que foram para o bolso dos plantadores. O preço do algodão em rama, de produção paulista, foi de 15$ a 17$ por arroba, ficando assim em 16$ a média. Por esta cotação, os 5.071.995 quilos acima referidos alcançaram a soma de 5.406:704$030.

A zona produtora de algodão é servida pela Estrada de Ferro Sorocabana. Aí fica o município principal produtor, o de Tatuí, que em 1909-10 produziu cerca de 2.250 toneladas de algodão bruto. O algodoeiro mais cultivado no Estado pertence à espécie Gossypium Herbaceum, de origem norte-americana. O produto que ele fornece é superior ao da Índia, conquanto seja inferior ao do Norte do Brasil. A fibra desse algodão tem, na média, 38 mm de comprimento, 0,018 a 0,019 m de diâmetro e 7 a 9 gramas de resistência e presta-se para fios de n. 40 a 50.

Em São Paulo, lançam-se à terra as sementes desta malvácea nos meses de setembro e outubro, quando as chuvas começam. A planta exige de 6 a 7 meses (setembro a abril, ou maio) para amadurecer todas as suas maças ou cápsulas. A colheita é feita de maio a junho; e as cápsulas contêm de 36 a 40 por cento de fibras limpas com 1½ a 2 polegadas de comprimento, quando a cultura é bem feita, a semente de boa qualidade etc.

Infelizmente, o algodão é atacado por um lepidóptero popularmente denominado coruquerê, cujas devastações são grandes em alguns anos. As larvas desse inseto, cientificamente conhecido pela denominação de Aletia ou Alabama argilacea, Hubner, destroem as folhas e o invólucro dos frutos, prejudicando as colheitas.

Um alqueire de terras (seis acres) produz, em média, 3.750 quilos de algodão bruto, que se reduzem a 1.125 quilos de algodão em rama, ou preparado. Esses 1.125 quilos valem atualmente 1:199$250, vigorando a cotação de 16$ por 15 quilos. As despesas dum algodoal importam em cerca de 480$000 por alqueire em média, deixando um lucro de 645$000, se a produção de algodão bruto for vendida ao preço médio de 4$500 por 15 quilos.

Com o emprego dos processos mais aperfeiçoados, essa cultura pode tomar um grande desenvolvimento. Para isso, há uma vasta extensão de terras apropriadas e um consumo garantido, e o Estado pode ainda tornar-se exportador, como outrora.

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Bragança
Foto-montagem publicada com o texto, página 632

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O plantio regular do fumo no território de S. Paulo começou em 1777. Cinqüenta anos depois, em 1827, já se produziam 300.000 quilos, exportando-se a metade por Santos. Desde então, essa cultura se desenvolveu e em 1882-83 a exportação atingiu a 1.362.811 quilos. Os algarismos abaixo indicam a marcha que tem seguido a produção total em anos regularmente espaçados:

Em 1900-01 ..................................................................... 124.560 arrobas

Em 1904-05 ..................................................................... 135.183 arrobas

Em 1909-10 ..................................................................... 136.532 arrobas

Os principais municípios produtores ficam no primeiro e quarto distritos agrícolas, servidos pelas estradas de ferro Central do Brasil e Sorocabana. É nessas zonas que a cultura se tem desenvolvido mais, pois nelas se prestam melhor as terras para a plantação do fumo, que é quase todo preparado e vendido em rolos de uma arroba. O município mais rico de fumo é S. Bento de Sapucaí, que, em 1904-05, teve uma produção de 16.111 arrobas, elevada a 48.120 arrobas em 1909-10. Seguem-se Salesópolis, Itaporanga, Piraju, S. Miguel Arcanjo, Cunha, Tietê, Descalvado etc.

Feita por pequenos agricultores, a cultura do fumo é muito lucrativa, embora o produto seja suscetível de melhor preparo. As principais qualidades cultivadas são: Belém, Jorge Grande, Havana e Virgínia. A produção de fumo no Estado é quase toda consumida pelas numerosas fábricas existentes. Em 1912, manufaturaram elas 14 milhões de charutos, 21 milhões de maços de cigarros e 104.574 quilos de fumo desfiado. O seu consumo, porém, deixa margem ainda a uma pequena exportação, principalmente por S. Bento de Sapucaí, para os demais Estados do Brasil.

A cultura do arroz existe há longos anos no vale do Rio Iguape, donde sai um produto conhecido em todo o Brasil. Ultimamente, porém, adquiriu extraordinário desenvolvimento nos vales dos rios Paraíba, Mogi-Guaçu, Tietê, em virtude das medidas protecionistas adotadas pelo Governo.

Ainda há cinco anos, o Estado importava da Índia a maior parte do arroz destinado ao consumo da população; agora, produz a quantidade necessária não só para atender a esse consumo, como ainda para exportar anualmente de 11.000 a 14.000 toneladas de produto beneficiado. A produção total de arroz em casca tem crescido consideravelmente, como se vê pelos seguintes quadros:

Em 1900-01 ...................................................................   74.224.000 litros

Em 1904-05 ................................................................... 101.424.480 litros

Em 1909-10 ................................................................... 107.665.800 litros

Para animar essa cultura, fundou o Governo, há tempos, nov ale do rio Paraíba, na estação Moreira César, um campo de demonstração, sob a direção de um profissional contratado nos Estados Unidos. Desde então, muitos cultivadores adotaram em suas plantações métodos modernos, como irrigação e máquinas aperfeiçoadas. Por esse processo, que evita os prejuízos das secas e barateia o custo da produção, o rendimento de um hectare é de 55½ hectolitros de arroz em casca.

As despesas com a produção de um hectolitro costumam ser, em média, de 2$548, papel brasileiro. O preço de venda desse arroz em casca varia entre 10$ e 13$ por hectolitro, o que deixa um belo lucro para o agricultor.

As variedades mais cultivadas são: arroz do Japão, de Cananéia, o preto, o Carolina, o agulha, o catete, o douradinho etc. O catete e o agulha, porém, são os que dão melhores resultados, não só pela maior produção, como pelo fato de se quebrarem menos no beneficiamento. A época da plantação varia de agosto a janeiro, e a da colheita, de janeiro a junho.

O arroz do Estado é de excelente qualidade, principalmente o de Iguape, que alcança os mais altos preços. Os maiores produtores são os frades Trapistas, de Tremembé; o dr. Arnolpho de Azevedo, de Lorena; o coronel Alipio Dias, de São José do Rio Pardo, e o coronel Netto, de Itu. Todos estes agricultores adotaram o método da irrigação e possuem máquinas modernas para a cultura e beneficiamento.

O milho é um dos produtos mais cultivados em todo o Estado. Geralmente, é plantado no meio dos cafezais pelos colonos das fazendas e núcleos coloniais. Todavia, existem alguns fazendeiros que cultivam em grande escala esse cereal, empregando máquinas iguais às usadas nos Estados Unidos. As variedades mais cultivadas são: o milho amarelo, o catete, o branco, o ferro, o quarantão e o pipoca.

O feijão, que constitui alimento apreciadíssimo pela população, é outro cereal muito cultivado no Estado. As suas principais variedades são: o mulatinho, o vermelho, o branco, o preto etc....

Abaixo mencionamos a produção total desses dois gêneros em anos diferentes, para mostrar o progresso alcançado:

Anos Milho Feijão
  litros litros
1900-01 564.159.000   82.217.600
1904-05 891.587.300 133.401.300
1909-10 940.000.000 142.456.000

Atualmente estão sendo empregados esforços para se estabelecer a cultura do trigo, que hoje se importa da Argentina. Já está verificado que se pode produzir esse cereal em condições satisfatórias, principalmente na zona da Estrada de Ferro Sorocabana, onde a cultura já existiu há um século atrás. Até hoje a população dos campos não sentiu grande necessidade de produzir trigo, porque substitui esse cereal pela farinha de mandioca e de milho.

A cultura da mandioca é muito rendosa e está bastante generalizada. Desse produto se fabricam anualmente cerca de cem milhões de litros de farinha e amido.

Havendo localidades no Estado em que a temperatura média anual é de 17 a 18 graus centígrados, a viticultura tem se desenvolvido nos últimos anos, principalmente depois que as experiências do ilustre cientista dr. Luiz P. Barreto esclareceram os processos a adotar para o tratamento das mais apreciadas espécies européias. Em geral, os viticultores são colonos italianos, que conhecem o fabrico do vinho e o produzem em pequena escala.

As qualidades mais cultivadas são: a Isabel, a Delaware, a Hebermont e a Black-July, entre as videiras americanas; e a Campos da Paz, e a Rupestris Paulista, entre as híbridas. Também se aclimataram numerosas espécies européias, que fornecem excelente uva de mesa, vendida a preços altos.

Os principais municípios produtores de vinho são: S. Simão, com 520.000 litros anuais; S. Roque, com 390.000 litros; Tietê, com 200.000; Amparo, com 70.000; S. Bernardo, com 45.000. No município da Capital se cultiva principalmente uva para mesa. Os irmãos Marengo e o coronel Cunha Bueno, que aí se dedicam à viticultura, tornaram particularmente notáveis os seus produtos. A produção atinge 1.700 toneladas de uva e de 15.000 a 18.000 hectolitros de vinho, por ano.

Para mostrar os lucros que a viticultura dá, basta dizer que, em Tietê, mil pés de vinha rendem dez pipas de vinho, tendo cada pipa 480 litros. Um alqueire de terra dá, na média, 14 toneladas de uva e a 5½ quilos de uva correspondem cinco garrafas de vinho. Assim, o rendimento de um alqueire regula ser de 12.500 garrafas, que, aos preços atuais, valem 3:630$000.

A indústria vinícola é grandemente protegida no Brasil pelas tarifas das alfândegas. Os direitos de importação sobre os vinhos estrangeiros elevam o custo destes ao dobro do que custa o nacional, para as qualidades comuns.


Ministério da Agricultura, São Paulo
Foto publicada com o texto, página 632

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