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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [14]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 144 a 148, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Literatos brasileiros: 1) Roberto Gomes; 2) Luiz Murat; 3) Coelho Netto; 4) João Ribeiro; 5) Silva Ramos; 6) Mário de Alencar; 7) Olavo Bilac; 8) Julia Lopes de Almeida; 9) Alberto de Oliveira; 10) Souza Bandeira; 11) O falecido Machado de Assis; 12) Rodrigo Octavio; 13) João Luso; 14) Alcides Maya; 15) Goulart de Andrade; 16) Filinto de Almeida
Foto publicada com o texto, página 144. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Literatura

que se fez no Brasil, como em toda a América, não foi mais do que uma trasladação de cultura. Seria, portanto,inútil procurar aqui, como alhures, uma literatura original. Esta só virá mais tarde, depois que os fatores fundamentais de todo o movimento espiritual – o meio e a raça – tiverem atenuado a influência das civilizações de que se destacaram os povos que fizeram a conquista e colonização do Novo Mundo.

Isso é evidente que só se daria numa fase em que as condições mesológicas chegassem a criar, com a raça histórica, uma alma nova, capaz não só de sentir aqui diretamente a natureza, como de ter uma concepção do destino social e político e um largo e espontâneo sentimento de pátria. E tão tarde se devia isto operar que há historiadores e sociólogos para os quais ainda se está operando – isto é, em cuja opinião não chegamos ainda a essa indicada fase.

Inútil seria, conseguintemente, qualquer tentativa de dividir por períodos a nossa história literária. O mais que se nos permitiria legitimamente fora separar da fase, por assim dizer, de simples ensaio, dos dois primeiros séculos (alongando-a mesmo até meados do século XVIII) a fase de manifestação propriamente literária e verdadeiramente brasileira, que só começa, a bem dizer, de 1750 em diante. Deve-se notar desde logo que, mesmo nesta última fase, tem sido de tal modo absorvente a influência do espírito europeu que se pode considerar toda a nossa intelectualidade até certa época, e, no entender de muitos, ainda hoje, quase que subalterna à do Velho Mundo. Conclui-se daí também que nada nos diriam as subdivisões, que alguns críticos têm pretendido fazer, de 1750 para cá.

Durante aquele período de ensaio, que se conta dos primeiros tempos, como dissemos, até meados do século XVIII, o que se observa é que, sob o ponto de vista puramente literário, há apenas manifestações esporádicas, sinais isolados, que se perdem no meio do pesado silêncio daquele crepúsculo colonial. Decerto que só como notícia suplementar, e não como significando vitalidade inicial ou primeiros vagidos da alma americana nesta parte do continente, é que se devem registrar os numerosos trabalhos de adventícios que por aqui andaram, espantados diante da natureza. Eram todos almas já formadas sob outros céus e que não davam mais que o seu arrebatamento e maravilha à vista da terra.

Os primeiros foram os missionários – as inteligências mais cultas que vinham – e que só talvez à grande função que traziam devessem a exigüidade da alma com que sentiram, quase todos, esta nova criação que os surpreendera.

O mais notável, o que se destaca pela sua grandeza moral e pela compunção em que viveu aqui – como deslumbrado e aflito entre os prodígios da terra e as tristezas do bárbaro – é sem dúvida o padre José de Anchieta. Dele restam as cartas, as crônicas, as anuas e, além de cantos avulsos que se lhe atribuem, autos e mistérios, lições de língua tupi,um poema dedicado à Santa Virgem.

Outros jesuítas, como Nóbrega, Cardim, Antonio Pires, Navarro etc., deixaram também cartas, anuas, diários, todos mais preciosos como documentação histórica do que interessantes pelo seu valor literário.

Entre os colonos que se distinguiram pelo cuidado com que estudaram a terra, aparecem logo no primeiro século Gandavo e Gabriel Soares. Como não têm ainda história a fazer, ocupam-se em descrever as grandezas da terra.

Pedro de Magalhães Gandavo escreve a Historia da Provincia de Santa Cruz, em que dá úteis informações sobre o que até 1576 se tinha feito nas várias capitanias. Gabriel Soares de Souza, que incontestavelmente possuía qualidades de escritor, deixou-nos o Tratado Descriptivo do Brazil, a mais completa e a mais admirável notícia do país durante todo o período colonial.

Além desses, alguns outros visitantes da terra registraram informações de preço para os que mais tarde tiveram de construir a nossa história. Se tivéssemos de citá-los todos, seria preciso começar pelo Diario de Pero Lopes de Souza, ou mesmo pela Carta de Caminha, que é, cronologicamente, o primeiro e, pelo seu valor descritivo, dos mais notáveis entre os documentos históricos do descobrimento e conquista do Brasil.

Manifestações de tal ordem ninguém se lembraria certamente de considerar como primícias do nosso gênio nacional. Todos os trabalhos citados, e muitos que continuaram a aparecer nos séculos subseqüentes, são devidos a advenas, muitos estrangeiros por aqui de passagem, e tão lícito seria incorporá-los à nossa literatura colonial como entender que são nossos, por exemplo, os estudos de Martius ou, ultimamente, os de Réclus. Mesmo os autores que são propriamente nossos, quase todos, até 1750, é forçoso reconhecer que não falam do nosso espírito senão depois deste longo período de formação.

No primeiro século, é Bento Teixeira o primeiro lampejo de aspiração francamente literária. E quem negaria que este mesmo só é nosso pelo nascimento? O seu espírito formou-se evidentemente e contato, ou sob o influxo do que de mais alto havia em Portugal. Quem lê a Prosopopéa (das que se lhe atribuíram, a única obra que se liquidou como sua) sente que está em presença de um imitador, aliás muito caprichoso e não destituído de talento, do grande épico português frei Vicente do Salvador, que vem depois, é outro; e este é talvez o de mérito mais legítimo entre os brasileiros que escreveram nos dois primeiros séculos. Pôde ele já escrever uma Historia do Brazil, a primeira que se compôs, abrangendo sucessos de 1500 a 1627. Já não é uma simples crônica local, ou mesmo de uma ou de outra zona; compreende o que se passou em toda a parte do país povoado.

Por meados do século XVII, floresce Gregorio de Mattos Guerra. Este era já realmente um poeta notável quando voltou para o Brasil, depois de se haver bacharelado e de haver exercido a judicatura no Reino. O seu espírito satírico de boêmio e a sua incontinência de revoltado contra os costumes e os preconceitos fizeram-no sempre malquisto das altas classes em toda a parte onde vivia e forçaram-no a grandes vicissitudes; foi até deportado da Bahia para a África.

Já pelos fins do século XVII ou princípio do seguinte, aparece na Bahia outro poeta, muito influenciado pelos portugueses: é Manoel Botelho de Oliveira, do qual muito pouca coisa se conhece.

Desde o primeiro quartel do século XVIII se nota grande animação entre os estudiosos e letrados. Percebe-se que uma era nova se abre e que despontam os primeiros sinais de um nascente nacionalismo subjetivo. Já há almas na colônia formadas sob as impressões da natureza americana, e o que vem agora, se não tem ainda bem assinalada feição própria, já não se confunde com o que tinha de característico a literatura da metrópole.

Para esse revigoramento e entusiasmo de princípios do século XVIII havia concorrido, sobretudo, o sentimento de pátria que se tinha criado e sempre enaltecido na defesa da terra, e que vai em breve chegar ao auge de exaltação com o orgulho gerado pela riqueza,principalmente das minas. É daí que provém o gosto dos estudos, dos debates, das controvérsias de toda a ordem,manifestado no seio das academias que, à imitação do que se faz na Europa, se vão fundando na Bahia e no Rio de Janeiro.

Aparecem, nesta primeira metade do século, dois homens realmente dignos de admiração, um na poesia e outro tanto no verso como na prosa literária; fr. Manoel de Itaparica e Antonio José. O primeiro dá um belo poema sacro, Eustachidos, sem dúvida superior a um outro, Descripção da Ilha de Itaparica, no qual o poeta afeta demais a sua intenção de mal compreendido indianismo.

Antonio José da Silva foi mais um poeta e comediógrafo português do que nosso, posto que nascido no Brasil, onde pouco tempo viveu. O seu gosto ou a índole do seu gênio, menos talvez que o terror do Santo Ofício, o fechou no exclusivismo clássico, em que o seu espírito se debatia, estourando em veladas suas terríveis alusões àquela ominosa e sacrílega tirania das consciências.

Afinal,dir-se-ia que a impiedade daquele martírio ainda lhe arrebatou uma parte de sua glória: ele é mais lastimado como vítima do nefando tribunal do que admirado como poeta e prosador. E, no entanto, esta figura é tão extraordinária que é preciso não duvidar de que venha ainda a ter o seu dia na justiça da posteridade.

Precedera a esses dois, e em gênero diverso, Sebastião da Rocha Pitta. Conquanto tivesse  pretensões a poeta e novelista, só é conhecido pela sua Historia da America Portugueza. Adiantou sobre fr. Vicente do Salvador perto de um século da vida colonial; mas o seu crédito como historiador está muito longe de competir com o do autor franciscano.

Chegamos agora à época mais notável da nossa história literária nos tempos coloniais: a que compreende a segunda metade do século XVIII. Entre as sociedades de homens de letras que, desde o primeiro quartel do referido século, se vinham criando, contava-se como de mais fama, e ao mesmo tempo mais misteriosa, a célebre Arcádia Ultramarina.

Desta, faziam parte os homens mais ilustres daquela época, tanto nas letras como nas ciências. Entre eles, estavam, ao lado dos maiores poetas do tempo, como Basilio da Gama, Santa Rita Durão, Claudio Manoel da Costa, Silva Alvarenga, Thomaz Gonzaga, sábios como Conceição Velloso, Manoel de Arruda Camara, Mariano da Fonseca (depois marquês de Maricá) e outros.

Basílio da Gama é mineiro, mas viveu menos no Brasil do que na Europa. É de crer que o seu poema Uruguay lhe fosse sugerido pelo marquês de Pombal, ou pelo menos que o pensamento de o compor e dedicar ao poderoso ministro correspondesse à proteção que junto deste encontrara. Longe,porém, decerto estava o poeta de que teria afinal de se contentar com a celebridade; pois o estro tanto lhe valeu as munificências do patrono, como depois, com o desvalimento de Pombal, a perseguição que lhe fizeram os padres.

Santa Rita Durão é, até hoje, o nosso maior épico. O seu Caramuru celebra a terra e a gente: é toda a história da terra, sentida e cantada por um grande coração. Este poeta é também mineiro e igualmente viveu mais na Europa que no Brasil; mas, pelo sentimento, é o mais brasileiro dos nossos vates.

Claudio Manoel da Costa passa hoje por ser o nosso mais célebre sonetista; da famosa escola mineira, e incontestavelmente o nome que mais se está destacando e que parece mais capaz de resistir ao tempo. Não teve a mesma fortuna que teve no gênero lírico a tentativa que fez Claudio na poesia heróica: o seu poema Vila Rica, que ele compôs com tanta ufania, supondo talvez que fosse a sua obra capital, vale menos como epopéia do que como história, principalmente acompanhado do Fundamento Histórico, memória explicativa do poema, e que valeu ao autor um lugar entre os melhores cronistas dos antigos tempos de Minas.

Manoel Ignacio da Silva Alvarenga é outro grane poeta filho de Minas; apenas, a sua obra não é tão conhecida como a dos outros líricos do tempo. Cultivou a sátira com êxito. Era um espírito combativo, entusiasta das novas idéias que lavravam na Europa. Teve por isso de se meter em complicações com o tenebroso conde de Resende, chegando a ser, com muitos outros, preso e processado como suspeito jacobino...

Ignacio José de Alvarenga Peixoto é também poeta lírico muito apreciado; muitos o comparam a Claudio e há até quem tenha descoberto nele mais vigor de imaginação que no cantor da Villa Rica. Depois de formado em Coimbra, veio advogar no Rio; e daqui foi logo para Minas, como ouvidor do Rio das mortes. Ali se casou com d. Barbara Heliodora, senhora de espírito nobilíssimo e cuja grandeza moral se pôs em relevo no dia da catástrofe que caiu sobre os Inconfidentes. As poesias de Alvarenga Peixoto foram reunidas em volume por Joaquim Norberto, em 1865.

Thomaz Antonio Gonzaga é o mais popular dos poetas da escola mineira, e para muita gente mesmo de espírito é ainda o mais afamado daquele brilhante cenáculo de Vila Rica. As suas liras gozavam até bem pouco tempo de vasta popularidade, no Brasil e em Portugal. Atribui-se-lhe também a autoria das Cartas Chilenas, poema satírico de valor e que alguns afirmam ser de Claudio, mas que talvez, com mais verdade, se deva considerar como obra dos dois, senão de todo aquele famoso grupo mineiro.

Pertencem ao mesmo período (conquanto muitos deles tenham falecido já muito tempo depois de 1800) outros poetas, como Francisco Cardoso, Antonio Mendes Bordallo, o padre José Gomes, Francisco de Mello Franco e ouros, dados à sátira: Caldas Barbosa, grande repentista, muito popular no seu tempo; Bento Aranha,lírico digno de apreço; Bartholomeu Cardovil; padre Miguel Eugenio e outros. Todos esses, no entanto, são de valor secundário.

Entre os cronistas desta época, distinguiram-se os seguintes: Jaboatão, Pereira de Sant'Anna, Pedro Taques e frei Gaspar da Madre de Deus. Frei Antonio de Santa Maria Jaboatão, religioso menorista, foi orador e escreveu a crônica da sua ordem, sob o título de Novo Orbe Seraphico Brazilico, importante pelos copiosos documentos históricos que registra – lendas, tradições, notícias etc.

Fr. José Pereira de Sant'Anna, sábio carmelita, escreveu, entre outras obras em que revela notável erudição, a crônica de sua ordem. Pedro Taques de Almeida Paes Leme (nascido em S. Paulo) foi um dos homens que mais conheceram as crônicas dos nossos tempos coloniais. Com a sua Nobiliarchia Paulistana, a Historia da Capitania de São Vicente, e um sem número de memórias, informações, notícias, cartas etc., prestou ele os maiores serviços ao futuro historiador.

O beneditino fr. Gaspar da Madre de Deus não nos deixou tanto como o precedente, embora acreditem muitos que o seu espólio seja mais farto que a porção conhecida. Assim mesmo, as suas Memorias para a Historia da capitania de S. Vicente bem poderiam suprir o mais e são suficientes para lhe dar um lugar de destaque entre os mais seguros e fidedignos cronistas de todo o período colonial.

Chegamos agora ao século XIX; e a primeira impressão que temos é de que está em fortuna a eloqüência tribunícia. Até 1825, é no púlpito que se fazem as manifestações mais brilhantes do espírito brasileiro; de 1825 em diante, até 1840, têm o seu tempo os oradores parlamentares. Sente-se aí, primeiro, a influência da Corte; depois, é a causa da organização nacional que opera, agitada na imprensa, discutida nas Câmaras. Durante o governo de d. João VI, o sermão era nota obrigada em todas as cerimônias da Corte; e a sermonística, em grande favor junto do trono, teve os seus áureos dias. Com razão já disse uma das grandes figuras daquele tempo que "a Capela Real do Rio de Janeiro foi a arena onde se mostrou em toda a sua pompa o gênio brasileiro".

Na tribuna sagrada, emulavam São Carlos, Jesus Sampaio, monsenhor Netto, Januário da Cunha Barbosa, Mont'Alverne... Fr. Francisco de São Carlos, além de poeta, foi orador de grande fama: dele subsistem, com o poema A Assumpção, alguns sermões e orações fúnebres. Fr. Francisco de Santa Thereza de Jesus Sampaio é outro vulto daquela época. Sucedeu este no púlpito ao padre Souza Caldas,a quem coubera, até 1812 ou 1813, o primado da eloqüência sagrada na Corte. Mas aqui suceder não tem cabida, pois todos aqueles nobres êmulos andavam a revezar-se na admiração do seu tempo.

De toda aquela plêiade, no entanto, se é possível destacar o de maior brilho, será esse fr. Francisco de Mont'Alverne, que, pode-se dizer, assombrou mais de uma geração e cujo renome parece crescer com o tempo. Ele veio como para encerrar aquela fase; o fulgor de sua eloqüência marca as proporções de seu gênio, verdadeiramente grandioso e incomparável.

A poesia, nesta fase, estava, como diz um autor, "em pobreza". Não se contou, durante todo o período de fundação do Império, nenhum grande poeta. O mais notável, entre alguns que fizeram versos, foi talvez Natividade Saldanha. Mas a este mesmo as vicissitudes da política esterilizaram, ou pelo menos impediram que nos desse quanto dele se esperava.

Os outros - Januario da Cunha Barbosa, fr. Barauna, Villela Barbosa (marquês de Paranaguá), Eloy Ottoni, Borges de Barros (visconde da Pedra Branca), José Bonifácio – o patriarca da Independência – e porventura alguns outros mais – são figuras, como poetas, secundárias e quase de todo esquecidas. A política absorvia os espíritos e o afã do debate na imprensa e na tribuna criava jornalistas e oradores, demagogos e homens de Estado.

Foi o tempo de Hypolito da Costa, Januario Barbosa, Gonçalves ledo, Antonio José do Amaral, Vieira Souto, o grande Evaristo da Veiga, e tantos outros, notáveis na imprensa política.

As manifestações mais brilhantes, no entanto, se produziram nas assembléias. O parlamento era a vasta arena para os grandes certames, em que a vida intelectual tomava um aspecto heróico. Poderíamos citar de momento pelos seus nomes uma centena de figuras, todas altamente dignas, umas pelo desassombro do liberalismo, outras pelo vigor da palavra – todas pela segurança e ufania com que tomavam a causa suprema  naquele grande momento de nossa história. Entre os parlamentares da primeira linha, estavam Vergueiro, os três Andradas (Antonio Carlos, Martim Francisco e José Bonifácio), Araujo Lima, Feijó, Evaristo, Nogueira da Gama, Carneiro da Cunha, Silva Lisboa, Maciel da Costa, Carvalho e Mello, Carneiro de Campos, Bernardo de Vasconcellos, Honorio Hermeto, Paula Souza, Gonçalves Ledo, Lino Coutinho, Odorico Mendes, Alves Branco, Rodrigues Torres, Candido Baptista e tantos outros.

No meio de todos esses que esplendem no jornalismo,na tribuna sagrada e no parlamento, aparecem os sábios, como Azeredo Coutinho, Cayru, Moraes e Silva etc. Este último, fluminense, dotou a língua portuguesa de um trabalho monumental, o seu Diccionario, ainda hoje em grande estima e admiração pelos filólogos. O Visconde de Cayru destaca-se, naqueles tempos, menos como parlamentar propriamente dito que como erudito, sobretudo nos ramos do Direito Civil e Comercial, na economia política, na administração etc.

No gênero Crônica Histórica figuram neste período: o padre Ayres de Casal, com a sua preciosa Corographia Brazilica; monsenhor Pizarro, com as suas Memorias Historicas do Rio de Janeiro e provincias annexas á jurisdicção do Vice-Rei do Estado do Brazil, em 10 volumes; Balthazar Lisboa, com os seus Annaes do Rio de Janeiro (além dos trabalhos sobre Botânica, Estatística e Jurisprudência que formam a sua farta bagagem de laborioso cientista); o cônego Luiz Gonçalves dos Santos, com as suas  Memorias para servir á historia do reino do Brazil; o visconde de S. Leopoldo (José Feliciano Fernandes Pinheiro) com os seus Annaes da Provincia de S. Pedro; Ignacio Accioly de Cerqueira e Silva, com as suas Memorias Historicas da Bahia e grande número de trabalhos sobre etnografia etc.

De 1830 por diante, ou mais acentuadamente de 1840, tomam novo impulso as letras brasileiras com os três grandes poetas que enchem o período romântico: Magalhães, Porto Alegre e Gonçalves Dias. Além destes,encontram-se, mas em segundo plano, Odorico Mendes, Queiroga, Maciel Monteiro, Moniz Barreto, Velho da Silva e outros.

Odorico Mendes, se não é, como poeta, figura de primeira ordem, é talvez, de toda a nossa literatura, o espírito mais notável pela sua erudição clássica. Traduziu a Illiada de Homero e todo Virgilio.

Magalhães (visconde de Araguaia), além de poeta, foi filósofo. Dele temos, como representando o mais intenso esforço do seu espírito (conquanto não seja a mais valiosa de suas produções poéticas), o poema épico muito conhecido Confederação dos Tamoyos.

Porto Alegre (barão de Santo Ângelo), além de poeta, foi pintor e arquiteto. Era um grande entusiasta da natureza, da história, das ruínas. A sua obra mais notável é a epopéia Colombo.

Gonçalves Dias é o mais popular daqueles três indicados. Este, fora do seu indianismo, nem sempre tão verdadeiro quanto delicado e às vezes forte, foi essencialmente um lírico. Entre as suas obras são mais conhecidas: os Tymbiras, Canção do Marabá, Y-Juca-Pyrama, Sexttilhas de Frei Antão. Era também um estudioso de coisas pátrias, e deixou, além de muitos trabalhos sobre línguas indígenas e sobre pontos da nossa história, uma obra notável sobre as origens das raças americanas, sob o título de O Brasil e a Oceania.

A esses três grandes vultos, vão se juntando: Laurindo Rabello, Alvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Junqueira Freire, Casemiro de Abreu (o mais popular de todos os da geração), Fagundes Varella, Luiz Guimarães, Castro Alves (aquele "cujo estro tinha as proporções da terra em que nascera"). Esses são os mais ilustres da imensa lista de poetas que cantaram até, mais ou menos, 1880.

Entre os romancistas e dramaturgos florescem Manoel de Macedo, José de Alencar, Teixeira e Souza, Escragnole Taunay, Martins Penna (este é o maior dos autores dramáticos da época). Os mais fecundos do grupo foram Alencar e Macedo, que são igualmente os mais populares. Ambos escreveram romances, novelas e peças para teatro.

Agrario de Menezes foi poeta de merecimento, mas é mais conhecido como dramaturgo e comediógrafo. No romance, principalmente de costumes, distinguiu-se Manuel Antonio de Almeida, com o seu Memorias de um sargento de milícias. Como dramaturgos e romancistas, fizeram jus a um lugar distinto na nossa história literária Francisco Pinheiro Guimarães, Franklin Tavora e o já referido E. Taunay (visconde de Taunay), um dos mais brilhantes da geração e talvez o mais conhecido fora do país.

Entre os historiadores, os que brilharam na oratória e no jornalismo, começam a aparecer grandes figuras, muitas que entram já pelo seguinte período, e até alguns que ainda vivem. Varnhagen (visconde de Porto Seguro) tem um lugar único em toda a nossa história. Foi ele o primeiro que escreveu uma Historia Geral do Brazil compreendendo os sucessos de 1500 a 1822. Escreveu também uma Historia das luctas com os Hollandezes e um sem-número de monografias e notícias que, com a descoberta e publicação de correspondências, diários, roteiros, memórias etc., dos tempos coloniais, constituem a mais copiosa documentação da nossa história antiga.

O dr. Mello Moraes, pai, não fez propriamente história, mas crônica; e pela profusão dos trabalhos que deixou é comparável aos mais operosos cultores das nossas tradições. O mesmo quase se poderia dizer de Joaquim Norberto, se este não tivesse um pouco mais de ordem no vigoroso esforço com que tanto trabalhou e se não tivesse ensaiado gêneros propriamente literários em prosa e verso. Prestou ainda Joaquim Norberto às letras pátrias o inestimável serviço de haver dirigido a publicação de obras de muitos dos nossos poetas.

Como historiador, o conselheiro João Manoel Pereira da Silva não é mais notável do que como político e em geral como polígrafo. As suas obras históricas, no entanto, sem serem modelos no gênero, não são destituídas de certo mérito. Escreveu ele a Historia da Fundação do Imperio, Segundo Periodo do Reinado de Pedro I, Historia do Brazil de 1831 a 1840 e outras monografias. Devemos-lhe ainda: Varões illustres do Brazil nos tempos coloniais e A Historia e a Legenda.

A estes se devem juntar: Abreu e Lima, de quem existe um apreciado Compendio de Historia do Brazil; Joaquim Caetano da Silva, o notável espírito a quem tanto devem as nossas letras e que foi incontestavelmente o mais consciencioso investigador da nossa história colonial (dos seus trabalhos, o mais conhecido é L'Oyapock et l'Amazone); Machado de Oliveira, que nos deixou tantas e tão úteis memórias e estudos; os irmãos Candido Mendes e João Mendes; Joaquim Felicio dos Santos (além de memórias históricas escreveu romances e livros de Direito); Teixeira de Mello, Xavier da Veiga, barão de Guajará (Rayol) e outros.

Mas o escritor mais notável desta fase é João Francisco Lisboa, hoje um dos mais modernos clássicos da língua. É este o lugar em que devemos colocar Tobias Barreto, poeta e filósofo, mais filósofo que poeta, que marcou era nos anais do nosso espírito, sobretudo com os seus trabalhos de Filosofia e de Direito.

Pode-se colocar por volta de 1880 o início da atual geração literária do Brasil, a qual nada fica a dever, pelo número como pelo valor dos nomes que a representam, nos diversos gêneros, a qualquer das gerações que a precederam. Na poesia, deixados mesmo de parte os nomes de alguns diletantes de talento, como Francisco Octaviano e José Bonifácio, o Moço, aparece toda uma numerosa floração que, com Luiz Delphino e Raymundo Corrêa, entre os mortos, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, entre os vivos, deu o melhor da época.

Em Luiz Delphino, há alguma coisa da grandeza confusa de mundos em formação; e a sua obra caótica, até agora ainda não reunida em volume, contém algumas das criações mais arrojadas da poesia brasileira, ao lado de centenas de sonetos e quadras, destinados a passarem rapidamente.

Raymundo Corrêa não teve desses altos e baixos. Se é certo que, de sua obra, não muito vasta, algumas produções vieram a uma excepcional popularidade, enquanto outras ficaram quase desconhecidas, pode-se todavia dizer que toda ela é mais ou menos homogênea e uniforme, feita dum lirismo que nunca foi excedido em delicadeza e do mais requintado subjetivismo de sensações.

Mas, ainda em vida desses dois, os poetas com maior popularidade na presente época literária, e aqueles que têm exercido influência mais assinalada sobre as gerações mais recentes, são decerto os srs. Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Ambos deram à sua poesia os maiores cuidados de forma e neste sentido influenciaram toda a época.

Quanto à essência de sua poesia, as diferenças entre os dois são, porém, sensíveis. o sr. Olavo Bilac, sobretudo com as suas Sarças de Fogo e a Via Lactea, deu à poesia brasileira uma nota de estonteante sensualidade, como ela não vira antes, senão esporadicamente. O sr. Alberto de Oliveira, fora da poesia de sentimento, para que escolheu assuntos de intimidade, quase ingênuos, fez-se poeta nacional, por excelência: não cantando feitos históricos, para o que não o chama a sua lira, mas dando forma poética às visões da natureza, à beleza luminosa do céu, à alma ruidosa das florestas, à majestade tranqüila dos rios.

É certo que o sr. Bilac, no Caçador de Esmeraldas, a última das suas produções, fez também poesia eminentemente nacional, não só pelo ambiente como pelo assunto, que é da história colonial do Brasil. Mas esse poema está, a bem dizer, isolado, não valendo, por isso, ao poeta, o mesmo título que cabe ao sr. Alberto de Oliveira, em cuja obra toda palpita a alma nacional.

Dentre os mortos, merece ainda especial destaque, além de outros menores, como Guimarães Passos e Saturnino de Meirelles, o negro Cruz e Souza; não tanto pela essência mesma de sua poesia, em que aliás estua toda a fogosa afetividade de sua raça, mas sobretudo pelos arrojos e inovações da sua técnica, que fizeram escola.

Da mesma geração dos srs. Bilac e Alberto de Oliveira são ainda, entre os vivos, os srs. Augusto de Lima - talvez aquele em cuja poesia se encontra mais profundeza e nitidez de pensamento -, Luiz Murat, Affonso Celso, Filinto de Almedia, Mello Moraes Filho, Emilio de Menezes - um cinzelador de belos versos, como poucos outros existem, mas cujo grande talento se compraz sobretudo nas pequenas quadras satíricas, ferinas e sutis como estiletes envenenados.

Logo em seguida a esta geração, que vive, aparecem os poetas mais recentes, geralmente influenciados pelas últimas produções dos parnasianos e simbolistas franceses, dos quais, porém, é justo confessar, não tiraram mais que as lições de forma ou as tendências de assunto, conservando todavia intacta a sua sensibilidade.

Tais são os srs. Alphonsus de Guimarães e Mario Pederneiras, Carlos D. Fernandes e Felix Pacheco, d. Francisca Julia e Vicente de Carvalho, Arthur Lobo, Mario de Alencar, Magalhães Azeredo, Luiz Guimarães, Fontoura Xavier, seguidos pelos srs. Goulart de Andrade, Oscar Lopes, Hermes Fontes, Tavares Bastos, Castro Menezes; Flexa Ribeiro e Humberto de Campos no Pará; Da Costa e Silva no Piauí; Matheus de Albuquerque em Pernambuco; Amadeo Amaral e Baptista Cepellos em S. Paulo; Emiliano Pernetta no Paraná, e muitos outros que começam a aparecer, ou apenas se anunciam, prometedoramente.

Entre os prosadores, Machado de Assis, recentemente falecido, e o sr. Ruyh Barbosa figuram como os dois melhores escritores que a língua portuguesa já tem tido no Brasil. Machado de Assis abordou gêneros diversíssimos, como a poesia e o romance, o teatro e o conto, levando a todos eles uma personalidade que foge a qualquer classificação por escolas. Ele foi contemporâneo de Alencar e viu o aparecimento dos últimos rebentos literários desta geração, que seu nome domina; mas a sua obra nada tem de parecido com a de qualquer outro escritor do país.

Sua linguagem é do mais puro aticismo; a essência de seu pensamento tem da ironia sentimental de Sterne e um pouco da filosofia de De Maistre; as suas Memorias de Braz Cubas, Quincas Borba, O Memorial de Ayres são talvez as obras mais originais, e certamente as mais bem escritas, que a literatura do Brasil pode apresentar. Quando se fundou a Academia Brasileira de Letras, seus pares lhe deram, com a presidência, o tácito reconhecimento da sua primazia entre os homens de letras do Brasil.

O sr. Ruy Barbosa não é um escritor de ficção. Parlamentar e jurista, filólogo e jornalista, assombra os seus compatriotas, pela sua eloqüência maravilhosa e a vastidão de seus conhecimentos, ao que parece infinita. Nunca o Brasil produziu mentalidade com mais vastas proporções. O que lhe dá, porém, lugar de tamanha saliência na literatura nacional, é a forma dos seus discursos, a pureza e correção de sua linguagem, que, em vida dele, já tem a mesma autoridade vernácula dos clássicos mais respeitados; é, enfim, a beleza puramente literária das imagens e descrições com que, não raro, são embelezados os seus discursos sobre o menos literário dos assuntos.

Dos escritores vivos, porém, o nome em maior evidência, no mundo exclusivamente literário do Brasil, é o do sr. Coelho Netto, que já o era, aliás, no próprio tempo de Machado de Assis. Tendo estreado com puras fantasias em forma de contos, do tipo das Balladilhas, o mais fecundo dos escritores brasileiros tem abordado, nos seus setenta volumes, os gêneros mais diversos, derramando por eles uma torrente por tal forma abundante de imaginação, que não parece exagerado afirmar-se que ele poderia escrever, por si só, as Mil e Uma Noutes, produto da colaboração acumulada de várias gerações dum povo imaginoso.

Como criador de fantasias, que a sua pena veste com a mais pomposa e variegada roupagem de vocabulário, dificilmente se lhe pôde comparar outro nome de qualquer literatura. A sua grande força d'arte, porém, é o conto sertanejo, campo largamente explorado no Brasil, e às vezes com bastante talento - como no caso, entre outros, dos srs. Affonso Arinos e Viriato Corrêa - mas que com o sr. Coelho Netto atinge um vigor de dramaticidade e uma intensidade de descrições não superados.

O seu Sertão, que pode ser colocado no pólo oposto ao Braz Cubas, de Machado de Assis, é a obra mais extraordinária que a literatura sertaneja do Brasil já tem produzido.

No romance propriamente dito, com a feição bem definida que lhe deu a escola realista, o nome mais popular é o do sr. Aloisio Azevedo, que continua a ter um público excepcionalmente vasto para o Brasil, apesar de ter cessado a sua produção literária desde muitos anos. O seu Mulato, O Cortiço, A Casa de Pensão, mais do que outros romances com grandes preocupações de psicologia, são efetivamente as mais flagrantes pinturas de tipos e aspectos da vida brasileira na grande cidade.

O romance psicológico não deu talvez obra mais intensa do que o Atheneo de Raul Pompéa, um nome que não chegou a se fazer popular, tendo ele cedo morrido, mas que goza do mais alto prestígio entre os intelectuais do país.

Em nossos dias, o romance propriamente tal tem, talvez, em d. Julia Lopes de Almeida, a sua figura mais representativa: o ambiente familiar carioca não encontrou decerto melhor e mais fiel expoente. E alguns nomes mais novos, como os dos srs. Thomaz Lopes, Fabio Luz, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Alcides Maya, com suas histórias regionais, do pampa rio-grandense, prometem boa messe.

Sob a forma de romance, porém, as duas aparições mais notáveis dos últimos anos têm sido Chanaan do sr. Graça Aranha e A Esfinge do sr. Afranio Peixoto; este, um romance de idéias bem definido, não no sentido do romance de tese, isto é, uma fabulação tendente a demonstrar uma tese prefixada, mas uma fabulação que é simples pretexto para desenvolvimento de idéias esparsas sobre todas as coisas com ela conexas; Chanaan, o único livro talvez, da literatura brasileira, em que se dá uma forma estética ao embate das correntes filosóficas que agitam todos os espíritos de nosso tempo.

Igual ao êxito de Chanaan, nos últimos anos da produção literária do Brasil, só foi o aparecimento estrepitoso dos Sertões que, de um dia para outro, fizeram do malogrado Euclides Cunha uma das figuras mais admiradas na literatura brasileira. A coragem das suas revelações sobre a infausta Campanha de Canudos e o nervosismo exuberante das suas descrições - alguma coisa de comparável a essas formidáveis árvores retorsas das florestas brasileiras, que se agigantam umas às outras, numa ansiada e tumultuosa porfia, à busca do ar livre e da luz radiosa - lhe deram uma personalidade literária inconfundível.

A crítica literária tem como mais ilustres representantes os srs. Sylvio Romero, de vastíssima cultura filosófica; o há pouco falecido sr. Araripe Junior, talvez o de mais requintado gosto literário; e o sr. José Veríssimo, em que as condições de cultura e gosto bem equilibradas e casadas coma clareza de idéias, que falta aos outros dois, fazem dele uma espécie de Emilio Faguet na literatura do Brasil.

Entre os mais novos, podem citar-se os nomes dos srs. Elysio de Carvalho, O. Duque Estrada, Severiano de Rezende, Tristão da Cunha.

O jornal é, presentemente, um dos melhores expoentes da cultura literária do povo brasileiro. Para ele contribuem as melhores inteligências de todos os ramos; desde os literatos de pura ficção aos filólogos, como os srs. Heraclito Graça e Candido do Lago; eruditos e historiadores como os srs. Capistrano de Abreu, barão Homem de Mello, Vieira Fazenda, Alfredo de Carvalho, Ernesto Senna, Pires de Almeida, Noronha Santos, Rocha Pombo - que acaba de publicar uma Historia do Brazil monumental, por suas dimensões (dez volumes) como por seu conteúdo -; juristas como os srs. Pedro Lessa, Clovis Bevilacqua, Inglez de Souza, Rodrigo Octavio, Lima Drummond, Esmeraldino Bandeira; jovens estudiosos da história diplomática do país, como os srs. Araujo Jorge e Helio Lobo; sem falar nos especialistas de todas as matérias, que aparecem esporadicamente pelas colunas dos periódicos.

Entre os jornalistas profissionais, porém, os dois maiores nomes entre os mortos recentes são os de José de Patrocinio e Ferreira de Araujo; e entre os vivos, disputam a primazia os srs. Alcindo Guanabara e Medeiros e Albuquerque; aquele, mestre reconhecido do artigo de fundo substancioso; este, inigualável no artigo de argumentação rápida e incisiva, embora desataviada.

Também os srs. Leão Velloso, Manoel da Rocha, João Lage, Salamonde, têm o seu público fiel e numeroso. Não parece, porém, errado afirmar-se que a nova geração de jornalistas já revela uma força nada inferior à dos seus predecessores. O sr. João do Rio (Paulo Barreto), que aliás é também um nome de especial destaque na literatura de ficção, trouxe ao jornalismo brasileiro feições inesperadas, revelando uma personalidade em que se casam admiravelmente os dotes de sensibilidade e de inteligência, a serviço do espírito mais jornalisticamente curioso e irrequieto. Ele é a figura de maior evidência na jovem geração literária do Brasil, e certamente a imprensa brasileira ainda não viu outra figura mais admiravelmente dotada, do ponto de vista literário.

Os srs. João Luso, Felix Pacheco, Gilberto Amado, escrevem uma língua duma beleza e correção raramente atingidas nos jornais; os srs. Victor Viana, Joaquim Vianna, Lindolpho Azevedo, tratam, com largo conhecimento, dos mais sérios assuntos econômicos e sociais; e a crônica frívola e brilhante apresenta uma plêiade tal de jovens escritores com real talento, que qualquer tentativa de enumeração seria necessariamente falha.

Uma feição da literatura brasileira, que nunca teve grande brilho, mas que, após um abandono quase completo, tenta reviver, é o teatro. A figura de maior relevância no gênero é a de Arthur Azevedo, que aliás alcançou grande popularidade em vários outros gêneros literários, mas cujo nome está essencialmente ligado à história do teatro brasileiro.

Depois de haver contribuído, mais que qualquer outro, para desmoralizar o teatro como gênero literário, tendo empregado o seu talento na confecção de revistas de ano, que - justamente por serem bem feitas - conquistaram as graças do público e arrastaram para o gênero algumas outras inteligências bem dotadas -, Arthur Azevedo consagrou os últimos anos de sua vida à fundação dum verdadeiro teatro nacional.

Para tal, não só dedicou o melhor do seu talento de jornalista, como escreveu três ou quatro dramas e comédias de ambiente, que são de fato a base literária desse teatro nascente.

Dizer-se que ao gênero estão se dedicando escritores feitos, como o sr. Coelho Netto e d. Julia Lopes de Almeida, poetas de real talento como os srs. Goulart de Andrade e Oscar Lopes, jornalistas bem dotados como os srs. João Luso, João do Rio e Roberto Gomes - é fazer o melhor augúrio para esse teatro: o sr. João Luso foi mesmo recebido, na sua estréia, como um dramaturgo já feito; e o sr. João do Rio teve uma peça representada dez vezes seguidas na temporada de 1912, o que é o melhor testemunho de que o público carioca já começa a se interessar pela produção dramática nacional.

Existem, finalmente, vultos de destaque literário que fogem a classificações. Tais são, especialmente, Joaquim Nabuco, entre os mortos; os srs. Oliveira Lima e João Ribeiro, entre os vivos.

Joaquim Nabuco, parlamentar no começo e diplomata no fim de sua vida, foi - um pouco como Eduardo Prado - uma espécie de diletante literário, gastando uma porção de talento em tentativas diversas, desde a poesia até a filosofia. O seu nome, porém, ficará especialmente ligado, na literatura do Brasil, à história política, que tem nos seus livros A Minha Formação e Um Estadista do Império o que ela tem produzido de melhor.

O sr. Oliveira Lima é outro diplomata, que começou com a literatura de viagens, passou pelo drama histórico e se dedica especialmente à crítica e à história social e política. O seu nome, já largamente admirado, alcançou um brilho especial, com a sua recente colaboração para a Revue de Pariz, e suas conferências na Sorbonne e nas universidades norte-americanas.

O sr. João Ribeiro, pedagogo e poeta, é o mais brilhante dos eruditos brasileiros, sabendo vestir as suas idéias, baseadas numa larga cultura, com uma linguagem em que se harmonizam as belezas do artista com a correção do filólogo. O sr. Souza Bandeira é outro escritor elegante, de larga cultura e clara percepção crítica. O sr. Nestor Victor acaba de alcançar especial êxito na literatura de viagens.

Ao leitor não familiarizado com a literatura no Brasil parecerá, talvez, demasiado longa a enumeração de nomes, que vimos de fazer. Pesa-nos, todavia, a consciência de haver feito não poucas omissões, que constituem talvez verdadeiras injustiças, particularmente para com certos escritores dos Estados.

Ainda recentemente, o poeta nicaragüense sr. Rubén Dario, um dos líderes reconhecidos da literatura contemporânea de língua castelhana, numa artigo para La Nacion de Buenos Aires, endossava a opinião expressa por outro escritor hispano-americano, o sr. Garcia Merou, em seu livro El Brasil intelectual, de que existe mais cultura literária no Brasil do que em toda a América espanhola reunida.

De como essa cultura está disseminada, são testemunho, além das inumeráveis pequenas associações literárias, as Academias de Letras fundadas em diferentes estados - tais como Pernambuco, Bahia, Minas e S. Paulo -, onde têm assento os escritores de mais nomeada local.

A seguinte lista de membros da Academia Brasileira de Letras, constituída por 40 escritores de diversas classes intelectuais, terá o duplo efeito de corrigir algumas das nossas omissões e indicar os nomes daqueles que receberam o reconhecimento, pode-se dizer, oficial dos seus méritos literários: Affonso Arinos, Affonso Celso, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, almirante Jaceguay, Aloísio Azevedo, Arthur Orlando, Augusto de Lima, Afranio Peixoto, Carlos de Laet, Clovis Bevilacqua, Coelho Neto, Domicio da Gama, general Dantas Barreto, Filinto de Almeida, Felix Pacheco, Garcia Redondo, Graça Aranha, Heraclito Graça, Inglez de Souza, João Ribeiro, José Veríssimo, cons. Lafayette Pereira, Luiz Murat, Magalhães Azeredo, Mario de Alencar, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Oliveira Lima, dr. Oswaldo Cruz, Paulo Barreto, Pedro Lessa, Rodrigo Octavio, Ruy Barbosa, Salvador de Mendonça, Souza Bandeira, Sylvio Romero, Silva Ramos, Vicente de Carvalho.

A cadeira do barão de Rio Branco foi, em setembro último, preenchida pelo sr. Lauro Müller, que entrou, assim, numa dupla sucessão do ilustre morto.

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