Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300a2nb262.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/28/10 15:29:54
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1587 - BIBLIOTECA NM
1587 - Notícia do Brasil - [II - 184]

Clique na imagem para voltar ao índice desta obraEscrita em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza, essa obra chegou ao eminente historiador Francisco Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou em 1851, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários. Em 1974, foi editada com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, com extensas notas de importantes pesquisadores. Mais recentemente, o site Domínio Público apresentou uma versão da obra, com algumas falhas de digitalização e reconhecimento ótico de caracteres (OCR).

Por isso, Novo Milênio fez um cotejo daquela versão digital com a de 1974 e com o exemplar cedido em maio de 2010 para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá. Este exemplar corresponde à terceira edição (Companhia Editora Nacional, 1938, volume 117 da série 5ª da Brasiliana - Biblioteca Pedagógica Brasileira), com os comentários de Varnhagen. Foi feita ainda alguma atualização ortográfica:

Leva para a página anterior

Tratado descritivo do Brasil em 1587

Leva para a página seguinte da série


Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa

SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIA

TÍTULO 18 — Informações etnográficas acerca de outras nações vizinhas da Bahia, como tupinaés, aimorés, amoipiras, ubirajaras etc.

Capítulo CLXXXIV

Que trata de quem são os tapuias, quem são os maracás.

Como os tapuias são tantos e estão tão divididos em bandos, costumes e linguagem, para se poder dizer deles muito, era necessário de propósito e devagar tomar grandes informações de suas divisões, vida e costumes; mas, pois ao presente não é possível, trataremos de dizer dos que vizinham com a Bahia, sobre quem se fundaram todas estas informações que neste caderno estão relatadas; começando logo que os mais chegados tapuias aos povoadores da Bahia são uns que se chamam de alcunha os maracás, os quais são homens robustos e bem acondicionados, trazem o cabelo crescido até as orelhas e copado, e as mulheres os cabelos compridos atados detrás, o qual gentio fala sempre de papo tremendo com a fala, e não se entende com outro nenhum gentio que não seja tapuia.

Quando estes tapuias cantam, não pronunciam nada, por ser tudo garganteado, mas a seu modo; não entoados e prezam-se de grandes músicos, a quem o outro gentio folga muito de ouvir cantar. São estes tapuias grandes flecheiros, assim para a caça como para seus contrários, e são muito ligeiros e grandes corredores, e grandes homens de pelejarem em campo descoberto, mas pouco amigos de abalroar cercas; e quando dão em seus contrários, se se eles recolhem em alguma cerca, não se detêm muito em os cercar, antes se recolhem logo para suas casas, as quais têm em aldeias ordenadas, como costumam os tupinambás.

Estes tapuias não comem carne humana, e se tomam na guerra alguns contrários, não os matam; mas servem-se deles como de seus escravos, e por tais os vendem agora aos portugueses que com eles tratam e comunicam.

São estes tapuias muito folgazões, e não trabalham nas roças, como os tupinambás, nem plantam mandioca, nem comem senão legumes, que lhes as mulheres plantam, e granjeiam em terras sem mato grande, a que põem o fogo para fazerem suas sementeiras; os homens ocupam-se em caçar, a que são muito afeiçoados.

Costuma este gentio não matar a ninguém dentro em suas casas, e se seus contrários, fugindo-lhes da briga, se acolhem a elas, não os hão de matar dentro, nem fazer-lhes nenhum agravo, por mais irados que estejam; e esperam que saiam para fora, ou, se lhes passa a ira e aceitam-nos por escravos, ao que são mais afeiçoados que a matá-los, como lhes fazem a eles.

São os tapuias contrários de todas as outras nações do gentio, por terem guerra com eles ao tempo que viviam junto do mar, de onde por força de armas foram lançados; os quais são homens de grandes forças, andam nus, como o mais gentio, e não consentem em si mais cabelos que os da cabeça, e trazem os beiços furados e pedras neles, como os tupinambás.

Estes tapuias são conquistados, pela banda do Rio de Seregipe, dos tupinambás que vivem por aquelas partes; e por outra parte os vêm saltear os tupinaés, que vivem da banda do poente; e vigiam-se ordinariamente de uns e dos outros; e está povoado deste gentio por esta banda cinqüenta ou sessenta léguas de terra; entre os quais há uma serra, onde há muito salitre e pedras verdes, de que eles fazem as que trazem metidas nos beiços por bizarria.