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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PERSONAGENS
Tipos curiosos (32)

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Esta história foi contada na edição de 10 de julho de 1927 do jornal paulistano Folha da Manhã, em sua página 6 (ortografia atualizada nesta transcrição):

A "Virgem do Miramar"

A história comovente de Wanda Buchman, que dançou nos cabarés do Brasil - Ela morreu anteontem, na Santa Casa

Com ou sem lirismo, não é mentira afirmar que a morte de Wanda causou sensação.

Foi anteontem, em Santos.

Wanda dançou por todo o brasil.

Parecia uma boneca de Baden.

Era uma figureta de predomínio nos cabarés.

A conflagração mundial descobriu o atlas do exílio.

O Guilherme II foi serrar lenha no castelo de Doru.

Wanda veio dançar no Brasil.

Muito garota emigrou. Chegou no porão de um navio com a mãe.

Duas criaturas atrás da felicidade... Que grande pilhéria a vida!

Com uma filha e com fome, a velha dirigiu-se a um aluguer.

E trabalhou.

Comer pão com o suor do rosto não é "sopa", não.

Mas quando não há outro remédio e nem tem emprego público... é resignar-se a gente.

Aconteceu isso. Enquanto Wanda ia crescendo, a boa senhora que era a sua progenitora (N. E.: na verdade, genitora. Era costume da época o erro de citar como progenitora, que corresponde a avó) arranjava-lhe o sustento.

A criança, porém, um dia se fez cachopa.

E o destino lhe disse:

- "Anda, vai ser Anna Pavlova..."

Mais tarde, encontraram-na ensaiando uma valsa.

Depois um tango.

Um "fox"

Um "charleston".

A boa senhora, que era a sua progenitora, ralhava:

- Não quero isso... Vá ver as costuras!!...

Ingenuidade. O destino já havia mandado que ela fosse bailarina.

Muito loira, muito alemã, Wanda havia de causar sensação.

- "Anda, vai ser Anna Pavlowa...". Era o destino

***

A mãe curvou-se à fatalidade.

Wanda queria dançar, só dançar, senão dançar.

Ofereceram-lhe um contrato e ela aceitou.

Um sucesso, a sua estreia no cabaré.

Como no Brasil o cabaré só ajunta sibaritas e jogadores, Wana recebeu propostas indecentes.

Sentiu-se vexada até.

Uma vez resolveu abandonar a profissão.

Culpa de um coronel de Ribeirão Preto.

Não pôde.

O destino reclamou:

- "Anda..."

Ela anulou a resolução.

E continuou a dançar.

Hoje no Internacional, em Sant'Anna do Livramento.

Amanhã, o Eden, em Recife.

No Palace, do Rio.

Em Santos, em pleno Miramar. Sempre como Napierkowska.

Vida coreográfia.

Só não ficou célebre porque o cabaré, no Brasil, não admite notabilidades.

Anna Pavlowa não arranjaria contrato.

***

O mais estranho é que Wanda, apesar do meio, conservava-se honesta. Diziam que era "true" (N. E.: verdade, em inglês).

Entretanto, ninguém podia provar o contrário.

Nem os médicos legistas.

- "Anda, dança..."

E Wanda dançava e sorria.

Olhava para a luz das lâmpadas, ouvia as gargalhadas de champanha e achava que a vida estava cheia de felizes.

Só ela e a mãe é que não o eram.

Fosse o que Deus quisesse.

Bayadera, apenas.

***

Sempre há um imprevisto.

Há um olhar.

Muito diferente dos outros.

Wanda deslumbrou-se.

Um lindo rapaz do esporte.

Ela gostou dele.

Isso se passou em Bagé.

E Wanda conheceu o seu primeiro amor e deu-se toda!

***

Veio para Santos. Continuou a ser alegre e querida: a "Virgem do Miramar".

Mas as aparências iludem.

Dançou mais sete meses.

Adoeceu e entrou na Santa Casa.

***

O delegado regional de Santos, dr. Armando Ferreira da Rosa, teve o aviso: falecera no hospital uma bailarina.

Esta grávida de dois pimpolhos.

Matara os filhos dançando.

Também o destino mandou que ela fosse Anna Pavlowa...

Era a Wanda.

Foto: publicada com a matéria

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