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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PERSONAGENS
Tipos curiosos (7)

Quando um artista cinematográfico de Hollywood vinha ao Estado de São Paulo, era ele que o ciceroneava; se um cantor famoso passava por Santos, Nicolino era encarregado de toda a logística da visita, como foi destacado no Almanaque da Baixada Santista de 1973, redigido pelo saudoso jornalista Olao Rodrigues e produzido por Bandeira Júnior e sua editora Indicador Turístico de Santos:

Nicolino - o Amigo dos Artistas

Nicolino del Bosco é santista de 1902.

Menino ainda, começou seu hobbie correspondendo-se, em inglês, com os estúdios de Hollywood, o que redundou num saudoso arquivo de cartas e retratos autografados pelos mais famosos artistas do ecran americano, desde os tempos do cinema mudo.

Nele podemos admirar os nomes das estrelas Pearl White, Ruth Rolland, Clara Bow, Laura la Plante, Betty Bronson, Gloria Swanson, Pola Negri, Teda Bari, Una Merkel, Ethel Barrymore, Elissa Landi, Joan Crawford, Bebe Daniels, Loretta Young, Greta Garbo, Mae West; dos astros John Gilbert, Warren William, Gary Cooper, Monte Blue, Antônio Moreno, Fredic March, Lewis Stone, Ronald Colman, Richard Dix, Lon Chaney, Jackie Coogan, Elmo Lincoln (o primeiro Tarzan); Rodolfo Valentino, Douglas Fairbank (pai), John e Lionel Barrimore, Thomas Meighan, Ramon Novarro, William Farnum; dos cow-boys Tom Mix, Artie Cord, William S. Hart, Harry Carey, Jim Corey, Hoot Gibson, Tim McCoy, Buck Jones, William Boyd; os cômicos Charlie Chaplin, Mark Sennet, Chuca & Chuca (o primeiro astro infantil), Harold Loyd, Ben Turpin, Chico Boia, Buster Keaton, Laurel & Hardy; dos atores característicos Warner Oland (Charlie Chan), Boris Karloff, Lon Chaney, Peter Lore, Adolfo Menjou, Leo Carrilo, e de muitos outros.

A correspondência de Nicolino durante anos se tornou tão intensa e íntima que muitas vezes ele foi convidado (inclusive pela nossa Carmen Miranda) a fazer temporadas nas fabulosas mansões de Beverlly Hills... Assim, não é de estranhar que Ramon Novarro - astro da maior produção do cinema mudo, Ben Hur - quando veio a São Paulo (e Guarujá) para o lançamento do seu filme The Pagan Love's Song (Amor Pagão) tenha tomado nosso conterrâneo para seu cicerone exclusivo.

E Norma Shearer, atendendo, a pedido do missivista praiano, enviava-lhe, por portador especial, foto sua que apareceu numa cena da película Women, notável por dela só participarem mulheres, aliás as stars mais em evidência de Hollywood.

Se com os artistas do exterior (incluindo França, Itália, Espanha, Portugal e América do Sul) Nicolino mantinha amizade epistolar, com os do Brasil, além das cartas, sempre que possível, mantinha contatos pessoais. Para isso viajava constantemente a São Paulo e Rio - os principais centros artísticos do País.

Passados anos, o resultado dessa dedicação é um acervo de 5 mil fotos, 7 mil long-plays, centenas de cartas e alguns discos 78" que são raridades (N.E.: para as novas gerações do som digital, é necessário explicar que long-play era um disco de vinil com gravações analógicas em trilhas, com capacidade para umas 6 músicas de cada lado, daí ser de longa duração. 78" se refere à velocidade em que certos discos eram tocados: os mais antigos giravam a 78 rotações por minuto, enquanto os mais modernos giravam a 45 ou 33 rotações, principalmente).

Certa feita, Nicolino escreveu para um cantor que despontava na Rádio El Mundo, de Buenos Aires. Em resposta (18-dez-1940) o jovem artista profetizava:

"...si tengo la oportunidad de ir por ese paraiso que le chamam Brasil, tendria mucho gusto de conocer personalmente  todos mis admiradores e admiradoras, lo que será para mi una grata satisfacción".

No ano seguinte, Nicolino mexeu os pauzinhos junto a seus amigos dirigentes de emissoras paulistas e conseguiu contrato para o cantor portenho, que veio, fez sucesso e aqui permaneceu até hoje. Seu nome: Gregorio Barrios.


Foto no estúdio de Boris Kauffmann, publicada com a matéria

Igualmente a foto - do compositor Custódio Mesquita ladeado pelas irmãs Aurora e Carmen Miranda - com que ilustramos este trabalho, foi obra do Nicolino del Bosco (descendente do santo italiano). Numa das passagens desses astros do populário nacional por Santos (a caminho de Buenos Aires), o Amigo dos Artistas levou-os ao estúdio do saudoso Boris Kauffmann, onde foram tomadas várias fotos. Aliás, sempre que vinha a Santos algum artista famoso, era quase certa sua visita ao estúdio de Kauffmann, graças ao prestígio e à diligência do Nicolino.

Nosso focalizado, que trabalhou 47 anos numa firma cafeeira, agora aposentado, trata de pôr em ordem seu inusitado arquivo, que pretende, quando for desta para melhor, doar a instituições culturais de sua cidade.

Eis alguns amigos do incansável missivista: Erlon Chaves, Simonetti, Hervê Cordovil, Peruzzi, Paulinho Nogueira, Josephine Baker, irmãs Meirelles, Leny Eversong, Guiomar Novaes, Aracy Cortes, Abigail Maia, Emilinha Borba, Marlene, Isaurinha Garcia, Ester de Abreu, irmãs Pagãs, irmãs Batista, Maria da Graça, Dóris Monteiro, Gilda Valença, Bidu Sayon, Elisabeth, Germano Matias, Sílvio Caldas, Maurici Moura, Miltinho, Tito Madi, Carlos José, Roberto Audi, David Nasser, e uma infinidade de compositores, escultores, pintores, declamadores, bailarinas, poetas, atores e atrizes de teatro, cinema, telenovelas e radionovelas, filósofos e intelectuais do Brasil e do exterior.

Disso tudo, só uma coisa deixa Nicolino ufano: é o título de Amigo dos Artistas, que lhe foi outorgado por consenso geral e dos mais justos.

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